UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA /INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
TESE DE DOUTORADO No
5
MANFREDO WINGE
EVOLUÇÃO DOS TERRENOS GRANULÍTICOS DA PROVÍNCIA ESTRUTURAL TOCANTINS, BRASIL CENTRAL
Palavras-chave: terrenos de alto grau; metamorfismo granulítico; Brasil Central; Complexo Barro Alto; Complexo Anápolis-Itauçu
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Regional ][Geologia Local]
DATA DA DEFESA: 28/03/95
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: GEOLOGIA REGIONAL
ORIENTADOR: PROF. JOSÉ CARUSO MORESCO DANNI (UnB)
EXAMINADORES: PROF. REINHARDT A. FUCK (UnB)
PROF. LEO AFRANEO HARTMAN (UFGRS)
PROF. ARIPLÍNIO ANTÔNIO NILSON (UnB)
PROF. JOHILDO SALOMÃO FIGUEIREDO BARBOSA (UFBA)
RESUMO
A Província Estrutural Tocantins corresponde à região afetada diretamente pela colisão
dos cratons do Amazonas, a oeste, e do São Francisco, a leste, durante o Ciclo
Brasiliano, do Neoproterozóico. Ela é integrada, principalmente, por faixas
metassedimentares proterozóicas (Araguaia, Uruaçu e Brasília) e por compartimentos de
embasamento granito-gnáissico-granulítico (Macico Mediano de Goiás), de várias idades:
desde arqueanos (terrenos granito-greenstone) até neoproterozóicos (associados com
sequências vulcano-sedimentares de acresção crustal de arcos de ilha).
Os compartimentos granulíticos estão inseridos em dois blocos de embasamento
granito-gnáissico que têm mais de 300 km de extensão e 80 a 100 km de largura,
dispostos em NE-SW, ao norte, e em NW-SE, ao sul, acompanhando os lineamentos direcionais
regionais. Estes blocos são limitados e cortados por sistemas sub-ortogonais de falhas
transcorrentes-transferentes, apresentando padrões de anomalia gravimétrica que indicam
sutura com espessamento crustal a leste.
No bloco setentrional, os terrenos granulíticos são representados pelos complexos Cana
Brava, Niquelândia e Barro Alto que congregam sequências máfico-ultramáficas, com
evolução gabro-norítica, e stocks gabro-dioríticos até graníticos. Estas massas
magmáticas apresentam relações intrusivas entre si (bordas, contatos, xenólitos..) e
são agrupadas em dois trends geoquímicos: um de natureza tholeítica, alto Mg, e outro,
derivado deste por contaminação, do tipo cálcio-alcalino.
Os terrenos granulíticos do segmento meridional são representados pelo Complexo
Anápolis-Itauçu, constituído de crosta sializada, em parte arqueana, com restos de
rochas supracrustais, inserçoes de terrenos gnáissico-anfibolíticos- migmatíticos e
rochas plutônicas de várias gerações e idades. Destacam-se nele vários stocks
máfico-ultramáficos granulitizados que derivaram de magma basáltico, alto Mg, o qual
fracionou, em níveis de crosta profunda, rochas análogas às dos complexos
máfico-ultramáficos do segmento setentrional.
Os complexos máfico-ultramáficos do norte distinguem-se dos do sul por apresentarem
dimensões avantajadas, disposição linearizada junto à sutura crustal, aloctonia com
relação às encaixantes e associação, sempre em contatos tectônicos, com sequências
anfibolitizadas: 1) plutônicas, troctolito gabro-anortosíticas (Serra dos Borges e Serra
da Malacacheta), e 2) sequências vulcano- sedimentares. Esta diferença é imputada à
tectônica de rifteamento mais severa e localizada ao norte, a qual teria evoluído até a
formação de crosta oceânica (base das sequências vulcano-sedimentares Palmeirópolis,
Indaianópolis e Juscelândia), enquanto que, ao sul, o Complexo Granulítico
Anápolis-Itauçu, teria desenvolvimento somente intra-siálico.
