UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA -INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS / TESE DE DOUTORADO No 5 - MANFREDO WINGE 
 EVOLUÇÃO DOS TERRENOS GRANULÍTICOS DA PROVÍNCIA ESTRUTURAL TOCANTINS, BRASIL CENTRAL


5.PETROGRAFIA, METAMORFISMO E TERMOBAROMETRIA

    Nos capítulos 2 e 3 foram descritos de forma sumária os litotipos dos complexos granulitizados e de terrenos associados. Neste capítulo são descritas algumas associações litológicas típicas e são destacadas feições de interesse geral tidas como relevantes para os objetivos da tese. Os dados sumários de várias outras rochas podem ser conferidos na listagem sintética dos dados (Anexo 6).
   
O processamento de química mineral (Anexo 5) para estabelecimento das condições de termobarometria foi realizado utilizando os programas Thermocalc (Powell & Holland, 1988) e PTMAFIC (desenvolvido por J.I. Soto Hermoso, Departamento Geodinamica, Facultad de Ciencias, Univ. Granada, España). As abreviaturas das fases minerais são aquelas utilizadas no programa Thermocalc.

5.1. ASPECTOS TEXTURAIS/ESTRUTURAIS DOS TERRENOS GRANULÍTICOS

    Os terrenos granulíticos estudados mostram em várias escalas, desde as de afloramento até hectométricas, a ocorrência de massas rochosas maciças com textura isotrópica entre faixas que apresentam bandas e foliações metamórficas, desde incipientes até pronunciadas. Muitas destas faixas apresentam paragêneses diaftoréticas e hidratadas das fácies anfibolito a xisto verde superimpostas às paragêneses granulíticas.
   
Os "níveis" maciços, não foliados, podem apresentar texturas metamórficas granoblásticas e/ou texturas reliquiares variavelmente preservadas. Texturas ígneas são localmente bem preservadas (Fotomicrografia 52), porém tensões cisalhantes tendo atuado nas interfaces granulares produziram recristalizações dinâmicas de borda dos cristais (textura em argamassa ou mortar). Em graus mais intensos de deformação esta textura passa a granoblástica seriada a fina. Muito frequentemente, a recristalização destes subgrãos a alta T deu origem a textura em mosaico com junção tríplice a 120o .
   
Em faixas fortemente tensionadas ocorrem veios cuneiformes milimétricos a centimétricos de pseudo-taquilitos (Foto 6) compostos por material escuro vítreo com clastos minerais não fundidos, sub-arredondados, principalmente de opx, imersos na matriz vítrea de cor amarronzada (Fotomicrografia 3). Para Clarke & Norman (1993), pseudo-taquilitos podem se originar em condições de metamorfismo granulítico e ser preservados após o resfriamento dos granulitos. Entretanto, o modo de ocorrência em faixas tectonizadas, frequentemente granulíticas (anidras), a textura afanítica a vitrofírica, envolvendo clastos corroídos da hospedeira, indica fusão localizada seguida de congelamento brusco que não permitiu a nucleação significativa de fases minerais. Estes fatos apontam para ambientes de áreas sismicamente ativas (tensões liberadas bruscamente) em níveis de crosta elástica, rasos e frios que propiciaram rápido resfriamento. Sendo isto correto, os pseudo-taquilitos ter-se-iam originado durante ou após a ascensão das massas granulitizadas para níveis da crosta rúptil.
   
Estruturas primárias, como brechas plutônicas (Fotos 8 e 10 a 17), acamamento ígneo (Fotos 4, 56), diques piroxeníticos centimétricos, podem ficar bem preservadas mas, nas faixas com deformações pronunciadas, podem ser transformadas em estruturas "fitadas", boudinadas ou em bengalas de transposição (Fotos 5, 7, 59).
   
Esta variabilidade de zonas ou faixas com texturas preservadas e outras de maior deformação é objeto de interpretações diversificadas. A natureza anidra das rochas envolvidas é uma das causas, pois a falta de fluido intergranular diminui a reatividade química dos minerais e dificulta a propagação das tensões deformacionais, favorecendo a concentração dos planos de ruptura, onde se intensificam os processos de cominuição granular, de deslizamentos intergranulares e de recristalização dinâmica. A variabilidade de associações litológicas é outra das causas a controlar essas variações texturais. Na área da intrusão de Agua Clara, por exemplo, o corpo máfico-ultramáfico ficou mais preservado das tensões de cisalhamento do que as encaixantes integradas por rochas ácidas (leptinitos) e básicas (diques, sills?) durante os eventos de granulitização.
   
A deformação em faixas de cisalhamento dúctil profundo produziu, frequentemente, fácies agmatíticas, com clastos centimétricos a métricos máfico-ultramáficos, boudinados a arredondados por rotação dentro de matriz mais ácida que atingiu condições de anatexia, apresentando-se com variações texturais de augen-gnaisses a massas granitóides, como pode ser visto junto do Morro de Santa Rita, na área detalhada (Foto 54). Com a evolução dessas zonas tectonizadas, em falhas de rasgamento direcional ou inversas, ocorreu, frequentemente a hidratação parcial, originando paragêneses desde a fácies anfibolito alto até xisto verde baixo. Isto provocou a inversão reológica das fases ácidas e básicas, ficando estas mais dúcteis com a biotitização e anfibolização em relação àquelas, o que propiciou com o tectonismo o desenvolvimento de feições como schlieren e bandas miloníticas máficas entre clastos de massas quartzo-feldspáticas e augens de feldspato K.
   
O retrometamorfismo com hidratação nos granulitos deu-se de duas maneiras: uma estática, onde, por vezes, ocorreu a manutenção de texturas/estruturas e pseudomorfoses de minerais, e outra, dinâmica, levando a fácies bem foliadas. Exemplo de retrometamorfismo estático tem-se entre Nerópolis e Ouro Verde, no local Caetés (ponto 2MW7), com granada gnaisses granitóides com biotita que pseudomorfiza e/ou circunda cristais de granada (Fotomicrografia 28), dando um aspecto mosqueado à rocha. Mesmo nas faixas fortemente tectonizadas em fases pós-granulitização podem ocorrer, lado a lado, fácies granulíticas preservadas e fácies ultramiloníticas como, por exemplo, a SE de Americano do Brasil (Fotos 62, 63). Repete-se, assim, nesses estágios superimpostos a característica não pervasiva das foliações metamórficas dos terrenos granulíticos.
   
A textura granoblástica média a grossa é comum em gnaisses kinzigíticos e charnockito-mangeríticos, principalmente no Complexo Anápolis-Itauçu. Ela ocorre tanto em fácies com bandas composicionais e/ou granulométricas (Fotos 18, 31), quanto em fácies granitóides anatéxicas e/ou como bolsões entre as bandas ou faixas mais tectonizadas (Foto 30). Distingue-se da textura dos leptinitos que se apresenta, geralmente, aplitóide, muito fina, em mosaico ou de contatos granulares ondulados (serrilhados quando com milonitização superimposta), onde podem despontar micro-porfiroblastos de granada. A tendência para uma ou outra destas texturas extremas, granitóide ou leptinítica, depende tanto do protólito quanto da evolução dinâmica sofrida pela rocha.
   
Leptinitos apresentam ocasionais porfiroclastos isolados, redondos ou em augen, de feldspato mesopertítico envolvidos pela textura muito fina, indicando que a mesma é, nestes casos, blasto ultramilonítica. A associação mesopertita + quartzo + andesina ± sillimanita ± granada em tais rochas mostra ocasionalmente indícios de ser tipomorfa do evento milonítico (Fotomicrografias 33 a 36), com alternância de cataclase e de blastese, ou seja, com indícios de ter havido milonitização a seco na fácies granulito. É comum juntar-se granada ou sobrecrescimentos de granada, tardi ou pós cataclase, envolvendo os demais minerais em porfiroblastos amebóides ou poiquiloblásticos (Fotomicrografias 3337). As fácies aplitóides mostram variações para fácies rubannée, onde bandas mais feldspáticas se alternam com "fitas" de quartzo em textura flaser (Fotomicrografia 33). Nestes casos, a granada costuma apresentar-se rotacionada e arredondada por cataclase periférica com recristalização dinâmica.
   
