As vezes os homens precisam atravessar o oceano para descobrir sua finalidade. Tivesse ficado na Silésia, sua terra natal, Josef Winge (pronuncia-se Vinhe) jamais teria se encontrado. Ele começou sendo seminarista, mais tarde trocou o seminário pelo magistério, chegou até a ser Juiz de Comarca, na Alemanha. Nada disso o contentava. Aposentou-se cedo, devido a um problema nos olhos e quando resolveu visitar o Brasil, a pedido de

Os fabricantes
da primavera

sua irmã, nem de longe sonhava, que mais do que ser seu novo lar, a nova terra seria o seu encontro com a vida. Quando ele resolveu ficar no Brasil, em 1884, foi trabalhar no interior de Cachoeira do Sul, na Linha Formosa, hoje dona Francisca. As coisas iam mais ou menos. Mas começaram a melhorar quando sua mãe veio da Alemanha com a solução na bolsa. Durante a viagem ela havia conhecido Ida Fenselau e não precisou olhar duas vezes para saber que ela era o que estava faltando ao seu filho. Aqui é preciso avisar que a confiança na família é um dos segredos dos Winge. Josef foi para Porto Alegre e voltou casado com Ida.
Um ano depois, a Linha Formosa já era pequena para suas ambições. Josef havia descoberto o apelo da terra e sua cabeça fervilhava de novos planos. Em 1885, comprou a esquina da Rua Pereira Neto com a Travessa Nossa Senhora de Lurdes e começou a plantar árvores frutíferas. A maioria das árvores européias que existem na Zona Sul, foram importadas por Josef Winge. Aliás, não contente em plantar ele também foi um dos redatores do primeiro jornal agrícola do Rio Grande do Sul, o Bauern-Freund (Amigo do agricultor). Logo em seguida junto com o padre Amstad fundou a Bauern-Verein (Cooperativa dos Agricultores ).

 

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Foi ele inclusive que elaborou os estatutos da Cooperativa Santa-Cruzense, que se transformou no Banco Agrícola Mercantil, mais tardeincorporado à União de Bancos. Em 1910 criou o Sindicato Agrícola da Tristeza. Em 1914, já na chácara da Mario Totta, dividiu a direção com seu filho Walter que organizou funcionalmente a empresa, diversificando as espécies, passando a lidar também com roseiras e plantas ornamentais e a fornecer para todo o estado do RS.O novo empreendimento teve ainda mais sucesso do que o anterior. Cada bendita flor que desabrochar nesta primavera na Zona Sul nasceu num dos viveiros dos Winges. Não há quem tenha construído uma casa e sonhado em ter um jardim, que não conheça a família. A lista das árvores ornamentais e flores que os Winges produzem, encheria sozinha a nossa revista. O que não impede que o comprador de um simples pé de margaridas seja tão bem recebido quanto o dono de uma casa de flores. Josef Winge morreu, aos 87 anos, em 1928. Não chegou a ver sua chácara se desdobrar e se transformar no maior estabelecimento do gênero em todo o estado, com a criação em 1954, do Viveiro da Restinga por dois de seus netos, Benno e Edgar Winge. Mas viveu o suficiente para saber que seu sonho era tão, forte, que sobreviveu a quatro gerações; Mais do que sócios proprietários da Winge Agrtcola e Comercial de Plantas, os Winges são fabricantes da primavera. Ninguém como eles manteve os nossos jardins tão floridos e a nossa vida tão bela.


Texto de Sérgio Jockymann em:
Portinho - Ano I- n.7;setembro de 1999. Porto Alegre.