A intrusão dos complexos máfico-ultramáficos granulitizados ocorreu no fim do
Paleoproterozóico (idades U/Pb em zircão em rochas do magmatismo híbrido entre 1,73 e
1,56 Ba.), durante evento extensional que originou a formação de rift com depósitos de
sedimentos clásticos, geralmente maduros, a pelito-carbonáticos e carbonáticos com
vulcanismo basal localizado (Grupos Araí, Serra da Mesa e Araxá).
As sequências gabro-anortosíticas, ao norte, mostram marcantes diferenças com relação
às fácies máfico- ultramáficas granulitizadas que, estruturalmente, lhes estão
abaixo: 1) trend geoquímico: (teor em Fe e padrão ETR), 2) metamorfismo (Pfluido e
gradiente geotérmico). Estes fatos, além dos contatos sistematicamente tectonizados e a
não-ocorrência dos stocks intrusivos, indicam que essas sequências não corresponderam
ao topo de intrusões do tipo Bushveld. As datações atribuindo idade semelhante à dos
stocks granulitizados e o seu quimismo levam a modelar essas sequências como decorrentes
de uma fase intrusiva (magma alto Al, parcialmente fracionado e com alta fO2),
lateralmente deslocada com relação aos complexos máfico- ultramáficos e antecedendo ao
estágio final de ruptura siálica, quando teriam se formado as bacias ensimáticas das
sequências vulcano-sedimentares, em um modelo geotectônico análogo ao que envolveu,
provavelmente, o rifteamento do Atlântico Norte. Fácies transicionais entre
olivina-gabros coroníticos e metabasaltos de fundo oceânico (Serra da Figueira, Complexo
Barro Alto), apresentam coroas reacionais cuja termobarometria indica colocação a ~10 km
(~4kbar) de profundidade e cristalização a 6000C, sendo, por isso, interpretadas como
decorrentes de magmatismo recorrente de fundo oceânico, similar ao das sequências
troctolito- gabroanortosíticas.
O fechamento destas bacias oceânicas deu-se, provavelmente, por tectônica compressional
e obducção sobre os complexos, com retomada dos antigos planos de falhas lístricas, há
cerca de 1,3 Ba.
As características das tramas ígneo-metamórficas das rochas granulíticas evidenciaram
que a granulitização ocorreu em regime tectônico ativo com processos iterativos de
blastese e de cominuição cristalina que afetou, diferencialmente, o conjunto,
permanecendo faixas ou bandas, de variada espessuras, com estruturas/texturas, em parte
reliquiares, em parte granoblásticas, entre bandas variavelmente deformadas e
metamorfizadas.
Os dados texturais, com plagioclásio e opx ígneos preservados, sem a formação de
granada magnesiana e cpx sódico, bem como as determinações termobarométricas, indicam
auge do metamorfismo granulítico entre 7 e 8,5 kbar e 700 a 9000C, ou seja, em
condições da fácies granulito de baixa pressão, a profundidades inferiores a 30 km. A
trajetória das condições PT apresenta provável sentido horário, sem ter desenvolvido
paragêneses de alta pressão, típicas da lapa de crosta duplicada. Consequentemente, a
granulitizaçào ocorreu sob regime térmico elevado e em crosta fina.
As datações do metamorfismo granulítico, definidas alhures, indicam a separação
causal entre a fase de rifteamento (intrusão dos complexos máfico-ultramáficos) e a de
granulitização. Esta teria ocorrido entre 770 a 820Ma, ao tempo em que se estruturava
sistema de arcos de ilha em crosta oceânica, a oeste, ou seja, antes da colisão
continental, há cerca de 650 Ma. Admite-se evento de estiramento litosférico e
aquecimento mantélico granulitizando os complexos e suas encaixantes em base de crosta
afinada (profundidades entre 15 a 25km), em ambiente, talvez, de plataforma continental.