Conforme já discutido (Winge & Danni,1994c; Cap.3), o arredondamento do zircão encontrado nestas fácies de leptinitos não é, necessariamente, relacionado com origem detrítica (ver fotomicrografias 38, 39, 40), mas sim, de forma análoga à que ocorre com outros minerais resistentes como a granada, relacionado com a cominuição e recristalização dinâmica em alto grau. Esta interação entre processos cataclásticos e blastéticos é exemplificada com o caso da sillimanita na fotomicrografia 34. Prova deste arredondamento de origem não-detrítica tem-se no metadiorito que ocorre na pedreira de Hinterlândia que apresenta cristais de zircão arredondados em banda milonítica biotitizada, indicando processo de corrosão em alto grau e abrasão cataclástica para originar esta forma (Fotomicrografia 40).

5.2.GRANULITOS DO CINTURÃO CERES

    No Complexo Cana Brava são reconhecidas texturas cumulíticas principalmente em rochas máficas e ultramáficas de trend gabro-norítico e texturas de recristalização metamórfica granoblásticas em mosaico ou foliadas que, para alguns dos autores que estudaram o complexo (Girardi & Kurat, 1982; Correia,1994), referem-se a recristalizações no subsolidus durante o resfriamento da massa magmática submetida a tensões deformantes. Girardi & Kurat (op.cit) determinaram pressões de 6 a 7 kbar e temperaturas entre 850 e 960o para o reequilíbrio pós-magmático. Correia (op.cit.) indica condições de cristalização magmática a <7kbar, vistas as relações de equilíbrio das fases minerais.
   
O pico de metamorfismo do Complexo Niquelândia (Ferreira Filho et al.,1992c) foi de 800 - 900oC e 6 - 8kbar. Condições semelhantes foram determinadas por Cândia et al (1988) para as paragêneses coroníticas do nível gabro-anortosítico (5-8 kbar e 800oC a 560oC) do mesmo complexo.
   
Girardi et al (1981) em seu estudo de química de rochas e equilíbrio de fases minerais do Complexo Barro Alto, determinaram temperaturas da ordem de 800oC (usando o geotermômetro de Wood & Banno,1973) e uma pressão de 6± 2 kbar (Al no opx) para a recristalização das fácies gabróicas. As fácies com plagioclásio precoce (troctolitos e anortositos) indicariam condições de solidificação a menos de 5 kbar.
   
A petrografia das fácies máficas e ultramáficas do Complexo Barro Alto tem sido descrita em vários trabalhos (e.g. Stache,1976; Figueiredo,1978; Fuck et al.,1981; Girardi et al.,1981; Danni et al. 1984; Oliveira,1993) e não será objeto de detalhes aqui, lembrando somente que essas fácies correspondem, em sua maior extensão, a noritos e gabro-noritos granulitizados, de granulação média, maciços ou bandados, textura granoblástica de contatos lobados a retílíneos em mosaico com junções tríplices em 120o, compostos essencialmente de plagioclásio (An 40 a 60 em geral) e opx; cpx associa-se, crescendo em teor para os termos gabro-noríticos de cores mais verde escuras até pretas, distintas dos granulitos noríticos a opx+plagioclásio de cores mais claras, quando não uralitizado ou biotitizado que assumem, também, cores mais escuras.
   
Texturas reliquiares tem sido encontradas com relativa frequência, indicando, muitas vezes, fácies ígneas cumulíticas. É o caso bastante comum de piroxenitos e plagioclásio piroxenitos com piroxênio cumulus e plagioclásio intercumulus. Estas fácies gradam para os termos granoblásticos mais finos através de uma cataclase periférica (mortar), originando texturas de granulação seriada com porfiroclastos de opx que apresentam lamelas de exsolução de cpx. A evolução destas fácies dinamicamente recristalizadas leva a fácies de granulação fina.
   
Nas fácies máficas de trend diorítico, geralmente associada com biotita, pode aparecer granada como, por exemplo, na intrusão do Córrego do Guará. Raras fácies de olivina gabros também a apresentam como produto reacional entre olivina e plagioclásio. Um exemplo desta fácies tem-se na região das cabeceiras do Córrego Mestre, cerca de 10 km a NNW de Ceres que mostra olivina envolvida por coroa de hiperstênio e por coroa externa de hornblenda associada com restos de plagioclásio saussuritizado (Fotomicrografia 5). A granada também ocorre como coroas reacionais em fácies máficas de gabros a olivina e troctolíticos da Sequência Serra da Malacacheta, objeto de detalhamento adiante (ítem 5.2.5). Já as fácies metagabronoríticas granulitizadas não a apresentam, definindo condições de baixa pressão do metamorfismo granulítico dada a estabilidade do par opx-plagioclásio.
   
Estas fácies do Complexo Barro Alto foram retomadas com hidratação em planos preferenciais de falhas que desenvolveram paragêneses em dois estágios preferenciais:

1) na fácies anfibolito alto e 2) na fácies xisto verde médio a baixo, verificando-se, localmente, um continuum entre as duas condições termodinâmicas. Estas alterações foram geralmente realizadas até a totalidade nas zonas tectonizadas onde se deu a canalização de fluidos e uma maior tensão cisalhante sobre os minerais, facilitando cineticamente as reações retrometamórficas. Fora dessas faixas, as reações diftoréticas realizaram-se de forma incompleta ou nem se realizaram. Algumas das reações parciais como:

<opx +cpx + pl (+ H2O a X H2O~0,5) => hb marron (parg) +qz > ;
<opx+Kfeldspato+ H2O=>biotita vermelha+quartzo >
(ver fotomicrografias 10, 26, 44

relacionam-se a eventos continuados ao metamorfismo granulítico em fácies granulito a anfibolito de alto grau. É provavel que, nestes casos, a fase aquosa não tenha tido origem externa ao sistema, mas sim que esteve relacionada com a liberação, por descompressão ou resfriamento, de H2O coletada em fases discretas que atigiram fusão parcial. A constante ocorrência de biotita vermelha em poiquiloblastos nas fácies de brecha do Complexo Barro Alto vem de encontro a essa hipótese: a maior PH2O aí representada corresponderia à fase primária das porções apicais das intrusões. Essa hipótese implica, adicionalmente, em migração limitada ou pouco pervasiva de fluidos durante o metamorfismo granulítico, principalmente nas rochas pouco deformadas.
   
Com pressões de água maiores e decréscimos de temperatura e de pressão de carga estabilizam-se hornblenda mais edenítica e biotita menos magnesiana (flogopítica) na fácies anfibolito, com pressões menores do que 5 kbar (ver curvas e reações 1 e 2 da Figura 5-3) e que são comuns nas faixas milonitizadas do complexo.
   
Paragêneses da fácies xisto verde a epidoto anfibolito nas zonas tectonizadas indicam eventos da ascensão final do complexo em condições metamórficas iguais às que metamorfizaram os xistos do Grupo Araxá, com os granulitos máficos dando origem a xistos verdes, comuns nas bordas falhadas do Complexo Barro Alto, onde se confundem com sequências supracrustais de meta-vulcanitos básicos, e com os leptinitos e demais granulitos ácidos, transformando-se em filitos a sericita e muscovita. Nestas faixas tectonizadas os xistos e anfibolitos apresentam diversas fases de deformação superimpostas com padrões de interferência de formas caprichosas.

