UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO No 96
MARCELO DE LAWRENCE BASSAY BLUM
SUPERFÍCIE CURIE DA REGIÃO CENTRAL DE GOIÁS E RELAÇÕES COM GEOLOGIA, GEOTECTÔNICA E RECURSOS MINERAIS[Mapa Curie] [Mapa Geológico]
DATA DA DEFESA: 03/02/95
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: GEOLOGIA REGIONAL
ORIENTADOR: PROF. AUGUSTO CISAR BITTENCOURT PIRES (UnB)
EXAMINADORES: PROF. REINHARDT A. FUCK (UnB)
PROF. MARTA SILVIA MARIA MANTOVANI (IAG/USP)
RESUMO
A área de estudo situa-se na região
central do Estado de Goiás entre os paralelos 14o
e 16o Sul e os meridianos 48oe 51o
Oeste. A região faz parte da Província Estrutural
Tocantins abrangendo complexa e variada geologia.
Na área encontram-se os complexos máfico-ultramáficos
Barro Alto e Niquelândia, bem como as faixas greenstone
de Goiás, Crixás, Guarinos e Pilar de Goiás,
a Faixa Granulítica Anápolis- Itauçu, variados
terrenos granito-gnáissicos, seqüências vulcano-sedimentares
meso- e neoproterozóicas, os xistos dos grupos Araxá
e Serra da Mesa e os metassedimentos dos grupos Araí e
Paranoá.
Os elementos estruturais são representados pelo Lineamento
Transbrasiliano, a Megainflexão dos Pirineus, a Inflexão
de Niquelândia e empurrões com vergência para
o Cráton do São Francisco.
Diversos levantamentos geofísicos foram realizados na região
a partir da década de 1970. Entre eles estão o Projeto
Geofísico Brasil-Canadá com importante levantamento
aeromagnético, o levantamento gravimétrico, os dados
geotermais e estudos sismológicos. Utilizando os dados
aeromagnéticos do PGBC como imagem digital foi possível
encontrar facilmente quatro grupos de anomalias: lineamentos,
faixa tranqüila, áreas perturbadas e áreas
muito perturbadas. Através da interpretação
magnética de modelos prismáticos, é possível
estimar a profundidade onde as rochas perdem sua magnetização:
profundidade Curie. Com um conjunto dessas profundidades obtem-se
uma superfície Curie.
Neste estudo foram utilizados programas computacionais para construir
a superfície Curie da região central de Goiás.
Os programas foram originalmente escritos para computadores de
grande porte. A modificação e a adaptação
para ambiente IBM/PC foi feita com sucesso. Os programas exigem
dados em malha regular, calculam espectro radial e devolvem a
profundidade Curie. É necessário, no entanto, definir
o tamanho de uma janela de dados e qual o segmento do espectro
que melhor representa os modelos prismáticos. O tamanho
de janela encontrado foi de 26 km. O segmento do espectro vai
de 0,0 a 0,00007 rad/m. Foram estimadas 13984 profundidades. Da
comparação entre as médias das profundidades
Curie estimadas de dados magnéticos (30,8 km) e as calculadas
pelo fluxo térmico, chegou-se a conclusão de que
o método é bastante eficiente. A superfície
Curie revelou áreas quentes curiosamente lineares, com
profundidades mais rasas, chamadas de 'cristas Curie' e regiões
frias, mais profundas, chamadas de 'bacias Curie'. A temperatura
dessa superfície foi estimada em 586,1oC. A
superfície, principalmente as bacias Curie, representa
níveis crustais inferiores (30-37 km), possivelmente correspondentes
à interface entre crosta média e inferior. A superfície
Curie foi comparada à geologia, com a interpretação
de mapa magnético, com mapa Bouguer, com a sismicidade
e com a distribuição dos recursos minerais da área
de estudo. Proeminente relevo apresentado pelas cristas Curie
revela áreas de instabilidade recentes. Muitas dessas áreas
coincidem com elementos estruturais antigos portadores de mineralizações
de origem hidrotermal. Dentre os elementos correlacionados destacam-se
a Megainflexão dos Pirineus e a Inflexão de Niquelândia.
Notou-se paralelismo e coincidência com greenstone belts,
seqüências vulcano-sedimentares e granitóides,
estes últimos possivelmente tardi- e/ou pós-orogênicos.
