UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO No 231
MARCUS FLAVIO NOGUEIRA CHIARINI
Data da defesa: 14/09/2007CONTRIBUIÇÃO DA AEROGEOFÍSICA NA CARACTERIZAÇÃO DE SUTURAS COLISIONAIS E DE SISTEMAS TRANSCORRENTES: O EXEMPLO DE PORANGATU, BRASIL CENTRAL
Coordenadas geográficas limites envolvendo a área: 13o00“S - 13o30‘S
x 49o 00‘W - 49o30‘W
Estado(s): GO,TO
Folha(s) ao milionésimo: SD22
Palavras Chaves: Aerogeofísica; Arco Magmático; Sutura; Transbrasiliano.
RESUMO
O presente
estudo tem como objetivo integrar interpretações aerogeofísicas de alta
resolução e de mapeamento geológico básico para avançar no conhecimento
tectônico da região de Porangatu – GO.
Foram utilizados os dados do
Levantamento Aerogeofísico do Estado de Goiás – Bloco 1, Arco Magmático de Mara
Rosa, série 3008 da base Aero do Serviço Geológico do Brasil – CPRM / SGB,
realizado em 2004.
Esses dados
foram adquiridos com taxa de amostragem de 0,1 s para a magnetometria e de 1,0 s
para a gamaespectrometria, com altura nominal de vôo de 100 m, linhas de
produção N-S, espaçadas de 500 m, e as linhas de controle E-W com espaçamento de
5000 m.
O processamento
constituiu basicamente na definição do algoritmo interpolador (krigagem) e
tamanho de célula de interpolação (125 m), o micronivelamento, visando
homogeneizar a distribuição espacial, e a geração dos temas transformados do
Campo Magnético Anômalo, tais como Amplitude do Sinal Analítico, Amplitude do
Gradiente Horizontal Total, Inclinação do Sinal Analítico, a interpretação
semi-automática Deconvolução de Euler, além dos produtos radiométricos.
A
arquitetura crustal da região de Porangatu é caracterizada por um arranjo de
blocos litosféricos, com características isotópicas e geocronológicas distintas,
colocados adjacentes por um regime tectônico convergente oblíquo, sendo os
limites desses blocos importantes descontinuidades tectônicas. Os grandes
limites foram associados a descontinuidades gravimétricas, sísmicas e
magnetométricas, interpretadas como feições tectônicas profundas de primeira
ordem, representadas por zonas de cisalhamento transcorrentes de grande
magnitude, sendo a principal o Lineamento Transbrasiliano, considerada a
“cicatriz” de uma zona de sutura colisional.
As interpretações dos produtos aerogeofísicos associadas ao mapeamento geológico
na escala 1:100 000 da Folha Porangatu permitiram a caracterização de um sistema
de transcorrência destral, o qual apresenta feições de arrasto subordinadas à
mega zonas de cisalhamentos de direção N30ºE, representantes dos Lineamentos
Transbrasilianos na área. A configuração do sistema controla o alojamento ígneo
tardi a pós-tectônico em zonas de fraquezas crustais. Este foi denominado
Sistema Transcorrente Porangatu.
Com o mapeamento geológico foram identificadas três grandes entidades geológicas:
Complexo Arqueano Serra Azul, Complexo Porangatu – Novo Planalto e terrenos
associados ao Arco Magmático de Mara Rosa.
O Complexo Arqueano Serra Azul constituído por gnaisses graníticos foi imbricado
tectonicamente em meio a rochas mais jovens no fechamento deste sistema
convergente no final do neoproterozóico. E separa o Complexo Porangatu – Novo
Planalto (a W), dos terrenos associados ao Arco Magmático de Mara Rosa (a E).
Nos domínios dos terrenos gerados em ambiente de arco magmático, diversos
autores com o advento da geocronologia identificaram duas principais fases de
atividade ígnea, sendo a mais antiga entre 890 e 800 Ma, e a mais nova no
período de 660 a 600 Ma.
