UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
/INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
TESE DE DOUTORADO No
39
REINALDO SANTANA CORREIA DE BRITO
GEOLOGIA E PETROLOGIA DO SILL MÁFICO-ULTRAMÁFICO DO RIO JACARÉ BAHIA E ESTUDO DAS MINERALIZAÇÕES DE Fe-Ti-V E PLATINÓIDES ASSOCIADAS
Palavras-chave: Sill Estratificado do Rio Jacaré; Complexo máfico-ultramáfico estratificado; Magnetita; Ilmenita, Vanádio; EGP; MGP, Bloco de Gavião, Cinturão Contendas-Mirante.
DATA DA DEFESA: 22/09/2000
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: GEOLOGIA ECONÔMICA E PROSPECÇÃO
ORIENTADOR: PROF. ARÍPLINIO ANTÔNIO NILSON (UnB)
EXAMINADORES: PROF. CÉSAR FONSECA FERREIRA FILHO (UnB); PROF. CLAUDINEI GOUVEIA DE OLIVEIRA (UnB);
PROFa. MARIA DA GLÓRIA DA SILVA (UFBA); PROF. VICENTE ANTÔNIO VITÓRIO GIRARDI (USP)
RESUMO
Na
parte sudoeste do Estado da Bahia, entre os municípios de Jequié e Maracás,
ocorre uma faixa de rochas plutônicas, vulcânicas e sedimentares que ocupam o
bordo nordeste do Cinturão Contendas-Mirante. Esta faixa é constituída de
rochas do Grupo Contendas-Mirante e compõe a parte sul do Cinturão-Lineamento
Contendas-Jacobina, localizado entre os Blocos de Jequié e Gavião, na parte
centro-norte do Cráton do São Francisco. O Sill
do Rio Jacaré - S.R.J. é uma intrusão acamadada hospedada nas rochas vulcânicas
basáltico-andesíticas e vulcanossedimentares da Formação Mirante que
correspondem à Unidade Média do Grupo Contendas-Mirante.
O S.R.J tem a extensão de 70 Km e largura média aflorante de 1,2 Km,
com direção N10oE e mergulho entre 50o a 70o
graus para SE. O S.R.J. foi deformado e metamorfisado junto com suas
encaixantes. As relações de contato indicam que o S.R.J. é
sin-vulcânico e associado à sedimentação e vulcanismo de ambiente
continental.
Foi dividido em duas zonas principais: Zona
Inferior, com espessura média de 300 m; e Zona Superior, com espessura
de 600 a 1.000m. Entre as Zonas Superior e Inferior ocorre uma Zona de Transição
(ZT) formada por rochas acamadas e vari-texturadas. A Zona Inferior é constituída
por gabros maciços de grã média. A ZT é formada por cumulatos ultramáficos
de olivina, clinopiroxênio e magnetita, modal e gradacionalmente acamadados com
cumulatos máficos constituídos de plagioclásio e clinopiroxênio. As rochas
vari-texturadas são gabros de grã média a grossa que contém inclusões de
gabros de granularidade fina em forma de sills,
pelos e autólitos, interpretadas como
mistura mecânica e hibridização de magmas. A Zona Superior I exibe
micro-acamadamento rítmico de gabro, piroxenito e magnetita-piroxenito,
ferrogabro e anortositos com magnetita. A Zona Superior II é leucogabróica de
grã média a grossa e grada a anortositos.
Os
clinopiroxênios são de baixo alumínio (Al2O3 entre 0,3
a 1,5%) variando de Di50<Di<90% e En 41-25%. Os ortopiroxênios
correspondem a ferrohiperstênio (Wo<5% e En<60%). As olivinas têm
composições de Fo55 a Fo42. Os anfibólios estudados
foram classificados como ígneos e metamórficos. Os tipos metamórficos são cálcicos
(Ca>1,5 e Ca+Na>2), exibindo um trend
contínuo desde magnésio-hornblenda a ferro-tschermakita. Os anfibólios de
origem ígnea têm composição de pargasita a Fe-hastingsita e textura
intercumular. Os óxidos de Fe-Ti-V mostram variações nas proporções molares
de membros finais das soluções sólidas magnetitass
(X’usp<10%) e ilmenitass (X’ilm> 90%).
