UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO No 130

ROGÉRIO KWITKO RIBEIRO

MINERALOGIA, GEOQUÍMICA E GÊNESE DAS OCORRÊNCIAS AURÍFERAS NO FLANCO NORTE DO ANTICLINAL DE MARIANA, QUADRILÁTERO FERRÍFERO: UMA NOVA TIPOLOGIA DE MINÉRIO DENOMINADA BUGRE
Palavras-chave: OURO; QUADRILÁTERO FERRÍFERO; SUPERGRUPO MINAS; ANTÔNIO PEREIRA; OURO PRETO; ANTICLINAL DE MARIANA; BUGRE; ALTERAÇÃO HIDROTERMAL; INCLUSÕES FLUIDAS; GEOTERMOMETRIA

DATA DE DEFESA: 31/07/98
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PROSPECÇÃO E GEOLOGIA ECONÔMICA
ORIENTADOR:PROF. CLAUDINEI GOUVEIA DE OLIVERIA (UnB)
EXAMINADORES: PROF. PAULO DE TARSO FERRO DE OLIVEIRA FORTES (UnB)
PROFa. LYDIA MARIA LOBATO (UFMG)

RESUMO
O distrito aurífero de Antônio Pereira localiza-se no flanco nordeste do Anticlinal de Mariana. O garimpo homônimo, lavrado por mais de 200 anos e atualmente abandonado, produziu grandes quantidades de ouro com a lavra do Bugre (denominação dada pelos garimpeiros da região). Suas encaixantes consistem de intercalações de dolomitos, dolomitos ferruginosos, silicosos ou manganesíferos, com itabiritos silicosos, carbonáticos ou manganesíferos.
No garimpo de ouro, um profundo processo intempérico (>150m) foi responsável pela completa substituição de carbonatos por uma trama de óxi-hidróxidos de Fe ± Mn e caulinita, conferindo aos litotipos (borra-de-café) extrema friabilidade, porosidade e baixa densidade, com preservação parcial de texturas e estruturas originais. O garimpo está limitado a leste por litotipos inalterados da Formação Gandarela, expostos em uma pedreira de dolomito. São dolomitos, com quartzitos e dolomitos ferruginosos subordinados, encaixando veios quartzo-dolomíticos sulfetados.
Os veios encaixam-se em fraturas P e T de sistema deformativo não-coaxial, tendo importante contribuição de processos de deslizamento interestratal e boudinagem dos litotipos. Tipificam um emplacement sin-cinemático (cedo a tardi-tectônico) a um processo distencional.
O Bugre apresenta-se como uma massa friável argilo-arenosa, constituindo níveis subconcordantes à foliação dos dolomitos saprolitizados (borra-de-café) da área do garimpo. Mostra diversas colorações, sendo a vermelho-escuro a mais característica, utilizada para prospecção pelos garimpeiros da região e portadora dos maiores teores de Au em geral. Tem espessura em torno de 40cm, com distribuição e estruturação irregulares, condicionadas por sistemas de falhas rúpteis de alto ângulo. O Bugre compõe-se principalmente de quartzo, goethita e limonita, em proporções alternadas. Essa característica condiciona variações entre tonalidades amareladas, avermelhadas e negras, respectivamente com o predomínio de quartzo, Fe-hidróxidos e Mn-óxidos.
O ouro do Bugre associa-se a arsenopirita limonitizada, portando teores médios de Hg e Ag de 2,6% e 1,6% respectivamente, e traços de Cu e Sb. O ouro dos veios quartzo-dolomíticos sulfetados ocorre em vênulas, inclusões e espaços intergranulares da arsenopirita, apresentando uma liga com teores de Hg e de Ag ultrapassando localmente 5% (médias em torno de 1,5%) e traços de Sb e Cu, sem contribuição de outros metais.
Os veios apresentam alteração hidrotermal extremamente localizada, respondendo principalmente pela introdução de clorita, quartzo, sulfetos e turmalina nos litotipos encaixantes. Geotermômetros de clorita e carbonatos dos veios mineralizados mostraram um valor médio de 319± 45°C, interpretado como a temperatura de estabilização da paragênese hidrotermal, e por conseqüência, de precipitação do fluido.
Estudos microtermométricos de inclusões fluidas caracterizaram um fluido áquo-carbônico heterogêneo, com médias de XCO2 entre 0,44 e 0,99, tendo contribuições de traços de N2 e H2S na fase gasosa, com valores baixos a moderados de salinidade. Isócoras calculadas para o sistema hidrotermal forneceram valores de pressão compatíveis com profundidades crustais <10km. Uma baixa razão fluido/rocha para a alteração hidrotermal é atestada pela sua ocorrência restrita às imediações dos veios, corroborada pela semelhança entre encaixantes e veios dos valores de d18O e 87Sr/86Sr e da química mineral de turmalinas.
A heterogeneidade do grau de preenchimento das inclusões fluidas é indicativa de um processo de precipitação do ouro por boiling ou por mistura de fluidos. Os valores isotópicos preliminares dos veios mineralizados e as características físico-químicas das inclusões apontam para a segunda hipótese, assumindo-se uma mistura entre fluidos metamórficos, com XCO2 elevado e baixa salinidade, e fluidos magmáticos (subordinados), tendo XCO2 mais baixo e salinidade moderada, comportando elementos como As, Hg, Ba e Sb.
Semelhanças em termos de mineralogia, química mineral do ouro e minerais de ganga e geometria de veios mineralizados, permitem uma correlação genética entre as ocorrências auríferas de Antônio Pereira e a mineralização de Passagem de Mariana.


