PONTOS DE VISTA, COMENTÁRIOS E RÉPLICAS


PROJETO DE TRANSPOSIÇÃO DE ÁGUAS DO RIO SÃO FRANCISCO


Os desafios da transposição

José Elói Guimarães Campos (*)

    Em geral, as discussões a respeito da transposição das águas do Rio São Francisco em direção ao nordeste setentrional do Brasil envolvem argumentos ambientais, sociais e políticos e terminam com a clássica pergunta: você é a favor ou contra o projeto de transposição?
    Como forma de contribuir com o debate, pretende-se aqui abordar o problema a partir de uma visão pouco considerada pelos vários analistas, mas não menos importe. Serão consideradas a avaliação da produção e a regularização hídrica da bacia do rio, além da potencial produção agrícola decorrente da implantação do projeto.
    Na verdade, o projeto tem por objetivo o desvio das águas do rio em seu submédio curso – desde a barragem de Sobradinho até o remanso do Lago de Paulo Afonso. Mas, infelizmente, não se conhece de forma satisfatória o regime hídrico dessa bacia. Um projeto de transposição deve ter objetivos de longo prazo e, portanto, é fundamental conhecer quais as formas de regularização hídrica da bacia. Assim, será possível prever eventuais modificações do regime de produção hídrica da bacia como um todo.
    Os interlocutores mais favoráveis ao projeto de transposição argumentam que apenas 2 a 3,5 % da vazão do rio seriam captados. A pergunta que se faz é 2 a 3,5% de água originária de onde?
    As águas que alimentam o São Francisco são oriundas de dois sistemas de renovação. A renovação anual se dá pelo escoamento superficial das águas das chuvas e a de longo prazo, pela descarga dos reservatórios subterrâneos (aqüíferos). O primeiro sistema apresenta um controle de curto período, controlado pela sazonalidade climática. O segundo representa controle de longo e médio prazos e é controlado pela eficiência e qualidade dos aqüíferos.
    A distribuição temporal das chuvas é um fator cíclico e, como o período de recessão das chuvas se dá de forma simultânea em toda a área da bacia, um período de alguns anos de baixa média pluviométrica é suficiente para causar escassez e déficit hídrico intensivos. O declínio das chuvas em anos recentes resultou em grande exaustão nos níveis dos reservatórios das hidrelétricas que operam no Rio São Francisco e mostrou o risco efetivo da escassez do recurso que se pretende desviar.
    A avaliação da geologia, do relevo e dos solos da bacia indica que o principal manancial responsável pela regularização das vazões do rio no período seco do ano é o Sistema Aqüífero Urucuia, cuja descarga de base representa quase metade da vazão do rio São Francisco a partir de rios como o Rio Grande, Corrente, Gatos, Formoso e outros. Eles tendem a ter vazões regulares mesmo nos períodos secos do ano ou em períodos de alguns anos com baixa precipitação média. Esse fenômeno é relacionado à função reguladora do aqüífero, que funciona como um grande “pulmão hídrico” para a bacia do São Francisco.
    Entretanto, mesmo com o mínimo conhecimento sobre esse importante reservatório subterrâneo, sua exploração já começa a comprometer o regime hídrico das bacias que alimentam o rio São Francisco. A atividade agrícola intensificada nos últimos 15 anos utiliza em grandes volumes águas dos rios e do aqüífero para irrigação com uso de pivôs centrais. Grande parte do chapadão do oeste da Bahia já está ocupada pela cultura de grãos de sequeiro e pelo cultivo de frutas e café irrigados. Com a natural ampliação desse quadro, as vazões dos principais rios da região e conseqüentemente a regularidade das vazões do São Francisco no período seco do ano deverão sofrer diminuições significativas nos próximos 10 ou 20 anos.
    Antes de se pensar em investir recursos nas obras de transposição do rio, seria fundamental aplicar recursos para o efetivo conhecimento do Sistema Aqüífero Urucuia e para o controle de sua exploração.
    Outro argumento comumente utilizado pelos favoráveis ao projeto é a produção potencial de alimentos nas terras férteis situadas ao longo dos canais de derivação. O argumento seria válido e aceitável se todos os solos potencialmente agricultáveis situados desde Sobradinho até a foz do rio já estivessem integralmente aproveitados. Na prática, a ampla maioria das terras com potencial agrícola não está plantada e ainda existem projetos de irrigação abandonados, além de áreas utilizadas para reforma agrária onde os ocupantes não têm condição de produzir por falta de recursos para pagar o consumo de energia elétrica.
    É muito provável que, no futuro, a demanda de água para a ampliação da área irrigada ao longo do vale do rio seja um fator causador de grande conflito de usuários. Por outro lado, investimentos relativamente restritos poderiam elevar a produção agrícola irrigada de produtos de maior valor agregado – principalmente frutas, na área onde já existem condições de infra-estrutura mínima (estradas, aeroporto e logística) para escoamento da produção.
    Se questionado se sou a favor ou contra esse projeto responderia prontamente que ainda não tenho uma resposta definitiva. Mas, da mesma forma, responderia prontamente que esse não é o momento mais adequado para iniciar sua execução. Uma questão deve ser considerada na análise de viabilidade do projeto: o futuro da produção hídrica da bacia, cuja garantia passa necessariamente pela gestão adequada do Sistema Aqüífero Urucuia.