A mudança para tectônica compressional, com acoplamento de sistemas de arcos de ilha
"Porangatu, ao norte, e "Arenópolis", ao sul, teria acentuado a flexura da
borda continental, e reativado as antigas falhas lístricas, agora como falhas de
empurrão. A forte vergência deste diastrofismo foi condicionada em blocos transferentes,
aproveitando antigas falhas profundas de natureza transcorrente, com escapes laterais e
frontais na supraestrutura, originando inflexões estruturais (oroclinais) e extensas
dobras em bainha.
A elevação estrutural das áreas granulitizadas deu-se por falhamentos inversos em duas
etapas principais retratadas por paragêneses retrometamórficas:
1) na fácies anfibolito alto a médio, coincidente com as paragêneses tipomorfas das
sequências gabro-anortosíticas e vulcano-sedimentares do norte e do Complexo
Anortosítico Santa Bárbara e gabros, dioritos e granitos associados no Complexo
Anápolis-Itauçu, ao sul;
2) na fácies epidoto-anfibolito a xisto verde, típica das sequências metassedimentares
proterozóicas.
Esta última fácies retrata a colocação alóctone final dos complexos granulitizados
por obducção da infracrosta utilizando os planos tectônicos antigos durante a máxima
compressão orogenética.
A formação de pseudo-taquilitos nos granulitos, posicionados em nível crustal
elástico, ocorreu durante os movimentos orogenéticos tardios.
UNIVERSITY OF BRASILIA / INSTITUTE OF GEOSCIENCES
PhD
THESIS No 5
MANFREDO WINGE
EVOLUTION OF THE GRANULITIC TERRAINS OF THE TOCANTINS STRUCTURAL PROVINCE, CENTRAL BRAZIL
Key words: high grade terranes; granulitic metamorphism; Central Brasil; Barro Alto Complex; Anápolis-Itauçu Complex
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DATE OF ORAL PRESENTATION: 28/03/95
TOPIC OF THE THESIS: REGIONAL GEOLOGY
SUPERVISOR: PROF. JOSÉ CARUSO MORESCO DANNI(UnB)
COMMITTEE MEMBERS: PROF. REINHARDT ADOLFO FUCK(UnB)
PROF. LEO AFRANEO HARTMAN (UFGRS)
PROF. ARIPLÍNIO ANTÔNIO NILSON (UnB)
PROF. JOHILDO SALOMÃO FIGUEIREDO BARBOSA (UFBA)
ABSTRACT
The Tocantins Structural Province, Central Brazil, consists of Proterozoic
metassedimentary folded belts (Araguaia, Uruaçu and Brasília) and ensialic basement
rocks of various ages (from archaean granite-greenstone up to neoproterozoic island arc
roots) amalgamated in N-S structural trend during the neoproterozoic continental collision
between the Amazonas and the São Francisco cratons.
The sudied high grade mobile belts show always tectonic limits following the main
structural lineaments and are inserted into two crustal blocks 80-100km wide limited by
sutures. The suture at the eastern side shows higher gravimetric contrast related probably
to mantle elevation pushed over flexured crust during inverse faulting directed to the
foreland at east .
The northern belt (Ceres) is NE-SW oriented, extends for more than 350 km and comprehends
three granulitized mafic-ultramafic complexes (Cana Brava, Niquelândia and Barro Alto)
with a gabbronoritic trend. The complexes are separated by transversal deep transference
faults and by proterozoic metassedimentary covering.
The southern segment is a NW-SE crustal block (Complexo Anápolis-Itauçu), separated from
the northern by a regional E-W structural inflection (Pireneus Mega-inflection). With ca.
320 x 70 km long it is constituted of a sialic crust, archaean in part, with supracrustal
remnants with tectonics insertions of amphibolie, migmatite gneissic terranes and plutonic
rocks of various generations including mafic-ultramafic granulitized complexes similar to
the northern complexes. They are variably disrupted by strong neoproterozoic tectonism of
the Brasiliano Cycle. The northern mafic ultramafic complexes differ from these by their
bigger size, the more allochtonous character and by the systematic association with
anortositic massifs and volcano-sedimentary sequence strucured over oceanic crust with
back arc signature.
