UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA -
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO No 152
NELSON FAVA
O MANTO DE INTEMPERISMO E A QUÍMICA DO PIROCLORO DE CATALÃO I (GO): UM ESTUDO PRELIMINAR
Palavras-chave: Carbonatito; Perfil Intempérico; Química mineral; Pirocloro.
DATA DE DEFESA:30/03/2001
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PROSPECÇÃO E GEOLOGIA ECONÔMICA
ORIENTADOR: Prof. José Carlos Gaspar (UnB)
EXAMINADORES: Prof. Henrique Senna Diniz Pinto (UnB); Prof. Arnaldo Alcover Neto (CETEM)
RESUMO
O estudo de uma porção do espesso manto
de intemperismo do Complexo teve como objeto um furo de sondagem, o qual foi
caracterizado mineralógica e quimicamente, utilizando-se petrografia aliada à
micromorfologia, difração de raios X e análises químicas. Os resultados
permitiram identificar os seguintes horizontes de intemperismo, da rocha-mãe
para a superfície: a) rocha fresca, aqui classificada como magnesiocarbonatito,
constituído de dolomita, mica, pirocloro, apatita e magnetita. A razão CaO:P2O5
nesta rocha é 20,44, devido ao fato de que CaO está presente na dolomita além
de constituir a apatita (CaO:P2O5 = 1,3). Os pirocloros
encontrados nestas rochas têm cores em tons de amarelo, hábito octaédrico, e
granulometria variando entre 50 e 500 microns. A zonação, encontrada em alguns
dos grãos estudados, se deu segundo as faces cristalográficas dos mesmos; b)
saprólito: a base deste horizonte é constituído de rocha alterada, a qual está
em contato com a rocha parental, e é caracterizada pela presença de
vermiculita. O carbonato desaparece a 68 m de profundidade. Sobreposto ao
horizonte anterior, há um horizonte rico em anatásio, provável produto de
alteração da ilmenita, e apatita, principal mineral deste horizonte. É neste
horizonte que surgem os fosfatos secundários, os quais se formam pela
desestabilização da apatita. As razões CaO:P2O5 deste
horizonte atingem um mínimo de 1,17, indicando que o CaO está sendo lixiviado
do sistema. Há um processo de silicificação que substitui os minerais da
rocha parental, mantendo sua textura e estrutura. Forma-se quartzo, o qual é
oriundo da alteração dos minerais ricos em sílica. O pirocloro dominante
neste horizonte é o Ba-pirocloro, porém Pb,Ba-pirocloro também foi
encontrado; c) cobertura laterítica: sua base está a 24 m de profundidade,
onde a razão CaO:P2O5 atinge o valor 1,21, menor do que
na apatita teórica (1,32), pois quando da dissolução, o Ca é lixiviado e o P
permanece na forma de fosfatos secundários. O mineral dominante é a gorceixita,
mineral este que dá a cor ocre à base deste horizonte. Nos primeiros cinco
metros de profundidade no solo o fosfato dominante é gorceixita. A acumulação
de goethita, típica de horizonte laterítico, é máxima a 16 m de
profundidade. O quartzo se apresenta em nódulos arredondados, fraturados, com
plasmação e se associam ao plasma em textura porfirosquélica.
Os pirocloros foram descritos em todas as
amostras estudadas, desde a rocha fresca até a 10 m de profundidade. O número
de grãos de pirocloros analisados por microssonda eletrônica totalizou vinte e
oito, sendo que oito pertencem à rocha fresca e vinte à rocha intemperizada.
Quimicamente, o tipo de pirocloro
predominante na rocha fresca é o Na,Ca-pirocloro, sendo que as variações em %
em peso de alguns dos óxidos obtidos das análises são: Nb2O5
(53,38-65,12); TiO2 (13,89-4,19); CaO (13,05-9,94); Na2O
(2,80-5,98). A distribuição das freqüências dos teores de Na2O e
CaO em forma de histogramas mostra claramente, no caso do CaO, um máximo com
65% das análises entre 10-14 % peso. No caso do Na2O observa-se uma
distribuição crescente com quatro tendências máximas, onde 15% das análises
estão entre 4-4,5% peso e 25% das análises entre 5,5-6,0% peso.
Segundo estas análises, os pirocloros de
rocha fresca foram divididos em dois grupos, denominados de grupo I e grupo II,
segundo gráfico de cátions monovalentes (Na+) em função de cátions
bivalentes (Ca2+, Sr2+, Mn2+, Ba2+)
ocupantes da posição cristalográfica A dos pirocloros. O grupo I é definido
para A+ variando entre 0,48-0,72 (apfu), onde pode ser observada uma
correlação negativa entre A2+ (1,02-0,78 apfu) e A+. O
Grupo II foi definido para A+ < 0,48 (apfu), onde nenhum tipo de
tendência de substituição entre os grupos de cátions mono e bivalentes pode
ser observado imediatamente. Devido a tendências observadas para o Grupo I nos
diagramas apresentados, é possível montar séries de fórmulas idealizadas
para os pirocloros do Grupo I, com base em três pontos:
Ponto 1:
Ponto 2:
Ponto 3:
Há no grupo II uma dispersão bem
acentuada dos cátions bivalentes (Ca2+, Sr2+, Mn2+,
Ba2+) com o decréscimo de A+ (Na+).