Artigo da UnB Notícias de 22/ 03/ 2005 : Os desafios da transposição - José Elói Guimarães Campos

(*) José Eloi Guimarães Campos é professor do Instituto de Geociências (IG) da Universidade de Brasília (UnB). Estuda a geologia da região oeste do Estado da Bahia há mais de 10 anos e atualmente orienta teses e dissertações na região com objetivo específico de ampliar o conhecimento sobre o Sistema Aqüífero Urucuia, além de mostrar a importância desse manancial para a Bacia do São Francisco como um todo.


Email circular a geocientistas do Brasil:

From: Manfredo Winge
To: mwinge@terra.com.br
Sent: Wednesday, March 23, 2005 9:55 AM
Subject: Transposição do Rio São Francisco
 
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Os desafios da transposição - José Elói Guimarães Campos
 

Manfredo Winge
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De: pedro angelo [mailto:pangelo@fafeid.edu.br]
Enviada em: quarta-feira, 23 de março de 2005 18:24
Para: Manfredo Winge
Assunto: Re: Transposição do Rio São Francisco

Cópia do anexo:

TRANSPOSIÇÃO  DE  CIDADANIA

Muito se tem falado e escrito sobre a transposição de águas do Rio São Francisco para atender a demanda de populações de estados do Nordeste brasileiro, especialmente aspectos técnicos, financeiros, ambientais e políticos.

É certo que, rigorosamente, uma grande parte (talvez a maior parte) da população brasileira não conheça a realidade do sertão nordestino, onde vivem milhões de brasileiros à mercê de um regime pluviométrico naturalmente irregular e de uma política nacional historicamente perversa.

Qualquer análise profunda dos aspectos técnicos, financeiros e ambientais envolvidos nessa questão serão motivo de polêmicas, ressaltando, sempre, embasamento que evidencia pontos positivos e negativos. A análise política, no entanto, não é passível de disputa quando temos de considerar o sentido de nação, de nacionalidade e, sobretudo, de cidadania.

Ora, desde a chegada dos portugueses ao Brasil que o clima do nordeste brasileiro é semi-árido (na realidade o clima é semi-árido desde o fim da última era glacial, i. e., há cerca de 8 mil anos) e assim fica implícito que a região sempre sofreu de deficiência hídrica.

Tratando a questão da água sob o ponto de vista social e de economia global, não podemos esquecer que se trata de um recurso natural indispensável à vida humana e sua escassez compromete a vida sócio-econômica dos indivíduos. O maior desafio da civilização no Século XXI será a gestão das águas e sua relação com a produção de alimentos. As águas subterrâneas da China, Índia e Estados Unidos estão diminuindo substancialmente (até 1,5 metros/ano) e estes países juntos produzem metade dos alimentos consumidos no mundo.

