UnB - Instituto de Geociências - Produção Científica
RESUMOS EXPANDIDOS / EXPANDED ABSTRACTS
EVIDÊNCIAS DE METAMORFISMO POLIFÁSICO NO BLOCO CAPELINHA DO COMPLEXO GRANULÍTICO ANÁPOLIS-ITAUÇU, GOIÁS
Manfredo Winge
GEO/IG-UnB
In: Simpósio de Geologia do Centro-Oeste,5, Goiânia-GO, 1995, SBG. Anais:108-110.
RESUMO
Entre Itauçu e Americano de Goiás foi cartografada em 1/50.000 uma área com cerca de 1.000km2. Entre outros trabalhos anteriores nesta área destacam-se os de Oliveira & Bittar (1971), Bressan (1977), Nunes (1990), Silva (1991), Nilson (1992). Foi determinada (Winge,1995) a seguinte estratigrafia:
T-Q:
capeamentos detrito-lateríticos, aluviões...
Cretáceo
diques e sills de diabásio (magmatismo Serra Geral).
Paleo-Mesoproterozóico:
Grupo Araxá: granada biotita muscovita xistos e quartzitos
Paleoproterozóico:
Sequência Vulcano-sedimentar Mossâmedes: anfibolitos,granada biotita xistos feldspáticos, gnaisses
Arqueano:
Sequência Anicuns-Itaberaí (greenstone belt)
Embasamento Granito-gnáissico
Além dessas unidades estratigráficas foram cartografadas as seguintes unidades litodêmicas (conceito do Código Estratigráfico Americano, Prothero,1982):
SUPERSUÍTE PLUTÔNICA AMERICANO DO BRASIL desdobrada em:
Suíte Gabro-diorítica (inclui maciços máfico-ultramáficos)
Suíte Tonalito-granítica
COMPLEXO ANÁPOLIS-ITAUÇU subdividido em dois domínios:
Terrenos Granulíticos (Blocos Capelinha e Anápolis-Itauçu)
Terrenos Gnáissico-anfibolíticos.
Na área estudada, o Complexo Anápolis-Itauçu apresenta um bloco de crosta granulitizada (Bloco Capelinha de forma oval, com cerca de 27 x 15 km, alongado em NW-SE com a Vila Capelinha situada no centro-sul desse bloco) separado do bloco granulitizado principal (Anápolis-Itauçu) por uma faixa de rochas anfibolitizadas e migmatíticas (Domíno dos Terrenos Gnáissico-anfibolíticos). Os limites dos terrenos granulitizados são tectônicos e, frequentemente, com indícios de terem sido retrabalhados em cciclos sucessivos de milonitização, geralmente com hidratação, aquecimento com recristalizações estáticas, re-milonitização... Fácies retrometamórficas e hidratadas dos granulitos são comuns em faixas tectonizadas tanto internamente quanto nos limites dos terrenos granulíticos onde passam para fácies anfibolitizadas (não granulitizadas) dando a falsa idéia de metamorfismo monofásico com transições metamórficas progradantes. Fácies migmatíticas não são raras nestas zonas e atestam retrabalhamentos mais profundos nestas descontinuidades crustais.
O Domínio dos Terrenos Gnáissico-anfibolíticos apresenta variações litológicas entre anfibolitos, gnaisses diversos e migmatitos. Localmente ocorrem rochas supracrustais como, por exemplo, anfibolitos finos e rochas cálciossilicatadas junto do Morro Santa Rita a NW de Araçu. Entretanto, a natureza plutônica destes terrenos é mais comum. A cartografia destas massas plutônicas, porém, é dificultada pelo metamorfismo, migmatização e tectonismo superimpostos que descaracterizaram as rochas e tornaram os seus contatos difusos. Na área foram discriminadas várias regiões com massas meta-plutônicas de trend mais básico (anfibolitos) e trend mais ácido (gnaisses). Estas fácies correlacionam-se em parte, provavelmente, com a Supersuíte Plutônica Americano do Brasil que ocorre para oeste, fora do domínio granulitizado, e que foi datada (Rb/Sr em RT) com 637±19Ma (Winge,1995a,b).
Muitas destas massas plutônicas tiveram origem complexa, com mistura de magmas e hibridização, perceptíveis em brechas plutônicas (xenólitos e hospedeiras mostram transições magmáticas). O metamorfismo e deformações de grau elevado superimpostos propiciaram uma maior descontinuidade e descaracterização dos protolitos, dando origem aos ubíquos gnaisses a hornblenda ou biotita e anfibolitos que apresentam todas as gradações entre si até em escala de afloramento.
Fora da área detalhada, ocorrem muitos corpos de meta-plutonitos que talvez sejam correlatos destes como, por exemplo: quartzo-diorito a N de Taquaral, quartzo sienito milonítico a sul da Serra do Capim Puba, granodiorito da Serra da Pedra a W de Goianira descrito por Nilson & Motta (1969).