5.2.1. Granulito do Rio Maranhão

    A amostra estudada é um kinzigito (amostra M410C da coleção de rochas metamórficas do IG-UnB) que se apresenta maciço ou com bandas milimétricas a centimétricas irregulares de cores rósea, concentrando granada almandínica, e verde a cinza graxo, concentrando cordierita e sillimanita. A paragênese com % estimadas é a seguinte: ortoclásio criptopertítico: 20-40%, granada: 20-35%, sillimanita: 10-20%, cordierita: 10-20%; andesina básica: 5-10%; quartzo: 5-10%; biotita, espinélio, rutilo. A textura é média a grossa decorrente de acentuada blastese, principalmente da granada. O crescimento da granada é interpretado como sincrônico com o de sillimanita, visto apresentar no núcleo inclusões de fibrolita (Fotomicrografia 1) enquanto que nas bordas, quando ocorrem, as inclusões de sillimanita são prismáticas como é o seu hábito comum na matriz granoblástica. Este crescimento deu-se a partir da desestabilização da cordierita, através da seguinte reação metamórfica:

Fe-cordierita=almandina + sillimanita+quartzo

    Os cristais maiores, principalmente os de granada e de cordierita, apresentam-se poiquiloblásticos. Tanto a sillimanita quanto a cordierita costumam conter inclusões de espinélio verde amarronzado que ocorre como cristais xenoblásticos na matriz. Os contatos intergranulares preservados indicam que esta rocha não foi deformada significativamente após a blastese da fácies granulítica.
   
As características texturais e paragenéticas relacionadas apontam para um excesso de alumínio, típico de metapelito. Nas reações progradantes a cordierita, inicialmente ferrosa, pode ter se formado, por exemplo, pelas reações:

clorita+pirofilita=cordierita+H2O
biotita+Al2SiO5=cordierita+estaurolita+H2O

    A associação sillimanita ou cordierita com espinélio, indicativa de excesso de alumínio, pode estar relacionada com a seguinte reação metamórfica:

almandina+coríndon =sillimanita+ espinélio

    A cordierita foi desestabilizada por hidratação com reações de alto grau, como as abaixo e de baixo grau para pinnita (clorita+sericita..):

cordierita+ (H2O+K+) =biotita+sillimanita..
cordierita+K feldspato+H2O= biotita+sillimanita+quartzo

    O processamento termobarométrico das análises químicas dos minerais, utilizando atividades químicas calculadas para cada fase mineral pura, indicou vários conjuntos independentes de reações possíveis, envolvendo os membros finais das fases minerais analisadas:

<py + 2sill = crd + sp>
<3crd = 2py + 4sill + 5q>
<3fcrd = 2alm + 4sill + 5q>
<3crd + 2herc = fcrd + 2py + 4sill>
<9fcrd + 10ann = 3herc + 15alm + 10ksp + 10H2O>
<2phl + gr + 6sill = 3an + crd + 2east>
<6an + ann = 2gr + alm + ksp + 3sill + H2O>
<5crd + 2ann = 3fcrd + 2east + 2py + 6q>
<9fcrd + 9ann + naph = ab + 3sp + 15alm + 9ksp + 10H2O>
<2crd + east = 2py + ksp + 3sill + H2O>
<east + sill + 5q = crd + ksp + H2O>
<4east + 15q = 2py + crd + 4ksp + 4H2O>
<3east + 10q = 2py + 3ksp + sill + 3H2O>

    A granada é almandínica com 20% de molécula de piropo e a cordierita é magnesiana (100xMg/(Mg+Fe)=62,5), indicando metamorfismo de alta temperatura e pressões baixas. O núcleo almandínico com fibrolita é mais magnesiano (0,5 a 2% MgO em peso) do que a borda. A composição da granada pode ter sido modificada pela biotitização superimposta e/ou pelo deslocamento do equilíbrio de termos mais magnesianos para mais ferrosos, ou seja, para condições de pressão menores na reação abaixo:

cordierita=granada+quartzo+sillimanita

    Mesmo que as bordas da granada sejam mais almandínicas devido exclusivamente à biotitização evidencia-se, ainda assim, uma diminuição de pressão na trajetória PTt, visto o seguinte equilíbrio nas reações de troca iônica:

granada(Mg,Fe)+biotita(Fe,Mg)=granada(Fe,Mg)+biotita(Mg,Fe)

em que a maior concentração da molécula piropo (e da molécula de annita) implica em maiores P e T.
   
O estudo de diagramas de fases minerais apontou, dentre as reações indicadas atrás, várias interseções envolvendo fases estáveis em pressões de:

5,4 ± 1,2kbar e temperaturas de 718± 130oC

    Entretanto, o cálculo das condições termodinâmicas de cristalização das fases minerais, consideradas as atividades químicas determinadas para vários conjuntos de cristais, núcleo e bordas, da paragênese, apresentaram as seguintes temperaturas e pressões (médias e médias de mínimas e máximas):

782oC (662 - 889oC); 6,3 kbar (4,9 - 7,7 kbar).

    Considerando a tendência de coroas mais ricas em Fe na granada em equilíbrio com a cordierita em reação de troca iônica que caracteriza mudanças de pressão, conclue-se por uma tendência de evolução com descompressão isotérmica após o auge metamórfico (ver Fig.5-1).

5.2.2. Intrusiva de Vista Alegre - Complexo Barro Alto

    A fácies mais comum é a de um gnaisse (ver ítem 2.4.2) de granulação média, brilho graxo, cores cinza com tom esverdeado a azulado dado pela cordierita e cianita. Ocasionalmente ocorre opx disperso. O quimismo é de um granito aluminoso com coríndon normativo. Localmente apresenta bandas metamórficas com níveis granadíferos irregulares (fácies kinzigítica), assumindo tons róseos em manchas ou em porfiroblastos sub-centimétricos com paragênese semelhante à do granulito kinzigítico do Rio Maranhão.
   
A textura é granoblástica média a grossa. A associação mineral mais comum é quartzo (20 a 45%); ortoclásio pertítico com pequena tendência poiquiloblástica (15 a 35%); cordierita (10 a 15%); hiperstênio (raro) e acessórios (opaco, zircão..). A desestabilização da cordierita em reação retrometamórfica e de hidratação dá origem a simplectitos de sillimanita+biotita (± quartzo) muito conspícuos (Fotomicrografias 14, 15). A sillimanita ocorre como fibrolita ou em cristais aciculares curvilíneos, em feixes, e a biotita associada, de cor vemelha, envolve os cristais aciculares.
   
A análise textural permitiu interpretar a seguinte sucessão paragenética:

opx+cordierita+ortoclásio+quartzo (evento metamórfico M1);
biotita+sillimanita(+espinélio)/(+quartzo) crescidos sobre cordierita (evento M2);
granada associada a biotita+sillimanita e crescendo sobre a biotita; cianita sobre sillimanita e raros cristais de estaurolita idio/subidioblástica sobre biotita e granada (evento M3);
biotita verde clara e muscovita+cianita fina (?) sobre os simplectitos de biotita+sillimanita do M2 e clorita/sericita (pinnita) sobre a cordierita (evento M4).

    A granada corresponde em sua maior parte a uma geração tardia que, localmente, cresceu associada com quartzo sobre a cordierita mas em sua maior parte substituíu a biotita dos simplectitos, retendo agulhas de sillimanita como inclusões (Fotomicrografia 16,17). É provável que exista uma geração de granada mais antiga (M1) vistas as raras ocorrências que parecem ser inclusão dentro de cordierita (Fotomicrografia 18).
   
Parte do alumossilicato associado com a biotita é cianita. Localmente apresenta-se concentrada dentro da biotita ou com crescimento superimposto (Fotomicrografia 19), indicando blastese a partir da sillimanita gerada com o simplectito.
   
Raros cristais de estaurolita cresceram aninhados no simplectito biotita+sillimanita (Fotomicrografia 20) e formaram com a cianita, biotita e granada uma paragênese retrometamórfica hidratada da fácies anfibolito de pressão barroviana com gradiente geotérmico distinto do que permitiu o desenvolvimento da paragênese granulítica.
   