Projeções realistas estimam que a carência de água que atingiu 467 milhões de habitantes no mundo em 1995 alcançará mais de 3 bilhões em 2025, considerando o déficit anual de 160 bilhões de toneladas entre a água bombeada e a recarga natural dos aqüíferos e isto representará, segundo estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de um terço dos países do mundo com escassez permanente de água, com perspectivas, inclusive, de que metade dos conflitos gerados até o fim do século sejam para a obtenção de água.

Neste contexto, analistas políticos e econômicos vislumbram que a competição por água terá como palco o mercado internacional de grãos e de outros alimentos, quando os países financeiramente mais fortes não serão aqueles com maior poderio militar e sim os que detiverem uma grande produção de grãos e para isto precisarão dispor de água para essa produção.

O Brasil detém quase 20% de toda a água doce do planeta quando incluído os mananciais subterrâneos. Considerando apenas a água doce superficial da Terra, 8% encontra-se em território brasileiro, sendo que a maior parte (cerca de 80%) está localizada na região da Bacia Amazônica. Os 20% restantes estão distribuídos desigualmente pelo país, atendendo a 95% da população.

A deficiência hídrica do nordeste brasileiro não recai apenas na adversidade determinada pelo seu clima semi-árido, que é marcado por períodos sazonais e ciclos anuais episódicos de baixíssimas taxas pluviométricas, mas também nas características das rochas predominantes na região, ou seja, rochas cristalinas que inibem ou dificultam a acumulação de águas subterrâneas.

Esse quadro determina uma rede de drenagem dominada amplamente por fluxos intermitentes e de vazões relacionadas exclusivamente às taxas pluviométricas. Portanto, pode-se visualizar como solução definitiva para essa deficiência hídrica o represamento de águas superficiais ou a transposição de águas de rios caudalosos que fluem à margem da região para bacias hidrográficas do território nordestino.

O represamento de águas superficiais implicaria na necessidade de construção de muitas centenas de reservatórios de médio e grande porte, que, a despeito dos faraônicos investimentos de recursos, provocaria impactos ambientais inimagináveis. Ademais, determinaria a inundação de grandes parcelas de terras nobres, ou seja, agricultáveis e habitadas, e provocaria a remoção de centenas de milhares de cidadãos de suas propriedades e cidades.

A transposição de águas de outras bacias hidrográficas tem também seu preço pecuniário e ambiental, mas no conjunto, um e outro, será efetivamente menor do que naquele caso.

Não se trata de nenhum apelo emotivo afirmar que o grave problema da superpopulação de favelas (e suas nefastas conseqüências) nos grandes centros urbanos é decorrência, em grande parte, do êxodo de nordestinos que fugiram e fogem da seca e de toda ordem de precariedades impostas àquela região. Não se trata também de nenhum exagero afirmar que os investimentos financeiros paliativos efetuados nos momentos críticos de seca ao longo dos últimos dois séculos seriam suficientes para resolver, definitivamente, de uma forma ou de outra, a problemática da deficiência hídrica da região.

Naturalmente que a transposição de águas, em si, não promoverá a redenção da população do sertão, ora escravizada por precariedades que brotam do analfabetismo e se fortalecem nas condições sanitárias e de outras deficiências de infra-estrutura como transporte e moradia e sem mencionar o lazer que é fabricado apenas com o repente da viola e com os gracejos que têm como fundo hilariante a sua própria sorte.

A perenização de bacias hidrográficas do nordeste brasileiro implicará em investimentos ainda maiores para o suporte de agricultura irrigada (familiar ou não), de projetos de aquicultura (para peixes, camarão, etc.), e de tantos outros projetos possíveis, incluindo fontes de geração de energia através de biodiesel e álcool.

Resolvida a deficiência hídrica, o nordeste brasileiro tornar-se-á uma região de certa forma privilegiada e estratégica para o Brasil, considerando a quantidade e qualidade das terras agricultáveis e sem restrições de foto-período, a disponibilidade de mão de obra e a maior proximidade dos grandes centros consumidores do hemisfério norte. Além de tudo isso, pode-se considerar como o mais importante, o direito inalienável do sertanejo se fixar no seu próprio território.

