UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
/
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
TESE DE DOUTORADO No
073
JOSÉ EDUARDO PEREIRA SOARES
ESTUDOS DE REFRAÇÃO SÍSMICA PROFUNDA, FUNÇÃO DO RECEPTOR E GRAVIMETRIA NA PROVÍNCIA TOCANTINS, BRASIL CENTRAL
DATA DA DEFESA: 06/06/2005
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PROCESSAMENTO DE DADOS EM GEOLOGIA E ANÁLISE AMBIENTAL
ORIENTADOR: Prof. Reinhardt Adolfo Fuck (UnB)
EXAMINADORES: Prof. Augusto César Bittencourt Pires (UnB); Prof. José Oswaldo de
Araújo Filho(UnB); Prof. Jesus Antônio Berrocal Gomez (USP); Marco Polo Pereira
Buonora (PETROBRÁS); Roberta Mary Vidotty (Bizzi e assoc. pesquisa e desenv.
rec.)
Palavras-chave: refração sísmica; Moho,Província Tocantins; Brasil Central
RESUMO
Modelo bidimensional da estrutura da
crosta e manto superior para o Brasil central foi obtido a partir da análise do
tempo de trânsito de dados de refração sísmica profunda das linhas de Porangatu
e Cavalcante. As linhas sísmicas possuem 300 km cada uma, com uma superposição
de 50 km. Cruzam a Província Tocantins e adentram a parte oeste do Craton do São
Francisco segundo um perfil WNW-ESE de aproximadamente 530 km de comprimento. A
Província Tocantins foi formada no Neoproterzóico pela convergência e colisão
entre os crátons do São Francisco, Paranapanema e Amazônico, fechando o extinto
Oceano de Goiás.
Apesar das diferenças geológicas, a crosta do Brasil central
pode ser dividida em crosta superior (VP 5,7 km/s – 6,0 km/s), média
(VP 6,3 km/s – 6,5 km/s) e inferior (VP 6,6 km/s – 7,1
km/s). A Moho é uma interface irregular com profundidade variando de 36 km a 44
km, e descontinuidades laterais, geralmente, associadas aos limites tectônicos
de primeira ordem. O manto superior apresenta velocidade de 8,0 km/s sob a linha
de Porangatu e 8,3 km/s sob a linha de Cavalcante.
Considerando a VP e a VP/VS
médias da crosta, a topografia da Moho e as descontinuidades laterais das
camadas, a crosta do Brasil central pode ser dividida em domínios sísmicos
coerentes com os domínios geológicos determinados em superfície. Os valores
médios de VP e VP/VS são, respectivamente, 6,6
km/s e 1,74 sob a Faixa Araguaia, 6,5 km/s e 1,71 sob os terrenos
neoproterozóicos do Arco Magmático de Goiás, 6,4 km/s e 1,70 sob os terrenos
paleoproterozóicos do Maciço de Goiás, e 6,4 km/s e 1,69 sob o cinturão de
dobras e empurrões e oeste do Craton do São Francisco. Estes valores indicam
crosta de composição félsica, exceto para a camada inferior da crosta inferior
do domínio da Faixa Araguaia.
Os dados sísmicos permitiram identificar: i) suturas
neoproterozóicas relacionadas a subducção da placa do São Francisco para oeste e
do Amazonas para leste, definindo pelo menos uma inversão no sentido da
subducção durante a formação da Província Tocantins; ii) delaminação da raiz
máfica-ultramáfica dos terrenos do Arco Magmático de Goiás, e iii) tectônica
profunda no domínio do cinturão de dobras e empurrões da Faixa Brasília norte,
com movimento de grandes blocos crustais durante o Neoproterozóico. Estes
resultados levaram a reinterpretação dos dados gravimétricos, mostrando que a
anomalia gravimétrica positiva do Brasil central é gerada pela ascensão do manto
neoproterozóico sob a crosta mais fina do arco Magmático de Goiás. Este alto
gravimétrico está superimposto a um alto gravimétrico regional gerado pela
diferença de densidade dos mantos neoproterozóico, mais denso, e
paleoproterozóico, menos denso. O limite entre os mantos é marcado por forte
gradiente gravimétrico, que continua para a parte sul do Brasil central marcando
o contato entre a parte sul da Faixa Brasília e o bloco do Paranapanema.
A integração dos dados geológicos e geofísicos permitiu
inferir modelo simplificado de evolução para o Brasil central, dividido em três
fases principais: i) colisão entre o Craton do São Francisco e o sistema de arco
de ilhas do Arco Magmático de Goiás, formando a parte norte da Faixa Brasília;
ii) colisão entre os crátons do São Francisco e Paranapanema, formando a parte
sul da Faixa Brasília; e iii) colisão entre o craton Amazônico e os terrenos a
leste, formando a Faixa Araguaia. Por ter sido o último evento colisional a
afetar o Brasil central, a subducção Amazônica está relacionada a feições
superficiais, como por exemplo, topografia arrasada sobre os terrenos do Arco
Magmático de Goiás causada pela delaminação e descolamento da raiz
máfica-ultramáfica do arco, separação e rotação dos complexos acamadados
máfico-ultramáficos, formação do Lineamento Transbrasiliano, e demais feições
associadas.
