UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
TESES DE DOUTORADO
EM GEOCIÊNCIAS SOBRE REGIÕES BRASILEIRAS
LUIZ CLÁUDIO RIBEIRO RODRIGUES
luiz.claudio.rr@uol.com.br
MINERALIZAÇÃO DE OURO EM FORMAÇÃO FERRÍFERA BANDADA ARQUEANA DO QUADRILÁTERO FERRÍFERO, MINAS GERAIS – A MINA CUIABÁ
RIBEIRO-RODRIGUES, L. C. 1998. Gold in Archaen banded iron-formation of the Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais, Brazil - The Cuiabá Mine. Ph.D. Thesis, Aachen University of Technology. Augustinus Verlag, Aachener Geowissenschaftliche Beiträge, Band 27, 264 p. (ISBN 3-86073-606-X)
Palavras chave: Quadrilátero Ferrífero, ouro em formação ferrífera bandada, metalogenia
Aachen University of
Technology, Aachen, Alemanha
Área de concentração: Mineralogia e Geologia Econômica
Orientador: Prof. Gunther Friedrich
Banca: Prof. Gunther Friedrich; Prof. Franz Michael Meyer; Prof. Heinrich
Siemens; Prof. Walter Plüger; Prof. Annemarie Wiechowski
Data: 12/12/1997
RESUMO
A mina de ouro de Cuiabá
localiza-se na porção nordeste do Quadrilátero Ferrífero, estado de Minas
Gerais, Brasil. A região representa um terreno tipo "granite-greenstone",
composto por um Complexo do embasamento (ca. 3.2 Ga) e pela sequência tipo
greenstone belt do Supergrupo Rio das Velhas (3.0-2.7 Ga), sobreposto pelas
sequências supracrustais proterozóicas dos Supergrupos Minas (< 2.6-2.1 Ga) e
Espinhaço (1.7 Ga).
A área de estudos pertence ao Grupo Nova Lima, unidade inferior do Supergrupo
Rio das Velhas. A sequência litológica do depósito compreende, da base para o
topo, metavulcânicas máficas inferiores intercaladas com metassedimentos
carbonosos, a Formação Ferrífera Bandada (FFB) Cuiabá, hospedeira da
mineralização, metavulcânicas máficas superiores, metavulcanoclásticas e
metassedimentos. O metamorfismo alcançou a facies xisto verde.
As estruturas tectônicas da área do depósito são geneticamente relacionadas a
três fases de deformação, desenvolvidas sob regime de compressão crustal,
representando um único evento deformacional progressivo (En). Este
evento, que ocorreu depois da deposição do Supergrupo Minas, é responsável pela
geração de dobras, superfícies de plano axial, foliações miloníticas, lineações,
falhas, zonas e fraturas de cisalhamento. A fase D1 é responsável
pela geração da estrutura dominante do depósito, um amplo e fechado antiforme
(dobra em bainha tubular), mergulhando para sudeste (22-400), com uma
penetrativa foliação plano axial (S1=135 / 45). Esta foliação
progride localmente para uma foliação milonítica e contem uma proeminente
lineação mineral, por vezes com caráter de estiramento (Lm1=116 / 34).
Os componentes dominantes da BIF não mineralizada são camadas
quartzo-carbonáticas e de chert alternantes que variam de escala milimétrica à
métrica. Os padrões de distribuição de elementos maiores e traços da FFB Cuiabá
são semelhantes a outras formações ferríferas arqueanas.
A maior parte da mineralização de ouro está relacionada a 6 corpos de minério
principais, variando entre 1 e 6 m de espessura, contidos dentro do horizonte de
BIF. Os corpos mineralizados consistem de porções ricas em sulfetos da FFB
Cuiabá (> 4 ppm Au), possuem cores variando das tonalidades claro a escuro e
apresentam localmente uma aparência massiva, sem bandamento ou feições de
recristalização. Transições entre FFB mineralizadas e não mineralizadas envolvem
uma diminuição da composição modal de sulfetos de 30-70 vol.% para 1 vol.% e
descréscimo dos teores de ouro de 60 ppm para valores inferiores ao limite de
detecção. Mineralização subordinada ocorre associada com sulfetos disseminados
e/ou veios de quartzo em zonas de cisalhamento dentro de metavulcânicas e
metassedimentos.
