UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO No240
LINCOLN SIEPIERSKI
Data da defesa: 09/05/2008GEOLOGIA E PETROLOGIA DO PROSPECTO GT-34: EVIDÊNCIA DE METASSOMATISMO DE ALTA TEMPERATURA E BAIXA ƒO2, PROVÍNCIA MINERAL CARAJÁS, BRASIL
Palavras Chaves: Carajás, metassomatismo, alteração, IOCG, ortopiroxênio, apatita, litogeoquímica
Limites de Retângulo Envolvente:
Folha ao Milionésiomo:
Estado: PA
RESUMO
A área GT-34, localizada na
Província Mineral de Carajás, encontra-se situada no domínio
gnáissico-migmatítico do Complexo Xingu
(Silva et al.,1974).
Caracteriza-se por apresentar zonas ricas em sulfetos hospedadas em corpos
irregulares constituídos por rochas brechadas
e/ou litologias ricas em
ortopiroxênio-anfibólio, que afloram
entre rochas gnáissicas. As rochas brechadas são constituídas por abundantes
fragmentos heterogêneos resultantes da alteração do gnaisse encaixante. Os
corpos enriquecidos em sulfetos ocorrem ao longo de uma faixa com direção geral
NE-SW de aproximadamente 1,5 km de comprimento, atingindo localmente 500 m de
profundidade. Essas zonas ricas em sulfetos ocorrem intimamente associadas a
rochas costituídas dominantemente de ortopiroxênio (ortopiroxenititos) e
anfibólio, consideradas como formadas por metassomatismo.
MSc THESIS No
240
As intersecções ricas em sulfetos variam de centimétricas a decamétricas.
Ortopiroxenititos brechados com injeções de veios ricos em sulfetos são
observados em vários pontos do GT-34. Nestas zonas observam-se brechação e
substituição parcial do ortopiroxenitito por uma associação contendo sulfetos
com proporções variadas de apatita, escapolita e hornblenda. Zonas enriquecidas
em sulfetos ocorrem como vênulas discretas, como sistema de veios tipo “stock-work”,
ou como zonas brechadas, semi-maciças, contendo fragmentos de ortopiroxenitito
parcialmente alterado. Apatita ocorre invariavelmente associada e pode alcançar
até 25% em volume nas amostras com sulfetos semi-maciços e veios enriquecidos. A
abundância de apatita nestas zonas enriquecidas em sulfetos resulta em alto
conteúdo em P, alcançando até 7,9 % em peso e
com vários resultados analíticos entre 1 e 5% em peso,
evidenciando uma correlação geoquímica positiva entre P e S. As zonas sulfetadas
são enriquecidas em Fe o que reflete a paragênese dos sulfetos dominada por
pirrotita, com pirita, calcopirita e pentlandita associadas; contudo, as rochas
metassomatizadas vizinhas a essas zonas sulfetadas não são enriquecidas em Fe.
Os ortopiroxenititos são caracterizados pelo alto conteúdo de Mg (>3
% em peso) e estão associados às zonas sulfetadas porém, nem sempre,
representam as rochas hospedeiras desses corpos.
A composição dos cristais de ortopiroxênio de diversas áreas do GT-34 é similar.
O conteúdo de En nessas amostras varia de 68,0 a 77,5% e não mostra correlação
significativa com o conteúdo de TiO2, Cr2O3,
CaO e Al2O3. Quando comparados a cristais de ortopiroxênio
com conteúdo similar de En provenientes de intrusões acamadadas
máficas-ultramáficas, os cristais de ortopiroxênio do GT-34 exibem
invariavelmente baixo conteúdo de TiO2, Cr2O3,
CaO e Al2O3. Igualmente, os ortopiroxenititos possuem
conteúdo extremamente baixo de Cr2O3
(< 0.01 % em peso; ou 22 a 71 ppm Cr) e TiO2 (0.03 a 0.14 % em peso),
confirmando o mesmo aspecto composicional distinto quando comparado com
ortopiroxenitos de origem magmática. Essas características sustentam a
interpretação que os cristais de piroxênios, e por associação, os
ortopiroxenititos do GT-34 foram originados por processos metassomáticos.
A
evolução composicional dos ortopiroxenititos com ou sem sulfetos, e das rochas
ricas em sulfetos sugere que a formação das zonas sulfetadas resulta da
substituição moderada a extensiva das rochas ricas em ortopiroxênio. O conteúdo
de ETR encontrado nas rochas ricas em sulfetos é diretamente correlacionável a
abundância de apatita. Esta correlação é também observada no gráfico Ce x P2O5
que indica a substituição progressiva do ortopiroxenitito pelos termos mais
ricos em apatita-sulfeto.