As rochas relacionadas ao
Arco Magmático de Mara Rosa apresentam amplo espectro composicional, variando
desde gabros, anfibolitos, tonalitos até granitos. A discriminação das séries da
magnetita e da ilmenita proposta por Ishihara (1977) como indicativa de evolução
de um sistema de arco magmático foi aplicada com sucesso, identificando uma
zonação bipolar de domínios de susceptibilidade magnética (SM) na Imagem da
Amplitude do Sinal Analítico. A discriminação dessas séries pela magnetometria
foi posteriormente corroborada pela micropetrografia, que identifica a
ocorrência desses minerais em domínios distintos.
Os temas
radiométricos também apresentam as concentrações dos três radioelementos (K, Th
e U) de forma bipolar, indicando baixos teores coincidentes espacialmente com
altos valores de susceptibilidade magnética. A descontinuidade abrupta observada
tanto nos produtos radiométricos como nos magnetométricos também é coincidente e
aqui denominada Descontinuidade Geofísica Porangatu – Mutunópolis – Amaralina
(DG-PUMA). A DG-PUMA possivelmente está relacionada à justaposição de terrenos
de duas fases de acresção crustal distintas.
A leste da DG-PUMA (alta SM) dominam principalmente gabros e
magnetita-hornblenda tonalitos toleíticos a calci-alcalinos com
εNd
(t) positivo evidenciando que estas rochas foram derivadas de crosta juvenil
indicando pouca contaminação crustal, gerados num ambiente de arco de ilhas
intra-oceânico entre 890 e 800 Ma. A oeste da DG-PUMA (baixa SM) predominam
granada tonalitos e granitos calci-alcalinos de altos K e Sr com
εNd
negativo cristalizadas entre 660 e 600 Ma num estágio mais evoluído do sistema
de arco magmático com contribuição crustal.
O
Complexo Porangatu – Novo Planalto é representado por gnaisses tonalíticos a
graníticos com idades U-Pb em zircão em torno de 570 a 530 Ma, sendo proposta
uma história tectônica envolvendo maior complexidade para o sistema de arco
magmático. Também como representante deste complexo está uma faixa de granulitos
máficos disposta paralela a Z.C. Talismã, possivelmente representante de
material de nível crustal mais profundo exumado pelo fechamento do sistema.
As respostas da
Deconvolução de Euler mostram no domínio dos lineamentos transbrasilianos alta
densidade de soluções configurando um plano vertical de direção N30ºE. Este é
associado à Zona de Cisalhamento Talismã, onde ocorrem milonitos limitados por
faixa de granulitos máficos, sendo este plano interpretado como descontinuidade
de primeira ordem e representante da sutura colisional na área de estudo.
Assim, o presente trabalho propõe a delimitação espacial dos terrenos
relacionados a essas duas fases de acresção crustal dentro da evolução do Arco
Magmático de Mara Rosa, as quais representam a transição de ambiente
intra-oceânico para continental, além da identificação de limites tectônicos.
UNIVERSITY OF BRASILIA- INSTITUTE OF GEOSCIENCES
MSc THESIS No
231
MARCUS FLAVIO NOGUEIRA CHIARINI
CONTRIBUTION OF THE AEROGEOPHYSICS IN THE CHARACTERIZATION OF COLLISIONAL SUTURES AND STRIKE-SLIP SYSTEMS: THE EXAMPLE OF PORANGATU, CENTRAL BRAZIL
Date of oral presentation: 14/09/2007Key Words: Aerogeophysical; Suture; Magmatic Arc; Transbrazilian.
ABSTRACT
The current
study has the objective of integrating airborne geophysical data interpretation
and basic geological mapping in order to advance the tectonic knowledge on the
Porangatu Region, in the State of Goiás, Brazil.
Data processed came from the Aerial Geophysical Survey of the State of Goiás,
Block 1, Mara Rosa Magmatic Arc, serial number 3008, belonging to the Geological
Survey of Brazil (CPRM / SGB), Aerial Base, concluded in 2004. Data was acquired
with a 0.1 sample rate for magnetometric data and 1.0 s sample rate for gamma
spectrometry, with a 100 m nominal flight height. North-South production lines
were spaced 500 m apart, and East-West tie lines were spaced 5.000 m apart.
Processing was based in the definition of the interpolating algorithm (krigagem),
with an 125 m interpolating cell size, micro levelling, with the aim of
homogenizing the spatial distribution, and the generation of transformed themes
of the anomalous magnetic field, such as Analytical Signal Amplitude, Total
Horizontal Gradient Amplitude, Inclination of the Analytical Signal and the
Euler Deconvolution (semi-automatic interpretation) procedure, as well as
radiometric products.
