UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA -INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS / TESE DE DOUTORADO No 5 - MANFREDO WINGE 
 EVOLUÇÃO DOS TERRENOS GRANULÍTICOS DA PROVÍNCIA ESTRUTURAL TOCANTINS, BRASIL CENTRAL


9.CONCLUSÕES

"..just as there are
granites and granites,
there most certainly are
granulites and granulites"
Moorbath,1984

O estudo realizado permitiu chegar-se às seguintes conclusões:

1. O Complexo Anápolis-Itauçu é constituído por terrenos de crosta sializada, polifasicamente retrabalhada, derivada em parte de terrenos granito-greenstone.

2. Os complexos máfico-ultramáficos, que notabilizaram os cinturões granulíticos do Centro-Oeste, correspondem a intrusões nesta crosta sializada em um sistema magmático aberto, relacionado com tectonismo extensional que originou a formação do rift do Grupo Araí.

3. No Complexo Anápolis-Itauçu, os complexos máfico-ultramáficos granulitizados são de dimensões reduzidas e alojam-se com pouca ou nenhuma aloctonia em crosta siálica granulitizada, enquanto ao norte os complexos máfico-ultramáficos correspondem a grandes massas alóctones, contendo localmente (Complexo Barro Alto) inserções menores de restos de embasamento granulitizado.

4. Os complexos Barro Alto, Niquelândia e Cana Brava reúnem associações de rochas magmáticas derivadas de evolução tectono-magmática diferente do modelo de fracionamentos em câmara magmática única, tipo Bushveld, conforme tem sido proposto.

5. Há uma nítida individualização na evolução entre as duas sequências no Complexo Barro Alto, marcada por um evento de magmatismo híbrido, intrusivo e com brechas cortando a sequência inferior e não registrado na sequência superior.

6. Foi estabelecida na região da Serra da Figueira a cogeneticidade magmática entre olivina-gabros coroníticos da Sequência Serra da Malacacheta e os metabasaltos da Sequência Juscelândia, caracterizando-se, também, fácies de transição entre os das duas sequências (supracrustais e crosta gabróica de fundo oceânico).

7. Foi determinado que o metamorfismo granulítico é do tipo de baixa a média pressão, na faixa de 6 - 8,5 kbar e temperaturas de 700 - 950 o C, com pequena variação entre os diferentes complexos. Valores de pressão mais baixa (5 a 6 kbar) foram definidos para o kinzigito metapelítico do Rio Maranhão, a noroeste do Complexo Barro Alto.

8. Estas pressões do auge metamórfico implicam que o nível crustal granulitizado, supostamente a lapa de crosta siálica duplicada em evento de colisão continental, não atingiu profundidades maiores do que 25 km durante esta granulitização.

9. A ascensão dos terrenos granulíticos ocorreu com a Orogênese Brasiliana, provocando: milonitização nas zonas marginais de suturas crustais e internamente aos complexos, inserções ou indentações de terrenos anfibolitizados e granito-gnáissicos nos granulitos e esporádicas fatias de falha ou lentes tectônicas de granulitos em terrenos gnáissico anfibolíticos e de sequências metavulcano-sedimentares e metassedimentares.

10. Este processo de ascensão foi também registrado em paragêneses minerais, com reações retrometamórficas, algumas em condições estáticas e outras com desenvolvimento de novas foliações, de forma parcial ou completa, notadamente nas zonas de falhamentos. Em dois momentos principais esta ascensão foi estabilizada: 10) ao atingir condições da fácies anfibolito alto a médio, barroviana, semelhantes às condições em que foram metamorfizadas as sequências anortosíticas e vulcano-sedimentares, nos complexos ao norte, e em que foram metamorfizadas as rochas do domínio gnáissico anfibolítico no Complexo Anápolis-Itauçu, ao sul; 20) ao atingir as condições de fácies epidoto-anfibolito a xisto verde, característica das sequências metassedimentares proterozóicas que ocorrem regionalmente, envolvendo os fragmentos crustais granulíticos alçados.

11. Durante a ascensão do Bloco Capelinha do Complexo Anápolis-Itauçu, no domínio gnáissico anfibolítico, marcadamente junto às suturas, ocorreu plutonismo, representado por gabros até granitos, destacando-se o Complexo Anortosítico Santa Bárbara, ao qual se associam stocks de rochas dioríticas a monzoníticas, mostrando localmente fácies de granitos, tendendo a rapakivi, com minerais ferromagnesianos ricos em Fe, configurando uma associação do tipo cratogênico distinto das sequências anortosíticas ao norte.