The evolution of these high grade terrains began with an extensional tectonics, palaeo to
mesoproterozoic in age affecting a sialic crust with listric faulting that caused the
inception of higher crust fragments in the medium to lower crust while at the surface
occurred the intrasialic rift accumulation (Araí/Araxá/Serra da Mesa Groups). This
process was more intense at the northern segment favouring more melting and the huge
intrusions derived from high Mg tholeitic magma in batch arrivals conditioned to the
evolution of the lithospheric stretching.
The progressive heating of the initially cold sialic crust promoted by the magma advection
began the generation of a hybrid mafic-palingenetic magma (varying from gabbrodiorites to
aluminous granites) with an extensive brecciation of the already solidified
mafic-ultramafic bodies. This event was probably related to the increasing of the listric
faulting with the detachment of higher levels of the crust with consequent lowering of
lithostatic pressure. Granitic magma generated at favourable places rose in the crust and
were located in the rift sedimentary sequences or extruded as volcanics.
With the listric faulting the stretched crust with the intrusions moved away laterally
from the magmatic foccuses and then started a new scenario with batches of a different
magma, partially fractionated with more Al and higher fO2 solidifiing as troctolite
gabbro-anortositic massifs in a structure probably similar to the transitional crust of NW
Norwegian and SE Greenland coasts. This magmatism preceeded a crustal rupture that gave
place to the opening of ocean basins, probably small, filled with volcano-sedimentary
sequences. Transitional facies between olivine gabbros and metabasalts occur at Serra da
Figueira and are probably related to recurrent magmatism installed in a ~10 km depth magma
chamber. These olivine gabbros show metamorphic coronas with static thermodynamic
conditions around 6000C and 4kbar.
The closure of these ocean basins occurred at the mesoproterozoic (1,3Ga) with a probably
faint tectonics that obducted these supracrustal and plutonic rocks over the sialic crust
containing the older mafic ultramafic complexes using the old listric planes.
The extensional tectogenesis (900-750Ma) of the Brasiliano Cycle reactivated this region
and the old structural surfaces pulling the old complexes to lower positions in the crust
were they, and the envolving sialic crust, were heated and granulitized approximately at
the same time that occurred the crustal rupture at West giving rise to the neoproterozoic
ocean in the Porangatu area at north and the Arenopolis-Jaupaci area at South. The now
epicontinetal Bambui basin was already installed at cratonic areas. The clockwise path
metamorphism developped low to medium pressure metamorphic paragenesis with the termic
peak at 700 to 9500C and 5 to 8,5kbar, corresponding to 15 to 25 km depth in
the crust what precludes the granulitization at lower levels of a duplicated normal crust.
These sialic blocks were occurred the granulitization worked as passive margin and
probably were locally or periodically exposed because of the diapiric tectonics promoted
by granitic anatexis and/or granultic metamorphism heating the sialic rocks.
With the changing of the tectonics from extensional to compressional occurred the oceanic
closure with island arc structures overthrusting the borderland and flexuring the crust.
The older faults were reworked and the strong vergence directed to the east was in part
conditioned into transference blocks giving rise to structural inflections as the Pireneus
Megainflection with fan shaped (oroclines) frontal and lateral escapes in the
suprastructure.
The obduction of the granulitic crust proceeded during nappe tectonics in two steps
recorded by retrometamorpic paragenesis:
1) in the high to medium amphibolite facies when couppled with the anorthositic massifs in
the northern segment and with the Santa Bárbara anorthositic Complex and associated
gabbro, diorite, monzonite and granite rocks at South;
2)in the epidote-amphibolite to green schist facies typomorphic of the proterozoic
metassedimentary cover. This facies represents the final allochtonous movement of the
granulites during the maxima compression at ~640Ma ago.
During the final uprising movements occurred fast erosion of the belt with deposition of
the terrigenous sedimentation (Tres Marias Formation) in the foreland and the cooling of
the metamorphic core complexes. Probably the pseudotachilite veins where formed during
seismic events in these final stages when the granulites where already placed in the
elastic levels of the crust.