TEXTO EXTRAÍDO DO CATÁLOGO DE VENDAS DE 1947 DA

FLORICULTURA WALTER WINGE


ALGUNS CONSELHOS PRÁTICOS -Clique abaixo:



Época de transplantação - Em estado de repouso vegetativo é que a planta melhor suporta a mudança. Isto se dá geralmente de meado de maio a fins de setembro, conforme o correr do tempo.

É vantajoso fazer-se o transplante cedo, especialmente em terrenos secos e altos, para que a planta se enraíze antes do verão e se torne mais resistente ao calor e à seca. Em terrenos frios e molhados, porém, deve-se plantar no fim do inverno, para que não apodreçam as raízes.

Plantas de vaso ou de torrão podem ser mudadas em qualquer época do ano, uma vez que não falte o necessário cuidado.

Sobre a lua em que se deve plantar, nada sabemos informar e julgamos mesmo desnecessário preocupar-se com isso.


PREPARO DO TERRENO: - A terra fértil, fofa e profunda, basta ser revolvida e esfarelada antes do plantio. Em geral, porém, para obter-se resultados máximos e compensativos de seu arvoredo, será indispensável proceder-se a corretivos e à fertilização da mesma. É aconselhável a abertura de covas com 1 x 1m, ou mais, de largura e 60-80 cm de fundura (profundidade??). (Quanto às dimensões das covas, disse um insigne mestre que elas deveriam ter "o tamanho do pomar"). A terra estéril do fundo não é mais aproveitada na cova e já ao excavar colocada separada da boa superficial. Antes de fechar a cova, finca-se no centro a estaca tutora. O reenchimento é feito só com a terra boa superficial. Os fertilizantes são colocados simultaneamente, bem distribuídos e misturados, com a terra, onde as raízes os alcançam; no fundo da cova pouco ou nada adiantam. É de vantagem executar-se esses trabalhos com antecedência.

Água estagnada é muito prejudicial às plantas. Terrenos com excesso de umidade devem ser desaguadas por meio de profundas valas. Em vez de covas, onde se juntaria a água, causando a podridão das raízes, façam-se canteiros bem levantados com a terra toda trabalhada profundamente.


FERTILIZAÇÃO DA TERRA: - Em terra física e quimicamente deficiente a planta não pode desenvolver-se bem e produzir o máximo em flores e frutos.

A adubação na ocasião do plantio (adubação fundamental) favorece muito a planta, mas quem não dispõe de material adequado na ocasião, plante sem adubo mesmo e dê-o mais tarde, quando a planta estiver pegada e enraízada. Espalha-se então o estrume ou adubo ao redor e a alguma distância do tronco, onde se presumem as pontas das raízes com seus órgãos sugadores, e enterra-se à fundura de uma enxada.

O melhor fertilizante e completamente inofensivo às plantas, é o HÚMUS (terra preta formada pela decomposição de substâncias orgânicas vegetais e animais). Cada dono de um quintal pode prepará-lo mesmo, o que é muito fácil: basta que em algum canto sombreado do terreno se vá depositando todo lixo, cisco, cinzas etc. que se possa obter, umedecendo de vez em quando o monte e revirando-o duas ou três vezes por ano. Com a adição de um pouco de cal virgem ou aventada, se apressará a decomposição e se tornará este fertilizante ainda mais eficaz.

O ESTERCO DE CURRAL bem curtido é o fertilizante mais perfeito que há. Dá-se 20-30 quilos por árvore-se, bem misturado com a terra. Esterco fresco não se aplica na ocasião de plantar, pois ele ao fermentar pode queimar e infeccionar as raízes e matar a árvore.

De CAL nossas terras têm grande carência, e é sempre de muito proveito uma adubação calcárea preliminar, principalmente para frutas de caroço (pêssego, ameixa) etc. e quando a terra for pesada e ácida. Pode-se dar em forma de cal aventada na proporção de 100-200 g po m2. Aplica-se pelo menos seis semanas antes do plantio e nunca simultaneamente com esterco ou adubo químico.

Adubo Beccari - mandado fabricar pela Prefeitura Municipal de Porto Alegre do lixo da cidade, contém todos os elementos necessários para a alimentação das plantas. Além disso, contém a matéria orgânica fermentada (húmus), o que é de grande importância para o melhoramento físico da terra. Deve-se misturá-lo bem com a terra e, quando possível, colocá-lo algum tempo antes do plantio.

