UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO No 100
MARIA ANTONIETA ALCÂNTARA MOURÃO
OS FOSFATOS DO MEMBRO CAMPO SAMPAIO, SUPERGRUPO ESPINHAÇO, MINAS GERAISDATA DA DEFESA: 31/03/95
RESUMO
Os litotopos fosfáticos da Serra do Espinhaço Meridional
são reconhecidos ao longo de faixa com extensão
de cerca de 80km. Na área estudada, a oeste de Conceição
do Mato Dentro, assumem maior importância em termos de concentração
de fosfato, espessura e distribuição superficial.
A unidade fosfática é representada por uma sucessão
cíclica de quartzitos finos e quartzo-xistos, frequentemente
carbonáticos. Os níveis mais enriquecidos (com teores
até 12% em P2O5) posicionam-se na passagem entre bancos
arenosos e pelíticos. A unidade fosfática sobrepõe-se
aos conglomerados e quartzitos imaturos da base da Formação
Sopa-Brumadinho, em contato normal e brusco. A associação
litológica e as feições sedimentares mostram
correspondência com a Associação Litofaciológica
Marinho-Rasa de Martins- Neto (1993) ou o Membro Campo Sampaio
de Fogaça e Almeida-Abreu (1982): porção
superior da Formação Sopa-Brumadinho. Foram identificados
dois grupos distintos de apatitas nos litotipos fosfáticos;
apatitas euédricas a subédricas em agregados ou
dispersas e apatitas subédricas associadas a vênulas
quartzo-carbonato- feldspáticas ou a cristais de K-feldspato
neo-formados. Rochas metabásicas, encaixadas na unidade
fosfática, exibem dois tipos de apatita relacionados ao
grau de deformação/alteração das rochas.
Junto ao contato com os metassedimentos ocorrem apatitas subédricas,
em grãos isolados, nos xistos magnesianos resultantes do
intenso processo de alteração do metabasito. Porções
menos deformadas mostram pequena proporção de apatita,
ocorrendo em cristais de granulometria muito fina. Em níveis
superficiais foram identificados fosfatos de alumínio e
ferro, formados às custas do fosfato pretérito,
por atuação do intemperismo. Estudos cristaloquímicos
revelaram a semelhança composicional entre apatitas dos
metassedimentos e dos metabasitos cisalhados. Em termos de elementos-traço
e ETR esses tipos de apatita mostram correspondência com
aquelas formadas em ambiente sedimentar. Apatitas de rochas metabásicas
pouco transformadas possuem composição química
típica para rochas ígneas máficas. A origem
sedimentar da mineralização fosfática é
comprovada pela semelhança química dos litotipos
estudados com fosforitos e folhelhos marinhos. A partir de análises
químicas dos litotipos da unidade fosfática constatou-se,
por meio de diagramas de correlação entre elementos
maiores, que a apatita não se relaciona, preferencialmente,
com qualquer mineral particular. Valores baixos em Ni e V, e anomalia
positiva em Ce, podem indicar deposição em ambiente
plataformal raso ou estuarino. A não detecção
de U, e as baixas concentração em enxôfre,
devem relacionar-se á implantação, durante
estágio cedo-diagenético, de ambiente óxico/pós-óxico.
Vênulas quartzo-carbonato-feldspáticas, posicionadas
paralelamente ao acamamento dos litotipos fosfáticos, constituem
um aspecto característico da unidade. A concentração
e distribuição dos ETR nessas vênulas são
similares ao constatado nos metassedimentos encaixantes, salvo
pela elevada anomalia positiva em Ce. Este aspecto sugere que
os fluidos associados ao processo de formação das
vênulas originaram-se do próprio pacote sedimentar.
A transformação gradativa de metabasitos para flogopita-talco
xistos, com o incremento do cisalhamento/alteração
hidrotermal, é confirmada tanto pelos estudos petrográficos
como pelas análises químicas. A mineralização
de apatita nos xistos magnesianos reflete a adição
de fósforo a partir dos metassedimentos encaixantes. A
assinatura geoquímica dos metabasito assemelha-se à
dos diques máficos neoproterozóicos, abundantes
no Supergrupo Espinhaço Meridional. No contexto da evolução
da Bacia Espinhaço, a unidade fosfática associa-se
ao período transgressivo que sucede a fase inicial marcada
por tectonismo de blocos (fase rift segundo Almeida-Abreu 1993).
