BLATA sp. RECENTÍSSIMA DESCOBERTA EM SÃO DOMINGOS

  Manfredo Winge


Corria o ano de 1983 e mapeávamos, sob a coordenação de meu dileto amigo Prof. Faria,  a  região de São Domingos onde se têm as maiores cavernas cársticas da América do Sul com extensões de até 30 km .

    Borda da chapadona entre Bahia e Goiás (cantada em prosa-verso por nosso Guimarães Rosa -Grande Sertão Veredas- ao sul em terras mineiras), a área que a turma do "TF" de 1983  (ver fotos) destrinchava geologicamente com orientação dos professores Faria, Almir, Marini, Raul e Manfredo é uma dessas regiões que dá prazer de se trabalhar. Além de belas paisagens, vai-se de terrenos arqueanos (amassados e espezinhados por quilobárias e graus Celsius vários e em mais de uma época) até terrenos terciários com direito, no meio,  a seqüências vulcano-sedimentares proterozóicas onde ocorrem associados: ultramáficas (alpinas?), metassedimentos de muito baixo grau e granitos com cassiterita fazendo belas auréolas de contato nos metassedimentos. Isto sem contar com as coberturas brasiliana do nosso mui querido Bambuí (aí Daredenne!!) - onde ocorrem as cavernas em nível de calcários dolomíticos- e dos arenitos cretáceos com registros de dunas, lagos e outros ambientes continentais (só falta registrar os Dinossauros dessas épocas, como na China, para a coisa ficar mais bonita ainda).

    Enfim, é uma das regiões próprias para, além de se ensinar alunos, desenvolver o geo-eco-turismo: geologia fácil de se passar para leigos em seus traços gerais, clima ameno, topografia relativamente suave, exceto as escarpas areníticas, e paisagem variada com buritis e outras palmeiras ponteando as veredas que   nascem nas escarpas cretáceas e se desenvolvem restritamente pela baixada pré-cambriana.

    Muito bem, .. o nosso esquema de trabalho neste tipo de área sempre procura usar os recursos disponíveis de "hotelaria" para não se perder tempo com barracas, cozinha e etc.. Na análise de custo e benefício do trabalho. ganha o professor-geólogo que descola um banho de água quente e nenhum trabalho de barraqueiro depois do trabalho.

    Todo o dia saíamos cedo para os trabalhos de campo: café rápido, lanche na mochila, martelo, lupa, bússola, caderneta, foto aérea,... e lá íamos nós.. ainda com o gostinho do café na boca.

    Mas, sentíamos sempre um gosto diferente quando mastigávamos o pão matinal e seu sucedâneo de almoço: o nosso sanduíche de cada dia com tomate e bife (arrhe!!).

    Todos ficávamos intrigados com o tempero esquisito do pão nosso de cada dia. O pão tinha até umas pintinhas mostrando que era fruto de preocupações especiais de gourmet do padeiro: seriam ervas finas? seria nós moscada?? Enfim.. questionava-se o que é que o pão nosso de cada dia tinha de especial.

    Ninguém melhor do que o coordenador dos trabalhos para resolver tão intrigante questão..... E o amigo Faria usou simplesmente a lupa, aquele objeto que nós geólogos utilizamos todo o dia e que é objeto de aulas sucessivas em que se diz   para os alunos que a geologia: entra pelos pés, caminhando,  passa pelas mãos, quebrando rochas com a marreta, e, entra para o cérebro pela lupa e pelo microscópio onde a nossa inteligência e conhecimento acumulado têm o dever de propor uma hipótese razoável para as questões geológicas levantadas.

Examinando o pão nosso de cada dia, o Faria mostrou com toda a sua capacidade didática, que o que comíamos diariamente era uma mistura balanceada de carboidratos e   proteínas com uns 3% de quitina representada por apêndices de blata doméstica, portanto espécie recentíssima, com asas, patas e tudo o mais que o padeiro integrava no amassado do pão incluindo a nossa conhecidíssima barata caseira.


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