O depósito é do tipo "gold-only" e mostra uma associação característica de Au
com Ag, As, Sb e baixo teor de metais básicos (< 0.2 vol.%). O ouro é fino (3-60
µm) e está associado com camadas de sulfeto, ocorrendo como inclusões, em
fraturas e em contato com cristais de pirita, o principal sulfeto (> 90 vol.-%).
Quimicamente o ouro é caracterizado por uma fineza média de 840 (Au/Ag = 1:6) e
uma ampla variação de „fineness“ (759-941).
As rochas adjacentes à FFB mineralizada exibem forte sericitização, carbonatação
e cloritização. Texturas observadas em escala microscópica até à escala de mina
indicam que as camadas sulfetadas são resultado de processo de sulfetação
envolvendo a substituição de carbonatos de ferro (siderita e ankerita) por
sulfetos. Estudos microtexturais indicam que a deposição de ouro ocorreu
simultaneamente com a precipitação dos sulfetos devido a reações de interação
fluido-rocha, que provocaram a instabilidade dos complexos de ouro, diminuindo a
atividade de enxofre. A forte associação da mineralização aurífera com sulfetos
sugere que complexos reduzidos de enxofre foram os principais agentes envolvidos
no transporte de ouro.
A mineralização apresenta várias feições observadas em depósitos de ouro do
Arqueano: (1) o ouro está associado com rochas ricas em ferro; (2) o depósito
apresenta um forte controle estrutural, com uma marcante continuidade dos corpos
de minério ao longo do plunge (> 3000 m) relativamente à direção e à potência
(até 20 m); (3) a natureza epigenética da mineralização, tendo a sulfetação como
principal processo de deposição do ouro; (4) a assinatura geoquímica do minério
(consistente associação Au-Ag-As-Sb e baixos teores de metais básicos) é
compatível com fluidos metamórficos.
As texturas e estruturas do minério indicam uma mineralização epigenética, com
forte controle estrutural, dominada por feições de substituição durante a fase D1
do evento En. Os corpos apresentam uma continuidade consistente ao
longo do „plunge“ e são paralelos à lineação de estiramento Lm1 e de
intersecção L1. Localmente, a mineralização foi remobilizada durante
as subsequentes fases de deformação D2 e D3.
UNIVERSITY OF BRASÍLIA - INSTITUTE OF GEOSCIENCES
PhD THESES ON EARTH SCIENCES OF
BRAZILIAN REGIONS
LUIZ CLÁUDIO RIBEIRO RODRIGUES
luiz.claudio.rr@uol.com.br
GOLD MINERALIZATION IN ARCHAEAN BANDED IRON-FORMATION OF THE QUADRILÁTERO FERRÍFERO, MINAS GERAIS, BRAZIL - THE CUIABÁ MINE
RIBEIRO-RODRIGUES, L. C. 1998. Gold in Archaen banded iron-formation of the Quadrilátero Ferrífero, Minas Gerais, Brazil - The Cuiabá Mine. Ph.D. Thesis, Aachen University of Technology. Augustinus Verlag, Aachener Geowissenschaftliche Beiträge, Band 27, 264 p. (ISBN 3-86073-606-X)
KeyWords: Iron Quadrangle, gold in banded iron formations, metalogeny
Aachen University of
Technology, Aachen, Germany
Topic of the thesis: Mineralogy and Economic Geology
Advisor: Prof. Gunther Friedrich
Commitee:Prof. Gunther Friedrich; Prof. Franz Michael Meyer; Prof. Heinrich
Siemens; Prof. Walter Plüger; Prof. Annemarie Wiechowski
Date: 12/12/1997
Abstract
The Cuiabá
Gold Deposit is located in the northern part of the Quadrilátero Ferrífero,
Minas Gerais State, Brazil. The region constitutes an Archaean
granite-greenstone terrane composed of a basement complex (ca. 3.2 Ga), the Rio
das Velhas Supergroup greenstone sequence and related granitoids (3.0-2.7 Ga)
which are overlain by the Proterozoic supracrustal sequences of the Minas
(< 2.6-2.1 Ga) and of the Espinhaço (1.7 Ga) Supergroups.
