UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA - INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO No258

CIMARA FRANCISCA MONTEIRO

FOSFORITOS DO GRUPO BAMBUÍ NA REGIÃO DE CAMPOS BELOS (GO)/ARRAIAS (TO) NA BORDA OESTE DO CRÁTON SÃO FRANCISCO

Data da defesa: 21/08/2009
Área de concentração: Prospecção e Geologia Econômica
Orientador:  Prof. Marcel Auguste Dardenne (UnB)
Banca Examinadora: Prof. Lucieth Cruz Vieira (UnB); Prof. Paulo César Boggiani (Unicamp)

Palavras Chaves: Fosforitos, Grupo Bambuí, Cráton São Francisco

Limites de Retângulo Envolvente:
Folha ao Milionésiomo: SD23
Estado: GO/TO

RESUMO    

Os depósitos de fosfato sedimentar da região de Campos Belos (GO) e Arraias (TO) compreendem até o momento três depósitos de volume reduzido, mas com teores elevados, superiores a 24% P2O5, denominados: São Bento, Coité 1 e Coité 2.
Os fosforitos e siltitos fosfatados encontrados na região estão inseridos na porção basal da Formação Sete Lagoas, pertencente ao Grupo Bambuí, de idade Neoproterozóica. O Grupo Bambuí integra a porção oriental da Faixa de Dobramentos Brasília e também compõe ampla cobertura do Cráton São Francisco.
A Formação Sete Lagoas se encontra sobreposta a diamictitos da Formação Jequitaí, ou diretamente sobre o embasamento granítico atribuído a Suíte Aurumina, de idade Paleopreoterozóica. Na área de estudo a Formação Sete Lagoas é composta por espessos pacotes (~120 metros) de siltitos estratificados, intercalados com bancos de margas calcíferas na base, seguidos por calcários e dolomitos em direção ao topo. As rochas mineralizadas em fosfato ocorrem interdigitadas com siltitos, próximo ao embasamento granítico.
Com base em estudos petrográficos, mineralógicos e químicos foram definidos nos depósitos São Bento, Coité 1 e Coité 2, quatro grupos de rochas fosfatadas: grupo siltito fosfatado; grupo fosforito primário estratificado; grupo fosforito brechado; e grupo fosforito pedogênico.
O grupo siltito fosfatado, com maior distribuição geográfica dentre os demais grupos, é composto por siltitos laminados com teor médio de 11,49% P2O5.
Quanto ao grupo fosforito primário estratificado houve a necessidade de compartimentá-lo em dois subgrupos: subgrupo fosforito laminado, constituído por fosforitos estruturados em finas lâminas, com teor correspondente a 24,28% P2O5; e subgrupo fosforito acamadado, composto por fosforitos dispostos em camadas finas a médias, com teor médio equivalente a 32% P2O5.
O grupo fosforito brechado é composto por fosforitos retrabalhados no ambiente de sedimentação, e possui teor médio elevado de 34,13% P2O5.
Em relação ao grupo fosforito pedogênico, dois subgrupos foram distinguidos: subgrupo fosforito laterítico, composto por fosforitos em estágio avançado de intemperismo, com teor médio de 27,64% P2O5; e subgrupo fosforito concrecionário, caracterizado por concreções fosfáticas no entremeio ao solo, que apresentam teor médio equivalente a 24,82% P2O5.
Com relação à mineralogia, pressupõe-se que a francolita foi a apatita primária, que constituiu as rochas fosfatadas. Processos intempéricos foram os principais responsáveis pelas transformações na estrutura da francolita, permitindo que a mesma assumisse composições cada vez mais próximas a da fluorapatita. Difratogramas de raios-x indicam a presença de picos correspondentes a fluorapatita, o que é corroborado pelas razões CaO/P2O5 e F/P2O5 inferiores a 1,621 e 0,148, respectivamente (valores normativos para a francolita). Os padrões de elementos terras raras mostram que não houve variação da fonte dos sedimentos.
A sedimentação fosfática ocorreu sob condições climáticas frias, evidenciadas pela presença da Formação Jequitaí na região, de origem comprovadamente glacial, e também por valores negativos de δ13CPDB e δ18OPDB em dolomitos do topo da Formação Sete Lagoas. O ambiente de deposição dos fosforitos nessa região é caracterizado por paleo-canais irregulares e descontínuos encaixados no embasamento granítico, em um contexto de bacia sedimentar restrita, com influência de regime transgressivo. Deslizamentos em flancos dos canais permitiram o retrabalhamento de sedimentos depositados, formando brechas sedimentares. A evolução de processos intempéricos incorreu na lateritização dos fosforitos e na lixiviação de fosfato dessas rochas.
Ocorrências de fosfato sedimentar próximas a região estudada no nordeste de Goiás, também atribuídas a Formação Sete Lagoas, são registradas nos municípios de Monte Alegre de Goiás e Nova Roma. Outras ocorrências pouco expressivas de rochas fosfatadas, margeando o Cráton São Francisco, no contexto da Formação Serra da Saudade (Gr. Bambuí), foram registradas próximo às cidades de Formosa e Cabeceiras, ambas em Goiás, e Coromandel, em Minas Gerais.