Na região entre Ordália e Itauçu, no local Camaquã, junto ao bloco granulitizado principal do Complexo Anápolis-Itauçu, ocorre intrusão representada hoje por gnaisses quartzo-dioríticos. Nas zonas apicais, graníticas com desenvolvimento de idioblastos de Or, são encontrados xenólitos máficos. Parte desses xenólitos correspondem a fragmentos de granulitos máficos mostrando texturas simplectíticas de diaftorese isofacial com o grau metamórfico regional de fácies anfibolito que afetou as intrusões. Os granulitos encaixantes, leptinitos e granulitos máficos, apresentam-se tectonizados e com muscovita, biotita, anfibólios, epidotos.. decorrentes da diaftorese com hidratação. Na subida da Serra Maria da Silva, no contato leste deste meta-quartzo-diorito, já no domínio dos granulitos muito tectonizados, é significativa a ocorrência de meta-microdiorito blasto-porfirítico anfibolitizado que representa, provavelmente, apófise filoniana da intrusão diorítica não-granulitizada.
Fica , assim, evidenciado que o metamorfismo granulítico, seco, de alto gradiente geotérmico (Winge,1995) não foi coevo do metamorfismo anfibolítico regional, com alta PH2O, de gradiente barroviano. Este quadro geológico indica, claramente, a colocação da fase intrusiva, aqui correlacionada, em parte pelo menos, com a da Supersuite Plutônica Americano do Brasil, como posterior à granulitização do Complexo Anápolis-Itauçu e imediatamente anterior ao metamorfismo anfibolítico regional.
Em caráter precário, admite-se (Winge.1995) que o metamorfismo granulítico seja da mesma idade que o metamorfismo dos complexos máfico-ultramáficos granulitizados que ocorrem ao norte da mega-inflexão dos Pireneus, datado por Ferreira Filho et al.(1994) e Suita et al (1994) em, aproximadamente, 800Ma. Possívelmente foi provocado com o estiramento litosférico (soerguimento das isotermas astenosféricas) durante importante fase extensional do longo Ciclo Brasiliano. Já o metamorfismo anfibolítico, superimposto, teria ocorrido há cerca de 650 Ma, durante evento orogênico compressional quando fatias da crosta granulitizada teriam sido obductadas junto a falhas de baixo ângulo (retomadas de falhas lístricas de fase extensional?) formando septos entre terrenos não granulíticos.
REFERÊNCIAS
BRESSAN,S.R.1977.Relatório de pesquisa.PROJETO AGUAS CLARAS. METAGO. Goiania.(inédito).
FERREIRA FILHO,C.F.;KAMO,A.L.;FUCK,R.A.;KROGH,T.E.;NALDRETT,A.J.1994. Zircon and rutile U-Pb geochronology of the Niquelândia layered mafic and ultramafic intrusion, Brazil: constraints for the timing of magmatism and high grade metamorphism. Prec.Research,68:241-255.
NILSON,A.A. 1992. Geologia e petrologia do complexo máfico- ultramáfico de Aguas Claras, Centro-Sul de Goiás. Congresso Bras.Geol.,37, Bol.Resumos,1:457. SBG, São Paulo.
NILSON,A.A.;MOTTA,J. 1969. Geologia da área Goianira- Trindade,Goiás. Rio de Janeiro, DNPM/DFPM,Bol. 133.
NUNES,N.S.V. 1990.Geologia e potencial mineral da Região de Anicuns-GO. Tese de Mestrado; UnB, Brasília (inédito).
OLIVEIRA,C.C.;BITTAR,N. 1971. Geologia das Folhas de Itauçu, Palmeiras de Goiás e Cesarina e Cadastramento de Materiais de Construção da Área Goiânia-Trindade. Projeto Bandeirante. Goiânia, CPRM (inédito).
PROTHERO,D.R.1982. Interpreting the stratigraphic record. Apendix A: North american stratigraphic Code. W.H.Freeman & Co, NY.
SILVA,F.O. 1991.Geologia,Estrutura,Petrologia e Mineralizações de Fe,Ti e V Associadas ao Complexo Gabro- anortositico Acamadado de Santa Bárbara (Goias).Dissertação de Mestrado no.64,IG-UnB, Brasília.
SUITA,M.T.F.;KAMO,S.L.;KROGH,T.E.;FYFE,W.S.;HARTMANN,L.A.1994. U-Pb ages from the high-grade Barro Alto mafic-ultramafic complex (Goiás, Central Brazil): Middle Proterozoic continental mafic magmatism and Upper Proterozoic continental collision. 8th. Intern. Conf. Geochron., Berkeley,USA; Abstracts.
WINGE,M. 1995. Evolução dos terrenos granulíticos da Província Estrutural Tocantins, Brasil Central. Tese de Doutorado No5. IG/UnB. Inédita.
WINGE,M. 1995. Idade da Supersuíte Americano do Brasil, Goiás. (este simpósio)