UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
/
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
TESE DE DOUTORADO No081
MICHEL HENRI ARTHAUD
EVOLUÇÃO NEOPROTEROZÓICA DO GRUPO CEARÁ (DOMÍNIO CEARÁ CENTRAL, NE BRASIL):
DA SEDIMENTAÇÃO À COLISÃO CONTINENTAL BRASILIANA
DATA DA DEFESA: 05/10/2007
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: Geologia Regional
ORIENTADOR: Prof. Reinhardt Adolfo Fuck (UnB) - Co-orientador: Prof. Elton
Luiz Dantas (UnB)
EXAMINADORES: Prof. José Oswaldo de Araujo Filho (UnB); Prof. Márcio Martins
Pimentel (UnB); Prof. Benjamim Bley de Brito Neves (USP); Prof. Miguel Angelo
Stipp Basei (USP)
Palavras-chave: Ceará Central, colisão brasiliana, Neoproterozóico, geocronologia
Limites de Retângulo Envolvente:
Folha ao Milionésiomo: SB24
Estado: CE
RESUMO
A Província Borborema (Nordeste do Brasil) exibe o registro
de uma evolução geológica precambriana policíclica complexa, iniciada no
Arqueano e encerrada, ao final do Neoproterozóico, com a orogenia
Brasiliana/Pan-Africana. É a continuação, na América do Sul, da Província
Benin/Nigéria (África do Oeste) que apresenta com ela notáveis semelhanças
geológicas.
A orogenia Brasiliana/Pan-Africana foi responsável, entre 660 e 570 Ma, pela
amalgamação final de Gondwana Ocidental. Na África do Oeste, a identificação de
zonas de suturas materializadas por rochas metamórficas de alta pressão e
seqüências ofiolíticas e de arcos magmáticos oceânicos deixa claro o caráter
colisional dessa orogenia que envolveu os cratons São Luis-Oeste Africa e São
Francisco-Congo. No nordeste do Brasil, o caráter colisional ou não dessa
orogenia ainda é polemico.
Por entender que a evolução das coberturas metassedimentares da Província
Borborema, do início da sua deposição ao seu envolvimento na orogenia
brasiliana, é um elemento chave na compreensão da formação de Gondwana,
resolvemos estudar detalhadamente uma porção do Grupo Ceará, extensa seqüência
metassedimentar aflorando no Domínio Ceará Central (sub-província Borborema
Setentrional). Os resultados apresentados nesta tese representam uma síntese das
informações colhidas durante o mapeamento, na escala de 1:150.000, de uma área
de cerca de 5.200 km2 onde as relações entre Grupo Ceará e
embasamento arqueano/paleoproterozóico são particularmente bem expostos. Esses
dados foram complementados por um estudo geocronológico combinando dados
isotópicos Sm-Nd (idades modelo) e datações de grãos de zircão e monazita pelos
métodos U-Pb convencional e U-Pb SHRIMP (grãos de zircão detrítico).
Na região estudada, considerações ligadas a diferenças nas condições
metamórficas, a existência de contatos tectônicos internos e a incongruências
nas direções de transporte tectônico, materializadas por lineações minerais,
resultaram na subdivisão do Grupo Ceará em cinco sub-unidades. Essa subdivisão
tem valor local.
Uma das subunidadea apresenta, intercalados nos metapelitos dominantes,
freqüentes níveis anfibolíticos. Esses anfibolitos, geralmente ricos em
granadas, derivam de sills ou derrames basálticos com idade de ca. 750 Ma e
eNd(750)
levemente positivos indicando que são derivados de magmas com leve contaminação
crustal. São correlacionáveis com metariolitos do mesmo Grupo, datados por
outros autores em ca. 780 Ma. São representantes de um vulcanismo bimodal
associado ao rifteamento do continente arqueano/paleoproterozóico. O registro
desse episódio magmático foi identificado também nos grãos de zircão detrítico
de uma amostra de metapelito que apresentou uma população com idade compreendida
entre 800 e 750 Ma. Com o afinamento crustal decorrente do rifteamento,
iniciou-se a sedimentação do Grupo Ceará. Os dados isotópicos Sm-Nd sugerem uma
forte componente do embasamento na proveniência do material detrítico, com
grande parte das idades modelo variando no intervalo 2.000/2.500 Ma e
eNd(750)
francamente negativo. Entretanto, alguns paragnaisses apresentam idades modelo
mesoproterozóicas e
eNd(750)
levemente negativos ou positivos, mostrando que alguns horizontes foram
alimentados essencialmente por material juvenil associado ao magmatismo do rift.
A evolução progressiva do metamorfismo do Grupo Ceará durante
a orogenia brasiliana, desde condições de fácies eclogítico até condições de
fácies anfibolito de alta temperatura/baixa pressão, numa trajetória de sentido
horário, mostra que esta seqüência foi envolvida numa subducção seguida de
exumação, implicando, a exemplo do que aconteceu no Oeste Africano, num modelo
colisional para a orogenia brasiliana. A datação de monazitas de mobilizados
mostra que a migmatização aconteceu em torno de 610 Ma.
A exumação do pacote de metassedimentos foi acompanhada da formação de um
empilhamento de nappes sobre o embasamento arqueano/paleoproterozóico. A
colocação final das nappes aconteceu em condições de fácies anfibolito baixo.