  
UNIVERSITY OF BRASILIA- INSTITUTE OF GEOSCIENCES

MSc THESIS No 258

CIMARA FRANCISCA MONTEIRO

PHOSPHORITES OF THE BAMBUÍ GROUP IN THE CAMPOS BELOS (GO)/ARRAIAS (TO) REGION IN THE SÃO FRANCISCO CRATON WESTERN BORDER

Date of oral presentation: 21/08/2009
Topic of the thesis:  Prospection and Economic Geology
Adviser: Prof.  Marcel Auguste Dardenne (UnB)
Commitee: Prof. Lucieth Cruz Vieira (UnB); Prof. Paulo César Boggiani (Unicamp)

Keywords:Phosphorites, Bambuí Group, São Francisco Craton

ABSTRACT

São Bento, Coité 1 and Coité 2 are the three sedimentary phosphate deposits known to date in the Campos Belos (GO) and Arraias (TO) region. They are 3 low volume but high grade deposits, with more than 24% P2O5.
The phosphorites and siltites found in that region occur at the bottom of the Sete Lagoas Formation, as part of the Neoproterozoic Bambui Group. The Bambui Group makes part of the eastern portion of the Brasilia Fold Belt (Faixa de Dobramentos Brasilia), and it represents also a large coverage of the São Francisco Craton.
The Sete Lagoas Formation overlays diamictites of the Jequitaí Formation or it rests directly on the granitic basement considered of the Aurumina Suite, of Paleoproterozoic age. In the study area, Sete Lagoas formation is made up of thick packages (~120 metres) of stratified siltites, interlayered with banks of calcitic marl at the bottom, followed by limestones and dolomites towards the top. Phosphate-rich rocks occur inter-fingered with siltites close to the granitic basement.
Based on petrographic, mineralogical and chemical studies, four groups of phosphate-rich rocks were defined in São Bento, Coité 1 e Coité 2 deposits: phosphate-rich siltite group; stratified primary phosphorite group; phosphorite breccia group; and pedogenic phosphorite group.
The phosphate-rich siltite group, which is the most widespread geographically when compared with the other groups, is composed of laminar siltites, with an average grade of 11,49% P2O5.
The stratified primary phosphorite group was sub-divided in two sub-groups: the laminated phosphorite sub-group, which is composed of finely laminated phosphorites, with grades of 24,28% P2O5; and the sub-group of  layered phosphorite, constituted by fine to medium layers of phosphorite, grading 32% P2O5, in average.
The phosphorite breccia group is composed of phosphorite that was re-worked during the sedimentary process and has a higher average grade: 34,13% P2O5.
Two sub-groups were defined for the pedogenic phosphorite group: lateritic phosphorite sub-group, which is composed of phosphorites in an advanced stage of weathering, with an average grade of  27,64% P2O5; and the concretionary phosphorite sub-group, which is characterized by phosphate concretions within the soil, showing an average grade of  24,82% P2O5.
Mineralogically it is supposed that francolite used to be primary apatite, what constituted the phosphate-rich rocks. Weathering was the principal responsible for structural transformation of francolite, allowing that francolite could gradually assume a composition similar to fluorapatite, which constitutes the phosphate-rich rocks. X-ray diffractograms indicate peaks that correspond to fluorapatite, what is corroborated by CaO/P2O5 and F/P2O5 lower than 1,621 e 0,148, respectively (francolite normative values). Rare Earth Elements pattern shows that there were no changes in the sediments source.
The phosphatic sedimentation happened under cold climate conditions. Evidences are given by the occurrence of the Jequitai Formation in the region, which is glacial in origin, as well as due to negative values of  δ13CPDB and δ18OPDB in dolomites at the top of  Sete Lagoas Formation. The depositional environment of the phosphorites in this region is characterized by irregular and discontinuous paleo-channels inserted in granitic basement, in a restricted sedimentary basin context, and under a transgressive regime influence. Landslides on the flanks channels have promoted reworking of sediments, generating sedimentary breccias. The evolution of weathering processes has provoked the lateritization of phosphorites as well as phosphate leaching from these rocks.
Occurrences of sedimentary phosphate close to the study area of the northeast of Goiás, also considered as part of the Sete Lagoas Formation, were found in Monte Alegre de Goiás and Nova Roma municipalities. Other less important occurrences of phosphate-rich rocks, within Serra da Saudade Formation (Bambui Group), were found close to the cities of Formosa and Cabeceiras, both in Goiás, and Coromandel in Minas Gerais.