4.3.4. Lineações D2t

Também contidas no plano S2, as lineações de estiramento, cujos indicadores cinemáticos associados mostram transporte tectônico com topo para SE, foram denominadas Le2t (figuras 4.12, 4.13, 4.14, 4.15, 4.16). O padrão de dispersão destas lineações, em estereograma, é resultado de rotação nas proximidades das zonas de falhas D3 ou ainda, reflete a mudança local de direção de encurtamento máximo. Quando localizada nas proximidades de rampas laterais, no contato entre os Grupos Araxá e Ibiá, onde a foliação S2 tende a se subverticalizar (ver estereogramas 1, 3, 4 e 11 da figura 4.17), Le2t apresenta baixa obliquidade indicando movimentos direcionais com pequena componente de empurrão. As obliquidades aumentam à medida em que ocorrem situações de rampa frontal (figuras 4.18 e 4.19). Situações típicas das diversas rampas frontais e laterais são mostradas nas figuras 4.20, 4.21, 4.22, 4.23, 4.24 e 4.25. Como ilustrado em todas estas figuras, a fase deformacional D2t foi responsável pela estruturação da Sinforma de Araxá e seu movimento confinado ao longo de um corredor NW-SE.

As dobras (F2t) ligadas a esta deformação apresentam morfologia e atitudes variadas, dependendo de sua posição nas rampas laterais e frontais, mas a superfície dobrada é sempre a própria S2 (figura 4.26 e 4.27). Nas situações de rampa frontal, geraram-se dobras recumbentes, sem raiz e com linhas de charneira paralelas à Le2t. Dobras em bainha foram observadas apenas em um afloramento no Grupo Canastra (figura 4.52), fato que não exclui sua possível presença nas demais unidades estratigráficas.

No entanto, padrões de interferência com outras dobras podem ser observados em alguns locais. Pelo fato das dobras ocorrerem no interior de espessas zonas de cisalhamento, nem sempre é possível relacioná-las a uma ou outra fase de deformação, uma vez que o redobramento de foliações miloníticas durante a progressão da deformação é feição bastante comum em milonitos (Passchier e Trouw, 1996).

Nas situações de rampal lateral dextral, as dobras apresentam-se também sem raiz, com morfologia em Z (olhando-se para NW), recumbentes e com charneiras paralelas à Le2t (figura 4.24 b). Junto ao plano principal das rampas, encontram-se dobras com superfícies axiais subverticais e charneiras com caimentos elevados e morfologia em Z olhando-se no plano horizontal (figura 4.24 c). Nestes casos, estão associadas à foliações S-C e juntamente com estas, denunciam o movimento direcional dextral das rampas. Em vários locais ao longo do contato da escama tectônica superior com a escama intermediária, ocorrem crenulações (kinks e chevrons), com superfícies axiais subverticais, subparalelas ao plano principal de deslizamento entre as duas unidades tectônicas (figura 4.24 d ).

Nas rampas laterais sinistrais, as dobras são apertadas a isoclinais, com superfícies axiais subverticais, linhas de charneira paralelas à Le2t e morfologia em Z olhando-se para NW. Estas dobras são dobradas por outro conjunto de dobras, de menor amplitude, cujas superfícies axiais são levemente oblíquas ao plano principal de deslizamento, têm linhas de charneiras subverticalizadas e mostram morfologia em S quando observadas no plano horizontal (figura 4.28). Juntamente com os demais indicadores cinemáticos, como lentes assimétricas (figura 4.20), foliações S-C, C’ (figura 4.18), assimetria de porfiroclastos e de fitas de quartzo (figura 4.19), indicam movimento direcional sinistral. No esquema apresentado na figura 4.28 , percebe-se um aumento na intensidade da deformação do afloramento 164 para o 441, dado por dobras cada vez mais apertadas e a gradual subverticalização de S2t.

4.3.5. Gênese da Sinforma de Araxá.

O estabelecimento da geometria da Sinforma de Araxá está ligado ao mecanismo de sua gênese. Este mecanismo pode ser compreendido observando-se o estereograma geral da foliação S2 ( figura 4.4 a) em conjunto com o estereograma de Le2t (figura 2.12). O pólo da guirlanda de S2 coincide como a média das lineações de estiramento. Esta geometria corresponde àquela comumente observada em estruturas do tipo nappe, implicando no transporte de segmentos supracrustais por longas distâncias, a exemplo da Nappe de Passos (figura 4.53).

O detalhamento do mecanismo pode ser visualizado através das figuras 4.17 e 4.18. Verifica-se que a posição das lineações de estiramento e minerais em relação ao plano S2 reflete as situações de rampas laterais (estereogramas 1, 2,3,4, 9, 11, ) e frontais (estereogramas 6, 7, 8, 26). Nas porções basais da escama tectônica superior, predominam lineações com caimento para NW ( região à leste da cidade de Araxá – anexo IV). Os indicadores cinemáticos demonstram que o transporte neste plano apresenta topo para SE. A preservação de lineações mais antigas, cujos indicadores cinemáticos associados, mostram transporte tectônico para NNE e a evidência de sua rotação gradual para o quadrante SE, demonstram que porções da escama foram passivamente transportadas e em parte rotacionadas. Demonstram também que a lâmina de empurrão principal foi sendo gradualmente rotacionada do quadrante NE para o quadrante SE. O desenvolvimento das rampas laterais dextrais e sinistrais e o alongamento geral da estrutura na direção NW-SE, ilustram o fato de que o transporte da escama foi confinado em um corredor NW-SE, o que é reforçado pelas dobras S e Z e foliações S-C. Deste modo, o mecanismo que gerou a estrutura final exige a rotação gradativa de planos e linhas e o confinamento da matéria em um corredor estreito, o que implica na existência de obstáculos ao avanço frontal da matéria.

4.4. A fase deformacional D3

Desenvolvida sob condições crustais mais rasas que as fases anteriores, a fase deformacional D3 apresenta-se como zonas de cisalhamento transcorrentes que definem feições lineares de expressão regional, como a zona de cisalhamento da Serra da Bocaina a sul da cidade de Araxá (figuras 4.29 e 4.30). Esta estrutura já havia sido identificada por Barbosa et al. (1970) que a caracterizaram como falha transcorrente dextral. Simões e Navarro (1997) descreveram-na em maior detalhe, conferindo-lhe movimento direcional sinistral e associação com dobras transectas. No presente estudo, alguns aspectos geométricos e cinemáticos destas falhas transcorrentes foram detalhados. O efeito da deformação D3 se faz presente em quase toda área mapeada, expressando-se como zonas de cisalhamento subverticais que truncam as estruturas anteriores ou como dobramentos dos planos S2. Esta fase foi responsável pela configuração tectônica final da região.

Continuação...