Porangatu region’s Crust architecture is based in a settlement of lithospheric
blocks, with distinct isotopic and geochronological characteristics, placed in
an adjacent way by an oblique convergent tectonic regime, with the limits of
such blocks being important tectonic discontinuities. Major limits were
associated with gravimetric, seismic and magnetometric discontinuities, which
were interpreted as first order deep tectonic features. They were also
represented as a high magnitude strike-slip shear zones, being the main one the
TransBrazilian Lineament, which is considered the “scar” of a collision suture
zone.
The interpretation of the aerogeophysical products associated with the
geological mapping of the Porangatu’s sheet, at the scale of 1:100 000, has
showed the characterization of a dextral passing system. This system shows
dragging features subordinated to mega shear zones in the N30oE
direction, which represents the TransBrazilian lineament in the area. The system
configuration controls the late and post-tectonic igneous lodging in zones of
crustal weaknesses. This system was named the Porangatu
strike-slip
system.
Three major geological entities could be identified with geological mapping: The
Serra Azul Archean Complex, the Porangatu-Novo Plateau Complex and terrains
associated with the Mara Rosa Magmatic Arc.
At the end of the Neoproterozoic Era, the Serra Azul Archean Complex, which is
made of granitical gneiss, was tectonically imbricated in the middle of younger
rock at the closing of this converging system. It divides the Porangatu-Novo
Plateau (at west) from
terrains
associated
with the Mara Rosa Magmatic Arc (at east).
Several authors have identified two main igneous activities phases at the domain
of fields generated within the magmatic arc environment. The older phase dates
between 890 and 800 Ma. The newest dates from 660 to 600 Ma. Rocks related to
the Mara Rosa Magmatic Arc present a wide composition range, from gabbros,
amphibolites, tonalites and even granites. Ishihara’s (1977) description of
magnetite, and ilmenite, as an indication of the evolution of a system of
magmatic arc, was successfully applied, leading to the identification of a
bipolar zoning in the domain of magnetic susceptibility at the Analytical Signal
Amplitude image. This was further corroborated by micropetrological exams made
to identify such minerals. Radiometric themes also showed concentrations of
three radioelements (K, Th and U) of bipolar form, indicating low content
spatially coinciding with high values of magnetic susceptibility. The rugged
discontinuity observed in both the radiometric and magnetometric products is
also coincident and is in this study named Porangatu-Mutunópolis – Amaralina
Geophysical Discontinuity (DG-PUMA). DG-PUMA is probably related to a two-phase
field overlapping of distinct crustal accretion. At East of DG-PUMA (high MS)
there is a dominance of tholeitic-to-calcium-alkaline gabbros, magnetite-hornblendite
tonalities, with positive εNd (t), a demonstration that these rocks came from
an younger crust. They also indicate little crustal contamination. They were
generated in an arc ambiance of intra-oceanic islands between 890 and 800 Ma. At
West of DG-PUMA (low MS), there is a predominance of garnet tonalities and
granites with calcium-alkaline signature of high K and Sr content with negative
εNd crystallized between 660 and 600 Ma, in a more evolved stage of the magmatic
arc system with crustal contribution.
The Porangatu – Novo Planalto Complex is represented by tonalities to granites
gneiss with U-Pb ages in zircon between 570 to 530 Ma, which proposes a tectonic
history involving more complexity for the magmatic arc system. A zone of mafic
granulites, disposed alongside to the Talismã Shear Zone, also represents this
Complex, and possibly represents material from deeper crustal levels which were
exhumed by the closing of this system.
Euler Deconvolution answers showed high density of solutions at the domain of
the TransBrazilian lineaments, a testimony to the existence of a vertical plan
at the N30oE direction. This plan is associated to the Talismã Shear Zone, where
there is an occurrence of Mylonites contained by a belt of mafic granulites.
This plan can be interpreted as a first order discontinuity and as a
representative of the collision suture in the area under study.
This paper thus proposes the spatial delimitation of terrains related to these
two phases of crustal accretion within the evolution of the Mara Rosa Magmatic
Arc. These two phases represent the transition from an intra-oceanic to a
continental environment and identify tectonic limits.