UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO N^o 197

MARCUS LEANDRO DE ANDRADE TEIXEIRA

RESUMO

    Um dos problemas básicos nos modelos de reconstrução do Gondwana ocidental é a localização dos limites dos blocos colisionais, geralmente representados por sistemas de nappes com metamorfismo inverso e seqüências ofiolíticas geradas em zonas de suturas. A região do Ceará Central na Província Borborema, nordeste do Brasil, representa um destes limites formados durante a convergência e aglutinação dos crátons Oeste Africano, Amazônico e São Francisco/Congo no Neoproterozóico.
    A área estudada corresponde ao limite norte da porção central do Complexo Tamboril - Santa Quitéria, entre os municípios de Santa Quitéria, Varjota e Forquilha. A integração de dados geológicos, aerogeofísicos e geocronológicos, dando suporte ao mapeamento geológico em escala 1:50.000, permitiu reconhecer três principais unidades de mapeamento, agrupadas em uma seqüência supracrustal, formada por granada xistos, gnaisses contendo migmatitos com granada e anfibólio gnaisses, um complexo granítico-migmatítico, denominado de Complexo Tamboril - Santa Quitéria, caracterizado pela ocorrência de diatexitos e metatexitos de composição granodiorítica a monzogranítica, tonalitos migmatíticos e metagabros, intrudidos por granitóides neoproterozóicos e ordovicianos. O principal limite entre estas unidades é marcado por zonas de cisalhamento de baixo ângulo (porção NW), caracterizado por um sistema de nappes com transporte tectônico para NW. Estruturalmente destacam-se duas extensas zonas transcorrentes sinistrais, representadas pela Zona de Cisalhamento Varjota, de direção N-S e regime dúctil, que ocorre na porção oeste da área, e a Falha do Rio Groaíras, com direção NW-SE e regime rúptil, ocorrendo na porção NE da área.
    A seqüência de rochas supracrustais é caracterizada pela intercalação de baixas contagens nos canais de K, Th e U, com altas contagens no canal de Th, localmente apresentando altas contagens nos três canais individuais (K - potássio, Th - tório e U – urânio). As rochas do Complexo Tamboril - Santa Quitéria são caracterizadas por apresentarem altas contagens no canal de K em quase toda região, contagens intermediárias nos canais de Th e U, e baixas contagens nos três canais individuais que ocorrem no centro do complexo relacionadas aos metagabros. Os Granitos Ordovicianos, em particular a Suíte Pajé, são caracterizados por apresentarem contagens elevadas no canal de K e contagens intermediárias nos canais de Th e K. As falhas e fraturas de caráter rúptil de direção NE e NW, tardias à deformação dúctil, são bem delimitadas nas imagens da derivada vertical de ordem zero e do gradiente horizontal total. Estes mesmos produtos marcam bem as zonas de cisalhamento de regime dúctil, em particular a Zona de Cisalhamento de Varjota, caracterizada por apresentar baixa susceptibilidade magnética de direção N-S com 1 km de espessura (porção oeste da área).
    Os dados isotópicos e geocronológicos permitiram individualizar os diferentes episódios magmáticos e deformacionais que afetaram as rochas dessa região, assim como sugerir um modelo de evolução para a área estudada. A cristalização de corpos ígneos do Complexo Tamboril - Santa Quitéria é marcada por idades entre 630 e 660 Ma, obtidas pelo método U-Pb em zircão, em metagabros e diatexitos. A migmatização destas rochas está associada a processos deformacionais de 615 Ma com resfriamento em 540 Ma. O último evento, em 460 Ma, corresponde à idade de cristalização da Suíte Pajé. Os isótopos de Nd permitiram identificar mistura de fontes de idade paleoproterozóica e neoproterozóica tanto para as rochas do Complexo Tamboril - Santa Quitéria, como para as rochas da Seqüência Supracrustal, com presença de material juvenil neoproterozóico, dado por valores de ε_(Nd) positivos nos gnaisses anfibolíticos da seqüência supracrustal e uma fonte dominante paleoproterozóica para os Granitóides Ordovicianos.

MARCUS LEANDRO DE ANDRADE TEIXEIRA