Para-Olimpíada da Saída de Sedimento
Juliana Alencar
Estávamos em 1995 na saída de campo de
sedimentologia e estratigrafia em São João DÁliança. Era um campo de 1 semana onde cada grupo, de
aproximandamente 6 estudantes, mapeava uma área da Chapada, com 4 professores se revezando na
orientação.
Um dos grupos era
composto por mim, Claudia, Joyce, Maurício, Fred e Alexandre (Floripa).
O
Floripa, logo no primeiro dia,
torceu o pé esquerdo e teve que cortar um pedaço da camisa (a parte de
baixo) para enfaixar. Ficou andando no campo de pé enfaixado, bermuda e meia
camiseta da micarecandanga, com o umbigo de fora (Táva a coisa mais
linda!!!).
A Claudia havia operado o joelho esquerdo recentemente devido a
um pulo mal calculado numa das festas da UnB que fez com que arrebentasse os
ligamentos.
Eu, com o meu velho problema também no joelho esquerdo.
No penúltimo dia a Prof. Edi nos acompanhou no perfil que
desceria até o
Vale do Paranã. A descida é estreita, na beira do barranco, tinha cobra,
choveu, etc. Quando chegamos no meio do caminho, a topografia aplainou e
esperamos a chuva passar na sede de uma fazenda. Ali decidimos dividir o
grupo em 2: o grupo e o paragrupo.
O grupo continuaria descendo até o Vale e
voltaria pelo mesmo caminho e o para-grupo (eu, Claudia e Floripa) voltaria
contornando a Chapada para não forçar os joelhos que, a essa altura, já
estavam inchados. Isso era por volta de 3:00 da tarde e combinamos de nos
encontrar na Toyota as 5:30. A Prof. Edi nos mostrou na foto aérea que, pela
estrada, andaríamos um pouquinho mais mas seria tranquilo e chegaríamos bem
antes deles.
Tudo acertado, empreendemos o caminho de volta. A estrada não
ajudava
muito pois era de terra (naquelas alturas, barro, e bem escorregadio) e
bastante inclinada. Após andarmos 1 hora, paramos numa casinha para
perguntar se faltava muito. O homem respondeu que dali na fazenda que estava
o carro eram mais de 20 km e que a estrada era péssima.
Continuamos andando com o Floripa reclamando a plenos pulmões.
Numa
subida pareceu termos ouvido um barulho de caminhão e já começamos a rezar
para que fosse. Quando ouvimos mesmo o ronco do motor, o Floripa parou de
frente para o Vale do Paranã, abriu os braços e soltou essa pérola da
modéstia: - "Deeeeeeeuuuuuuuusssssss, o Senhor provou que é
muuuuuiiiittttoooo maior que eu!!!!". O caminhão estava numa fazenda e ia
levar toda a vizinhança (umas 30 pessoas) para a cidade para assistir a
missa de Nossa Senhora Aparecida (12 de outubro).
Entramos na fazenda com a
desculpa de pedir água, perguntamos novamente o caminho para a Toyota e
recebemos a mesma informação. Fizemos manha, contamos nossos problemas de
paragrupo na esperança de que eles nos oferecessem uma carona mas...,
nada!!!
Na saída, o Floripa sugeriu, como última cartada, que fizéssemos
um
drama e saímos, os três, mancando copiosamente da perna esquerda. Parecia
filme pastelão. O dono do caminhão nos chamou de volta e ofereceu carona
"mas só por causa das moças". O que aconteceu em seguida foi quase
um
pesadelo. O caminhão patinava no barro, tivemos que descer 3 vezes ao longo
do caminho para ajudar a empurrar e quase caímos no barranco numa
derrapagem. Tinha de tudo dentro do caminhão: pencas e pencas de banana,
galinha, pato, milho, gente, cachorro, gato....
Uma senhora que tinha medo
de "andar de carro" veio segurando meu braço com uma das mãos e uma
galinha
na outra. Por fim, conseguimos chegar na entrada da cidade e ainda tivemos
que ouvir do dono do caminhão que aquele era nosso presente de dia das
crianças!!!
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