UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA /INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
TESE DE DOUTORADO No
20
PAULO DE TARSO AMORIM DE CASTRO
OS CONGLOMERADOS ASSOCIADOS AO GRUPO BAMBUÍ NA PORÇÃO SUDOESTE DO CRATON DO SÃO FRANCISCO: SEDIMENTOLOGIA, ESTRATIGRAFIA E IMPLICAÇÕES TECTÔNICASPalavras-chave: Cráton do São Francisco, Supergrupo São Francisco, Grupo Bambuí, Neoproterozóico, sedimentologia, estratigrafia, sistema de leques deltaicos, bacia foreland
DATA DA DEFESA: 05/12/97
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: GEOLOGIA REGIONAL
ORIENTADOR: PROF. CARLOS JOSÉ SOUZA DE ALVARENGA(UnB)
EXAMINADORES: PROF. ROBERTO VENTURA SANTOS (UnB)
PROF. ALEXANDRE UHLEIN (UFMG)
PROF. LUIZ SÉRGIO A. SIMÕES (UNESP)
RESUMO
Na parte sudoeste do Cráton do São Francisco ocorrem rochas metassedimentares do Grupo Bambuí, Supergrupo São Francisco, de idade neoproterozóica. Nesta região, estão presentes metaconglomerados da Formação Samburá, unidade tida como sendo a basal do Grupo Bambuí. Suas ocorrências dispersam-se pela região segundo afloramentos descontínuos, que estão, normalmente, localizados nas proximidades das serras formadas por rochas dos grupos Araxá, Canastra, Paciência e Lavapés, da porção externa da Faixa de Dobramentos Brasília. Essas serras compõem o conjunto de divisores de águas entre as bacias do rio São Francisco e as do rio Grande e Paranaíba. A distribuição de rochas metaconglomeráticas estende-se desde, meridianamente, as proximidades de Lagamar, a norte, até a cidade de Carmo do Rio Claro, a sul do Lago de Furnas.
Para efeito de simplificação da terminologia usada optou-se, pela supressão do prefixo meta, da denominação das rochas estudadas.
Estudos estratigráficos realizados nas rochas do Grupo Bambuí, aflorantes no alto vale do Rio São Francisco, nos flancos oriental e ocidental da Serra da Pimenta e nas proximidades da cidade de Cristais, revelaram que estas rochas podem ser agrupadas em três unidades litoestratigráficas informais.
A primeira delas, a unidade carbonática, é composta por calcários e dolomitos de tonalidade acinzentada a negra, apresentando-se, por vezes, laminada, oolítica, calcirrudítica e, mais raramente, estromatolítica. Margas também estão presentes. Esta unidade assenta-se discordantemente sobre os granitóides e rochas metamórficas de alto grau que compõem o embasamento.
Superposta, concordantemente, a essa unidade se encontra a unidade clástica com predomínio de pelitos, formada essencialmente por pelitos. Por vezes, estão presentes lentes e lâminas discretas de siltitos de espessura centimétricas e, mais raramente, alguns corpos de arenitos finos.
Esta unidade passa lateralmente, à unidade clástica com predomínio de psefitos, com a qual possui contato interdigitado. Tal unidade é composta por conglomerados clasto-suportados e, mais raramente, matriz-suportados, arcósios e pelitos.
Em relação à litoestratigrafia formal proposta para região, estas três unidades compõem o Subgrupo Paraopeba. A unidade clástica com predomínio de psefitos pode ser relacionada, em parte, à Formação Samburá.
Semelhanças litológicas permitem correlacionar às unidades descritas as ocorrências próximas à Lagamar e as da região de Carmo do Rio Claro. As rochas conglomeráticas da região de Lagoa Formosa e de Carmo do Paranaíba, unidade Lagoa Formosa, possuem características que sugerem um outro posicionamento litoestratigráfico, estando sotopostas às rochas do Subgrupo Paraopeba.
Os estudos sedimentológicos realizados levaram a conclusão que as rochas da unidade clástica com predomínio de psefitos representam sistemas de fan-deltas, cujos clastos são provenientes das rochas que compõem a Faixa Brasília, situadas, genericamente, a oeste. Já as rochas que compõem a unidade clástica com predomínio de pelitos possuem evidências de terem sido depositadas em um ambiente plataformal sujeito à ação de tempestades. Em direção a leste, estão presentes as rochas da unidade carbonática, formando um sistema de plataforma/rampa carbonática rasa, cujo desenvolvimento mais expressivo se dá no flanco ocidental do Alto de Sete Lagoas, afastado, portanto, das áreas de entrada de material siliciclástico proveniente da Faixa Brasília. As rochas da unidade Lagoa Formosa apresentam aspectos sugestivos de terem sido depositadas no limite dos ambientes de plataforma/talude, não guardando características que possam servir de base segura à uma correlação com as demais unidades descritas. Em nenhuma das unidades estudadas foram registrados aspectos que possam sugerir, inequivocamente, influência glacial à época da deposição destas rochas.