A estruturação das nappes, com direção de transporte tectônico NNW-SSE e
mergulhos baixos para W, difere totalmente da estruturação do embasamento que
apresenta mergulhos baixos para SE e direções de transporte tectônico NNE-SSW.
Esse contraste, na ausência de dados conclusivos, pode ser interpretado de duas
maneiras: ou as nappes chegaram sobre um embasamento frio e estruturado durante
o paleoproterozóico, deixando pouco registro dúctil brasiliano no autóctone, ou
o embasamento conserva o registro de um episódio anterior da orogenia
brasiliana, com cinemática de transporte diferente.
UNIVERSITY OF BRASILIA /
INSTITUTE OF GEOSCIENCES
PhD THESIS No081
MICHEL HENRI ARTHAUD
NEOPROTEROZOIC EVOLUTION OF CEARÁ GROUP (CEARÁ CENTRAL DOMAIN, NE BRAZIL):
FROM THE SEDIMENTATION TO THE BRASILIANA CONTINENTAL COLLISION
DATE OF ORAL PRESENTATION: 05/10/2007
TOPIC OF THE THESIS: Regional Geology
SUPERVISOR: Prof. Reinhardt Adolfo Fuck
(UnB) - Co-orientador: Prof. Elton Luiz Dantas (UnB)
COMMITTEE MEMBERS: Prof. José Oswaldo de Araujo Filho (UnB); Prof. Márcio
Martins Pimentel (UnB); Prof. Benjamim Bley de Brito Neves (USP); Prof. Miguel
Angelo Stipp Basei (USP)
KeyWords: Central Ceará, continental collision, Neoproterozoic, geochronology
ABSTRACT
The Borborema
Province (NE Brazil) represents the South American continuation of the
Benin/Nigeria Province (W Africa), with which displays many geological
similarities. Its geological framework results from a complex polycyclic
evolution, which begins in Archaean times and ends with the Brasilian/Pan
African Orogeny, at the end of the Neoproterozoic.
The Brasilian/Pan African orogeny was responsible for the West Gondwana
amalgamation, between 660 and 540 Ma. In W Africa, well-defined suture zones
showing both high-pressure metamorphic rocks and ophiolitic sequences, as well
as oceanic magmatic arcs support the collisional character of this orogeny,
which includes the São Luis-West Africa and the São Francisco-Congo Cratons. In
NE Brazil, the collisional character of the brasilian orogeny is still
controversial.
The evolution of the monocyclic metasedimentary covers of the Borborema Province
- from sediment deposition to deformation and metamorphism during the Brasilian
Orogeny - is a key element to understand the formation of West Gondwana. The
Ceará Group is one of these metasedimentary sequences. It crops out in the
Central Ceará Domain (Northern Borborema Province) and has been chosen to carry
out a detailed geological study that includes a 1:150.000-scale mapping of a
5.220 km2 area, in which the relationship between the monocyclic
cover and the polycyclic basement are particularly well-exposed.
In the studied area the Ceará Group is composed by five nappes separated by
concordant, late-metamorphic low-angle ductile thrusts. These nappes are made up
of essentially metapelitic rocks that show both distinctive metamorphic and
structural behaviors.
One of these units (Guia Nappe) exhibits bodies of garnet amphibolites that have
been interpreted as former basaltic sills and/or flows metamorphosed under
eclogitic conditions. These rocks show ca. 750 Ma, with slightly positive Nd
resulting from continental crustal contamination during the ascent of the magma,
being possibly correlated with metarhyolites dated by other authors (ca. 780 Ma,
U/Pb). The magmatic set are being interpreted as rift-related, Tonian-age
bimodal volcanism, also registered in detrital zircon grains found in a
paragneiss sample from the same unit (800 to 750 Ma). Deposition of the
sediments from the Ceará Group is coeval with rifting and thinning of the
Archaean/Palaeoproterozoic continental crust. Sm-Nd model ages in the
metasediments suggest a strong contribution of Palaeoproterozoic sources for
detrital material, being most of the TDM
ages ranging between 2.0 and 2.5 Ga with strongly negative Nd. However,
Mesoproterozoic ages and either slightly negative or positive Nd found in some
samples imply in essentially juvenile material as sources for some of the
sedimentary horizons.
The progressive metamorphic evolution of the Ceará Group during the Brasilian
Orogeny followed a clockwise path from eclogitic- to HT/LP amphibolite
conditions. As in the W Africa, this fact imply in an evolution that involved
partial subduction followed by exhumation as a consequence of continental
collision. Both conventional and SHRIMP U/Pb estimates in monazite grains from
migmatitic mobilizates indicate that the HT/LP metamorphism occurred at ca. 610
Ma.
The exhumation of the metasediments from the Ceará Group was done as nappe
stacking over the Archaean/Palaeproterozoic basement. The final emplacement of
these nappes occurred under retrograde conditions (lower amphibolite to
greenschist facies).
The nappe pile shows W-dipping, low-angle foliations associated to roughly
NNW-SSE-oriented stretching lineations. This structural organization is highly
contrasting with that found in the basement, where E-dipping, low angle
foliations are related to NNE-SSW-oriented stretching lineations. Two hypotheses
may explain this contrast: i) the Brasilian nappes were thrusted over cold
basement that had been already structured during the Palaeoproterozoic, leading
to few- or none Brasilian imprint; or ii) the basement framework was acquired
during a former Brasilian event that shows distinct tectonic transport
direction.