UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA /INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
TESE DE DOUTORADO No
24
MÁRCIA ABRAHÃO MOURA
O MACIÇO GRANÍTICO MATUPÁ E O DEPÓSITO DE OURO SERRINHA (MT): PETROLOGIA, ALTERAÇÃO HIDROTERMAL E METALOGENIAPalavras-chave: Granito, ouro, Mato Grosso, alteração hidrotermal, metalogenia
DATA DA DEFESA: 11/12/98
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: MINERALOGIA
ORIENTADOR: PROF. NILSON FRANCISQUINI BOTELHO (UnB)
EXAMINADORES:PROFa. CRISTINA MARIA WIEDEMANN (UnB)
PROF. HARDY JOST (UnB)
PROFa. ZARA LINDENMAYER (UNISINOS)
PROF. ROBERTO DALL'AGNOL (UFPA)
RESUMO
O Depósito de ouro Serrinha, localizado no extremo norte do Estado do Mato Grosso, na Província Aurífera Juruena-Teles Pires, associa-se espacial e geneticamente ao Maciço granítico Matupá, de 1872 ± 12 Ma, inserido no Domínio Geocronológico Ventuari-Tapajós.
O maciço Matupá apresenta-se no Depósito Serrinha como um corpo de biotita monzogranito, denominado Granito Matupá, equigranular a porfirítico, subsolvus, raramente contendo hornblenda. Magnetita, ilmenita, titanita, zircão, fluorapatita, allanita e monazita são minerais acessórios. Diques de composição riolítica, cogenéticos ao magmatismo granítico, e diques de diabásio, com características químicas de basaltos toleíticos continentais, cortam o Granito Matupá.
O Granito Matupá é cálcio-alcalino, metaluminoso a peraluminoso, semelhante aos granitos do tipo I, com SiO2 = 68-75%, MgO/TiO2 = 2,56, K2O/Na2O > 1, Al2O3 = 13-14%, CaO = 1-2%, elevados conteúdos de Ba e Sr, quantidades moderadas de Zr e Rb e baixos conteúdos de Nb, Y, Ta, Ga, Zn, F, C e Li. ETR = 250 ppm, Lan/Ybn 30 e Eu/Eu* = 0,35. Assemelha-se a granitos orogênicos, especialmente granitos de arco vulcânico ou pós-colisionais. Sua pressão de cristalização, estimada com base no geobarômetro da hornblenda, situou-se entre 3,3 e 4,5 Kb.
Os valores de TDM situam-se entre 2,34 e 2,47 Ga e podem representar a idade de formação de crosta continental (eNd(t) = -2,7 a -4,3), considerando-se uma única fonte para o magma granítico original, mas a hipótese de que o magma resultou da mistura de fontes mantélica e crustal não deve ser descartada.
O Granito Matupá foi submetido a expressiva alteração hidrotermal de infiltração disseminada no Depósito Serrinha, começando por hidrotermalismo incipiente do biotita granito, seguido de alteração K-silicática, sódica, cloritização, alteração sericítica, piritização e carbonatação. Considerando-se Zr imóvel, Al2O3 e TiO2 foram pouco móveis durante o processo, enquanto FeO, MnO, Fe2O3, CaO, MgO, K2O e Na2O foram muito móveis, resultados condizentes com albitização, sericitização, microclinização, piritização e carbonatação do granito.
A clorita é abundante nos fácies hidrotermais do Granito Matupá e constitui três diferentes grupos: grupo A, clorita intermediária entre chamosita e clinocloro; grupo B, clinocloro, e grupo C, chamosita com elevados teores de MnO, entre 2 e 5,5%. Três tipos de titanita ocorrem em Serrinha: titanita magmática, com Al2O3 próximo de 1,7%; titanita hidrotermal do granito pouco hidrotermalizado, com Al2O3 sempre superior a 2%, e titanita hidrotermal de SE IVG, com Al2O3 desprezível e contendo Na2O (0,53 a 0,76%). Dois tipos de epidoto constituem produto de alteração hidrotermal do Granito Matupá: epidoto da série clinozoisita-epidoto, predominante, e epidoto com até 3,5% de MnO, restrito à área II.1.