Esse tectonismo, provavelmente, foi responsável pela estruturação
de um ambiente semi-confinado, favorável à acumulação
de fosfato. A existência de altos topográficos na
bacia é sugerida pelo acunhamento da unidade fosfática,
como verificado por Fritzsons et al. (1990). Assume-se que a sedimentação
ocorreu em ambiente plataformal com tectonismo pouco pronunciado.
Advoga-se o estabelecimento, na Bacia Espinhaço, de um
sistema fosfogenético de baixa produtividade orgânica,
em virtude da inexistência de níveis carbonosos e/ou
sulfetados e da natureza predominantemente detrítica dos
sedimentos. Nesses sistemas, há um equilíbrio entre
fluxos moderados de carbono orgânico, altas velocidades
de mistura de partículas e intensa atividade orgânica
aeróbica/anaeróbica. A atuação de
bactérias e de correntes de fundo deve ter sido de tal
forma eficaz que permitiu a degradação da matéria
orgânica. Os organismos (bactérias) são periodicamente
soterrados por sisliciclásticos, gerando a concentração
de fosfato em solução intersticiais por processos
de difusão- convecção e, adicionalmente,
em consequência da redução de hidróxidos
de ferro. Em fases de redução do aporte detrítico
a atividade de correntes provoca a lixiviação e
retrabalhamento dos sedimentos, com o consequente enriquecimento
em fosfato. Pulsos tectônicos locais devem ter contribuído
para o suprimento rápido e periódico de siliciclásticos.
A atuação dos sistema fosfogenético de baixa
produtividade explica o posicionamento dos horizontes enriquecidos
na passagem dos bancos arenosos para bancos pelíticos.
UNIVERSITY OF BRASILIA- INSTITUTE OF GEOSCIENCES
MSc THESIS No 100
MARIA ANTONIETA ALCÂNTARA MOURÃO
PHOSPHATES FROM THE CAMPO SAMPAIO MEMBER OF THE ESPINHAÇO SUPERGROUP, MINAS GERAIS STATE-BRAZILDATE OF ORAL PRESENTATION: 31/03/95
ABSTRACT
Phosphatic rocks have been identified within the sequence of the
Espinhaço Supergroup in the southern-central portion of
the Serra do Espinhaço Meridional. They constitute a lithological
unit which is characterized by a cyclic succession of quartzitic
and pelitic, normally carbonatic layers. Stratigraphic position
and lithological association parmit to correlate it with the Campo
Sampaio Member (Fogaça & Almeida-Abreu 1982) or with
the Shallow Marine Lithofaciological Association (cf Martins-Neto
1993) at the top of the Sopa-Brumadinho Formation. The basal
contact of the phosphatic unit with polymictic metaconglomerates
and immature quartzites (Caldeirões Member of Almeida-Abreu
1993) is concordant and sharp. The upper contact with eolian
quartzites of the Galho do Miguel Formation is gradational.
The composition of the phosphate mineral corresponds to
hydroxy-fluorapatite. Trace elements and REE show patterns similar
to marine phosphates. Diverging values are U (not detected) and
an enrichment in Ce. Chemically the phosphatic lithologies are
similar to marine shales (NASC), especially as concerned to the
REE concentrations. A correspondence to marine phosphorites is
suggested by the values of Sr and Ba.
Weathering processes led to the formation of Fe- and AI-phosphate
at the surface.
Metamorphosed basic rocks cut the phosphatic unit showing
intensive shearing and hydrothermal alteration especially near
the contact with metasediments. These basic rocks are composed
essentially by tremolite, epidote, albite, and chlorite; in zones
of most intense alteration the rocks are transformed in phlogopite-talc
schists. The chemical composition of less altered rocks is comparable
with such of mafic dykes and sills of Mid Proterozoic age which
are very frequent in the southern Serra do Espinhaço.
The phosphate sedimentation is related to an import transgressive
event in the Espinhaço basin which marks the transition
from mechanic to thermal subsidence.
The absence of carbonaceous and/or sulfide layers as well
as the detrital nature of the sediments suggest the installation
of a phosphogenetic system of low productivity which is characterized
by periodic influx of siliciclastic material and low flow of organic
carbon. The alternation of arenaceous and pelitic layers is probably
related to sea level changes. Arenaceous sequences correspond
to prograding successions. Probably the phosphate enriched horizons
were formed during periods of intensification of the transgression
when bottom currents reworked and lixiviated the sediments with
the consequent enrichment of apatite.