UnB - Instituto de Geociências - Produção Científica
RESUMOS/ABSTRACTS 


Idade e ambiente tectônico do vulcanismo da Seqüência Juscelândia, Goiás: transição entre rift continental e bacia oceânica no Mesoproterozóico 

Renato Moraes
Reinhardt A. Fuck
Márcio M. Pimentel
Simone M.C.L. Gioia
Maria Helena B.M. Hollanda
 Richard Armstrong

In: Congresso Brasileiro de Geologia, 41, João Pessoa, 2002, SBG. Anais, 1: 319 - 320.

Palavras chave: Mesoproterozóico, Sequência Juscelândia, oceanização

RESUMO

            A Seqüência Juscelândia está tectonicamente justaposta ao Complexo Barro Alto em situação similar às seqüências Indaianópolis (ou Coitezeiro) e Palmeirópolis em relação aos complexos Niquelândia e Cana Brava. Nos últimos anos uma série de dados isotópicos vem demonstrando que a idade do metamorfismo dos complexos máfico-ultramáficos e das sequências vulcanossedimentares é a mesma, ca. 780 Ma. Entretando, ainda existem incertezas quanto à idade de cristalização das rochas máfico-ultramáficas, provavelmente cristalizadas entre 2,0 e 1,6 Ga, enquanto a idade do vulcanismo e o ambiente tectônico das sequências vulcanossedimentares eram até o momento desconhecidos.

            A sequência Juscelândia é formada, da base para o topo, por cinco unidades: anfibolito fino a médio com metachertes intercalados; biotita gnaisse granítico com intercalações de anfibolito fino a médio; xistos pelíticos com intercalações de anfibolito; biotita-muscovita gnaisse feldspático; e anfibolitos finos intercalados com metachertes. As rochas vulcânicas formam uma suite bimodal.

            Os gnaisses apresentam composição granítica, enriquecimento em LILE e ETR leves, além de anomalias negativas de Sr, P e Ti quando normalizados a condrito; eNd (calculado para 1,27 Ga) varia entre -2,75 e -3,92. As idades modelo Sm-Nd variam entre 1,80 e 2,12 Ga. Os anfibolitos da base da sequência apresentam enriquecimento em ETR leves, anomalia negativa de Eu e eNd (calculado para 1,27 Ga) entre +2,83 e +5,42, enquanto os do topo apresentam eNd entre +5,72 e +6,00 com padrão de ETR plano. O padrão de idades modelo dos anfibolitos parece conter importante significado geológico, variando entre 1,0 e 1,7 Ga, sendo que a variação das idades é inversamente proporcional à razão Sm/Nd das amostras. Os anfibolitos da porção superior apresentam valores eNd mais elevados, idades modelo mais baixas, maiores razões Sm/Nd e são geoquimicamente semelhantes a N-MORB, enquanto os anfibolitos das porções média e inferior apresentam valores eNd menores, idades modelos mais antigas e são semelhantes a T ou P-MORB, o que é interpretado como resultado de grau variável de contaminação crustal, mais acentuado nas rochas da porção média a inferior e praticamente inexistente nos anfibolitos superiores.

            Zircão de duas amostras de gnaisses da sequência Juscelândia foi datado por SHRIMP. Análises de zircão de biotita gnaisse granítico do Córrego Ponte Alta resultaram em série de dados junto da concórdia, com idade calculada em 1263 ±15 Ma. Os dados analíticos de zircão de biotita-muscovita gnaisse do Ribeirão Barra Bonita revelam arranjo complexo: 7 pontos analíticos se agrupam sobre a concórdia em 1277±15 Ma; 6 dados, aparentemente de núcleos herdados, espalham-se acima disso, apontando para intercepto superior em torno de 2000-2200 Ma, compatível com as idades modelo Sm-Nd; um dado cai junto da concórdia em 745±10 Ma, correspondendo provavelmente à idade do metamorfismo.

            A sedimentação e o vulcanismo bimodal da sequência Juscelândia ocorreram na transicão de rift continental para abertura de uma bacia oceânica, durante o Mesoproterozóico, em torno de 1,27 Ga atrás. A área fonte para o vulcanismo apresenta idade Paleoproterozóica, sendo que as rochas do Complexo Barro Alto podem ser consideradas como o embasamento da sequência Juscelândia.