UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
/INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
TESE DE DOUTORADO No
43
JULIANA CHARÃO MARQUES
PETROLOGIA E METALOGÊNESE DO DEPÓSITO DE CROMITA DO SILL IPUEIRA-MEDRADO, VALE DO RIO JACURICI-BAHIA
Palavras-chave: Petrologia, Metalogênese, Rochas máfico-ultramáficas, Cromita, Microssonda eletrônica, Geoquímica, Isótopos Sm-Nd e Re-Os.
DATA DA DEFESA:20/08/2001.
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Geologia Econômica e Prospecção
ORIENTADOR: Prof. César Fonseca Ferreira Filho (UnB)
EXAMINADORES: PROF. José Carlos Gaspar (UNB); PROF. Raul Minas Kuyumjian (UNB);
PROF. Leo Afraneio Hartmann (UFRGS); PROF. Elson Paiva Oliveira (UNICAMP)
RESUMO
O Sill máfico-ultramáfico
Ipueira-Medrado hospeda o maior depósito de cromita do Brasil. O sill é um
corpo elongado com 7 km de extensão e 300 m de largura composto por dunitos
intercalados com harzburgitos e, em menor quantidade, rochas máficas. A feição
mais importante do Sill é a presença de uma camada de cromitito massisso com
5-8 m de espessura. Esta espessura anômala não pode ser explicada pelos
modelos atuais de formação de cromititos.
O sill é subdividido em três zonas: Zonas Marginal, Ultramáfica e
Máfica.
A Zona Marginal consiste de gabros cisalhados e harzburgitos ricos em piroxênio.
A Zona Ultramáfica é subdividida em Lower Ultramafic Unit (LUU), Main
Chromitite Layer (MCL) e Upper Ultramafic Unit (UUU). A LUU é composta
principalmente por dunitos com subordinado harzburgito e chain-textured
cromitito. A MCL é composta por chain-textured cromitito e cromitito maciço. A
UUU consiste de harzburgitos com pequenas intercalações de dunitos,
chain-textured cromititos e ortopiroxenitos. A Zona Máfica consiste de leuco- a
melanoritos parcialmente metamorfisados na Fácies Anfibolito.
A variação composicional de olivina e
ortopiroxênio ao longo da estratigrafia revelou a existência de dois
intervalos com evoluções magmáticas distintas. O intervalo abaixo da MCL
(Regime 1) é caracterizado por uma evolução lenta na composição mineral no
sentido de composições mais primitivas. O intervalo acima da MCL (Regime 2) é
caracterizado por uma rápida evolução no sentido de composições mais
fracionadas para o topo do sill. A evolução magmática do regime 1 sugere que
a cristalização ocorreu em uma câmara magmática dinâmica sofrendo
frequentes intrusões de magma primitivo. A evolução magmática do regime 2
sugere uma cristalização em sistema fechado.
A assinatura dos elementos traços e ETR
são consistentes ao longo da estratigrafia do sill, sendo apenas levemente
afetadas pelo fracionamento, o que sugere que o magma parental das rochas máfico-ultramáficas
era enriquecido em LILE, ETRL e fortemente depletado em Nb. As características
gerais do magma parental do Sill Ipueira-Medrado indicam tanto uma fonte a
partir de manto litosférico subcontinental, enriquecido em ETRL e LILE e
depletado em HFSE, ou a partir de um manto convectivo posteriormente contaminado
por crosta.
Os dados Sm-Nd são consistentes com uma
idade Proterozóica para cristalização e o eNd
negativo em todas as amostras sugere tanto um magma parental derivado de um
manto litosférico subcontinental metassomatisado antigo ou originalmente
contaminado por crosta. Os valores de eNd
mais fortemente negativos nos intervalos ricos em anfibólio e nas margens do
sill, e as idades modelo arqueanas favorecem a hipótese de contaminação
crustal, embora os valores negativos de eNd
das amostras sem anfibólio (média = -4.37) não permitem excluir a hipótese
de origem a partir de um manto litosférico subcontinental.