As rochas vulcanicas e as rochas de
bordo são toleítos magnesianos silicosos (SHMT) com padrões de ETRL
fracionados em relação aos ETRP. Os cumulatos ultramáficos mostram anomalias
negativas de Eu e discretos
enriquecimentos de ETRP em relação a ETRL
Os cumulatos máficos são enriquecidos em ETRL e têm anomalias
positivas de Eu. A ZS mostra forte enriquecimento de ETRL e anomalia positiva de
Eu. O S.R.J. exibe trends gerais
decrescentes e crescentes de feldspato normativo e #Fm, respectivamente, no
sentido do topo da intrusão.
A sistemática isotópica de
Sm-Nd forneceu uma idade de 2,841±68Ma,
com ÎNd(T)=-1.3
e MSWD=6.8. O método Rb-Sr produziu uma idade de 2,757±187Ma
(Ro= 0.70491±0.0007),
(MSWD=1.5). O metamorfismo de facies anfibolito e deformação foram datados
pelos métodos Sm-Nd e Rb-Sr em torno de 2,1 a 1,8 Ga, (Ciclo Transamazônico). ÎNd(T)
e Sr (o) evoluíram simpaticamente às variações crípticas dos minerais e de
rocha total.
O
S.R.J. hospeda corpos de minério de ferro magnético classificados em dois
tipos; alto vanádio (Alvo A) -
formado por magnetitas com teores de V2O5 entre 2,2-4,5%
que constituem magnetititos de teor médio de 2,2% de V2O5
e minério de baixo vanádio -
Alvos B e Novo Amparo, com teores de V2O5 variando de 0,3
a 2,5 % com minério de 1,5 a 0,5 % de V2O5. Os
magnetititos dos alvos B e Fazenda
Novo Amparo mostram intervalos de 2 a 4 metros de espessura enriquecidos em
cobre com 0,3 a 0,5 %Cu. A magnetita exibe microtextura de oxi-exsolução
interna e externa e ulvoespinélio e ilmenita. A ilmenita mostra oxi-exsolução
de lamelas de hematita.
Sulfetos, arsenietos e minerais do grupo da platina-MGP ocorrem inclusos nos grãos
de óxidos de ferro e também em fraturas.
Os sulfetos são pentlandita, calcopirita, milerita, pirrotita e bornita.
Os arsenietos são orcelita, maucherita, westerveldita e cobaltita. Os MGP são
esperrilita, gversita, cabriita, isoferroplatina e ligas de Pt-Pd-Fe-Ni-Cu-Sn.
Os
teores de elementos do grupo da platina no
Alvo A são em média 300 ppb; às vezes se tem teores de até 2.000ppb
de Pt e até 1.200ppb de Pd. No Alvo B ocorrem teores de EGP da ordem de 600ppb
Pt e 240ppb Pd e 150ppb de Au. Em Novo Amparo os teores máximos de Pt sâo de
700ppb, 350ppb Pd e 200ppb de Au.
A
nível geodinâmico sugere-se que uma pluma do manto interagiu com um rift
intracontinental há 2.85 Ga. colocando magmas basálticos
do tipo SHMT em câmaras magmáticas rasas. Sills
e derrames se interdigitaram com a sedimentação da bacia. Um modelo de mistura
de magmas, com assimilação de encaixantes e fracionamento magmático foi
utilizado para explicar a diferenciação da intrusão e as mineralizações
observadas. A química dos MGP foi relacionada ao fator R (massa de magma/massa
de líquido de sulfeto) típicos das condições de formação dos principais
depósitos de EGP.
UNIVERSITY OF BRASILIA /
INSTITUTE OF GEOSCIENCES
PhD THESIS No
39
REINALDO SANTANA CORREIA DE BRITO
GEOLOGY AND PETROLOGY OF THE MAFIC-ULTRAMAFIC RIO JACARÉ SILL, BAHIA STATE, AND STUDY OF THE ASSOCIATED Fe-Ti-V AND PLATINOIDES MINERALIZATIONS.