Os registros de texturas deformacionais relacionadas com os eventos de reações metamórficas são pouco comuns e em sua maior parte expressos por pequeno achatamento granoblástico.
   
As paragêneses são semelhantes às do Rio Maranhão e as reações metamórficas apresentadas atrás são válidas na evolução desta rocha, com a diferença de que ela é menos aluminosa (espinélio restrito aos simplectitos de biotita+sillimanita), com hiperstênio e com mais quartzo.
   
O estudo geotermobarométrico indicou vários conjunto de reações independentes, envolvendo membros finais das soluções sólidas em equilíbrio, como:

<2py + 3q = 2en + crd>
<crd = en + 2sill + q>
<6crd + 2phl = 9en + 12sill + 2ksp + 2H2O>
<4crd + east = 5en + 9sill + ksp + H2O>
<3crd = 2py + 4sill + 5q>
<3phl + 3fcrd = py + 2alm + 3east + 9q>
<2phl + 3fcrd = 2py + 2ann + 4sill + 5q>
<5east + 4crd = py + 5phl + 12sill>
<6py + 5ann + 12ky = 5alm + 5east + 4crd >

    O processamento destas fases, consideradas as atividades calculadas por composição química dos minerais, indicou condições metamórficas de :

6,9 a 8,3 kbar e 728 a 818oC

com uma concentração de resultados em:

7,6 kbar e 777oC

    A granada é almandínica, atingindo até 40% de piropo, mas as suas bordas podem apresentar teores de ~30% de piropo, caracterizando um crescimento com descompressão e/ou trocas iônicas com a biotita ou cordierita em pressões menores. Neste sentido, as reações de formação de biotita (vermelha)+sillimanita a partir da cordierita provavelmente são de descompressão a temperaturas elevadas.
   
O crescimento de cianita, de estaurolita, de biotita de tons mais claros a esverdeados do que a fácies típica (evento M3) implica em um evento de arrefecimento térmico e descompressivo (erosão ou ascensão do complexo) conforme a Figura 5-1.

Xenólitos e encaixante

    Os xenólitos deste metagranito geralmente são muito estirados. Os xenólitos máficos são mais comuns do que os félsicos.
   
O xenólito félsico estudado, um provável autólito, mostra uma foliação que não continua na hospedeira (Foto 16). Reações de desestabilização da cordierita são idênticas às da hospedeira (Fotomicrografia 12). Raros fenoblastos de hiperstênio e de feldspato K sub-centimétricos ocorrem dispersos na matriz granoblástica, fina/média foliada. A paragênese e o quimismo são semelhantes entre o xenólito e a hospedeira à exceção dos diagramas de ETR que mostram curvas de maior fracionamento de ETRL/ETRP no xenólito o que é discutido mais adiante (Capítulo 6). Esta foliação é, portanto, anterior ao envolvimento magmático. Este fato permite duas interpretações mais imediatas:

1) a intrusão deve ter ocorrido simultaneamente a eventos tectônicos, mais provavelmente extensionais (falhamentos lístricos) ou transtensionais que facultassem a permeação dos líquidos magmáticos e em uma sucessão que poderia ser a seguinte: falhamentos - injeções magmáticas em níveis frios da crosta - solidificação - retomadas dos falhamentos com cataclases e milonitizações inclusive das fases intrusivas - novas injeções magmáticas...;
2) o fragmento félsico foliado é, na realidade, um xenólito arrancado, possivelmente, das zonas crustais mais profundas de geração palingenética do magma cujo estudo químico revela natureza híbrida.

    A fácies mais comum dos xenólitos é a de um granulito norítico muito fino de cor cinza escura, geralmente sem foliação constituida por labradorita (~50%); opx (~35%); cpx e opacos (Fotomicrografia 11). Hornblenda marron (~10%) de alto grau envolve piroxênios como uralita e biotita vermelha também bordeja o opx, principalmente nos xenólitos com trend mais diorítico. Raros xenoblastos de opx apresentam bordas em mortar recristalizadas. Como no autólito, os xenoblastos poderiam corresponder, mimeticamente, a antigos fenocristais em massa resfriada (hipótese 1) ou a porfiroclastos em massa blasto-milonítica (hipótese 2). Em ambas as hipóteses o nível crustal em que se desenvolveu a textura pré-granulítica deve ter sido mais frio do que o em que se desenvolveu a granulitização. A composição mineral e química destes xenólitos é semelhante à da encaixante norítica (ver a seguir) do cordierita gnaisse com pequena diferença nos padrões ETR (ver Cap.6).
   
A encaixante é um meta-norito (labradorita, 50%; hiperstênio, 40 %; hornblenda marrom, 4%; biotita, opacos..) de granulação média-fina, cor cinza, maciça, com foliação fraca. Esta encaixante corresponde à fácies plutônica granulitizada mais comum da Sequência Serra de Santa Bárbara: um norito granulitizado de grão médio a fino cinza escuro, maciço mas com fraca foliação metamórfica, localmente tendendo a gabro-diorito com An50 a An70 (~50%); hiperstênio (~40%); cpx raro; opaco; hornblenda e biotita crescendo sobre os piroxênios segundo reações como:

opx+cpx+plagioclásio+H2O=hornblenda marron+quartzo
opx+"ortoclásio"+H2O=biotita+quartzo

5.2.3. Intrusão do Córrego do Guará - Complexo Barro Alto

    Subindo o córrego, as fácies básicas e intermediárias gradam para fácies ácidas progressivamente mais brechadas que marcam níveis mais elevados da intrusão.
   
No ponto 2MW592 ocorre meta-gabronorito de cor cinza, granulação média, textura granoblástica à base de labradorita (50 a 60%), hiperstênio com finas lamelas de exsolução de cpx (20 a 30%); hornblenda /uralita (8 a 15%). Esta fácies transiciona localmente para meta-gabrodiorito de cores cinza com fenocristais milimétricos de andesina que apresentam borda cataclástica (mortar) entre mesóstase de granulação média, granoblástica, à base de opx, cpx e andesina. Fenocristais de opx, mais raros, também ocorrem nesta rocha e mostram-se com lamelas de exsolução de cpx, encurvamentos e mosaico cataclástico periférico. Estas fácies mais preservadas das deformações variam para fácies com textura tipomorfa em mosaico ou granoblástica estirada com os grãos de plagiocásio normalmente mais dúteis do que os cristais de cpx e opx.
   
As fácies de brechas plutônicas córrego acima (pontos 2MW591,590,589) apresentam matriz, também granulitizada, quartzo-diorítica (andesina~50%; opx~30%; quartzo~10%; biotita~7%) a granodiorítica. A matriz mostra grandes variações quanto ao teor principalmente de feldspatos, de quartzo e de minerais de alteração. Isto deve-se, provavelmente, aos processos de contaminação e um maior acesso ou concentração de H2O residual nas zonas apicais da intrusão. As transformações diaftoréticas de alto grau de cpx e de opx para hornblenda marrom e/ou para biotita vermelha esboçam, localizadamente, nova foliação (Fotomicrografia 8) do evento M2 em ângulo com a foliação definida pelo achatamento de opx e pl do evento M1.
   
Os xenólitos máficos são os mais comuns. São cinza-escuros a esverdeados, muito finos, ricos em sulfetos, gabro-noríticos a gabro-dioríticos. Além dos xenólitos máficos, ocorrem outros como quartzitos (metachert?), leptinitos (granada, ortoclásio, quartzo) e rocha cálcio-silicática. A Fotomicrografia 9 mostra o crescimento de coroas de granada envolvendo a escapolita neste último tipo de xenólito. Esta sucessão paragenética é semelhante à que ocorre em um provável megaxenólito na Serra do Queixada, a leste de Ceres, com granada crescendo como coroas em torno da anortita e em reação com wollastonita (Fotomicrografia 6) e no mármore de Goianira (Fotomicrografias 29, 30) com granada crescendo sobre escapolita e sobre ortoclásio pertítico. Atestam estas coroas reacionais de granada cálcica uma fase de maior pressão, desestabilizando minerais como wollastonita e escapolita. A ocorrência de wollastonita foi verificada em outros locais além da Serra da Queixada. É interpretada como mineral de metamorfismo térmico em rochas cálcio-silicáticas quando da fase de intrusão dos complexos máfico-ultramáficos vista a sua desestabilização parcial e reação com plagioclásio para formar granada grossulárica da paragênese do metamorfismo granulítico superimposto.
   