A composição isotópica de gama Os dos
separados de cromita variam de fracamente negativas (~ -3) a fracamente
positivas (~ 3). Os dados isotópicos de Os de separados de cromita refletem
provavelmente as características isotópicas do magma parental destas amostras.
Os gOs
negativo de algumas amostras não indica contaminação crustal. Entretanto, o
caráter primitivo do magma induz o sistema isotópico de Os a ser menos sensível
à contaminção crustal.
A pequena quantidade de contribuição
crustal que pode esxplicar tanto os valores negativos de gOs
e eNd
da LUU não podem produzir o enriquecimento em LILE e ETRL observado neste
intervalo se a fonte do magma for o manto convectivo. Uma avaliação integrada
dos dados do Sill Ipueira-Medrado Sill sugere que a fonte mais provável do
magma parental do sill rico em Mg (Tipo-U ou picrítico) seria um manto litosférico
subcontinental metassomatisado. O magma foi subsequentemente contaminado com
variáveis, mas não elevadas, quantidades de crosta antiga (Arqueana ?) ou
fluidos crustais.
Uma avaliação de balanço de massa
sugere que um enorme volume de magma (> 10,000 metros de espessura) esteve
envolvido na formação da MCL do Ipueira-Medrado. Este volume de magma não está
obviamente representado na estratigrafia do sill, sugerindo que o sill atuou
como um conduto pelo qual um grande volume de magma fluiu. Quanto ao mecanismo
capaz de mover o sentido de cristalização para o campo de estabilidade de
cromita, nossos dados descartam os modelos de mistura de magmas e sugerem que
contaminação crustal provocou a cristalização única de cromita. A composição
dos cromititos maciços do Sill Ipueira-Medrado são comparáveis com outros depósitos
estratiformes.
As características primitivas do magma
parental do sill, não depletado em Ni, determinam que o sill poderia consistir
em um alvo promissor para mineralizações de EGP. No entanto, nenhum intervalo
com sulfeto foi interceptado, sugerindo que este sill não tem um potencial para
hospedar um depósito econômico de sulfetos de Ni-Cu (-Co-EGP) ou de EGP
estratiforme associado com sulfetos de metais base. No entanto, o Complexo
Jacurici consiste de várias outras intrusões similares que podem representar
alvos prospectáveis para estes tipos de depósitos.
UNIVERSITY OF BRASILIA /
INSTITUTE OF GEOSCIENCES
PhD THESIS No
43
JULIANA CHARÃO MARQUES
PETROLOGY AND METALLOGENESIS OF THE IPUEIRA-MEDRADO SILL CHROMITE DEPOSIT, VALLEY OF THE JACURICI RIVER - BAHIA STATE
KeyWords: Petrology, Metallogeny, Mafic-ultramafic rocks, Chromite, Microprobe, Geochemistry, Sm-Nd and Re-Os isotopes.
DATE OF ORAL PRESENTATION:20/08/2001.
TOPIC OF THE THESIS: Economic Geology and Prospection
SUPERVISOR: Prof. César Fonseca Ferreira Filho
(UnB)
COMMITTEE MEMBERS: PROF. José Carlos Gaspar (UNB); PROF. Raul Minas Kuyumjian (UNB); PROF. Leo Afraneio Hartmann (UFRGS); PROF. Elson Paiva Oliveira (UNICAMP)
ABSTRACT
The Ipueira-Medrado mafic-ultramafic
sill hosts the largest chromite deposit in Brazil. The sill is a 7 km-long and
300 meters-thick elongated body consisting mainly of interlayered dunite and
harzburgite with minor mafic rocks. The most distinctive feature of the
Ipueira-Medrado sill is the continuous 5-8 meters-thick massive chromitite layer
that is currently mined. The anomalous thickness of this chromitite layer sets
severe constraints for current genetic models for the origin of massive
chromitites.
