ALGO MAIS na CHAPADA DIAMANTINA
Manfredo Winge
O Projeto Chumbo da Sudene (1965-1970), na região de Boquira e Chapada Diamantina na Bahia, foi um dos pioneiros em metodologia de mapeamento geológico sistemático no Brasil, iniciando com levantamento bibliográfico, inclusive de métodos de geoquímica de drenagem, e seguido de várias etapas conforme manda o figurino (reconhecimento geral de todas as áreas, foto-interpretação sistemática, mapeamento geológico em 1/100.000 e cadastro de ocorrências minerais, petrografia, análises geoquímicas, revisões da foto-interpretação, relatórios...). Envolveu uma equipe de jovens e entusiasmados geólogos sulinos e nordestinos: Alfeu Levy da Silva Caldasso, Carlos Alfredo Porcher, Carlos Schobbenhaus, João Meira Lessa, José Gilberto de Melo, Pedro Teixeira Kaul e Plínio Melchiades Veiga e o autor.
Na etapa de reconhecimento da área participávamos o Lessa, o Schobbenhaus e eu, além do motorista da Sudene, José de Souza. Acontece que as estradas da região da Chapada Diamantina não eram propriamente muito adequadas para o molejo citadino da rural willis que usávamos. Assim, a rural quebrou na descida da Chapada para o planície do Paramirim (hoje você desce em 5 minutos pela BR-242 - Salvador - Brasília). Entre uns e outros trancos sobre travessões de quartzitos e conglomerados pré-cambrianos, a nossa viatura quebrou a mola da roda dianteira.
Já era tarde e a noite se fez logo naquela bela região brasileira. Fizemos uma grande fogueira, jantamos bolacha com enlatados e ficamos jogando conversa fora enquanto o motorista tentava consertar o carro. Acabamos "dormindo" ao relento.
No dia seguinte, consertado o veículo continuamos na nossa peregrinação geológica, chegando ao entardecer na cidade de Oliveira dos Brejinhos. Cansados e com sede fomos direto ao bar/restaurante da cidade.
O amigo Schobbenhaus, com sua voz de barítono e com o sotaque gaúcho/paranaense ainda não modificado pelo sutake nórdesttino que veio a assumir com o tempo e por influência direta de D.Nina, perguntou ao "bar man" se ele tinha algo para beber, referindo-se a qualquer refrigerante.
O rapaz olhou espantado e respondeu:
- "seu dotô, aqui nóis usa o arco é pra fazê fogo, nóis bébe é cachaça".
[voltar para os causos]
HomePage Instituto de Geociências da Universidade de Brasília