Um pouco acima (ponto 802-111 do Trabalho de Graduação de 1980) a fácies quartzo-diorítica envolve xenólitos vários, entre os quais gabro-diorito fino, mais frequente, e olivina websterito uralitizado e biotitizado (ol~2%; cpx~30%; opx~20%; hornblenda~35%; biotita flogopítica~10%; herc~3%..).
   
A amostra 2MW589AM é um meta-quartzo monzodiorito, matriz de brecha, com a composição estimada: quartzo~25%;or pertítico~30%;andesina básica~25%;granada~15%; hiperstênio~3%;biotita~1%;rutilo;opacos.. Esta composição retrata um produto de hibridização com xenólitos leptiníticos e outros. O processamento termobarométrico indicou as seguintes reações dos membros finais das fases minerais analisadas na microssonda:

<py = en + mgts>
<2ann+3gr+6mgts+9bq=2phl+3fs+9an>
<3en + 3an = 2py + gr + 3q>
<gr + 3mgts + 3q = py + 3an>
<gr + 2mgts + 3q = en + 3an>
<3fs + 3an = gr + 2alm + 3q>
<2alm + 3en = 2py + 3fs>
<3fs + 3mgts = py + 2alm>
<3fs + 2mgts = 2alm + en>

    Utilizando as atividades dos componentes envolvidos nestas reações, os valores termobarométricos calculados para o pico metamórfico foram consistentes com os da intrusão de Vista Alegre: 

~ 7,7 kbar e 800oC

e com valores calculados (programa PTMAFIC) para o geotermômetro Ca-em-px:

837oC dada uma pressão estimada de 8 kbar.

5.2.4. Intrusiva do Córrego Mestre, Carmo do Rio Verde - Complexo Barro Alto

    A fácies principal é meta-gabróica (ponto 2MW601), com grande variação de composição devida a bandas e massas irregulares mais plagioclásicas relacionadas a processos anatéxico- metassomáticos com veios plagioclásicos tardios. Xenólitos escuros (autólitos?) quase indistintos da matriz granoblástica média são ubíquos mas, localizadamente, tem-se fácies de brecha (Fotos 13, 14, 15) bem evidente com xenólitos de vários tipos. Uma das fácies desta matriz de brecha plutônica apresenta andesina básica~70%; opx~15%; biotita~5%; epidoto/saussurita~5%; uralita~5%. A uralita é de duas gerações: uma constituída por hornblenda e a outra, mais jovem, por tremolita. A biotita vermelha cresce sobre o opx mas, localmente, ocorre como inclusão do mesmo, mostrando mais de uma geração.
   
A fácies mais comum de xenólitos é macroscópica e microscopicamente análoga à que se verifica nas outras brechas do complexo. Trata-se de um granulito máfico fino, maciço, geralmente sem foliação visível e de cor cinza escura. A amostra analisada apresenta quartzo<5%; opx<20%; labradorita~45%; hornblenda~30% com restos de cpx?; opacos, em uma textura granoblástica média fina com plagioclásio, lembrando ripas de textura diabásica e localmente microporfirítico. Inclusões diminutas de piroxênio no plagioclásio sugerem textura blasto-subofítica. A hornblenda é castanha, crescendo como coroas uralíticas sobre o piroxênio. Uralitização tardia (actinolítica) e saussuritização localizada com veios associados indicam eventos retrometamórficos tardios.
   
O xenólito de metapiroxenito ou piroxênio-hornblendito (Foto 13) com opx~25%, biotita~15%, hornblenda clara~55%, tremolita~5% sofreu metassomatismo K com hidratação, originando uralita quase incolor e biotita castanha poiquiloblásticas sobre o opx e raros opacos.
   
Os xenólitos de mármore dolomítico fino e de rochas cálcio-silicáticas mostram auréolas reacionais (Fotos 14, 15) geradas, provavelmente, na fase magmática mas retomadas em novo equilíbrio mineral na fase de metamorfismo granulítico. Um dos xenólitos cálciossilicáticos é composto de epidoto~30,%; plagioclásio cálcico~20%; quartzo~10%; opacos <10%; dolomita - magnesita~10%;granada~10%; titanita ~5%; diopsídio~5%;..

5.2.5. Associações na Serra da Figueira - Complexo Barro Alto

    As rochas tratadas neste tópico não estão na faixa granulitizada. A importância das mesmas para o assunto em foco foi abordada anteriormente (Winge & Danni,1994a,b) e no tópico 2.4.3.
   
Os gabros e metagabros da Serra da Figueira apresentam-se com várias fácies, muitas vezes de contatos abruptos ou de transições muito rápidas quanto à granulação (de microcristalinas a médias grossas), e quanto a aspectos texturais/estruturais, ou seja, com texturas desde perfeitamente preservadas, ígneas, até metamórficas, estas desde isótropas até foliadas. A seguir são descritas algumas dessas fácies:

1) microgabro a diabásio: rocha microcristalina, cinza escura com textura diabásica perfeitamente preservada (Fotomicrografias 21, 22, 24, 25, 26), localmente porfirítica (plagioclásio em micro-fenocristais), com as ripas de plagioclásio (labradorita ácida) entre os minerais máficos representados por: ol (rara nas fácies fínas); opx, mais raro, e cpx (augita diopsídica) que ocorre reliquiar entre hornblenda neoformada. A hornblenda apresenta-se granoblástica, com pleocroísmo marrom a verde, distinto de hornblenda actinolítica de cor verde clara de 2a geração associada a saussurita e/ou em veios preenchendo fraturas. Localmente a hornblenda mais clara e de composição variável ocorre bordejada por coroa de uralita de hornblenda marrom de mais alto grau, atestando a uralitização tardia e de baixo grau do núcleo piroxênico que ficara preservado quando do evento que formou a coroa uralítica de alto grau. O plagioclásio ígneo é labradorita a bitownita recristalizado metamorficamente para andesina nas bordas reacionais e em pequenos cristais neoformados. Ocasionais cristais idio/subidioblásticos de granada ocorrem entre máficos e plagioclásio, atestando a reação metamórfica entre olivina ou piroxênios e plagioclásio, tendendo a se dispor em rosários que, coalescendo, formam coroas. Epidotos, zoisita principalmente, formam coroas em torno de granadas ou ocorrem associadas com a hornblenda. Titanita mal cristalizada (leucoxênio) acompanha os minerais de alteração metamórfica como coroa de reação sobre inclusões de ilmenita na hornblenda ou em grãos livres associados com o epidoto.
2) gabro coronítico. Esta fácies varia desde os termos diabásicos, descritos atrás, até gabros de granulação média a grossa. A textura coronítica é mais comum nas fácies mais grossas do que nas finas. Apresentam-se em afloramento com micro-ressaltos coroníticos das granadas mais resistentes ao intemperismo e/ou com aspecto característico que lembra pele de sapo. A textura diabásica a subofítica original geralmente é preservada entre as texturas coroníticas, simplectíticas e as granoblásticas (Fotomicrografias 21, 22, 24). As coroas de reação metamórfica dão-se em torno da olivina e mais raramente de opx, podendo ainda ocorrer, em direção ao plagioclásio, uma coroa de piroxênio diopsídico e outra de uralita ou, ainda, uma coroa simplectítica (cpx+espinélio) e, no plagioclásio reactante, exsolverem-se fases criptocristalinas de espinélio. O núcleo olivínico pode ser totalmente substituído por ortopiroxênio e/ou diopsídio com crescimento radial em comb texture.
3) anfibolitos isotrópicos. Estas rochas foram classificadas como hornblenda gabros. Entretanto, a textura granoblástica (Fotomicrografia 23) de contatos curvos a retilíneos, em mosaico, indica uma origem metamórfica estática sem deformações aparentes. O plagioclásio (preservado?) labradorita (~30%) associa-se a hornblenda (~65%) de cores verde a marrom, granoblástica e a acessórios neoformados titanita, saussurita, apatita, epidotos. Varia para fácies pegmatóide em bolsões, com hornblenda bem desenvolvida e para massas concentrando plagioclásio em nuvens.
4) anfibolitos nematoblásticos e anfibolitos bandados. Anfibolitos com lineação da hornblenda e do plagioclásio e anfibolitos bandados, geralmente granadíferos, com bandas mais plagioclásicas e bandas mais hornblêndicas, representam as fácies deformadas das rochas intracrustais da Serra da Figueira. É possível que o bandamento tenha uma origem primordial em fracionados magmáticos. As fácies lineares apresentam transições, localizadas, para as fácies porfiríticas, correspondendo, neste caso, a lineação de esteira cataclástica acompanhada de recristalizações metamórficas.