A Faixa Sísmica Goiás-Tocantins está associada ao alto
gravimétrico do Brasil central, e conseqüentemente, a região de crosta mais fina
e manto mais denso e mais quente.
UNIVERSITY OF BRASILIA /
INSTITUTE OF GEOSCIENCES
PhD THESIS No
073
JOSÉ EDUARDO PEREIRA SOARES
DEEP SEISMIC REFRACTION, RECEIVER FUNCTION AND GRAVIMETRIC STUDIES IN THE TOCANTINS PROVINCE, CENTRAL BRAZIL
DATE OF ORAL PRESENTATION: 06/06/2005
TOPIC OF THE THESIS: Data processing in geology and in environmental analysis
ADVISOR: Prof. Reinhardt Adolfo Fuck (UnB)
COMMITTEE MEMBERS: Prof. Augusto César Bittencourt Pires (UnB); Prof. José
Oswaldo de Araújo Filho(UnB); Prof. Jesus Antônio Berrocal Gomez (USP); Marco
Polo Pereira Buonora (PETROBRÁS); Roberta Mary Vidotty (Bizzi e assoc. pesquisa
e desenv. rec.)
KeyWords: seismic refraction; Moho; Tocantins Province; Central Brazil
ABSTRACT
A
two-dimensional model of central Brazil crust and upper mantle was obtained from
travel-time interpretation of deep seismic refraction data from Porangatu and
Cavalcante lines. The seismic refraction lines, 300 km long each, were deployed
with an overlap of 50 km, forming a WNW-ESE transect of around 530 km across
Tocantins Province, and western São Francisco Craton. Tocantins Province was
formed during Neoproterozoic by the convergence and collision of São Francisco,
Paranapanema, and Amazon cratons, following subduction of former Goiás Ocean
basin.
Despite geological differences, the
crust can be divided in upper (VP 5.7 km/s – 6.0 km/s), intermediate
(VP 6.3 km/s – 6.5 km/s), and lower crust (VP 6.6 km/s –
7.1 km/s). Moho is an irregular interface from 36 km to 44 km deep, with
discontinuities giving evidence of first order tectonic structures. The upper
mantle presents P wave velocity of 8.0 km/s under Porangatu line, and 8.3 km/s
beneath Cavalcante line.
Considering mean crustal VP
and VP/VS ratio, Moho topography behavior, and lateral
discontinuities within the crustal layers, the crust beneath central Brazil can
be associated to major geological domains recognized in the surface. Mean
crustal VP and VP/VS are, respectively, 6.6
km/s and 1.74 under Araguaia Belt, 6.5 km/s and 1.71 beneath Neoproterozoic
Goiás Magmatic Arc, 6.4 km/s and 1.70 below Paleoproterozoic terrains of Goiás
Massif, and 6.4 km/s and 1.69 beneath the foreland fold-and-thrust belt and
western São Francisco Craton. These values indicate a crust of felsic
composition, except for the lower layer of Araguaia Belt.
Seismic features allow identifying:
i) Neoproterozoic sutures related to a westwards subduction of São Francisco
plate, and to an eastwards subduction of Amazon plate, defining at least one
inversion in subduction sense during Tocantins Province amalgamation; ii)
delamination of mafic-ultramafic root beneath Goiás Magmatic Arc, and iii) thick
skin tectonics in the foreland fold-and-thrust belt of northern Brasília Belt,
with relative movement of large crustal blocks during Neoproterozoic. These
results led to reinterpreting gravimetric data, showing that the gravimetric
high anomaly of central Brazil is a regional feature, provoked by neoproterozoic
mantle ascent under the thin crust of Goiás Magmatic Arc. Superimposed there is
the effect of mantle density that is denser under neoproterozoic arc terrain and
lighter under paleoproterozoic terrain. The limit between these domains is
marked by the central gravimetric gradient, which continues southward, limiting
south branch of Brasília Belt from Paranapanema block.
Integrating geophysical and
geological data allows to infer a simplified model for central Brazil evolution,
characterized by three main stages: i) collision between São Francisco Craton
and former island arc system of Goiás Magmatic Arc terrain; forming the northern
branch of Brasília Belt; ii) collision between São Francisco and Paranapanema
cratons, forming the southern branch of Brasília Belt; and iii) collision
between Amazon Craton and eastern terrains, forming Araguaia Belt. The last
convergent event, Amazon subduction influences many geological features of north
Brasília Belt, as, for example, delamination and detachment of mafic-ultramafic
root of Goiás Magmatic Arc, splitting and rotation of layered mafic-ultramafic
complex, formation of the Transbrasiliano Lineament, and many other related
features.
Goiás-Tocantins seismic trend is
associated to the gravimetric high of central Brazil, and as consequence, to the
thinnest crust and the densest and hottest mantle.