O Brasil sempre foi muitos brasis e ultimamente esse conceito parece descambar para o egoísmo regional arrefecendo o conceito de nação e o exemplo não está apenas na “guerra” deflagrada com subsídios para atrair indústrias. Fala-se em royalties pelo uso de águas que “já moveram moinhos” e flui a milhares de quilômetros a jusante. Mais hoje mais amanhã, falar-se-á nos royalties da “dádiva de São Pedro”, desde que as frentes frias que nos trazem chuva vêm com freqüência da Argentina, teríamos de pagar por isso ao governo portenho.

A transposição de águas para o nordeste brasileiro é uma necessidade inadiável e sendo as do São Francisco inapropriadas por razões econômicas ou de outra ordem, que se transponha águas do Tocantins ou de outro rio, a despeito dos custos financeiros e ambientais ainda maiores. Nesses mais de 180 anos de Brasil, outras regiões brasileiras capitalizaram a grande maioria dos investimentos do país, seja em infra-estrutura, seja em aspectos sociais e sócio-econômicos e por esta razão, não podemos mais agir com tamanho egoísmo.

A transposição de águas para o nordeste brasileiro é, sobretudo, a transposição de uma cidadania que tem sido muito mais destes do que daqueles. Do contrário, os nordestinos terão que devotar Calabar, afinal ele lutou para que territórios nordestinos continuassem sob a tutela dos holandeses. Em um extremo, se realmente o nordeste não interessa ao povo brasileiro, poderíamos vendê-lo ou doá-lo para outra nação, acompanhado de um sonoro pedido de desculpas aos nordestinos e aos holandeses.

Pedro Angelo Almeida Abreu

Professor Titular da Faculdade de Ciências Agrárias/FAFEID

Doutor em Ciências Naturais pela Universidade de Freiburg - Alemanha


De: Manfredo Winge [mailto:mwinge@terra.com.br]
Enviada em: sexta-feira, 25 de março de 2005 19:38
Para: Pedro Angelo Almeida Abreu (pangelo@fafeid.edu.br)
Assunto: Réplica - ENC: Transposição do Rio São Francisco

Prezado Pedro Ângelo,

sou obrigado a discordar do colega e apoiar o ponto de vista do Prof. Elói que recomenda cautela e mais estudos, hidrológicos, hidrogeológicos e outros, antes de se partir para um investimento de tal monta e que pode vir a ter resultados pífios e até desastrosos face ao que se espera dele. São U$ 4 bilhões ??  - http://nordesteunido.vilabol.uol.com.br/chicao4.htm - para a implantação e mais quanto para a manutenção anual?

Não tenho detalhes do projeto, mas do que li depreendo que a transposição se dará, obviamente, em épocas de seca, épocas em que o Rio S. Francisco apresenta as menores vazões e com valores, eventualmente, no limiar de segurança para os sistemas hidrelétricos e de irrigação já implantados e programados.

A exploração intensiva e progressiva, direta (poços de captação) e indireta (nascentes), de aquíferos como o Urucuia, questão aventada pelo colega Elói, e que são os fornecedores de água essenciais da época de seca, compromete mais ainda este quadro de desvio de águas do Velho Chico durante o período de Sêca. 

Outra coisa:  a água deverá ser bombeada para atravessar como um (ou dois?) canal a vasta região árida ao norte do rio que tem cerca de 750.000 km2. Quanto desta área será beneficiada com a água da transposição que somente poderá escorrer via um canal estreito, lembrando tambem que toda a região Nordeste tem mais de 1.500.000 km2? A propaganda de que a rede de drenagem será perenizada na região é inconcebível pois a água não poderá SUBIR os múltiplos afluentes a partir desse canal artificial; nem teríamos água para tanto, alem de que, distribuida em pequenas quantidades para abastecer múltiplas nascentes, teria uma taxa de evaporação fantástica o que propiciaria grande perda de água e a salinização dos aluviões, esterilizando-os. Certamente que teremos, tambem, uma supervalorização local de terras e da água por onde passa o canal e que, assim, somente poderão ser compradas/destinadas para sistemas de alta produção localizados e dirigidos para monoculturas de alta rentabilidade por empresas globalizadas, ficando o resto do sertão com a sede de sempre.