Fluidos H2O-NaCl-KCl, exsolvidos do magma granítico e aprisionados a 423°C e 1,3 Kbar, foram provavelmente os primeiros a circular no Granito Matupá em Serrinha, seguidos de fluidos H2O-NaCl-CO2-(CH4), CO2 e H2O-NaCl, aprisionados a T = 330°C e P = 0,5 - 1,3 Kbar, provavelmente resultantes de imiscibilidade. A evolução final do sistema hidrotermal foi dominada por mistura de fluidos salinos e meteóricos e circulação de fluido rico em Ca.
A mineralização de ouro no Depósito Serrinha é disseminada e se restringe às áreas de intensa alteração hidrotermal do Granito Matupá em que há associação de pirita, sericita, clorita e/ou albita. Magnetita hidrotermal e rutilo acompanham a pirita. O ouro está na forma nativa, incluso ou em fraturas de pirita. Análises de pirita por LAM-ICP-MS resultaram em teores de Au, Ag, Pd e Pt inferiores a 10 ppm.
Os valores de isótopos de enxofre obtidos para pirita (+1,3 a +3,5 ‰) e os dados de inclusões fluidas são compatíveis com um fluido mineralizante oriundo do próprio magma granítico. O ouro foi inicialmente transportado na forma de complexos cloretados em fluidos quentes, exsolvidos do magma granítico, oxidados, altamente salinos e ácidos. Diminuição da temperatura do fluido durante sua ascensão, imiscibilidade ou aumento de pH pode ter propiciado a precipitação de ouro. A diluição e/ou a desmistura do fluido salino podem ter ocasionado a deposição da segunda geração de Au.
O Depósito Serrinha assemelha-se aos depósitos disseminados classificados como do tipo ouro pórfiro. Apesar de o nível de erosão atual diminuir a probabilidade de existir um depósito de grande porte em Serrinha, dados geológicos sobre a Província Aurífera Juruena-Teles Pires permitem sugerir que o modelo proposto para o Depósito Serrinha seja aplicável a outros depósitos de ouro da região.
UNIVERSITY OF BRASILIA / INSTITUTE OF GEOSCIENCES
PhD
THESIS No 24
MÁRCIA ABRAHÃO MOURA
THE MATUPÁ GRANITIC MASSIF AND THE SERRINHA (MT) GOLD DEPOSIT: PETROLOGY, HIDROTHERMAL ALTERATION AND E METALLOGENYKeyWords: Granite, gold, Mato Grosso, Hydrothermal alteration, metalogeny
DATE OF ORAL PRESENTATION:11/12/98
TOPIC OF THE THESIS: MINERALOGY
SUPERVISOR:PROF. NILSON FRANCISQUINI BOTELHO (UnB)
COMMITTEE MEMBERS:PROFa. CRISTINA MARIA WIEDEMANN (UnB)
PROF. HARDY JOST (UnB)
PROFa. ZARA LINDENMAYER (UNISINOS)
PROF. ROBERTO DALL'AGNOL (UFPA)
ABSTRACT
The
Serrinha gold Deposit, northern Mato Grosso state (Brazil), is part of the
Juruena-Teles Pires gold Province. The deposit is spatially and genetically
related to the Matupá granitic Massif (1872
± 12
Ma), part of the Ventuari-Tapajós geochronological Domain.
At the Serrinha Deposit, the Matupá
Massif comprises a single biotite monzogranite, called Matupá Granite, which
outcrops as isotropic undeformed and little-fractured blocks. The Matupá Granite
is subsolvus, medium to coarse grained, equigranular to porphyritic. Hornblende
is very rare and magnetite, titanite, zircon, fluorapatite, allanite, monazite
and ilmenite are accessory minerals. Comagmatic rhyolitic dikes and younger
diabase dikes crosscut the granite.