  
UNIVERSITY OF BRASILIA- INSTITUTE OF GEOSCIENCES

MSc THESIS No 130

ROGÉRIO KWITKO RIBEIRO

MINERALOGY, GEOCHEMISTRY AND GENESIS OF GOLD DEPOSITS OF THE MARIANA ANTICLINE NORTHERN FLANK, QUADRILÁTERO FERRÍFERO: A NEW TIPOLOGY OF ORE NAMED BUGRE

KeyWords: IRON QUADRANGLE; MINAS SUPERGROUP; ANTÔNIO PEREIRA; OURO PRETO; MARIANA ANTICLINE; BUGRE; HYDROTHERMAL ALTERATION; FLUID INCLUSIONS; GEOTHERMOMETRY

DATE OF ORAL PRESENTATION: 31/07/98
TOPIC OF THE THESIS: PROSPECTION AND ECONOMIC GEOLOGY
SUPERVISOR:PROF. CLAUDINEI GOUVEIA DE OLIVERIA (UnB)
COMMITTEE MEMBERS: PROF. PAULO DE TARSO FERRO DE OLIVEIRA FORTES (UnB)
PROFa. LYDIA MARIA LOBATO (UFMG)

ABSTRACT
The auriferous district of Antônio Pereira is located in the northeastern flank of Mariana Anticline. The abandoned garimpo of Antônio Pereira was a huge gold producer for more than 200 years with the Bugre exploitation (name given by local diggers). Its host rocks consists of dolomites and iron-silicon-manganese-bearing dolomites interbedded with silicon-carbonate-manganese-bearing itabirites.
In the gold garimpo, a deep weathering process (>150m) caused the complete substitution of carbonates by a network of Fe± Mn oxi-hydroxides and kaolinite, giving to the rock ("coffee dregs") extreme friability, porosity and low density, with partial preservation of textures and structures. The garimpo is limited eastward by unweathered rocks of Gandarela Formation, exposed in a dolomite quarry. They are represented by dolomites, with subordinated quartzites and Fe-dolomites, hosting quartz-dolomite-sulfide gold veins. The veins are located on P and T non-coaxial deformation fractures, with important contribution of interstratal slip and boudinage, configuring a sin-kinematic emplacement to a distentional deformation.
The Bugre consists of friable fine-grain mass levels, subparallel to the weathered dolomites ("coffee dregs") foliation, in the garimpo area. It exhibits several brownish tints, with the typical dark red color, used as a prospecting guide by the local diggers, carrying the highest Au grades. The Bugre has thickness around 40cm, with irregular distribution and structure, conditioned by high-angle brittle faults. The main mineral compounds are quartz, goethite and limonite, in alternating proportions. This aspect controls the variation between yellow, red and black tints, due to the quartz, Fe-hydroxides and Mn-oxides influences, respectively.
The Bugre gold occurs mainly associated to limonite after arsenopyrite, with an average of 2,6% Hg and 1,6% Ag in the alloy, and traces of Cu and Sb. The quartz-dolomite-sulfide vein gold occurs as veinlets, inclusions and interstitial spaces in arsenopyrite, showing an alloy locally with over 5% Hg and Ag (averages around 1,5%) and traces of Sb e Cu, with no other metal contribution.
A hydrothermal alteration is restrict to the vein vicinity, and is responsible to introduction of chlorite, quartz, sulfides and tourmaline in the host rocks. Ore-vein chlorites and carbonates was used as geothermometers, showing an average value of 319± 45°C, interpreted as the hydrothermal paragenesis stabilization temperature, and consequently, the fluid precipitation temperature.
Fluid inclusion microthermometric studies revealed an inhomogeneous aquo-carbonic low to moderate salinity fluid, with XCO2 between 0,44 e 0,99 and contributions of N2 and H2S traces in the gas phase. Isochores calculated for the hydrothermal system provided pressure values compatible to a crustal depth shallower than 10km. A low fluid/rock ratio is attested for the hydrothermal alteration by its restrict occurrence, corroborated by d18O and 87Sr/86Sr similarity between veins and host rocks, and also by the tourmaline mineral chemistry.
The heterogeneity of fluid inclusion degree of fill suggests that gold precipitation was induced by boiling or fluid mixture. The ore vein preliminary isotopic values and the fluid inclusion characteristics point toward the second hypothesis, where high XCO2 and low salinity metamorphic fluids interacted with subordinated lower XCO2 and moderate salinity magmatic fluids, carrying elements like As, Hg, Ba and Sb dissolved.
Similarities in mineralogy, gold / gangue mineral chemistry and ore vein geometry permit a genetic correlation between the Antônio Pereira auriferous occurrences and Passagem de Mariana deposit.