    Os anfibolitos da Sequência Juscelândia derivados de lavas basálticas com quartzo normativo (ponto 2MW594) apresentam paragênese metamórfica semelhante à dos anfibolitos grossos/médios (metagabros) da Serra da Figueira. A textura nematoblástica fina é uma constante e a composição mineralógica é constituída essencialmente por hornblenda verde escura, andesina, titanita/leucoxênio, opaco (magnetita ilmenítica), epidotos. Ocasionalmente ocorrem fácies com granada, mas são raras.
   
A olivina magmática (núcleo das coroas) com teor de Fo72-75 indica ter se originado, provavelmente, da cristalização de magma já fracionado o que condiz com as características geoquímicas de enriquecimento em ETR fracionados com razão (La/Lu)Ncondrito=3,36. O plagioclásio primário é uma bitownita (~an80). O opx (en=75,41;fs=23,97) reacional, metamórfico, é pouco aluminoso (Al2O3~1,65%), indicando condições de pressão baixas, ao contrário da granada que é uma almandina rica em piropo (alm~44;py~39;gr~15).
   
As condições termobarométricas do metamorfismo coronítico foram determinadas como sendo de:

4,2 (3,5 a 5) kbar e 600oC (550 a 650oC)

ao envolver, entre outras, as seguintes reações dos membros finais:

<3an+3fo=2py+gr> <an+fo+en=di+py>
<3an+3fo+3fs=3hed+2py+alm>
<2hed+2py=2an+2fo+en+fs>
<4hed+parg+4py=hb+4an+ab+6fo+2fa>
<an+fo=di+mgts>
<2hed+2cats+2py=4an+3fo+fa>
<3ed+8an=5cats+py+2gr+3hb+2ab>

    Estas condições são semelhantes às determinadas por Moraes et al.(1994) para granada anfibolitos (metabasaltos) da Sequência Juscelândia na sua região tipo: 520oC - 5,5kbar.
   
As características texturais descritas atrás para as fácies finas (microgabros) sugerem que os cristais de granada cresceram por metamorfismo regional progradante com aumento de pressão e de temperatura sobre rochas subvulcânicas. Entretanto, a origem das reações coroníticas provavelmente ocorreu por resfriamento de magma (autometamorfismo) em níveis profundos da crosta, de maneira semelhante à determinada por Cândia et al (1988) para as coroas da Sequência Serra dos Borges no Complexo Niquelândia, o que será discutido a seguir.
   
A olivina do coronito analisado (ponto2MW600) apresenta razões Fe/Mg um pouco elevadas (fo72-75), o que favorece a reação de formação da granada coronítica a pressões e temperaturas mais baixas, mas, mesmo assim, a temperatura calculada para a origem das coroas (Figura 5-1) está bem fora do campo de estabilidade da cianita que é mineral característico da fácies silico-aluminosa do pacote vulcano-sedimentar que envolve a região da Serra da Figueira. A cianita é mineral ubíquo nas fácies metapelíticas da Sequência Juscelândia onde associa-se com biotita, muscovita, almandina, (estaurolita), (feldspato K), indicando grau médio da fácies anfibolito barroviana. Localizadamente ocorre sillimanita fibrolítica. Esta situação leva a duas interpretações:

1) os gabros e microgabros da Serra da Figueira, colocados em níveis muito rasos da crosta oceânica, foram levados para profundidades de cerca de 12km onde, fortemente aquecidos, desenvolveram as coroas de reação metamórfica;
2) as rochas da Serra da Figueira correspondem a fácies intrusivas em crosta oceânica já resfriada (gradação rápida de gabros grossos para microgabros com texturas muito finas) e com pacote vulcano-sedimentar desenvolvido a uma espessura de >10km. Corresponderiam a intrusões de magmatismo basáltico recorrente de mesmo tipo daquele que que gerou os metabasaltos (Cap.6) da Sequência Juscelândia.

    A primeira hipótese implica em uma associação entre o metamorfismo coronítico e o metamorfismo regional, enquanto que a segunda hipótese desvincula os dois que podem ter ocorrido em momentos bem separados. A segunda hipótese contraria parcialmente as conclusões anteriores (Winge & Danni,1994a,b) de que os gabros e microgabros constituam as fácies plutônicas (camadas 2 e 3 da crosta oceânica) do mesmo magmatismo extravasado como basaltos oceânicos. A favor da segunda hipótese tem-se:

1) existência de diques de metadiabásio, hoje granada anfibolitos, cortando metapelitos (fácies terrígenos ? em parte), gonditos.. da sequência vulcano-sedimentar;
2) as reações coroníticas estudadas são em grande parte anidras e de temperaturas muito elevadas com relação à pressão, caracterizando condições termodinâmicas que destoam do gradiente geotérmico do metamorfismo regional da Sequência Juscelândia. Assim, o próprio calor residual do magma intrusivo na bacia oceânica já em colmatação propiciaria as reações coroníticas em evento prétectônico (ou singenético).

5.3. ASSOCIAÇÕES LITOLÓGICAS NO COMPLEXO ANÁPOLIS-ITAUÇU

5.3.1.Meta granito de Mato de Dentro e leptinitos associados

    O meta-granito (Foto33) que transiciona para leptinitos entre Itauçu e Santa Rosa apresenta-se como um sillimanita granada biotita gnaisse (quartzo~25%; ortoclásio~45%; saussurita~20%; granada~3%; biotita~3%; sillimanita~1%; muscovita/sericita~2%; espinélio, zircão, rutilo..) com aglomerações centimétricas compostas de sub-grãos de quartzo e de feldspato K (antigos cristais ígneos). Estas aglomerações de subgrãos ocorrem achatadas a levemente estiradas (foliação Sn-1) e crenuladas em sigmóides entre faixas milimétricas (foliação Sn) que concentram granada e sillimanita com biotita, muscovita e sericita diaftoréticas (Fotomicrografias 35,36). O quartzo é entrecortado por agulhas submicroscópicas de rutilo. A sillimanita e a granada principalmente dão origem a sericita/muscovita em um processo diaftorético ligado com a elevação da infracrosta para níveis rasos.
   
A transição petrográfica de leptinitos (pontos 2MW621,622..) típicos com o meta-granito pode ser vista na foto 33. Esses leptinitos apresentam textura granoblástica variando para flaser, com paragêneses à base de quartzo, ortoclásio pertítico ou mesopertita, ± andesina muitas vezes antipertítica, sillimanita, granada, biotita, epidoto, zircão... Aqui, também, o quartzo e o ortoclásio incluem muitas agulhas sub-microscópicas de rutilo. O zircão apresenta-se sub-arredondado a arredondado (Fotomicrografias 38,39) em meio a textura blasto-milonítica. Localmente ocorre cianita, substituindo a sillimanita. Composicionalmente variam de termos graníticos a granodioríticos, com teores desde traços até >50% de plagioclásio (oligoclásio/andesina) respectivamente.
   