The Matupá Granite is
calc-alkaline, metaluminous to peraluminous, similar to I-type granites
developed in orogenic terrains, specially volcanic arc and post-collisional
settings. The biotite granite is characterized by 68-75 w.t.% SiO2,
13-14 w.t.% Al2O3, high MgO/TiO2 ratio (2.56),
K2O/Na2O ratio higher than 1, 1-2 w.t.% Ca, high Ba and
Sr, medium Zr and Rb, low Nb, Y, Ga, Zn, F, Sn, W, Cu, Mo, Ta, Cl and Li
contents. SETR
= 250 ppm, La/Yb ratios @
30 and Eu/Eu* ratio @
0.35. The crystallization pressure of the Matupá Granite, based on hornblende
geobaromether, was 3.3 to 4.5 Kb.
TDM values lie between
2.34 and 2.47 Ga and may represent the continental crust crystallizing age (eNd(t)
= -2.7 a -4.3), considering a unique source for the original granitic magma, but
the hypothesis of mixing mantelic and crustal sources cannot be disregarded.
The Matupá Granite was submitted to
a pervasive hydrothermal alteration at the Serrinha Deposit, beginning with an
incipient hydrothermal alteration, followed by K-silicatic, sodic, chloritic,
sericitic and pyritic alterations, with final carbonatization. Considering Zr as
having been immobile during the alteration, Al2O3 and TiO2
were less mobile while FeO, MnO, Fe2O3, CaO, MgO, K2O
and Na2O were mobile, results compatible to the hydrothermal
processes that took part in Serrinha.
Chlorite is a widespread secondary
mineral at the deposit and comprises three different groups: group A,
intermediary between clinochlore and chamosite; group B, clinochlore, and group
C, chamosite with high manganese content (2 - 5.5 w.t.% MnO). Three types of
titanite were identified: magmatic (near 1.7 w.t.% Al2O3);
hydrothermal titanite developed during the incipient hydrothermal alteration of
the granite (Al2O3 > 2 w.t.%) and hydrothermal titanite
associated to the sodic assemblage (near zero Al2O3 and
0.53 to 0.76 w.t.% Na2O). Two epidote types were formed during
alteration: epidote from clinozoisite-epidote series, widespread, and epidote
containing up to 3.5 w.t.% MnO, restricted to II.1 area.
H2O-NaCl-KCl fluids,
interpreted to have been exsolved from the granitic magma, and entrapped at 423°C
and 1.3 Kbar, were probably the earliest fluids that circulated through the
Matupá Granite in the Serrinha Deposit. The early fluids were superimposed by
lower temperature and pressure (330°C
and 0.5 to 1.3 Kbar ) H2O-NaCl-CO2-(CH4), CO2
e H2O-NaCl fluids, probably derived from imiscibility. The final
evolution of the hydrothermal system was dominated by mixing of saline and
meteoric fluids and by circulation of low temperature Ca-enriched fluids.
The gold mineralization is
disseminated and restricted to the intense hydrothermal alteration areas where
it is associated to pyrite, sericite, chlorite and/or albite. Hydrothermal
magnetite and rutile occur with pyrite. Gold is in the native form, included or
filling fractures in pyrite. LAM-ICP-MS analysis in pyrite grains show Au, Ag,
Pd and Pt values below 10 ppm.
d34S
data of pyrite (+1.3 to +3.5 ‰) together with fluid inclusion data are
consistent with a mineralizing fluid exsolved from the crystallizing magma.
Gold was iniatially transported as chlorine complexes in a hot, saline, acid
and oxidized fluid. Decreasing in temperature during the fluid ascent,
imiscibitity process or pH increase could have enhanced gold precipitation.
Dilution and/or unmixing of the saline fluid can have been responsible for the
deposition of the second generation of gold.
Serrinha gold Deposit is similar to
disseminated deposits genetically related to granite magmas classified as
porphyry gold. Nevertheless, the present deep erosion level in the region,
probably located at the root of the hydrothermal system, does not favor the
presence of a giant Au deposit at Serrinha.