UnB - Instituto de Geociências - Produção Científica
RESUMOS EXPANDIDOS / EXPANDED ABSTRACTS
RELAÇÕES ENTRE OS GABROS CORONÍTICOS DA SERRA DA FIGUEIRA E OS META-BASALTOS DA SEQUÊNCIA JUSCELÂNDIA, COMPLEXO BARRO ALTO, GOIÁS
Manfredo Winge -UnB
José Caruso Moresco Danni - UnB
In: Congresso Brasileiro de Geologia,38, Camboriú-SC, 1994, SBG. Boletim de Resumos Expandidos, 3:106-107.
RESUMO
O Complexo Barro Alto - CBA- compreende (Fuck et al.,1981, Danni et al.1984) uma sequência plutônica máfico-ultramáfica granulitizada (Sequência Serra de Santa Bárbara-SSSB), uma sequência gabro-anortosítica anfibolitizada (Sequência Serra da Malacacheta-SSM) e uma sequência vulcano-sedimentar anfibolitizada (Sequência Juscelândia-SJ). O CBA cavalga e insere-se em rochas milonitizadas tidas como de um embasamento granito-gnáissico.
As relações de contato entre as várias unidades são tectônicas. Assim, fatias de granulitos dentro da SSM e entre filonitos gnáissicos e a SJ demostram a severidade dos esforços tectônicos que afetaram o CBA. A consequente dificuldade no estudo das relações estratigráficas tem conduzido a interpretações geológicas diversificadas e, mesmo, conflitantes quanto à origem e evolução deste complexo e dos complexos Niquelândia e Canabrava que lhe são associados.
A solução desta questão envolve o estudo de regiões que apresentem contatos geológicos normais entre as várias unidades como, por exemplo, a região da Serra da Figueira na porção NW do CBA. Ali são verificadas (Danni et al.,1984; Winge & Danni,1994) fácies transicionais entre gabros coroníticos, correlacionados com a SSM, e anfibolitos finos correspondentes a base meta-basáltica da SJ.
Os gabros coroníticos, com textura ofítica a sub-ofítica preservada entre as coroas de reação metamórfica, gradam rapidamente, por vezes em poucos metros, das fácies grosseiras a médias, coroníticas, para fácies muito finas. Estas apresentam textura diabásica muitas vezes bem preservada com ripas de labradorita a bitownita de menos de 0,1 mm entre hornblenda e epidotos neoformados e raras coroas e blastos, por vezes idiomórficos, de granada. Associados a este conjunto de rochas e delas derivados ocorrem anfibolitos que variam de termos maciços (gabróides), com textura granoblástica média e ocasionais massas pegmatóides, a granada anfibolitos, bandados a nematoblásticos. A transformação parcial em anfibolitos atesta que houve entrada restrita de H2O no conjunto gabro-diabásico.
Esta unidade plutônica faz contato em toda a volta da Serra da Figueira, com os anfibolitos finos (meta-basaltos) da base da SJ os quais apresentam quimismo primitivo de crosta oceânica (Danni & Kuyumjian,1984; Kuyumjian & Danni,1991; Moraes & Fuck,1992).
As análises químicas de diabásio uralitizado do conjunto coronito-anfibolítico e de meta-basalto da SJ mostram terem ambos se originado de magma tholeítico, sub-alcalino com razões Ti x V indicativas de geração em assoalho oceânico. Os diagramas de ETR e de elementos incompatíveis normalizados, tanto a condrito quanto a manto primordial, condizem com esta ambiência geológica de expansão oceânica. A coincidência de padrões com valores analíticos semelhantes (ETR normalizados a valores condríticos mostra muito pequeno fracionamento entre ETRP e ETRL sem empobrecimento em Eu com YbN =11,763; (La/Yb)N=3,356 e EuN/Eu*=0,951 para o gabro coronítico e YbN =11,096; (La/Yb)N=2,213 e EuN/Eu*=0,922 para o meta-basalto) é indicativa da cogeneticidade magmática entre os meta-plutonitos da Serra da Figueira e os meta-basaltos da SJ o que confirma as conclusões de Winge & Danni (1994).
Moraes et al.(1994) determinaram condições metamórficas de 520oC e 5,5 kbar para a Sequência Juscelândia e de 720oC e 8,5 kbar para a Sequência Serra da Malacacheta na região de Cafelândia inferindo uma descontinuidade crustal de cerca de 12 km (200oC e 3 kbar) entre as duas sequências. No presente estudo, foi analisada amostra de olivina-gabro coronítico (oliv-2%; opaco-2%;OPx-5%;espin-3%;granada-6%;hornb-12%;CPx-30%; labrad-40%; %=estimada) em microssonda eletrônica e determinadas, através do programa Thermocalc de Powell & Holland (1988), condições termobarométricas variando de de 3,8 a 4,6 kbar e 575oC a 645oC envolvendo, entre outras, as seguintes reações dos membros finais na evolução metamórfica dessa rocha:
<3an+3fo=2py+gr> <an+fo+en=di+py> <3an+3fo+3fs=3hed+2py+alm>
<2hed+2py=2an+2fo+en+fs> <4hed+parg+4py=hb+4an+ab+6fo+2fa>
<an+fo=di+mgts> <2hed+2cats+2py=4an+3fo+fa>
<3ed+8an=5cats+py+2gr+3hb+2ab>
(Obs. abreviaturas segundo Powell & Holland,op.cit)
Estas condições de metamorfismo são semelhantes às determinadas para granada anfibolitos (metabasaltos) da SJ por Moraes et al.(1994) o que indica não ter havido na região da Serra da Figueira descontinuidade crustal como verificada alhures.
Reafirma-se, assim, que as rochas meta-plutônicas, representadas por gabro-coronitos a meta-diabásios e anfibolitos bandados a maciços da Serra da Figueira, correlacionáveis com a SSM pertencem ao substrato oceânico (camada 2 a 3) da SJ tendo evoluido ambas as sequências, substrato e cobertura supracrustal, conjuntamente dentro do CBA e sido tectonicamente acopladas ao pacote granulitizado em evento provavelmente pós-granulitização da SSSB.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DANNI,J.C.M.;FUCK,R.A.;KUYUMJIAN,R.M.;LEONARDOS,O.H.;WINGE,M.1984. O Complexo de Barro Alto na Região de Ceres- Rubiataba, Goiás. Rev.Bras.Geoc. 14(2):128-136.
FUCK,R.A.;DANNI,J.C.M.;WINGE,M.;ANDRADE,G.F.;BARREIRA,C.F.;LEONARDOS,O.H.;KUYUMJIAN,R.M. 1981. Geologia da Região de Goianésia. In: SIMP.GEOL.CENTRO-OESTE,1,Goiânia,1981.Atas...Goiânia - SBG; pp 447-467.
MORAES.R.;VASCONCELLOS,A.C.B.C.;FUCK,R.A.1994. Uma descontinuidade metamórfica no Complexo Barro Alto : evidência para sua compartimentação? IV Simp.Geol.Centro-Oeste; Resumos: 135-137. Brasília, SBG, 1944.
POWELL,R.;HOLLAND,T.J.B.1988. An internally consistent dataset with uncertainties and correlations: 3. Applications to geobarometry, worked examples and a computer program. J.Metamorphic Geol.,6:173-204.
WINGE,M.;DANNI,J.C.M.1994.A transição entre a Sequência gabro-anorotsítica Serra da Malacacheta e os metabasaltos da base da Sequência Juscelândia: implicações na gênese dos Complexos Barro Alto, Niquelândia e Canabrava. IV Simp. Geol. Centro-Oeste. Resumos:131-134.