Trabalhei por vários anos em mapeamento geológico regional do Nordeste (nos bons tempos do início da SUDENE) e sei a falta que a água faz na área da caatinga durante os períodos de estiagem prolongada. Compartilho de sua angústia com a questão social ("Transposição da Cidadania") e concordo que devemos ter projetos que minorem o sofrimento do sertanejo, mas que estes programas sejam  realistas,  não tenham os ranços de politicagem de marqueteiros e aproveitadores como se vê tanto neste País, e que busquem melhorar as condições sociais e de trabalho do povo sofrido, transformando a região como um todo e não localizadamente. 

Será que com menos recursos não se poderão tocar pequenos e bem idealizados projetos mas com milhares de frentes, auto financiáveis na medida do possível, como: a construção de cisternas (caseiras, públicas e industriais) com captação da água da chuva; a construção de pequenas represas (bem construídas e em pontos bem selecionados social e economicamente), e de barragens subterrâneas segurando o manancial hidrogeológico nos aluviões; a execução de poços artesianos em falhas/fraturas do cristalino e, principalmente, nos espetaculares aquiferos do Urucuia, da Bacia do Piauí-Maranhão e tantas outras áreas menores hidrogeologicamente já definidas ou a definir? Isto sem falar em vários outros projetos associados a esses e que vão ao encontro das afinidades regionais como: implantação de polos de ensino e desenvolvimento de lapidação de gemas de pegmatitos e outras; a identificação e aproveitamento intensivo das manchas de terras e aluviões férteis onde mais de uma safra por ano com alta produtividade podem vir a ocorrer abaixo de pequenas barragens, gerando polos produtivos agroindustriais espalhados por todo o Nordeste; e acompanhando esse crescimento, a instalação (sem dinheiro público de preferência) de sistemas de aproveitamento da energia solar e dos ventos, de mini-usinas de biogás e adubo orgânico associado,.....

Megaprojetos como esse da transposição, com altos custos e questões básicas pendentes, que, muitas vezes, começam em uma administração e não são nem finalizados nas próximas (nossa "p"olítica), devem ser bem amadurecidos, científica, técnica, economica e socialmente, alem de serem bem avaliados face a outras alternativas de menor agressão ambiental e de maior envolvimento social e areal. Se concluído que são bons, devem ser divulgados adequadamente com prós e contras para receber o aval do povo (sem marketing da mídia das empresas consultoras e construtoras !!, e com a situação e a oposição políticas traduzindo esse aval em compromisso de execução em orçamento plurianual), para poderem ser deslanchados com segurança de irem até o fim e trazerem os resultados esperados.

Para tudo isto urge tambem que o(s) govêrnos façam seu dever de casa e GOVERNEM, gastando adequadamente os recursos de nossos impostos (hoje esterilizados para pagar a ciranda financeira mundial) em questões primordiais como educação, saúde e saneamento básico, segurança, levantamentos básicos do País (geologia, pedologia, hidrogeologia, hidrologia, vegetação, fauna, apropriação do solo, infraestrutura..) que são indispensáveis a qualquer tomada de decisão e desenvolvimento de projetos sérios.

Acho que precisamos mais conhecimentos básicos e estudos criteriosos antes de investirmos na transposição do São Francisco. Fazendo analogia com o falecido projeto da Transamazônica: esta decisão não pode ser somente de cunho político; ela deve estar lastreada em bases científicas.

