Família Winge(*)

     (*) Texto copiado (paginas 46 a 50) de Flores, Hilda Agnes              Huebner,1979. Tristeza e Padre Reus. Edit. Elape. Porto Alegre,RS.

Josef Winge nasceu em 9 de janeiro de 1841 em Bobischau, Província de Silésia, Alemanha, cujo território está atualmente incorporado à Polônia.
Filho caçula de proprietários rurais, foi seminarista,seguindo,após, curso de Jurisprudência.
Já como Juiz de Comarca, cedo aposentou-se devido a problema oftalmológico, tendo o médico lhe aconselhado a residir em clima tropical.
Como tantos outros emigrantes na época, norteou-se pela influência de parentes já emigrados, vindo ao Brasil onde já morava sua irmã Anna Ullrich, radicada em Linha Boêmia, no atual município de Agudo. Outros parentes lhe seguiram, como seu irmão Franz Winge, que residira alguns anos nos EUA, e mais tarde a mãe dos mesmos, Magdalena Peregrin-Schindler Winge. Na Europa permaneceu apenas o filho mais velho, Augusto Winge, único herdeiro da propriedade rural dentro do sistema de morgadio. Chegado ao Brasil, Josef fixou-se no município de Cachoeira, onde permaneceu por quatro anos, no decorrer dos quais casou com Ida Fenselau, natural da Prússia Oriental, Alemanha. Residindo a família de sua esposa em Porto Alegre, mudou-se para as cercanias da capital, tendo escolhido o arraial Tristeza, porque lhe parecia local propício à atividade agrícola, e também, provavelmente, por sua salubridade e beleza paisagística. Adquiriu área localizada à Trav. N. S. de Lourdes, esquina com a rua Dr. Pereira Neto, que em parte ainda é propriedade de sua neta Eni Becker Zitzmann. Pouco mais tarde instalou-se definitivamente à rua Dr. Mário Totta, 963, atual sede do "Garden Center" de Winge Agrícola e Comercial de Plantas Ltda. Dedicou-se à agricultura em geral, à produção de leite e mel, iniciando logo a, fruticultura, para o que importou variedades selecionadas de cítricas, videiras, macieiras, pereiras, ameixeiras e outras, oriundas dos EUA, Alemanha, França e Hungria. Alguns exemplares de árvores frutíferas provenientes das que o pioneiro introduziu são conservadas com carinho pelos familiares, em cujas mãos encontram-se também exemplares da literatura que norteou o trabalho de Josef: "Yearbook of The United States, Departament ai Agriculture, 1905", editado em Washington, revistas especializadas "Fricks Rundschau" de Viena, "Erfurter Fuehrer" de Erfurt, "Der Deutsche Gartenrat", de Berlim e outras. A introdução de videiras selecionadas valeu-lhe prêmio que incluía o valor de 4 contos de réis na Exposição Agrícola de Porto Alegre, em 1901, tendo sua esposa recebido 1o. lugar por suas compotas. Não satisfeito com o próprio êxito, Josef trabalhou com afinco pelo bem-estar dos agricultores, classe que sempre prestigiou e auxiliou. Por isso em 1910 criou o Sindicato Agrícola da Tristeza, que visava orientar os agricultores, organizando a colocação e comercialização dos produtos que cultivavam. Em 1900 nascia em Porto Alegre o "Bauer Freund" (Amigo do Agricultor), orgão oficial do "Bauerverein" (Sociedade dos Agricultores), fundado pelo incansável jesuíta Pe. Theodor Amstad, o mesmo que 12 anos riais tarde fundou o "Volksverein" (Sociedade União Popular) que se difundiu pelas colónias rio-grandenses, congregando agricultores católicos e protestantes em torno de objetivos que visavam o desenvolvimento material e espiritual da classe campesina, constituída na grande maioria por imigrantes e seus descendentes. Em 1910 Josef Winge tornou-se redator-chefe do "Bauer Freund", jornal mensal que circulou de 1900 até, pelo menos, 1924, pais o Álbum do Centenário de Imigração Alemã, editado em 1924, o registra. Orientava o colono sobre campo, criação, técnicas, plantio, adubagem, colheita, tipos