A
interpretação dos dados disponíveis do GT-34, portanto, sugere que as rochas
ricas a ortopiroxênio representem metassomatitos de alta temperatura
desenvolvidos sobre rochas gnáissicas (Fase 1), seguido por evento posterior
caracterizado por brechação, percolação de fluídos e deposição de sulfetos (Fase
2). As condições geológicas apropriadas para desenvolver um sistema
metassomático equivalente ao observado no GT-34 (P>0,5 Kb), sugerem temperaturas
superiores a 700°C, compatíveis com a cristalização de ortopiroxênio. A Fase 2 no sistema GT-34 consiste no desenvolvimento
de brechação e venulação nos ortopiroxenitos e gnaisses, com cristalização de
sulfeto e apatita. Este processo promoveu a concentração de diversos elementos
(ex.: P, F, S, ETR, Fe, Cu, Co, Ni, etc). A associação espacial entre essas
litologias sugere uma relação genética entre o processo de alteração inicial
(Fase 1) e a sulfetação tardia (Fase 2). Apesar disso, observa-se que o
enriquecimento e empobrecimento relativos de diversos elementos são distintos
nas duas fases, indicando que os fluidos associados ao metassomatismo e/ou as
condições físicas atuantes durante o processo de alteração foram
significativamente diferentes. As zonas ricas em sulfetos possuem abundantes
sulfetos portadores de ferro (pirrotita-pirita-calcopirita-pentlandita) e são
desprovidas de óxidos de ferro (magnetita ou hematita). A cristalização de
pirrotita e pirita na ausência de óxidos de Fe indica condições de alta
fugacidade de enxofre (fS2) e baixa fugacidade de oxigênio (fO2).
A temperatura de cristalização para as fases ricas em sulfetos pode ser inferida
pela presença de hornblenda associada, sugerindo temperaturas superiores a
500°C, na ausência de ortopiroxênio (T < 700°C).
As
características presentes no GT-34, quando comparadas com os depósitos de Cu-Au
em Carajás, sugerem que o metassomatismo ocorreu em condições de alta
temperatura e baixa fO2. Esses aspectos permitem indicar
que o metassomatismo e sulfetação desenvolvidos no GT-34 ocorreram em nível
crustal relativamente mais profundo, representando possivelmente zonas
hipogênicas do sistema IOCG regional, com idade 2.5 Ga, da Província Mineral de
Carajás.
UNIVERSITY OF BRASILIA- INSTITUTE OF GEOSCIENCES
LINCOLN SIEPIERSKI
Date of oral presentation: 09/05/2008GEOLOGY AND PETROLOGY OF THE GT-34 PROSPECT: EVIDENCE OF HIGH TEMPERATURE METASSOMATISM ANDO LOW ƒO2, MINERAL PROVINCE OF CARAJÁS, BRAZIL
Keywords: Carajás, metasomatism, alteration, IOCG, orthopyroxene, apatite, lithogeochemistry
ABSTRACT
The GT-34 Prospect in the Carajás Mineral Province is located within older
gneiss-migmatite terrains (Xingu Complex). Sulfide mineralization is hosted by
irregular bodies of brecciated rocks and/or orthopyroxene-amphibole bearing
rocks outcropping among gneissic rocks. Distribution of sulfide-rich intervals
form an irregular NE trend of about 1.5 km-long and up to 500 meters deep.
Breccias include highly heterogeneous fragmental rocks resulting from alteration
of gneisses. Sulfide-rich zones are closely associated with rocks consisting
mainly of orthopyroxene (orthopyroxenitite) and amphibole, considered to form by
metasomatism.
Sulfide-rich intersections may be up to dozens of meters-thick or restricted to
few centimeters-thick veins. Brecciation of orthopyroxenitites by
sulfide-bearing veins is observed throughout the GT-34 Prospect. In these zones
orthopyroxene is brecciated and partially replaced by an assemblage of sulfides
associated with variable proportions of apatite, scapolite and hornblende.
