UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA /INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
TESE DE
DOUTORADO No 8
MÁRCIO DIAS SANTOS
O PAPEL DOS GRANITÓIDES NA GÊNESE DOS DEPÓSITOS DE OURO TIPO "LODE" ARQUEANO: O CASO DA JAZIDA DO CUMARU - PADATA DA DEFESA: 11/12/95
RESUMO
O depósito de Au-Cu do Cumaru situa-se nos domínios
da Província Mineral de Carajás, sudeste do Estado
do Pará, 100 km a oeste da cidade de Redenção.
O depósito do Cumaru é hospedado em cúpulas
de granitóides arqueanos (Granodiorito Cumaru) intrusivos
em sítios transtensionais da zona de cisalhamento dextral
da Serra Ruim, com terminação em rabo de cavalo,
que corta a sequência vulcano-sedimentar milonítica
do Grupo Gradaús no flanco sul do greenstone belt de Gradaús.
O pluton principal (stock do Cumaru) exibe uma textura isotrópica
e se colocou em condições tarditectônica.
Por outro lado, os stocks de Maria Bonita, com formas sigmoidais,
evidenciam condições sintectônicas para sua
colocação.
As características petrográficas e geoquímicas
do Granodiorito Cumaru são compatíveis com granitóides
cálcio-alcalinos do tipo I relacionados a arcos vulcânicos.
A baixa razão inicial 87Sr/86Sr do
Granodiorito Cumaru indica uma fonte de natureza mantélica,
ou de curta residência crustal, para o magma granodiorítico.
As rochas vulcânicas, associadas ao Granodiorito Cumaru,
compõem uma suite cálcio-alcalina bimodal relacionada
à evolução do greenstone belt.
O depósito do Cumaru é predominantemente representado
por um sistema de filões bem desenvolvido com direções
preferenciais NE-SW, na borda NW do stock do Cumaru, concordantes
com falhas e fraturas extensionais de segunda ordem do cisalhamento
principal da serra Ruim. Esta situação estrutural
propiciou a abertura de espaço e a migração
dos fluidos que lá depositaram o minério aurífero
em veios de quartzo. Associados aos grandes filões, ocorrem
enxames de filonetes com padrão stockwork e com mineralização
disseminada, hospedados em rochas intensamente alteradas hidrotermalmente.
Tanto no minério venular como no disseminado o ouro acompanha
a fase sulfetada que é dominada pela pirita. Calcopirita,
bismutinita e mais raramente molibdenita e magnetita também
ocorrem no minério.
O tipo de alteração hidrotermal dominante no depósito
do Cumaru é a alteração fílica que
ocorre de maneira pervasiva envolvendo os corpos mineralizados.
Essa alteração é representada por uma rocha
brehóide constituída por sericita + quartzo + pirita,
com epidoto e clorita subordinados. Mais restritamente, ocorrem
a alteração propilítica (clorita + epidoto
+ albita + calcita) e a alteração potássica
(K-feldspato) em porções localizadas e envolvidas
pela alteração fílica que se superpôs
às outras duas.
Três tipos de fluidos foram identificados nos veios de quartzo
do depósito do Cumaru. Fluidos aquo-carbônicos, imiscíveis
durante a formação do depósito, e representados
por uma série de inclusões com grau de preenchimento
(F) variando de zero (inclusões carbônicas) até
em torno de 0,9 em inclusões aquo-carbônicas saturadas
(salmouras). Esses fluidos foram interpretados como relacionados
ao cisalhamento da Serra Ruim. O segundo tipo de fluido compreende
salmouras do sistema H2O-NaCl-KCl-CaC2L
, interpretadas como relacionadas ao magma residual do granodiorito.
O terceiro tipo de fluido corresponde à inclusões
aquosas não saturadas tardias, consideradas como água
meteórica.
As condições de T-P para a formação
do depósito aurífero foram estabelecidas através
do geotermômetro da clorita e isócoras calculadas
a partir dos dados microtermométricos das inclusões
fluidas. As condições de T-P calculadas situam-se
entre 300-3500C e 1,3 a 3,8 Kb. Os baixos valores de
fO2 dos fluidos mineralizantes do Cumaru e a associação
paragenética do Au com sulfetos, sugerem que o enxofre
encontrava-se no estado reduzido e, nestas condições,
o Au deve ter sido transportado predominantemente como tio-complexos
na forma Au(HS)2
A mistura dos fluidos aquo-carbônicos com as salmouras H2O-NaCl-KCl-CaC2L
foi considerado o principal mecanismo que teria provocado a deposição
do ouro. Essa mmistura provocou o aumento dafO2 e diminuição
do pH, favorecendo a precipitação do Au. A interação
fluido-rocha também patrocinou a deposição
do ouro através da redução da fO2
e fS2 , em consequência de reações
de hidrólises envolvidas nas alterações fílica
e propilítica.
Os estudos dos isótopos estáveis estabeleceram importantes
restrições com relação às possíveis
fontes para os fluidos mineralizantes do depósito do Cumaru.
Enquanto que os valores de d 18O e d D são compatíveis
com água metamórfica, provavelmente com alguma interação
de fluidos magmáticos, os dados de d 13C para
o CO2 das inclusões fluidas, são característicos
de fluidos geotermais, possivelmente de procedência mantélica.