KeyWords: Rio Jacaré Sill; Layered Intrusion; Mafic-Ultramafic Complex; Magnetite; Ilmenite; Vanadium; Platinum-Group Metals; Platinum-Group Minerals; Gavião Block and Contendas-Mirante-Belt
DATE OF ORAL PRESENTATION:22/09/2000
TOPIC OF THE THESIS: PROSPECTION AND ECONOMIC GEOLOGY
SUPERVISOR: PROF. ARÍPLINIO ANTÔNIO NILSON (UnB)
EXAMINADORES: PROF. CÉSAR FONSECA FERREIRA FILHO (UnB); PROF. CLAUDINEI GOUVEIA DE OLIVEIRA (UnB);
PROFa. MARIA DA GLÓRIA DA SILVA (UFBA); PROF. VICENTE ANTÔNIO VITÓRIO GIRARDI (USP)
ABSTRACT
A
volcanic, plutonic and sedimentary fold belt occurs in the southwestern part of
the State of Bahia, Brazil, along the northeastern border of the
Contendas-Mirante Belt, which is a part of the Contendas-Jacobina Lineament. The
latter defines the limit between the Jequié and Gavião Blocks in the
central-northern part of the São Francisco Craton.
The R.J.S. is a layered intrusion emplaced in folded and metamorphosed basaltic
and andesitic rocks of the Mirante Formation (FMt), which is the Intermediate
Unit of the Contendas-Mirante Group. R.J.S. is a 70 Km long and about 1Km wide
sheet, striking N10oE and dipping 50o-70o
southeast.
R.J.S. is divided up into two broad zones: a Lower Zone (LZ) that is 300m thick
and an Upper Zone (UZ), which is 600 to 1000m thick. The Lower Zone is made up
of clinopyroxene and plagioclase-bearing massive medium-grained gabbro. The
Upper Zone consists of two subzones (I and II); the first is gabbroic to
pyroxenitic and the second is gabbroic and leucogabbroic to anorthositic.
Fine-grained gabbroic rocks occur along the contact between the sill and FMt;
these were interpreted as the chill border of the LZ. A Transition Zone (TZ)
occurs between LZ and UZ where layered mafic and ultramafic rocks are associated
with vari-textured rocks.
The
Lower Zone consists of medium-grained gabbros. TZ is made up of ultramafic cumulates
consisting of cumulus olivine, clinopyroxene, magnetite and ilmenite. Mafic
cumulates is made up of cumulus plagioclase and clinopyroxene with minor
hypersthene. Magnetiteis is the cumulus phase. Monomineralic and bimodal
cumulates define a microrythmically layered sequence of pyroxenite and gabbros
with variable amounts of magnetite. Vari-textured medium-grained gabbroic rocks
may contain enclaves of fine-grained gabbros. The Upper Zone I (UZI) is a
rhythmically banded sequence of micro-layered gabbro-pyroxenite-magnetite
pyroxenite-ferro-gabbro and magnetite-bearing anorthosite. The Upper Zone II
(UZII) consists of modally layered medium-grained leucogabbro, coarse-grained
leucogabbro and medium to coarse-grained anorthosite. Metamorphic minerals are
magnesium hornblende in the Lower Zone, cummingtonite, tremolite-actinolite and
chlorite in TZ, ferro-tschermackite in UZI and pargasite-hastingsite in UZII.
Pyroxenes are aluminum-poor (0,3 <Al2O3< 1,5%) and
compositions are Wo45-52, En24-41 and Fs8-32. Orthopyroxene is ferro-hypersthene
(Wo5-10, En45-55 and Fs40-65). Olivines are iron-rich, Fo55-Fo42
(hyalosiderite to hortonolite). The amphiboles can be metaphorphic and
igneous. The metamorphic ones are of calcium-type (Ca>1,5 e Ca+Na>2) and
exhibit a continuous trend from
magnesium-hornblende to Fe-tschermackite. Igneous amphiboles have
ferro-pargasitic to Fe-hastingsitic composition and show intercumulus texture in
association with cumulus plagioclase. The iron-titanium-vanadium oxides are
titanium magnetite and ilmenite that represent magnetite and ilmenite solid
solutions (X’usp<10%) and X’ilm> 90%), respectively.