The sill is subdivided in three zones: Marginal, Ultramafic and Mafic
Zones. The Marginal Zone consists of sheared gabbro and orthopyroxene-rich
harzburgite. The Ultramafic Zone is subdivided in the Lower Ultramafic Unit (LUU),
the Main Chromitite Layer (MCL) and the Upper Ultramafic Unit (UUU). The LUU
consists of dunite with minor harzburgite and chain-textured chromitite, the MCL
is composed by chain-textured and massive chromitites and the UUU consists
mainly of harzburgite with minor chain-textured chromitite, dunite and
orthopyroxenite. The Mafic Zone consists of leuco- to melanorites that are
partially transformed by amphibolite facies of metamorphism.
The variation of olivine and orthopyroxene compositions throughout the
stratigraphy revealed the existance of two intervals with distinct magmatic
evolution. The interval located below the MCL (Regime 1) is characterized by
slow evolution of mineral compositions toward more primitive compositions. The
interval located above the MCL (Regime 2) is characterized by fast evolution
toward more fractionated compositions in the direction of the top of the sill.
The magmatic evolution of regime 1 suggests that crystallization occurred in a
dynamic magma chamber undergoing frequent replenishment with primitive magma.
The magmatic evolution of regime 2 suggests that crystallization occurred in a
mainly closed magma chamber.
The trace elements and REE signatures
are very consistent throughout the stratigraphy, being only slightly affected by
fractionation, which strongly suggest that the parental magma of the mafic and
ultramafic rocks was enriched in LILE, LREE and strongly depleted in Nb. The
general characteristics of the parental magma of the Ipueira-Medrado Sill argue
for either a metasomatized subcontinental lithospheric mantle source, enriched
in LREE and LILE and depleted in some HFSE, or a convecting mantle source
subsequently contaminated by crust.
The Sm-Nd systematic is consistent to a
Proterozoic crystallization age and the negative eNd
in all samples suggests either that the parental magma was derived from an old
metasomatically subcontinental lithospheric mantle or has originally suffered
crustal contamination. The stronger negative eNd
of the amphibole-rich intervals and margins and variable Archean model ages
argue for a crustal contamination, although the negative eNd
of the amphibole-free samples (mean = -4.37) do not preclude an origin from a
subcontinental lithospheric mantle.
The Os isotopic composition of the
chromite separates give gOs
range from slightly negative (~ -3) to slightly positive (~ 3) values. The Os
isotopic data from chromite separates probably are revealing the isotopic
characteristics of the their parental magmas. The negative gOs
of some samples of chromites do not suggest crustal contamination. Nevertheless,
the primitive character of the parental magma of the sill could induce the Os
isotopic system to be very insensitive to crustal contamination.
The small amount of crust contribution
that can explain both negative gOs
and negative eNd
from LUU cannot produce the observed enrichment in LREE and LILE if the source
of the magma was a convecting mantle. An integrated assessment of the
Ipueira-Medrado Sill data suggests that the most likely source for the very
high-Mg magma (U-type or picritic) parental magma of the sill would be an old
subcontinental metassomatized lithospheric mantle. The magma was subsequently
contaminated with variable, but no large, amounts of an old crust (Archean ?) or
crustal fluids.
Mass balance assessments suggest that an
enormous volume of magma (> 10,000 meters-thick) was associated to the
formation of the MCL at the Ipueira-Medrado sill. Such volume of magma is
obviously not represented at the stratigraphy of the Ipueira-Medrado sill,
suggesting that the sill acted as a conduit where a large volume of magma flowed.
Regarding the mechanism capable to shift the crystallization path to
chromite-only stability field, our data ruled out the magma mixing models and
suggest that crustal contamination has triggered the single chromite
crystallization. The composition of chromite in massive chromitites of the
Ipueira-Medrado sill is comparable with other stratiform deposits.
The primitive characteristics of the
parental magma of the sill with undepleted Ni content indicate that the sill
could be a promising target for PGE mineralization. However, no sulfide-bearing
intervals have been intercepted, suggesting that this sill has no potential for
hosting economic deposits of Ni-Cu (-Co-PGE) sulfides or stratiform deposits of
PGE associated to magmatic base metal sulfides. Nevertheless, Jacurici Complex
have many other similar intrusions that could represent targets for this types
of deposits.