de enfermidades, legislação e outras utilidades. É desta época a reprodução anexa, do exemplar no. 7, de junho de 1910. O grande número de Agentes, na sublegenda, permite ter uma idéia da intensa penetração que a Sociedade dos Agricultores teve, através de seu orgão de divulgação, Amigo do Agricultor: abrangeu a maioria das colónias teutas do Estado, estando representados os municípios de S. Leopoldo, Novo Hamburgo, Taquara, Montenegro, S. Sebastião do Caí, Feliz, S. Vendelino, Bom Princípio, Nova Petrópolis, Estrela, Lajeado, Arroio do Meio, S. Cruz, Venâncio Aires, Agudo, Cachoeira, Ijuí, além de Serro Azul, S. Bento e Joinville em S. Catarina. No artigo anexo Josef Winge comunica sua escolha para redator-chefe da Revista, cuja denominação mudara de "Riogrander Bauerfreund" para "Bauerfreund, Organ des Riogrander Bauerverein für Landwirtschaft und Genossenschaftswesen", isto é, de "Amigo do Agricultor rio-grandense" para "Amigo do Agricultor, orgão da Sociedade de Agricultores riograndenses, para Agricultura e Sociedade". Promete lutar para assegurar a continuidade do êxito e renome da revista. Para alcançar o objetivo da mesma, que é de permutar experiências e estabelecer intercâmbio, conclama a todos os leitores a que enviem, graciosamente, suas experiências na lavoura, sucessos e insucessos, para que possam servir, através da publicação na revista, de orientação a todos os agricultores. Assegura publicar todas aquelas notícias que sejam de interesse abrangente à classe, para que possam "unindo esforços" progredir o que só será facilitado se redator e leitores estiverem de mãos dadas. Apela para a politização do agricultor, concitando-o a que tenha seu título eleitoral em dia, a fim de que possa nas urnas escolher aquelas pessoas que realmente irão beneficiar a agricultura; orienta, contudo, uma atuação apolítica, evitando faccionismo. Josef conclama ainda a uma atitude de neutralidade religiosa, evitando extremos, pois considera a religião uma missão afeta aos ministros de Deus, cabendo ao jornal seguir aqueles ditames básicos, de moral e fé, que são comuns a todas as religiões. Num pioneirismo para a época, e embasado certamente no sistema de ensino que conheceu na Europa, Winge apregoa a necessidade de ensino profissionalizante nas escolas. Para isso os professores deveriam dar ensinamentos de agricultura, e as professoras, sobre economia doméstica. Para executar tal meta, reponta a necessidade de todos os mestres terem preparo adequado ao ensino técnico, o que lamenta não ser uma realidade. E finalmente conclama os leitores a cerrarem fileiras em torno da Revista de sua Sociedade, esforçando-se cada um para multiplicar o número de assinantes, afim de que o jornal possa também, numa tiragem maior e mais frequente, multiplicar informações úteis, sendo realmente um Amigo da classe que representa. A obra iniciada por Josef Winge teve continuidade com seu filho Walter, que em 1914 assumiu a direção da Empresa Agrícola. Apicultor, orientou-se pelo exemplo paterno, de exploração científica e racional da fruticultura, à qual acresceu a floricultura desde 1928. Hoje o moderno "Garden Center" de Winge Agrícola é de propriedade de Alice Rosália Knak Winge, esposa e companheira dedicada de trabalho de Walter Winge, e de dois filhos, Edgar e Benno, ocupando ainda a filha Ellen Elisa como funcionária. Dos demais filhos de Walter, Helga é bióloga, Manfredo geólogo, e a caçula Ilsa, que integrou a primeira turma de formandos do Colégio Estadual Pe. Reus, é formada em Letras. O Garden Center serve sua clientela de Porto Alegre e interior do estado com plantas frutíferas, de sombra, ornamento, roseiras e gramas, bem como materiais, utensílios e produtos necessários para jardinagem e paisagismo.