Observa-se que alguns pontos da amostra L2AP01 seguem com boa aproximação
o prolongamento da correlação linear observada no grupo I do ponto 1 (A2+
= 1,02 e A+ = 0,48) até A2+ = 1,5 e A+
= 0,0 , ou seja, há uma boa probabilidade de ter havido a substituição
numa fase
anterior. Os demais pontos que se distanciam desse prolongamento, poderiam ter
sido gerados em função de substituições do tipo
e/ou
numa fase
posterior.
A
amostra L3BP03 é um caso muito particular, não só por ter pontos tanto no grupo
I quanto no grupo II, mas pelo comportamento antagônico de dois cátions
bivalentes na posição A: Ca2+ e Ba2+. A fase rica em Na
e Ca possui pouquíssimo ou nenhum Ba, e sobrecresce fase mineral rica em Ba,
com pouco Na e Ca. Pode-se falar, então, de duas variedades distintas de
pirocloro sobrecrescidas.
As
análises químicas dos grãos de pirocloro de rocha intemperizada mostraram que
o tipo químico que domina estatisticamente o perfil intempérico é o
Ba-pirocloro, de tal forma que as variações das porcentagens em peso de alguns
óxidos principais gerados pelas análises químicas são: Nb2O5
(65,26-66,62); BaO (19,88-10,71); Na2O (0,06-0,02); CaO (0,04-4,40);.
Subordinadamente, foram encontrados alguns grãos de Pb,Ba-pirocloro, os quais,
provavelmente, são remanescentes da rocha parental. As porcentagens em peso de
alguns óxidos componentes deste tipo químico são: PbO (16,27-8,6); BaO
(12,25-12,01); CaO (0,21-0,25); Na2O (0,03-0,07)
As distribuições das porcentagens em
peso dos óxidos Na2O e CaO para os pirocloros de rocha intemperizada
analisados mostram que, na maioria das análises, os dois elementos destes óxidos
não foram detectados (87% para Na2O e 83% para CaO). A distribuição
de BaO mostra que 60% das análises se encontram no intervalo 14-20% em peso,
sendo que o máximo é dado pelo intervalo 16-18% em peso, equivalente a 36% das
análises.
UNIVERSITY OF
BRASILIA- INSTITUTE OF GEOSCIENCES
MSc
THESIS No 152
NELSON FAVA
THE WEATHERED OVERBURDEN AND THE CHEMISTRY OF PYROCHLORE OF CATALÃO I (GOIÁS STATE): A PRELIMINARY STUDY
Key Words: Carbonatite; Weathered Rock Profile; Mineral Chemistry; Pyrochlore.
DATE OF ORAL PRESENTATION:30/03/2001
TOPIC OF THE THESIS: EXPLORATION AND ECONOMIC GEOLOGY
SUPERVISOR:Prof. José Carlos Gaspar (UnB)
COMMITTEE MEMBERS: Prof. Henrique Senna Diniz Pinto (UnB); Prof. Arnaldo Alcover Neto (CETEM)
ABSTRACT
The
Catalão I Carbonatitic Complex is located in the SW from Goiás State, Brazil,
20 km to the North of Catalão district and, approximately, 300 km to the south
of Brasília town, having the coordinates (48oW18oS).
It is
a Cretaceous circular body, approximately 5,5 km in diameter, that intruded
Pre-Cambrian rocks from the Araxá Group. The rocks from the Catalão I, Catalão
II, Tapira and Serra Negra Carboanatitic Complexes are constituents of the
Minas-Goiás Alkaline Province, which include, among the above cited
Carbonatitic Complexes, rocks of kimberlitic origin, possibly lamproitic
originated rocks and rocks of kamafugitic nature.
The
study of the weathered profile was based in one drill hole core, which was
characterized petrographically, with the aid of micromorphology, chemistry, and
X ray powder diffraction technique. The results lead to the identification of
the following weathering horizons, from the bottom to the top of the profile: a)
fresh rock: classified as a magnesiocarbonatite, containing dolomite, magnetite,
mica, pyrochlore and apatite. The pyrochlore found in this rock is light-yellow,
have octaedric habit, and varies between 50 and 500 microns in size. Zonation is
found in some of the studied grains, and are displayed according
crystallographic planes; b) saprolite: the base of this horizon is the weathered
rock horizon, which is in contact with the bedrock. The main characteristics of
this horizon are the high amount of vermiculite and the presence of fragmented
fresh rock. The carbonate disappears at 68 m of deepness. Above the weathered
rock horizon, there is an anatase-rich horizon, probably originated from
weathered ilmenite. Apatite is the main mineral of this horizon. It is in this
horizon that the secondary phosphate is described in the first time in the
profile, which is formed after the weathered apatite, mica and vermiculite. The
values for CaO:P2O5 reach a minimum of 1,17, which
indicates that CaO is leached from the system, while P became a constituent of
secondary phosphate and apatite. There is a silicification process that
substitute the carbonate of the parental rock, keeping its texture and structure.