The study area is sited in the Nova Lima Group, which forms the lower part of
the Rio das Velhas Supergroup. The lithological succession of the mine area
comprises, from bottom to top, lower mafic metavolcanics intercalated with
carbonaceous metasediments, the gold-bearing Cuiabá-Banded Iron Formation (BIF),
upper mafic metavolcanics and metavolcanoclastics and metasediments. The
metamorphism reached the greenschist facies.
Tectonic structures of the deposit area are genetically related to three
deformation phases (D1, D2, D3) which took
place under crustal compression representing one progressive deformational event
(En). This event, which occurred after the Minas Supergroup
deposition, is responsible for the formation and development of folds, axial
plane surfaces, mylonitic foliations, lineations, faults, shear zones and shear
fractures. The D1 phase is responsible for the formation of the
dominant structure of the deposit, a large-scale, closed, south-east
(30o-400) plunging tubular-sheath fold with a pervasive
axial planar (S1=135 / 45), locally mylonitic foliation and a
prominent stretching (mineral elongation) lineation (Lm1=116 / 34).
The dominant components of the unmineralized BIF are alternating
millimeter-to-meter scale quartz-carbonate layers and chert layers. The
distribution patterns of major and trace elements of the Cuiabá-BIF are
analogous to other Archaean iron-formations.
The bulk of the economic-grade gold mineralization is related to six main ore
shoots (ranging in thickness between 1 and 6 m) which are contained within the
Cuiabá-BIF horizon. The BIF-hosted gold orebodies (> 4 ppm Au) represent
sulfide-rich segments of the Cuiabá-BIF which grade laterally into non-economic
mineralized or barren iron-formation. The ore ranges from dark to light colors
and is, in places, marked by definite banding or by a massive appearence.
Transitions from sulfide-rich to sulfide-poor BIF is indicated by decreasing
sulfide abundances from 30-70 vol.% to less than 1 vol.%, and decreasing gold
grades from over 60 ppm to values below the fire assay detection limit in
sulfide-poor portions. Subordinate mineralization occurs related to disseminated
sulfides and/or quartz veins in shear zones within metavolcanics and
metasediments.
The deposit is „gold-only“ and shows a characteristic association of Au with Ag,
As, Sb and low base-metal contents. Gold is fine-grained (up to 60 µm) and is
generally associated with sulfide layers, occurring as inclusions, in fractures
or along grain boundaries of pyrite, which is the predominant sulfide mineral (>
90 wt.%). Chemically, gold is characterized by an average fineness of 840
(Au/Ag= 1:6) and large fineness range (759-941).
The country rocks of the mineralized BIF show strong sericitization,
carbonatization and chloritization. Textures observed on a microscopic- to
mine-scale indicate that the mineralized Cuiabá-BIF is the result of sulfidation
involving pervasive replacement of Fe-carbonates (siderite-ankerite) by
Fe-sulfides. Microtextural studies (microfabrics) indicate that gold deposition
occurred simultaneously with sulfide precipitation due to fluid-wallrock
sulfidation reactions which induced instability of gold complexes, decreasing
the sulfur activity. The close association of gold mineralization with sulfides
suggests that reduced sulfur complexes were the predominant gold transport
mechanism.
Gold mineralization at Cuiabá shows various features reported for Archaean
gold-lode deposits including: (1) gold mineralization is associated with Fe-rich
host lithologies; (2) the strong structural control of the gold orebodies,
showing remarkable down-plunge continuity
( > 3000 m) relative to strike length and width (up to 20 m); (3) the epigenetic
nature of the mineralization, with sulfidation as the major process of wall-rock
alteration and directly associated with gold deposition; (4) the geochemical
signature, with mineralization showing consistent metal associations
(Au-Ag-As-Sb and low base metal) which is compatible with metamorphic fluids.
The ore textures and structures indicate an epigenetic, structurally-controlled,
replacement-dominated mineralization during the D1 phase of the En-event.
The oreshoots show a consistent down-plunge continuity parallel to the Lm1
stretching and L1 intersection lineations. Local remobilization of
syn-D1 mineralization occurred during the D2 and D3
deformation phases.