UnB - Instituto de Geociências - Produção Científica
RESUMOS EXPANDIDOS / EXPANDED ABSTRACTS 


GÊNESE DE SILLIMANITA GRANADA LEPTINITOS NO COMPLEXO ANÁPOLIS-ITAUÇU, GOIÁS

Manfredo Winge-UnB
José Caruso Moresco Danni-UnB

In: Congresso Brasileiro de Geologia,38, Camboriú-SC, 1994, SBG. Boletim de Resumos Expandidos,2:76-77.

RESUMO

O Complexo Anápolis-Itauçu (Marini et al.,1984) ocupa uma área de 260 x 70 km no SE de Goiás associando terrenos granulíticos ss e zonas com acresção plutônica e retrabalhamentos tectono-metamórficos caracterizadas por ocorrências de anfibolitos, orto-gnaisses, anatexitos e migmatitos diversos contendo restitos de granulitos máficos e ultramáficos. Integram estes terrenos corpos máfico-ultramáficos acamadados e granulitizados como os complexos de Heitoraí, Itaguaru, Serra do Brandão, Ägua Clara/Faz.Conceição, E de Araçu, W de Goianira, S de Damolândia, E de Anápolis... que ocorrem tectonicamente desmembrados por falhamentos, em geral de baixo ângulo e estruturalmente sotopostos a leptinitos analogamente às ocorrências conhecidas no domínio do Complexo Barro Alto, ao norte da mega-inflexão dos Pireneus.
A extensiva ocorrência de leptinitos nestas regiões, aliada à composição essencialmente quartzo-feldspática (granulitos félsicos), às vezes peraluminosos (portadores de sillimanita e granada), e à homogeneidade composicional e textural têm embasado diferentes interpretações sôbre a natureza dos seus protólitos como: 1)sedimentos pelíticos a psamíticos arcosianos, 2)vulcânicas ácidas (dacitos a riolitos) ou 3)granitóides. 
Associações de leptinitos com granulitos máficos, frequentemente finos, junto com transições para fácies de granada sillimanita quartzitos e ocasionais ocorrências de rochas cálcio-silicáticas têm levado a propostas de origem em sequências vulcano-sedimentares associadas a estruturas proto-ofiolíticas com os leptinitos derivados de vulcanitos ácidos e as máficas finas derivadas de basaltos.
A fácies típica dos leptinitos apresenta textura granoblástica aplitóide a flaser fina, cores claras cinza amareladas ou avermelhadas; quando fresca, a rocha é azul-esverdeada devido a sillimanita e espinélio. Granada fina a profiroblástica confere aspecto mosqueado característico nessas rochas. É comum a textura milonítica a blasto-milonítica com ocasionais porfiroclastos de feldspato meso-pertítico. 
A análise textural dos leptinitos demonstra que a milonitização anidra ocorreu durante o metamorfismo granulítico, talvez até antes (blasto-milonitos), com eventos alternados de blastese e cominuição de grãos sendo comum o desenvolvimento de granada almandínica até a fase tardi-tectônica. Arredondamento de minerais (ortoclásio, granada..) é comum nestas texturas miloníticas. O zircão arredondado desses leptinitos tem sido usualmente interpretado como de origem detrítica. Entretanto, em fácies meta-plutônico (quartzo-diorítico) da pedreira de Hinterlândia, tectonicamente retrabalhado como os leptinitos que a ele se associam, também é encontrado zircào arredondado o que indica que o arredondamento, em certos casos, originou-se por abrasão milonítica não sendo de per se critério seguro de origem detrítica.
Em áreas de retrabalhamento tectônico com hidratação os leptinitos derivam para fácies migmatíticas em alto grau e para fácies xistosas ou quartzíticas em graus metamórficos mais baixos quando podem ser confundidas com meta-sedimentos. A continuação de retrabalhamento em faixas de falhas transcorrentes e inversas leva a formação de filonitos, milonitos e ultramilonitos onde, eventualmente, crescem porfiroblastos de granada pós-milonitização.
A existência de fácies transicionais entre meta-granitóides grosseiros e leptinitos finos típicos, como por exemplo, a leste da Serra do Brandão, entre Santa Rosa e Itauçu, e como enclave dentro do complexo máfico-ultramáfico Água Clara/Faz.Conceição, a leste de Americano do Brasil, juntamente com a ocorrência de contatos discordantes entre leptinitos kinzigíticos e granulito máfico do complexo de Heitoraí, na subida da Serra do Capim Puba, vincula a derivação desses leptinitos a partir de granitos. O meta-granito que transiciona para leptinitos entre Itauçu e Santa Rosa apresenta-se como um sillimanita granada biotita gnaisse com aglomerações centimétricas compostas de sub-grãos de quartzo e de feldspato K (antigos cristais ígneos). Estas aglomerações ocorrem achatadas a levemente estiradas e crenuladas em sigmóides entre faixas (foliação Sn-1) que concentram granada e sillimanita com biotita, muscovita e sericita diaftoréticas. 
A assinatura geoquímica de ETR do meta-granito quando comparada com à do leptinito comprova a cogeneticidade evidenciada em campo entre esses fácies. O padrão de ETR normalizados a valores condríticos mostra pequeno fracionamento entre ETRP e ETRL e forte empobrecimento em Eu com YbN =16,7 ; (La/Yb)N=4,339 e EuN/Eu*=0,438 para o meta-granito e YbN =33,852; (La/Yb)N=2,435 e EuN/Eu*=0,254 para o leptinito. Silva (1991) apresenta dois padrões de ETR para leptinitos encaixantes do complexo gabro-anortosítico Santa Bárbara ao sul. Um deles é análogo ao determinado no presente estudo e o outro corresponde ao padrão de TTG's arqueanos definido em Martin(1987).
Assim, as intrusões máfico-ultramáficas devem ter se dado em crosta de natureza granítica (continentalizada), dinamicamente ativa, em estágio anterior ao que granulitizou o conjunto. Idades Rb/Sr com >2,6 Ga (Lacerda Filho, inf.verbal) foram obidas para gnaisses da região o que evidencia o envolvimento de terrenos arqueanos na constituição do Complexo Anápolis-Itauçu. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
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