Parte das fácies leptiníticas tiveram como protólitos gnaisses/granitos que sofreram anatexia parcial ao pico do metamorfismo: a fotomicrografia 37 mostra uma granada crescendo sobre e a partir de quartzo + espinélio verde (rico em Fe) o que reflete temperatura e pressão mínimas de 800oC e 3 kbar em ponto inserido entre as curvas de solidus e de liquidus granítico a seco (Figura 5-2). Em decorrência, o feldspato mesopertítico e o quartzo com TiO2, fases menos refratárias do sistema, são interpretados como tendo atingido in situ o estado líquido por ultrametamorfismo.
   
As análises de ETR (ver Cap.6) indicam prováveis porções de crosta arqueana TTG entre os protólitos dos leptinitos. A manutenção desta assinatura geoquímica sugere que, nestes locais, não tenha ocorrido anatexia parcial significativa. Já em outros locais o padrão é em asa de pássaro, sendo que em Mato de Dentro os leptinitos apresentam-se mais empobrecidos em ETRL e enriquecidos em ETRP do que o meta-granito que lhes deu origem. A causa das variações podem ser devidas: 1) a permanência da granada e do zircão como resistatos após expulsão parcial de neossoma; e/ou 2) a ocorrência de diversos tipos de protólitos (granitos, riolitos, metassedimentos..), cada um caracterizado por assinaturas geoquímicas que lhe são peculiares, dado que o cinturão granulítico envolveu crosta antiga.
   
A reação metamórfica mostrada na fotomicrografia 37:

quartzo+hercinita=almandina+sillimanita,

com quartzo + espinélio em equilíbrio metaestável, é consumada nestes leptinitos em vários outros locais onde sobram, alternativamente, ou quartzo ou espinélio como inclusões na granada e na sillimanita.
   
Dois fatos indicam que o caminho PTt relacionado com esta reação provavelmente não tenha sido o de resfriamento isobárico de uma crosta siálica tectônica e gravimetricamente estabilizada, mas sim (ver trajetória hipotética na Figura 5-2), de um ambiente de engavetamentos e duplicações crustais com aumento de pressão:

1) para pressões de 7 a 8 kbar, estimadas em outros pontos, estas rochas ácidas fundiriam quase totalmente, visto que o campo de estabilidade da hercinita+quartzo situa-se a temperaturas de >950oC e praticamente no campo do liquidus granítico (Figura 5-2). Este não é o caso regional destas rochas;
2) a granada mostra, frequentemente, um crescimento superimposto a uma fase dinâmica com cataclase (ver Fotomicrografia 33) de forma semelhante a que ocorre mais localizadamente com a sillimanita (Fotomicrografia 36), indicando tectonismo associado com a cinética destas reações.

    Já a transformação parcial da sillimanita para cianita pode estar ligada a resfriamento isobárico ou com pequena descompressão.

5.3.2. Intrusivas Água Clara - Faz.Conceição e corpos associados

    As fácies ultramáficas variam de peridotitos a piroxenitos metamorfizados. Os primeiros são geralmente transformados em serpentinitos, apresentando foliação milonítica com clastos de opx que podem apresentar tamanho centimétrico (Foto 57), imersos em uma textura de antigorita em mesh com espinélio disperso (cromopicotita). Em fácies mais preservada de harzburgito de cor preta esverdeada (amostra 2MW580) ocorrem: ol (~55%), opx (~25%), cpx (~5%), cromopicotita (~5%), serpentina (~10%). O opx, bronzita, em fenoclastos com geminação polissintética, associado com cpx em bandas milimétricas, websteríticas, alternadas com bandas olivínicas, duníticas, poligonizadas com junção tríplice e alinhamento de pequenos cristais de espinélio marrom e porções com serpentina em mesh, parecem indicar ocorrência de fácies cumulíticas rítmicas. Alteração comum dos metaperidotitos é para clorita (clinocloro) talcito maciço ou talco filito.
   
Localmente as fácies piroxeníticas correspondem a ortopiroxenitos, geralmente grossos, como ocorre no Morro Santa Rita - ponto 2MW207 - onde, junto de anfibolito milonítico, aflora enstatitito com cristais de enstatita de até 2cm, apresentando talcificação, carbonatação e tremolitização incipientes. Neste mesmo morro ocorrem metaperidotito xistificado por milonitização (ponto 2MW206) composto por hornblenda actinolítica; olivina (fo~60); brucita; hercinita (Fe/Mg=1,41; Cr/Cr+Al=0,0135); clinocloro; ilmenita. Quartzito com bandas de quartzo e de opaco limonitizado, associa-se com esta fácies milonítica; sua origem mais provável é tectonítica visto encaixar-se em meta-plutonito milonitizado.
   
Os meta-piroxenitos podem apresentar-se alterados por metamorfismo superimposto, como no ponto 2MW 578, onde ocorre actinolita hornblenda xisto com foliação fraca, textura granoblástica de contatos serrilhados, com hornblenda verde clara (~70%), actinolita (~23%), clorita (~5%), opacos (~2%). Fácies bem preservadas também ocorrem, como nos pontos 2MW341 e 640 do stock máfico-ultramáfico da Faz. Conceição, satélite da intrusão de Água Clara, um plagioclásio ortopiroxenito gradando para fácies websterítica e norítica (Fotomicrografia 51,52).
   
As fácies gabróicas mostram trend norítico. As texturas são muitas vezes preservadas e geralmente ocorrem coroas de uralitização de dois eventos: um em alto grau e outro da fácies epidoto anfibolito a xisto verde, indicando hidratação parcial superimposta ao metamorfismo granulítico.
   
A análise da associação com uralita de alto grau em ocorrência de metagabro a sudeste do corpo de Água Clara (Fotomicrografia 50) mostrou que a cristalização da hornblenda vermelha retrometamórfica deu-se em pressões de cerca de

7 a 8kbar e 750 a 850oC

ou seja, no campo da fácies granulito, usando-se o geobarômetro Al em anfibólio e o geotermômetro anfibólio em equilíbrio com plagioclásio do programa PTMAFIC.
   
Resultados semelhantes foram obtidos em fácies de cpx-opx granulito máfico (ponto 2MW340) encaixante do stock máfico-ultramáfico Faz.Conceição, ao se analisar a associação mineral de banda metamórfica superimposta às bandas granulíticas (Foto 55):

~ 7kbar e 790oC

    Certamente as condições de cristalização da associação granulítica foram mais severas do que essas.
   
A água que uralitizou parcialmente os piroxênios pode, assim, ter sido de origem local liberada, por resfriamento ou descompressão, de fases fundidas que a coletaram dos produtos de reações de desidratação durante o metamorfismo progradante.

5.3.3. Kinzigito do Córrego do Bagaço

    A 15 km de Ouro Verde para Petrolina (ponto 2MW609) ocorrem fácies de gnaisses kinzigíticos que se associam com bandas e boudins de opx-cpx granulitos granoblásticos, em geral finos a médios, e que predominam, localmente, sobre as fácies ácidas.
   
O kinzigito estudado apresenta grão médio a grosso, estrutura de bandas centimétricas, irregulares e de natureza composicional devidas à concentração de níveis mais feldspáticos e apresentando glomeroblastos de granada vermelha que pode concentrar-se em massas de 2-3cm de diâmetro. A foliação é acentuada pela cristalização diaftorética de biotita sobre a granada, determinando uma xistosidade sub-paralela às bandas. O protólito não foi determinado, admitindo-se uma origem tanto de gnaisses/granitos aluminosos quanto de pelitos.
   