A relação com a gravimetria revela a presença,
ainda marcada, de geossutura brasiliana através de um conjunto
de cristas protuberantes e outro suave. Sugere-se a ocorrência
de três episódios para explicar a origem das estruturas
Curie: 1) Episódio colisional, que gerou geossutura; 2)
Episódio extensional pós-orogênico, responsável
pela formação de granitóides e mineralizações
em zonas de cisalhamento; e 3) Episódio recente, relativo
às tensões regionais E-W resultantes do deslocamento
da Placa Sul-Americana reativando alguns elementos estruturais.
Os três episódios são responsáveis
pela configuração apresentada pelas cristas Curie,
cujo mecanismo deverá ser estudado. A aparente dependência
de mineralizações em relação às
cristas Curie pode indicar um bom guia prospectivo para a região.
UNIVERSITY OF BRASILIA- INSTITUTE OF GEOSCIENCES
MSc THESIS No 96
MARCELO DE LAWRENCE BASSAY BLUM
CURIE SURFACE OF THE CENTRAL GOIÁS REGION AND RELATIONSHIPS WITH GEOLOGY, GEOTECTONICS AND MINERAL RESOURCES[Curie Map] [Geological Map]
DATE OF ORAL PRESENTATION: 03/02/95
TOPIC OF THE THESIS: REGIONAL GEOLOGY
SUPERVISOR: PROF. AUGUSTO CISAR BITTENCOURT PIRES (UnB)
COMMITTEE MEMBERS: PROF. REINHARDT A. FUCK (UnB)
PROF. MARTA SILVIA MARIA MANTOVANI (IAG/USP)
ABSTRACT
The study area is located in the State of Goiás
central region, between 14 and 16 South parallels and 48 and 51
West meridians. The region is placed in the Tocantins Structural
Province showing complex geology. Mafic-ultramafic complexes (Niquelândia
and Barro Alto), greenstone belts (Goiás City, Crixás,
Guarinos and Pilar de Goiás), granulitic belt (Anápolis-Itauçu),
granite-gneiss terranes, Meso- and Neoproterozoic volcano-sedimentary
sequences, schists (Araxá and Serra da Mesa groups) and
metassedimentary rocks (Paranoá and Araí groups)
are embedded. Structural elements are represented by the Transbrasiliano
Lineament, Pirineus Megainflection, Niquelândia Inflection,
and thrust faults with vergence to São Francisco Craton.
Several geophysical surveys were performed in the region starting
in the 70's. Brazil-Canada Geophysical Project (PGBC) with important
aeromagnetic survey, gravity survey, geothermal data and seismological
studies are included among them. Using the PGBC's aeromagnetic
data as digital image it was possible to find four types of magnetic
anomalies: lineaments, quiet zones, disturbed areas and very disturbed
areas. Magnetic interpretation of prismatic models allows the
evaluation of depths where rocks lose their magnetization: Curie
depth. With a group of depths we can have a Curie surface. In
this study, computer programs were used to construct the Curie
surface. The programs, originally developed for use in big computers,
were modified and adaptated for personal computers. The algorithim
reads a regular grid data, calculates radial spectrum, and returns
the value of Curie depth. Before this, it is necessary to define
a window size and the appropriated pattern of spectrum. The window
size found in this study is 26 km and the spectrum segment is
0.0 - 0.00007 rad/m. Depths were evaluated for 13984 locations.
Comparing Curie depths estimated by magnetic data (30,8 km) with
Curie depths estimated by heat flow, we concluded the method is
effective. The Curie surface indicated "hot" and shallow
areas with characteristic linear pattern refered as 'Curie crests',
and "cold" and deep regions called 'Curie basins'. The
Curie basins represent deep crustal levels (30-37 km), and possibly
the inferior and medium crust interface. The Curie surface was
compared with geological map, interpreted magnetic map, Bouguer
map, seismicity, and the distribution of mineral resources in
the study area. Curie crests are associated with recent and unstable
areas. Many of this areas coincide with ancient structural elements
containing hidrotermal mineralizations. Pirineus Megainflection
and Niquelândia Inflection are remarkable features. Parallelism
and coincidence with greenstone belts, volcano-sedimentary sequences
and granitoids are clear. The last ones are probably late or post-orogenic
features. The relation with gravity indicates an ancient suture.
Three episodes are suggested to explain the origin of Curie structures:
1) Colisional episode: responsible for the geosuture formation;
2) Late orogenic extentional episode: responsible for the granitoid
and shear zone mineralizations; and 3) Recent episode: related
to E-W regional stresses as the result of South-American plate
tectonic. The episodes were responsible for the Curie crests configuration
by reactivating old structural features. Apparent subordination
of mineralizations with Curie crests can suggest a good guide
for prospecting in the region.