Adubos completos, em diversos tipos para as diversas culturas, são os adubos "Vitória", fabricados por Secco & Cia. sob a direção do Engº Agrônomo Dr. Medina e o químico sr. Otto Kraut e os adubos marca "Trevo", de Luchsinger Madoerin & Cia.

Farinha de chifres, de ossos, de sangue etc. são inofensivos e podem ser aplicados na ocasião do plantio.

Salitre do Chile é um poderoso fertilizante complementar que atua rapidamente sobre o desenvolvimento das partes verdes e radiculares das plantas e sobre a qualidade das frutas. Aplica-se no período da vegetação, quando os brotos ainda são novos, com intervalos de 2 ou 3 semanas, na dose de 20-30 g por metro quadrado, levemente enterrado ou dissolvido em água, em forma de regas, 1 colher das de sopa por lata de querosene.


DISTÂNCIA: - Para que a planta possa se desenvolver bem e produzir frutas doces e aromáticas em abundância, ela necessita de espaço suficiente que permita a ação benéfica do sol e do ar.

A distância a adotar para árvores frutíferas varia consideravelmente, em dependência da qualidade do solo, da espécie e variedade e de seu porta-enxerto, da localização do pomar, ao fim a que o mesmo se destina etc. Mais ou menos se dá de 4-10 metros.


PLANTAÇÃO: - A plantação demasiadamente funda é a principal causa da morte de muitas árvores. Deve-se plantar assim que o colo das raízes fique cerca de 4 cm abaixo do nível do solo. Em terras muito arenosas e secas, mais fundo uns 10-20 cm; e em terras muito úmidas, com lençol d'água alto, no nível do solo, ou até mais alto ainda, em canteiros bem levantados ou em montículos de terra.

Quem plantar em covas recém enchidas deve tomar em conta a baixa da terra nas mesmas depois de algum tempo e que é de mais ou menos 20%. Do contrário as árvores ficarão fundas.

Ao se plantar deve-se ter o cuidado de espalhar bem as raízes em sua posição natural, enchendo - com a mão - de terra boa e bem desfeita todos os interstícios entre as mesmas e comprimindo-a bastante. Uma copiosa rega antes de pôr a última terra em cima será de grande vantagem, pois fará assentar bem e ligar as raízes à terra e conservá-la úmida e fresca por muito tempo. O excesso de regas pode causar a podridão das raízes. Depois de a árvore plantada amarrar-se-á no tutor, provisoriamente, e, depois de a terra assentada, definitivamente.

Se por qualquer eventualidade de viagem as mudas chegarem murchas, deite-as algumas horas em água até recuperarem o estado de frescura. Raízes e galhos danificados podam-se com instrumento bem afiado.

Evitem-se os raios de sol e o vento nas raízes.

NÃO PLANTAR EM TERRA ENCHARCADA!


CUIDADOS POSTERIORES: - Conserve-se sempre limpa de capim e bem fofa e porosa a terra em redor das árvores. O endurecimento do solo, como se verifica principalmente depois de fortes chuvas e ventos, causa danos e até a morte da planta. Durante o tempo quente pode se colocar serragem, palha de arroz, esterco, folhas do mato etc., debaixo das árvores, que conservarão a terra fresca, fofa e úmida.

PRAGAS: - São sempre as plantas raquíticas e mal alimentadas as mais suscetíveis às pragas. É, pois, a primeira condição para a sanidade do pomar, conservar a terra fértil e racionalmente trabalhada e as árvores arejadas e limpas de galhos secos.

O tratamento, para ser eficaz, deve ser feito repetidas vezes, em época propícia, e com pulverizador de alta pressão.

As pulverizações devem ser efetuadas em dias calmos e secos e de preferência à tarde, quando o sol não é mais intenso. Assim, o preparado não evaporará tão depressa, tendo tempo para estender-se nas folhas, galhos, troncos etc.

Insetos sugadores combatem-se com repetidas pulverizações de preparados à base de enxofre. (Solbar, Calda Sulfo-Cálcica) e com caldas nicotinadas. São muito eficazes também os diversos preparados à base de óleo, Citrol, Laranjol etc. Aconselhamos o emprego dos mesmos em casos de grandes infestações, como primeiro tratamento, mas seu emprego contínuo, fechando os poros da respiração, prejudicarão a planta.

Piolhos moles combatem-se com preparados nicotinados, por exemplo Sabão de Nicotina (Linck) ou com água de sabão com algumas gotas de Creolina.

Insetos mastigadores e roedores combatem-se com Arseniato de chumbo.

As moléstias criptogâmicas (fungos), p. ex. a Peronospora das parreiras, combatem-se com caldas cúpricas (Calda Bordaleza, Pós Bordalez Bayer etc.).