Enrichment in sulfides occurs in discrete veins, in veining systems developing
net textured rocks or in semi-massive brecciated zones where partially altered
fragments of orthopyroxenitites frequently occur. Apatite is ubiquitous and
abundant (up to 25 vol. %) in brecciated semi-massive sulfides or sulfide-rich
veins. Sulfide minerals consist mainly of pyrrhotite with associated pyrite,
chalcopyrite and pentlandite. The abundance of apatite in the sulfide-rich
samples results in their high P contents (up to 7.9 wt. % and several values
between 1-5 wt. %) and good correlation with S values. Sulfide-rich zones are
enriched in Fe, reflecting the abundance of Fe-bearing sulfides but metasomatic
rocks closely associated with the sulfide-rich zones are not Fe-enriched. Higher
Mg contents (> 3 wt. % Mg) characterizes the orthopyroxene-rich rocks (orthopyroxenitites).
These rocks are closely associated with sulfide-rich zones but not neccessarily
their host rocks.
Compositions of orthopyroxene crystals from orthopyroxenitites collected in
different portions of the GT-34 Prospect are very similar. En contents for
orthopyroxene from the GT-34 vary from 68.0 to 77.5 %. Variation in En content
shows no correlation with contents of TiO2, Cr2O3,
CaO and Al2O3. When compared to orthopyroxene with similar
En content of orthopyroxenites from mafic-ultramafic layered intrusions,
orthopyroxene crystals from the GT-34 Prospect show lower contents for TiO2,
Cr2O3, CaO and Al2O3.
Orthopyroxenitites have extremely low Cr2O3
(< 0.01 wt. %; or 22 to 71 ppm Cr) and TiO2 (0.03 to 0.14 wt. %)
contents, also indicating distinctive compositional features when compared to
orthopyroxenites of magmatic origin. These compositional features support
the interpretation that orthopyroxene crystals (and orthopyroxenitites) in the
GT-34 Prospect are not magmatic, being originated by metasomatic processes.
Sulfide-rich rocks (S > 10 wt. %) have high total
Fe2O3
(27.10 to 44.71 wt. %) and P2O5 (4.20 to 20.92 wt. %)
contents, reflecting their abundance in Fe-sulfides (pyrrhotite, pyrite,
chalcopyrite and pentlandite) and apatite. Compositional trends for
orthopyroxenitites, sulfide-bearing orthopyroxenitites and sulfide-rich rocks
suggest that sulfide-bearing rocks result from mild to extensive replacement of
orthopyroxene-bearing rocks. REE contents in sulfide-bearing rocks are
correlated with the abundance of apatite. This correlation is illustrated by the
plot of Ce versus P2O5 contents for orthopyroxenitites,
sulfide-bearing orthopyroxenitites and sulfide-rich rocks, indicating the
progressive replacement of orthopyroxenitites by apatite-sulfide rich zones.
Interpretation of available data of the GT-34 Prospect suggests that
high-temperature orthopyroxene-bearing metasomatic replacement bodies (Phase 1)
developed within gneissic country rocks, followed by a late event of veining,
brecciation and sulfide mineralization (Phase 2). Geological conditions
appropriated to sustain the extensive high-temperature metasomatic system
described in the GT-34 prospect (P > 0.5 Kb), suggest temperatures over 700°C
for the
crystallization of orthopyroxene. The second Phase in the GT-34 system consists
of brecciation and veining of orthopyroxenitites and host gneisses, together
with sulfide-apatite mineralization. This process involved the crystallization
of significant amount of sulfides and apatite, thus promoting the concentration
of a diverse range of elements (e.g. P, F, S, REE, Fe, Cu, Ni). The close
spatial association suggests a genetic link between early alterarion (Phase 1)
and later sulfidization (Phase 2). However, relative enrichment and depletion of
elements are distinctively different in these two events indicating that fluids
associated with metasomatism, and/or physical conditions prevailing during
alteration, were highly different during these events. Sulfide-rich zones have
abundant Fe-bearing sulfides (pyrrhotite, pyrite, chalcopyrite, pentlandite) and
no associated oxides. Crystallization of pyrrhotite and pyrite without Fe-oxides
(magnetite or hematite) indicates conditions of high sulfur fugacity (fS2)
and low oxygen fugacity (fO2). The temperature of crystallization of
sulfide-rich zones is constrained by associated hornblende, suggesting
temperatures above 500°C, and the lack of orthopyroxene (e.g. T < 700°C).
Characteristics of the GT-34 Prospect suggest that metasomatism occurred under
higher temperature and lower fO2 conditions, compared to Cu-Au
deposits in Carajás. These features possibly indicate that metasomatism and
sulfidization of the GT-34 Prospect represent deep zones (e.g. deeper crustal
level) of the regional 2.5 Ga Cu-Au ore-forming system of Carajás. This
suggestion provides new exploration possibilities for the Carajás Mineral
Province.