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(gente da gente)

Entrevistado: Robert Cartner Dyer - Geólogo Senior da Mineração Xingu

 

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 Quando reclamamos do trânsito pesado para chegarmos ao nosso escritório,nâo lembramos, com toda certeza, como pode ser atribulada a vida de outros funcionários. Veja por exemplo o que um geólogo pode enfrentar em um dia de trabalho.Robert Dyer, geólogo sênior da Mineraçâo Rio Xingu S.A., conta como foi sua vida de trabalho no campo.

NS - Roberto, é verdade que você tem verdadeiras aventuras para contar da sua vida profissional?
RD - É verdade. As mais interessantes eu vivi em 1963, começo de carreira, quando trabalhava na Prospec.
NS - Onde ocorreram estas aventuras?
RD - A mais extraordinària delas foi na Paraiba. Nós trabalhávamos em convênio com a SUDENE, nosso carro era uma Rural preta, que assustava as pessoas, surgindo no meio do mato. Ela entrava e passava em qualquer lugar. Era picada de burro andar, morro, o que fosse, ela vencia com sua tração nas quatro rodas. Um dia, nós estàvamos numa área muito atrasada, perto de Taperoá e aconteceu o seguinte: Nós enfiamos a Rural no meio do mato e entramos pela picada adentro e passamos perto de umas casas de colonos, trabalhadores de fazenda. As mulheres se assustaram quando viram o carro aparecendo. Pegaram as crianças e sairam correndo. Fugiram, se esconderam. lsto passou despercebido para nós. Achamos normal, a Rural era mesmo muito feia.
NS - Vocês acharam que tinha sida um susto?
RD - Exatamente. Bom, aconteceu. Passou. No mesmo dia, horas depois, nós estávamos meio perdidos. Os mapas não são muito bons, às vezes nào tinhamos idéia como chegar a determinados lugares. As estradas mudam muito. Tinhamos que perguntar às pessoas. Devia ser em torno do meio-dia quando o motorista parou a Rural,e eu vi um amontoado de homens, uns 10 ou 15, na porta de uma casa. Caminhei uns 300m até essa casa para conversar e aconteceu que cai no meio de um grupo que estava se armando para nos atacar. Eles achavam que nós éramos «papa-figos».
NS - O que quer dizer «papa-figos»?
RD - Quer dizer «papa-figados». Eram homens que apanhavam uma doença que para se curar tinham que comer figado de criança. lsto é uma lenda que existe là. inclusive a revista «Realidade», no seu primeiro nùmero, hé muitos anos atràs, fez uma reportagem muito boa sobre o assunto.
NS - Mas é uma lenda?
RD - Sim, é uma lenda. Eu juro que nunca comi figado de criança !
NS - Não, é lógico, eu queria saber se ocorreu algum caso efetivo na época.
RD - Não, acho que não. Era lenda. lgual a assombraçào, lobisomem, estas coisas...
RD - Bom, eu cheguei e pedi a informação, eles responderam: «Informação?! Mas o senhor veio aqui para matar! Os senhor é um «papa-figos!» E estavam todos armados de foice e de faca.
NS - Você sentiu muito medo?
RD - Tremia. Tremia que a voz nem saia. Eu queria mostrar a eles que eu tinha documentos oficiais do DNPM, dizendo que o nosso serviço era para o governo e tal...
NS - Eles sabiam ler?
RD - Só um deles. Mas estavam tão exaltados que não queriam saber de nada. Eu olhava para o carro, ele estava longe, a 300m, longe... Fui conversando, convenci o homem a ler. Pedi que fossem verificar o material de tra balho no carro. E fui sai ndo de mansinho.
NS - De mansinho ou correu?
RD - Corri. Corri como um louco.
NS - E eles atràs?
RD - Não. Eles ficaram olhando com cara que não sabiam o que fazer naquela altura. E o pior é que eu cheguei branco, tremendo na Rural e o outro geólogo ainda reclamou da demora e não quis acreditar na minha história.
NS - Você ficou com fama de mentiroso?
RD - Não, porque nesta região, onde nós passávamos, tinhamos o mesmo tipo de problema. Todo mundo corria para dentro de casa com as crianças. Até crucifixo nas janelas botavam. Teve um homem que chegou a apontar a espingarda e avisou que se déssemos mais um passo ele atiraria. Ai o Manfredo viu que a história era verdadeira. E passamos por vários apertos e situações engraçadas ainda em função dessa lenda
NS - Vocês andavam armados?
RD - Claro. lsto me lembra outra história que vivemos em 1964. Foi na época da Reforma Agrária, do João Goulart, antes da Revolução.
NS - Ainda na Paraiba?
RD - Não. Em Goiás: Em rodasos lugares éramos ameaçados de levar tiros. Os fazendeiros achavam que éramos homens do governo, da Reforma Agrária.
NS - E como era a reação deles?
RD - Os mais perigosos eram os donos de grandes quantidades de terra, os latifundiários. Tinha genre importante, alguns do próprio governo. Eles não permitiam que entrássemos em suas terras. Ficavam violentos e queriam nos colocar para fora de qualquer maneira.