As características geológicas, estruturais, geoquímicas
e isotópicas, bem como o sistema de fluidos do depósito
do Cumaru, são compatíveis tanto com depósitos
de ouro tipo lode arqueano em zonas de cisalhamnento, como com
depósitos porfiríticos que ocorrem tipicamente em
cúpolas de granitóides de arcos magmáticos
fanerozóicos. Tal situação sugere a participação
tanto do cisalhamento como do magmatismo granodiorítico
na gênese do depósito de ouro mesotermal do Cumaru.
UNIVERSITY OF BRASILIA / INSTITUTE OF GEOSCIENCES
PhD
THESIS No 8
MÁRCIO DIAS SANTOS
THE ROLE OF GRANITOIDS IN THE GENESIS OF ARCHEAN LODE GOLD DEPOSITS : THE CUMARU MINE, PARÁ STATE - BRAZILDATE OF ORAL PRESENTATION: 11/12/95
ABSTRACT
The Cumaru Au-Cu deposit lies within the Carajás Province
about 100 km west of the city of Redenção in the
southeastern Pará State. The Cumaru deposit is hosted by
small Archean plutons (Cumaru Granodiorite) intruded in the horse-tail
dilation zones of the dextral Serra Ruim shear zone. This shear
zone crosscuts the volcano-sedimentary milonite rocks of the southern
flank of the Gradaús greenstone belt (Gradaús Group).
The main pluton (Cumaru stock) displays an isotropic fabric and
it is emplaced under latetectonic conditions. The sigmodal-shaped
Maria Bonita stocks, on the other hand, show a sintectonic emplacement.
The petrographic and geochemical characteristics of the Cumaru
stock are consistent with those of type I calc-alkaline granitoids
of volcanic arc affiliation. The low 87Sr/86Sr
initial ratio of the Cumaru Granodiorite suggests mantle derivation
or a short crustal residence source for the granodiorite magma.
The volcanic rocks associated to the Cumaru pluton comprise a
bimodal calc-alkaline suite related to the evolution of the greenstone
belt.
The Cumaru deposit is chiefly represented by a well developed
vein system trending to NE-SW at the NW edge of the Cumaru stock,
following second order extensional fractures and faults related
to Serra Ruim shear zone. This structural situation has favored
the fluid migration required for gold deposition within the quartz
veins. Disseminated ore in a stockwork array of veinlets is hosted
within strongly hydrothermal alterated rocks associated to the
main lodes. In both the vein and the disseminated ores, the gold
is associated with sulfides, mainly pyrite. Minor chalcopyrite,
bismuthinite, molibdenite, magnetite and hematite are also characteristic
of the ore paragenesis.
Pervasive phyllic alteration surrounds the ore shoots and stockwork
mineralization. It is the dominant hydrothermal wall-rock alteration
type which is characterized by a brecciated rock made up by sericite
+ quartz + pyrite and minor epidote and chlorite. Propylitic alteration
(chlorite + epidote + albite + calcite) and potassic alteration
(k-feldspar) are restricted, enveloped and replaced by phyllic
alteration.
Three kinds of fluids were identified in the quartz veins of the
Cumaru deposit. Aquo-carbonic fluid, immiscible at the time of
ore formation, is represented by a series of inclusions with varying
degree of fill (F). F varies from nil in carbonic inclusions to
higher than 0.9 in aquo-carbonic brines. These fluids were interpreted
as metamorphic fluids related to Serra Ruim shear zone. The second
type of fluid comprises brines within the H2O-NaCl-KCl-CaC2L
system interpreted as derived from the granodiorite residual fluids.
The third kind of fluid is formed by low- salinity meteoric water.
The P-T conditions for the gold deposit formation were estimated
using the hydrothermal chlorite geothermometer and the isochores
calculated from the fluid inclusion microthermometric data. Values
range from 300 to 3500C and 1.3 to 3.8 Kb. The low
fO2 values of the mineralized fluids and the paragenetic
association of the gold with sulfides suggest that sulphur was
on reduced state at the time of ore formation. These conditions
favor the gold transport as Au(HS)2.
Mixing between aquo-carbonic fluids and H2O-NaCl-KCl-CaC2L
brines was regarded to be the main cause for gold deposition.
This mixing process brought about an increase of the fO2
and decrease of pH, triggering the precipitation of gold. The
fluid-rock interaction would also favor gold deposition through
the reduction of the fO2 and fS during the hydrolysis
related to phyllic and propylitic alteration.
The stable isotope data have placed important constraints on the
source of the mineralized fluids. While the d18O and
dD values point to metamorphic water, probable with some magmatic
interaction, the d13C data are consistent to geothermal
fluids, possibly mantle-derived, for the CO2 of the
fluid inclusions of the Cumaru gold deposit.
The geological, structural, geochemical, fluid system and isotopic
characteristics of the Cumaru gold deposit are similar to greenstone-hosted
lode gold deposit that occur in shear zones, as well as to porphyry
mineralization typical of phanerozoic magmatic arc. This situation
suggests that both shear zone and granodiorite intrusion were
active processes involved in the genesis of the Cumaru mesothermal
gold deposit.