The
volcanic and the fine-grained gabbroic rocks have both siliceous high-magnesium
tholeiitic (SHMT) signatures. Fractionation indexes such as normative feldspar
and #Fm show decreasing and increasing trend towards the top (east) of the
intrusion, respectively. Volcanic rocks and ZI show similar rare earth element
(REE) patterns pointing to fractionation of light rare earths (LREE) relative to
heavy rare earths (HREE). Mafic
cumulates show higher LREE/HREE ratios and a strong Eu anomaly that indicates
plagioclase accumulation, whereas ultramafic cumulates show an almost flat REE
pattern with discrete HREE enrichment relative to LREE denoting olivine and
magnetite fractionation. ZS REE patterns are similar to those of TZ mafic
cumulates but exhibit a stronger Eu anomaly, especially for the anorthosic
rocks. Border rocks show almost flat REE patterns suggesting they are the least
fractionated rocks of R.J.S.
Isotopic
data show that the sill has an Sm/Nd age of 2,841±68Ma,
ÎNd
(T)=-1.3 and MSWD=6.8 for a 20 point isochron. A four point Rb/Sr isochron
yielded an age of 2,757±187Ma
(Ro= 0.70491±0.0007,
MSWD=1.5). R.J.S. Metamorphic recrystallization time is indicated by an
isochronic diagram which yielded an age of 1,863±26Ma,
(MSWD=5,55, Ro=0,709454±0,
000057. This metamorphism is related to Transamazonian Cycle (2,200-1,900 Ma).
R.J.S. 144Nd/147Ndd ratios are related to
a slightly depleted contrite mantle source and 86Sr/87Sr
ratios indicate continental related magmatism. Isotopic systematics show that
both Lower and Upper zones have almost the same ÎNd(T)
and Sr(o) that evolved sympathetically with cryptic variations, probably
indicating they are magma batches from the same isotopic reservoir that
underwent fractional crystallization and host-rock assimilation.
Titanomagnetite and ilmenite are the main cumulus phases of the iron ores.
Magnetite displays oxi-exsolutions of ilmenite and ulvospinel lamellae. Ilmenite
sometimes exhibits hematite oxi-exsolutions lamellae. Cumulus
magnetite controls whole rock vanadium contents, characterizing high and low
vanadium ore types. The high V orebody (Alvo
A) consists of magnetite with average 2.2-4.5% V2O5 that
yields magnetitites averaging 2.2% V2O5. The low vanadium
orebodies from Alvo B and Novo Amparo targets contain magnetite with 0,3 a 2.5
% V2O5 are responsible for 1.5 to 0.5 % V2O5 in
the magnetitites. These low vanadium ore bodies contain 0.3 to 0.5 %Cu in 2 to 4
meter thick intervals.
Magnetitite contains Platinum-Group Minerals – PGM associated with arsenides
and sulphides. PGM are sperrilite, gversite, cabriite, isoferroplatinum and
Pt-Pd-Fe-Ni-Cu-Sn alloys. Arsenides are orcellite, maucherite, westerveldite and
cobaltite and the sulphides are pentlandite, chalcopyrite, millerite, pyrrhotite
and bornite. PGM occur as tiny particles poikiliticaly included within cumulus
Fe-Ti oxides, in alteration rims of intercumulus arsenides and in
fracture-filling arsenides.
PGE are mainly Pt and Pd and their contents vary according to the ore type. High
vanadium orebodies show 300 ppb Pt, (up to 2,000ppb de Pt) and up to 1,200ppb
Pd. Low vanadium orebodies from Alvo B show three anomalous EGP highs of
aproximately 600ppb Pt and 240ppb Pd and 150ppb Au. The Novo Amparo ore body
displays EGP intervals (Pt> Pd>>Au) with maximum grades of 700ppb Pt,
350ppb Pd and 200ppb Au. PGM
chemistry was related to the R-Factor (mass of magma/mass of sulphide liquid)
probably implying similar conditions to those related to the formation of
economic PGE deposits worldwide. The proposed model for R.J.S. noble metal
magnetite-related minerallization is partially equivalent to those used to
explain PGE and PGM concentrations related to sulfide-bearing chromitites in
other layered intrusions.
Finally
it is suggested that a mantle plume has intercepted a mid-continental rift at
2,85 Ga allowing SHMT-type basaltic magmas to migrate to shallow magma chambers
and feed volcanic flows that became interbedded with the sediments of the basin.
Rapid magma ascent is believed to have prevented sulphur saturation, which might
have favored PGE solubility during magma transport. A model consisting of magma
mixing combined with a low degree of crustal assimilation and fractionation
(AFC) is used to explain R.J.S. differentiation and the observed metallic
minerallizations.