Formigas cortadeiras: - As folhas são os pulmões da planta e indispensáveis para sua vida. A planta castigada pela formiga infalivelmente morre ou torna-se para sempre raquítica. É mister, pois, exterminar as formigas do pomar já antes do plantio. Quem não o conseguir pode vedar-lhes a subida nas árvores por meio de arandelas, vasos de barro com água ou uma cinta de uma cola especial no tronco, p. ex. Tactite, sobre um papel de pergaminho.

Bicho da fruta (Anastrepha fraterculus) - Não se deixa apodrecer no chão frutas atacadas. Coloque-as nas frutas, ainda verdes, saquinhos de papel.

Atenção: Quem quiser orientar-se sobre pragas nas suas plantas e seu combate, pode dirigir-se à Secretaria da Agricultura, Rua Duque de Caxias nº 979, seção fitossanitária do Laboratório de Biologia Agrícola, cujos técnicos, com a maior solicitude, prestam gratuitamente seus valiosos serviços aos interessados.


PLANTAS FRUTÍFERAS

Preço para árvores especiais, em geral, Cr$ 10,00-12,00, plantas menores ou extrafortes terão preços correspondentes.

ABACATES
A fruta do abacate é das mais nutrititivas e de valor medicinal e é muitas vezes aplicada em hospitais para doentes com desarranjo do aparelho digestivo. O chá das folhas é remédio diurético de fama antiga, para eliminar o ácido úrico, os cálculos do fígado e areias dos rins.

Mudas de pé franco, em vasos. - Enxertos, pedimos consultar.

Grapefruit (ou Pomelo) - laranja que ultrapassa em valor medicinal até o limão. Estomacal, tônica e estimulante do apetite. Muito apreciada nos Estados Unidos onde seu consumo é enorme (25 milhões de caixas anualmente). Come-se em jejum ou à mesa. Parte-se a fruta ao meio (talho horizontal) e come-se, adicionado de açúcar, o conteúdo dentro da própria casca, depois de retirado com uma faca especial o bagaço do centro com a semente.

Imperial - a casca das frutas e as folhas são rajadas de verde e amarelo. Fruta fina.

Laranja da China - nossa conhecidíssima laranja comum, muito produtiva e de boas qualidades. Presta-se também para o fabrico dos mais finos vinhos.

Kumquat ou laranja do Japão - esta espécie de Citrus, introduzida neste Estado por este estabelecimento, da Norte América, é uma planta que merece ser mais conhecida e divulgada.

A árvore, de crescimento anão e uniforme, colorindo-se anualmente toda de pequeninas e graciosas frutinhas avermelhadas de lindo contraste com as folhas verde-luzentas, é de belo efeito ornamental em jardins e vasos.

As delicadas frutinhas do tamanho de um ovo de pomba servem para decoração original da mesa. São de sabor amargo-aromático e podem ser comidas com a casca que é doce no lado interno. Seu principal valor, porém, é elas se prestarem para uma série de preparos confeiteiros e industriais de belo aspecto e fino sabor. Deixamos seguir aqui algumas receitas que agradecemos à gentileza de duas senhoras das mais competentes nesta arte. Podem estas receitas ser modificadas quanto à amargura ou doçura, temperos etc., de acordo com o gosto individual.


KUMQUAT CRISTALIZADAS

(Receita de Dª. Vva. Lina Daudt)

Tira-se de leve uma fina camada da superfície da casca por meio de Gillete (??), conservando-se, para enfeite, o cabinho. Retira-se a semente com uma agulha de crochet. Põem-se as Kumquat numa vasilha e deita-se água fervente nelas até encobri-las e deixa-se permanecer assim durante 20 minutos. Deixa-se escorrer água numa peneira e arrumam-se as frutinhas num tacho com calda rala (1 kg de açúcar e 1 litro de água para 100 frutinhas). Leva-se ao fogo e deixa-se até levantar fervura. Retira-se do fogo e deixa-se-as na calda 24 horas. Depois voltam novamente para o fogo numa segunda calda bem grossa na qual são fervidas 20 minutos e viradas cuidadosamente de vez em quando com a escumadeira. Depois de escorridas são passadas em açúcar cristalizado e secadas uns 2 ou mais dias ao sol, conforme a intensidade do mesmo.

Altamente decorativas em tortas.

NOTA - A segunda calda serve para repetidas fervuras e pode portanto - por economia de açúcar - ser preparada em pequena quantidade.

As caldas - de preferência a primeira - aproveitam-se para uma excelente geléia.