12. Estas rochas plutônicas apresentam localmente xenólitos máficos da fácies granulito e foram, em conjunto com o substrato gnáissico-migmatítico em que se alojaram, metamorfizadas na fácies epidoto-anfibolito a anfibolito alto com migmatização localizada.

13. A idade Rb-Sr - 637± 19 Ma determinada para a Supersuíte Americano do Brasil, apesar do caráter preliminar, é um registro que dá a idade mínima do metamorfismo anfibolítico que afetou estas rochas e as do domínio gnáissico-anfibolítico, citadas no parágrafo anterior.

14. Em consequência destas determinações, propõe-se um novo modelo evolutivo o qual correlaciona, em uma sequência lógica, no tempo e no espaço, as três unidades básicas dos complexos do norte. Uma síntese da evolução idealizada pode ser assim esquematizada:

I - Paleo a Mesoproterozóico:

- tectônica extensional em crosta siálica, com falhamentos lístricos e indentação de níveis crustais superiores em níveis médios a inferiores; acima desenvolvia-se a bacia intrasiálica (base dos grupos Araxá/Serra da Mesa/Araí) pré a sin rift (Figura 9-1);

- intrusão de magma basáltico (alto Mg) e seco em níveis médios da crosta ou níveis basais de crosta estirada (~5kbar), na forma de afluxos periódicos condicionados ao estiramento litosférico e solidificando como sequências máfico-ultramáficas de trend gabro-norítico;

- transferência progressiva de calor pelo magma ascendente, ocasionando palingênese crustal e geração de magma híbrido (gabro-dioritos a granitos) com extensiva brechação;

-em níveis mais elevados, geração de magma ácido a intermediário com plutonismo (granitos da Província Estanífera) e, localmente, vulcanismo (andesitos a riolitos) extravasado junto e na calha do rift;

- o recrudescimento de falhamentos lístricos provocou a deslaminação da crosta superior e a diminuição da pressão litostática nos sítios de intrusão, favorecendo esta anatexia;

- deslocamento lateral da crosta sobre os focos de afluxo magmático com intrusão de magma alto Al, já parcialmente fracionado e com alta fO2, formando os maciços troctolito-gabroanortosíticos em base de crosta muito fina;

- abertura das bacias oceânicas das sequências vulcano-sedimentares, tipo Juscelândia, lateralmente e em continuidade ao magmatismo gabro-anortosítico posicionado, agora, na crosta de transição;

- magmatismo recorrente com fácies transicionais em crosta oceânica e formação de coroas reacionais em olivina gabros na Serra da Figueira, a profundidades de cerca de 10 km (4kbar) e temperaturas ~6000C;

- colmatação das bacias, com magmatismo ácido e vulcanoclástico (formação de arco vulcânico associado - Sequência Coitezeiro?), substituindo o magmatismo básico e sendo substituído para o topo por fácies pelíticas;

II - Mesoproterozóico a Neoproterozóico

- fechamento final das bacias ensimáticas por tectônica compressional (1,3 Ba.), organizando as unidades dos complexos em estratos crustais obductados sobre o principal plano de falhamento lístrico (Figura 9-1);

- falhamentos inversos e transcorrentes com inversão de relevo;

- início de tectogênese extensional brasiliana (~950Ma?) com formação do rift oceânico neoproterozóico;

- os complexos máfico-ultramáficos e a crosta siálica encaixante são trazidos para a infracrosta pela reativação dos planos de falhamentos lístricos;

- estiramento litosférico e aquecimento mantélico (820 a 750Ma): granulitização na base da crosta com auge térmico que variou entre 700 e 9500C a pressões de 5 a 8,5kbar (15 a 25 km de profundidade) nesta região (margem continental passiva?);

- a evolução do metamorfismo apresenta provável trajetória PT de sentido horário sem ter desenvolvido paragêneses de alta pressão que indicaria duplicação crustal (colisão continental);

- mudança de tectônica extensional para compressional com acoplamento de sistemas de arcos de ilha "Porangatu", ao norte, e "Arenópolis", ao sul, flexura da borda continental, reativação das falhas, antes lístricas, agora de empurrão;