A análise das características estratigráficas, sedimentológicas e deformacionais das rochas do Grupo Bambuí na porção sudoeste do Cráton do São Francisco, indicam que a sedimentação Bambuí se deu em uma bacia do tipo foreland, como resposta ao regime compressivo que se instalou nas porções mais internas da Faixa Brasília.
UNIVERSITY OF BRASILIA / INSTITUTE OF GEOSCIENCES
PhD
THESIS No 20
PAULO DE TARSO AMORIM DE CASTRO
THE CONGLOMERATES ASSOCIATED TO THE BAMBUÍ GROUP IN THE SOUTHWESTERN PORTION OF THE SÃO FRANCISCO CRATON: SEDIMENTOLOGY, ESTRATIGRAPHY AND TECTONIC IMPLICATIONSKeyWords: São Francisco Craton, São Francisco Supergroup, Bambui Group, Neoproterozoic, sedimentology, stratigraphy, fan delta system, foreland basin
DATE OF ORAL PRESENTATION: 05/12/97
TOPIC OF THE THESIS: REGIONAL GEOLOGY
SUPERVISOR: PROF. CARLOS JOSÉ SOUZA DE ALVARENGA(UnB)
COMMITTEE MEMBERS:PROF. ROBERTO VENTURA SANTOS (UnB)
PROF. ALEXANDRE UHLEIN (UFMG)
PROF. LUIZ SÉRGIO A. SIMÕES (UNESP)
ABSTRACT
In the Southwest part of São Francisco Craton occur Neoproterozoic metasedimentary rocks of the Bambuí Group, the upper unit of the São Francisco Supergroup. Among these rocks, the Samburá Conglomerate outcrops as isolated patches nearby the external (eastern) region of the southernmost part of Brasília Fold and Thrust Belt. These outcrops extend from nearby Lagamar at the north to the Carmo do Rio Claro at the south, beyond Furnas Hydroelectric Dam.
From all-over this text, in order to simplifying the terminology, it was adopted the suppression of the prefix meta from the metasedimentary rock names.
Stratigraphic studies carried out on rocks from the Bambuí Group at the highest part of the São Francisco river, at east and west border of the Serra da Pimenta and at the surroundings of Cristais town reveal that they can form three different informal lithostratigraphic units. The lowest one, the unidade carbonática (carbonatic unit), is composed by dark gray to black limestones and dolomites that can be laminated, oolithic, calciruditic or, even, stromatolithic. This carbonatic unit rests unconformably over plutonic and high metamorphic rocks from the basement. Above this unit, the unidade clástica com predomínio de pelitos (clastic unit comprised mostly by pelites) is lying conformably. This lithoestratigraphic unit shows some sandstones and siltstones centimetre thick stratas. To the west, this unit laterally grades to more coarse grained siliciclastic unit, the unidade clástica com predomínio de psefitos (clastic unit comprised mostly by psefites), that is formed mainly by clast-suported conglomerates and, subordinately, by matrix-suported conglomerates, arcoses and pelites.
According to the formal lithoestratigraphy proposed for the region, these informal lithoestratigraphic units can be related to the Paraopeba Subgroup, and the psefitic unit may be partially related to the Samburá Formation. In the other hand, the conglomeratic rocks from the Lagoa Formosa and the Carmo do Paranaíba region, the informally so-called Lagoa Formosa unit, can not be correlated to the Paraopeba Subgroup, and seem to be located under these subgroup.
Sedimentological studies carried out on these rocks reveal that they were formed in different ways:
- the conglomerate rocks from unidade clástica com predomínio de psefitos were formed in fan delta systems that developed eastward due to erosion of Mesoproterozoic rocks of the Brasilia Belt;
- the unidade clástica com predomínio de pelitos rocks represent a muddy shelf system occasionally under effect of storm conditions;
- the rocks from unidade carbonática are formed in platform/ramp system that developed eastward from clastic input of fan-delta systems, at the west flank of the Sete Lagoas High.
In the studied region, there are no evidence of glacial conditions nor glacial influence over all the different depositional systems.
Stratigraphic, sedimentological and tectonic studies carried out on the rocks of the Bambuí Group at the southwest part of São Francisco Craton point to they were formed in fan delta, muddy shelf and platform systems that developed in a foreland basin. These foreland basin is due to the progressively and eastwardly emplacement of Brasília Fold and Thrust Belt with Mesoproterozoic rocks on the west border of the São Francisco Craton.