Quartz is the constituent of these rock matrix, which is the result of the
weathered silicate minerals. The weathering of the primary mica and vermiculite
of the upper horizons are the most probable source for this process. The
pyrochlore that dominates the horizon is the Ba-pyrochlore. Pb,Ba-pyrochlore is
found subordinately; c) lateritic cover: the base of this horizon is located at
24 m of deepness, where the phosphate that dominates is gorceixite which gives
an ochre color to this rock, and where the value CaO:P2O5
reaches 1,21. The accumulation of goethite, which reach its maximum at 16 m of
deepness, is a typical feature of the lateritic cover horizon. Grains of quartz
have round shape and fractures, which are frequently filled with iron
oxihidroxides, characterizing the plasmation process. The texture is
porphyroskelic.
Pyrochlores
were described in all the samples studied, from fresh rock to 10 m of deepness.
The total of pyrochlore grains analysed by electron microprobe was twenty-eight,
eight of them from fresh rock and twenty from weathered rock.
The type of pyrochlore that dominates the fresh rock is
the Na, Ca-pyrochlore, with the following variations in some of their main
oxides: Nb2O5 (53,38-65,12); TiO2 (13,89-4,19);
Na2O (2,80-5,98); CaO (13,05-9,94). Fresh and weathered rock
pyrochlores were analysed by electron microprobe. The frequency distribution of
the Na2O and CaO wt % in pyrochlore analysis showed, in the case of
CaO, a maximum of 65% of the analysis between 10-14 wt. %. In the case of the Na2O,
there is a growing distribution, with four maximum tendencies, where 15 % of the
analysis are between 4-4,5 wt. % and 25 % of the analysis are between 5,5-6,0wt.%.
After these analysis,
the fresh rock pyrochlores were divided in two groups, called Group I and Group
II, according to the diagram wich displays the results of the monovalent cations
A+ (Na+) against the bivalent ones A2+ (Ca2+,
Sr2+, Mn2+, Ba+2), all of them filling the A
crystallographic site of the pyrochlores. The Group I is defined for A+
varying from 0,48-0,72 (apfu), where a negative correlation can be observed
between A2+ (1,02-0,78 apfu) and A+. The Group II was
defined to A+ < 0,48 (apfu), where no kind of tendency of
substitution between groups of mono and bivalent cations can be immediately
observed. Due to observed tendencies for the Group I in the diagrams displayed,
it is possible to write down series of idealized statements to the Group I
pyrochlores, based in three points:
Point 1:
Point 2:
Point 3:
In
the Group II, there is a dispersion display of A2+ cations (Ca2+,
Sr2+, Mn2+, Ba2+) with the decreasing of A+
(Na+).
Some points of the sample L2AP01
follow, with good approximation, the extension of the linear correlation
observed for the Group I, from point 1 (A2+ = 1,02 and A+
= 0,48) to A2+ = 1,5 e A+ = 0,0 , that is, there is
a high probability for the substitution
to
happen in a preceeding step of the crystalization history of this grain.The
other points that are distant from this extension could be generated after the
following substitutions:
and/or
in
a next step of the crystalization hystory of the grain.
The
sample L3BP03 is a peculiar case, because there are points from this sample that
belongs to Group I and to Group II. Another characteristic from
this sample is the antagonic behaviour of the bivalent ions in the position A:
Ca2+ and Ba2+. The mineral phase rich in Na and Ca has
very few or none Ba, and overgrows the phase rich in Ba, with few Na e Ca.
Therefore, it is possible to say that the Na, Ca-pyrochlore overgrows the
bariopyrochlore phase.
The
weathered grains of pyrochlore in the weathered rock show that the kind of
pyrochlore that dominates statistically the weathered profile is bariopyrochlore,
which analyses showed that the ranges of variations of some of the main oxides
are: Na2O (0,06-0,02); CaO (0,04-4,40); BaO (19,88-10,71); Nb2O5
(65,26-66,62). Subordinately, some grains of Pb-pyrochlore are found, which are,
probably, originated in the fresh rock. The weight percent (wt%) of some of the
main oxides of this kind of pyrochlore are: Na2O (0,03-0,07); CaO
(0,21-0,25); BaO (12,25-12,01); PbO (16,27-8,6).
The
wt% frequency distributions for the oxides Na2O and CaO for the
pyrochlores of the weathered rock show that, for the biggest part of the
analyses, both elements were not detected (87% for Na2O and 83% for
CaO). The BaO distribution shows that 60% of the analyses are found in the
interval 14-20 wt %, and the maximum is given by the interval 16-18 wt. %, which
corresponds to 36% of the total of the analyses.