-a forte vergência deste diastrofismo foi condicionada em blocos transferentes, originando inflexões estruturais e rampas com escapes frontais (dobras em bainha) e laterais em leques (oroclinais) na supraestrutura, principalmente ao norte e ao sul da Megainflexão dos Pireneus;

-falhamentos inversos (raízes de nappes?) retomando planos tectônicos antigos nas zonas de sutura com obducção da infracrosta granulitizada (e ascensão do manto) em duas etapas: 1a) na fácies anfibolito, acoplando e indentando com as sequências gabro-anortosíticas e vulcano-sedimentares na mesozona; 2a) na fácies epidoto-anfibolito a xisto verde, emparelhando granulitos com as sequências metassedimentares proterozóicas. Esta última fácies retrata a colocação alóctone final dos complexos granulitizados por obducção da infracrosta, utilizando os planos tectônicos antigos durante a máxima compressão orogenética há cerca de 640 Ma;

-movimentos tectogenéticos finais, com erosão da cadeia orogênica, propiciando a sedimentação continental (Três Marias) e o resfriamento rápido dos núcleos metamórficos. Nesta fase provavelmente ocorreu a formação de pseudo-taquilitos nos granulitos já posicionados em nível crustal elástico.

- abertura das bacias oceânicas das sequências vulcano-sedimentares, tipo Juscelândia, lateralmente e em continuidade ao magmatismo gabro-anortosítico posicionado, agora, na crosta de transição;

- magmatismo recorrente com fácies transicionais em crosta oceânica e formação de coroas reacionais em olivina gabros na Serra da Figueira, a profundidades de cerca de 10 km (4kbar) e temperaturas ~6000C;

- colmatação das bacias, com magmatismo ácido e vulcanoclástico (formação de arco vulcânico associado - Sequência Coitezeiro?), substituindo o magmatismo básico e sendo substituído para o topo por fácies pelíticas;

II - Mesoproterozóico a Neoproterozóico

- fechamento final das bacias ensimáticas por tectônica compressional (1,3 Ba.), organizando as unidades dos complexos em estratos crustais obductados sobre o principal plano de falhamento lístrico (Figura 9-1);

- falhamentos inversos e transcorrentes com inversão de relevo;

- início de tectogênese extensional brasiliana (~950Ma?) com formação do rift oceânico neoproterozóico;

- os complexos máfico-ultramáficos e a crosta siálica encaixante são trazidos para a infracrosta pela reativação dos planos de falhamentos lístricos;

- estiramento litosférico e aquecimento mantélico (820 a 750Ma): granulitização na base da crosta com auge térmico que variou entre 700 e 9500C a pressões de 5 a 8,5kbar (15 a 25 km de profundidade) nesta região (margem continental passiva?);

- a evolução do metamorfismo apresenta provável trajetória PT de sentido horário sem ter desenvolvido paragêneses de alta pressão que indicaria duplicação crustal (colisão continental);

- mudança de tectônica extensional para compressional com acoplamento de sistemas de arcos de ilha "Porangatu", ao norte, e "Arenópolis", ao sul, flexura da borda continental, reativação das falhas, antes lístricas, agora de empurrão;

-a forte vergência deste diastrofismo foi condicionada em blocos transferentes, originando inflexões estruturais e rampas com escapes frontais (dobras em bainha) e laterais em leques (oroclinais) na supraestrutura, principalmente ao norte e ao sul da Megainflexão dos Pireneus;

-falhamentos inversos (raízes de nappes?) retomando planos tectônicos antigos nas zonas de sutura com obducção da infracrosta granulitizada (e ascensão do manto) em duas etapas: 1a) na fácies anfibolito, acoplando e indentando com as sequências gabro-anortosíticas e vulcano-sedimentares na mesozona; 2a) na fácies epidoto-anfibolito a xisto verde, emparelhando granulitos com as sequências metassedimentares proterozóicas. Esta última fácies retrata a colocação alóctone final dos complexos granulitizados por obducção da infracrosta, utilizando os planos tectônicos antigos durante a máxima compressão orogenética há cerca de 640 Ma;

-movimentos tectogenéticos finais, com erosão da cadeia orogênica, propiciando a sedimentação continental (Três Marias) e o resfriamento rápido dos núcleos metamórficos. Nesta fase provavelmente ocorreu a formação de pseudo-taquilitos nos granulitos já posicionados em nível crustal elástico.


INDICE da Tese 05                      -