A textura é granoblástica de contatos irregulares relacionados com deformações e recristalizações diaftoréticas e a composição estimada é: andesina ácida~35%; granada ~30%; quartzo~15%; ortoclásio~10%; biotita vermelha~5%; rutilo>1%; opacos, espinélio verde, sillimanita.. A granada apresenta inclusões de biotita arredondada (I), de agulhas de rutilo, de sillimanita acicular e de espinélio verde. Não foi feita análise de microssonda, mas as características de cor e a associação indicam tratar-se de granada almandínica. Nas bordas e em fraturas esta granada dá origem a biotita(II) vermelha, idêntica à das inclusões. Rutilo em cristais maiores associa-se com esta biotita diaftorética.
   
O geobarômetro de Bohlen & Liotta (1986) foi definido para rochas máficas (granada granulitos e granada anfibolitos), usando a reação:

<gr+2alm+6ru=6ilm+3an+3q>

para uma atividade de alm ~ 2x gr a reação realiza-se entre 9kbar a 700o e 12 kbar a 1000oC. Quanto mais almandina, menor a pressão. Apesar de não se tratar de rocha máfica, as inclusões na granada evidenciam condições de equilíbrio alm+ru e alm+sill esta talvez derivada de reação q+herc=alm+sill (Figura 5-2) já que são encontrados restos de espinélio verde na granada. Como não foi identificada cianita na associação (sill->cianita a >6kbar em resfriamento isobárico, Harley,1989), são estimadas pressões e temperaturas relativamente elevadas, da ordem de 6-8kbar e 800 a 950oC para o auge do metamorfismo nesta região.

5.3.4. Supracrustais

    No domínio granulítico do Bloco Anápolis-Itauçu são reconhecidos esporadicamente fácies de rochas metassedimentares como, por exemplo:

1) 11km de Nerópolis para Ouro Verde (ponto 2MW5), onde ocorre rocha cálcio-silicatada com bandas centimétricas descontínuas de cores verde clara e branca, variando, em escala de afloramento, para fácies de diopsídio quartzito hornblêndico a anfibolito. A composição estimada desta cálcio-silicatada de textura granoblástica é a seguinte: plagioclásio/ saussurita ~45%; diopsídio ~30%; quartzo ~15%; titanita ~7%; granada ~1%;apatita.

2)mármore de Goianira (ver item 2.5): a fácies típica deste mármore é a de uma rocha branca, sacaróide de aspecto mosqueado por cristais milimétricos de vários minerais cálcio-silicáticos, principalmente diopsídio verde, hedenbergítico (foto 26). Fragmentos silicáticos, centi a decimétricos com formas variadas, geralmente irregulares, caprichosas e angulosas como a da foto 27, ocorrem em meio a matriz granoblástica maciça, formando ressaltos no afloramento devido ao intemperismo diferencial. Bandas inconspícuas (fluxo milonítico?) ocorrem localmente. Predominam os fragmentos de quartzo, mas ocorrem, também, os de gnaisse (Foto 27), os de concentração de minerais metamórficos (diopsídio) e outros quase indistintos na rocha fresca, compostos de plagioclásio e escapolita.
   
Na Província tectônica Basin and Range, nas Ruby Mountains, Nevada, SW dos USA ocorre milonito calcítico (Hamilton, 1987) derivado de mármore, contendo fragmentos e boudins de anfibolito e de quartzito rotacionados, que conforma uma carapaça sob falha de descolamento com estrutura de brecha análoga à do mármore de Goianira.
   
A textura da fase carbonática é granoblástica média, com cristais silicáticos esparsos de formas arredondadas. Os minerais arredondados também contem inclusões arredondadas (Fotomicrografia 30). A interpretação desta textura é a de que a cristalização deu-se em ambiente extremamente dinâmico, com dissolução mineral nas superfícies tensionadas dos grãos e recristalização em sítios favoráveis, de baixa pressão, com o mineral mais rúptil sendo rotacionado devido ao cisalhamento não-coaxial, produzindo fluxo diferencial na matriz dúctil. Vários são os minerais que apresentam este arredondamento: escapolita, ortoclásio pertítico, titanita, diopsídio, wollastonita.
   
Outra característica textural é o desenvolvimento de coroas, principalmente de grossulária, reacional entre os silicatos aluminosos e o carbonato (Fotomicrografias 29 e 30), atestando modificação das condições de equilíbrio dos minerais. Coroa de plagioclásio (± an37) ocorre, também, em torno da escapolita em reação do tipo:

<escapolita (Ca/Na)=calcita+plagioclásio(Na/Ca)>
<escapolita=plagioclásio+fluidos (CO2..)>

Simplectitos de quartzo + carbonato pseudomorfizam cristais arredondados e indicam a reação de reversão:

<wollastonita+CO2=quartzo + calcita>

que, provavelmente , é correlacionada com o evento metamórfico de cristalização das coroas de granada através de: aumento de pressão e/ou aumento de PCO2 e/ou diminuição de temperatura (conforme curvas de equilíbrio destas fases minerais em, e.g. Yardley,1989; Winkler,1977). A formação da grossulária através de reações como:

<anortita+calcita+quartzo=grossulária+CO2>

pode ter sido casada com a de quebra da wollastonita através de aumento de XCO2. O aumento de pressão de carga seria assim, provavelmente, o disparador desta reação.
   
A hipótese da wollastonita ter se originado em um primeiro evento de metamorfismo térmico junto ao corpo gabro-piroxenítico mapeado por Nilson & Motta(1969) é muito interessante pois a cristalização de wollastonita é facilitada por baixas pressões e/ou por fase fluida aquosa. Essa hipótese implica em que arredondamento de cristais de wollastonita tenha se dado simultaneamente com o evento magmático ou que os cristais de wollastonita tenham sido arredondados em evento termodinâmico posterior.

3)quartzito bandado do local Vicentes, entre Araçu e Itauçu (ponto 2MW587). A associação litológica nesta área é de leptinitos e rochas máficas com fases cálcio-silicáticas (diopsídio, granada grossulário-andradítica, plagioclásio cálcico, epidotos - Fotomicrografia 32) em alternâncias métricas a decamétricas. O quartzito em questão é um bif com bandas milimétricas a centimétricas sílico-aluminosas (quartzo ~65%, sillimanita cianitizada ~20% e muscovitizada ~2%) entre bandas irregulares e descontínuas com concentrações lenticulares milimétricas a centimétricas de opaco (ilmenita ~12%). Estaurolita com Fe/Mg~3,83 (<1%) cresce em idioblastos (Fotomicrografia 31) na interface quartzo-cianita-ilmenita e incorpora, localizadamente, a foliação milonítica, indicando que é pós-tectônica.
   
O geobarômetro de Bohlen & Liotta (1986), visto atrás para o kinzigito do Córrego do Bagaço, permite definir que as pressões foram inferiores a 10,5 kbar (ver Fig.5-3, reação 13) vista a associação (ilmenita+sillimanita+quartzo). A transformação sillimanita=>cianita pode ter se dado por aumento de pressão ou resfriamento isobárico e em fase pós tectônica, ao atingir condições da fácies anfibolito, foi acompanhada pela reação:

quartzo+cianita+fase óxido Fe=estaurolita

que, conforme Figura 5-3, deve ter se dado em temperaturas entre:

550 e 680 (estabilidade da estaurolita) e pressões>4,5kbar(associação com cianita)

    No local associa-se, além de amplos terrenos gnáissicos e leptiníticos (metavulcânicos em parte?) um metabasito que apresenta contatos irregulares com o quartzito. É composto por hornblenda verde (~30%) que cresce sobre piroxênio (diopsídio~5%), pseudomorfizando-o localmente, andesina (~45%); biotita (~10%); epidotos (~5%);quartzo (~2%); carbonato, titanita.. Talvez corresponda a um dique de microgabro-diorito anfibolitizado intrusivo nos terrenos já granulitizados.


INDICE da Tese 05                      -