NS - Vocês tinham autorização oficial para entrar nas terra deles?
RD - Tinhamos um documento do DNPM, autorizando a entrada em qualquer terra, não necessitávamos nem pedir ao proprietário. As sedes das fazendas ficavam quase sempre distantes dos locais onde deviamos olhar uma rocha, tirar um pedacinho e só.
NS - Teve algum acontecimento mais violento?
RD - Não, violento, não. Esse pessoal apontava o revólver para a cara da gente e mandava sair.
NS - E como vocês solucionavam isso? Voltavam depois?
RD - Nós saiamos e depois arrumávamos um jeito de passar por baixo da cerca escondidos, olhávamos a rocha e voltávamos. Não desistiamos nunca de entrar.
NS - Estando sempre no mato desta forma, nào teve nenhum caso com animais?
RD - Nunca aconteceu nada mais sério. Tive uns sustos.Uma vez,dormi no chão e, quando acordei, tinha uma cobra enrolada do meu lado. No Nordeste caiu uma Jararaca no meu ombro e a joguei no chão. Cada um correu para um lado assustado, a cobra e eu.
NS - Que outras animais inspiram medo?
RD - As aranhas, em alguns lugares, caranguejeiras, escorpião e barbeiro. É uma coisa impressionante. Uma vez paguei a um sujeito no interior de Goiás, cinqüenta cruzeiros para me mostrar um barbeiro. No dia seguinte ele apareceu com dois vidros cheios de barbeiros.
NS - Em que ano foi isso?
RD - Em 1966. Esses lugares são de dificil acesso, dificilmente o pessoal de combate a esta moléstia pode chegar.
NS - E a Maleita?
RD - É outro problema muito grande. Eu sempre tomei preventivo e felizmente nunca peguei nenhuma malaria. Alias, nenhuma doença. Eu fiz exame para ver se havia   contraido a doença de Chagas, mas deu negativo.
NS - Você diria que a vida do geólogo é uma aventura diária?
RD - É uma aventura diária e se eu pudesse recomendar meu filho, sinceramente, eu recomendaria que ele procurasse outra profissão. No entanto, isto não significa que eu não goste do meu trabalho. Pelo contrário, acho muito interessante, mas atualmente, o mercado está saturado devido ao grande número de faculdades de geologia.
NS - As experiências que você contou são anteriores à sua entrada na Shell. Como é a vida do geólogo que trabalha na Mineração Rio Xingu? É uma vida calma ou ele corre riscos e, se corre, que riscos são esses?
RD - A vida do geólogo nunca é calma. E sempre cheia de riscos, por majores precauções que se tome. Inclusive a MRX está pensando, agora, em escrever algumas normas de segurança para o pessoal de campo. Mas eu acho que, por maior que sejam as precauções, os riscos são sempre grandes, sendo o maior as picadas de cobras. Mesmo usando botas. Elas, às vezes, estão a altura do pescoço da gente;.
NS - Com tantas atribulações você me disse que gosta de sua profissão. O que você considera como o momento mais gratificante da vida do geólogo?
RD - Ah ! Seria quando ele fosse o principal responsável pela descoberta de uma jazida minerai, como foi o caso dos geólogos que descobriram o depósito de ferro da Serra dos Carajás.
NS - Você, pessoalmente, quai foi a sua major emoção? Quai foi o seu momento mais gratificante?
RD - Achei muito importante a primeira fase da minha carreira, quando fiz trabalhos, em regiões onde, praticamente, nunca tinha pisado um geólogo. Às vezes eu andava 15 dias a cavalo até chegar num local, como por exemplo, perto de Cavalcante, em Goiás.
NS - Esta foi a sua melhor experiência?
RD - Exatamente mas não fica nisso. Depois eu escrevi e publiquei trabalhos geológicos sobre o meu trabalho na área.
NS - Você tem muitos trabalhos publicados?
RD - Tenho, vários. De épocas diferentes. Recentemente publiquei um sobre uma jazida de mármore que descobri e inclusive me pertence agora.
NS - Roberto, para finalizar, você que já tem uma boa experiência, diria que houve evolução na vida do geólogo nos ultimos anos?
RD - A vida do geólogo, propriamente, não melhorou. Mas as facilidades de comunicação com a familia dele sim. E isto é muito bom. Antigamente nos comunicavamos por cartas que demoravam, às vezes, uns 15 dias para chegar. Se houvesse algum problema urgente não existia como ter contato. Hoje é tudo mais fácil. Além do DDD, todas as empresas tem um sistema de radio-comunicação, de maneira, que fica mais fácil. E isto é muito importante, pois é muito comum ficarmos 3 a 4 meses ausentes de casa.

papafig2.gif (72801 bytes) Na hora da refeição o importante é encontrar uma sombra.

A alimentação é praticamente de frutas que são mais adequadas ao clima quentíssimo do sertão nordestino

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