Saudações

Manfredo

c/co colegas geocientistas


De: Acsfernandes@aol.com [mailto:Acsfernandes@aol.com]
Enviada em: sábado, 26 de março de 2005 08:41
Para: mwinge@terra.com.br
Assunto: Re: Réplica - ENC: Transposição do Rio São Francisco

Prezado Manfredo,

quero parabenizá-lo pela excelente esposição sobre as dificuldades e as verdadeiras medidas que certamente teriam que ser tomadas quanto à esse "projeto" de transposição do São Francisco. Politicagem e idéias sonhadoras certamente não resolverão a situação do Nordeste, sem um estudo sério de suas conseqüências por geocientistas. Não devemos esquecer, e sim tomarmos como exemplo, o ocorrido com o mar Aral em decorrência dos processos de retirada das águas de seus afluentes para a irrigação indiscriminada pelo antigo governo soviético. Suas conseqüências são hoje bem evidentes.
Um grande abraço,
Antonio Carlos S. Fernandes


De: Eloi Campos [mailto:eloi@unb.br]
Enviada em: domingo, 27 de março de 2005 13:09
Para: Manfredo Winge
Assunto: Re: Página

Caro Manfredo,

Veja o anexo  .. . Acho que é um ponto de vista que deve levantar a poeira para que outras pessoas opinem.
 
Cópia do anexo: 

ALGUMAS FORMAS DE SE AMPLIAR A OFERTA D’ÁGUA NO SEMI-ÁRIDO

 

Um dos principais argumentos considerado pelos defensores do projeto de transposição é a ampliação da disponibilidade de água para consumo humano ao longo dos principais trechos dos canais de derivação e dos eventuais sub-canais. Nesse caso, deve-se considerar que o aumento da oferta hídrica na região do semi-árido pode ser alcançado com investimento em tecnologia e desenvolvimento de pesquisa com objetivo de soluções locais as quais são, via de regra, mais eficientes e baratas que as soluções de grande porte e integradas.

Dentre as técnicas que podem ser consideradas com o objetivo de maximizar a disponibilidade de água destacam-se: implantação de cisternas, construção de poços tubulares, uso de dessalinizadores, implementação de processos para recarga artificial dos aqüíferos, construção de reservatórios superficiais, construção de barragens subterrâneas, etc. As soluções locais de gestão dos recursos hídricos são responsáveis pela fixação de populações em regiões com índices pluviométricos tão reduzidos quanto os observados na região do nordeste do Brasil como é o caso do Chaco Paraguaio, de certas regiões da África, do extremo sul da Península Ibérica, entre outras.

Para a implementação das técnicas anteriormente enumeradas alguns preceitos devem ser considerados:

- dimensionamento adequado das cisternas de forma a se construir um reservatório impermeável com capacidade de armazenar água de chuva para consumo no período médio da época das secas.

- os poços tubulares devem ser localizados em zonas potencialmente produtoras e sua locação deve ser precedida de estudos técnicos, de forma a se alcançar as máximas vazões.

- a implantação de dessalinizadores deve representar um processo integrado com previsão de recursos para substituição das membranas filtrantes e com sistema adequado para disposição final do sal acumulado (implantação de indústrias para processamento do sal produzido).

- os projetos de recarga artificial dos aqüíferos devem considerar o excedente das águas de precipitação nos restritos períodos de superávit. A natureza da maioria dos aqüíferos do semi-árido dificulta a implantação dessa técnica, assim é necessário investimento em pesquisa básica para sua viabilização.

- os açudes eventualmente construídos devem ser eficientes, no sentido de manter um balanço hídrico positivo, ou seja, açudes com a máxima profundidade e mínima área, de forma que as perdas por evaporação direta sejam reduzidas e não ocorram problemas de salinização ou demasiada depleção dos níveis em épocas secas prolongadas.

- as barragens subterrâneas têm se mostrado como importante forma de reservação de águas e de gestão dos recursos hídricos nas regiões onde ocorrem rios de aluvião. Esse tipo de técnica apresenta um balanço custo-benefício bastante favorável.

OUTRO PONTO DE VISTA PARA ALIMENTAR O DEBATE

A questão da transposição também deve ser analisada do ponto de vista econômico. Será que um país que não tem infra-estrutura básica:

-         de estradas, as quais se encontram extremamente depreciadas,

-         de portos obsoletos (que atrasam e inviabilizam a ampliação das exportações),

-         falta de saneamento na maioria das cidades,

-         falta de pontes (o próprio Rio São Francisco tem várias travessias importantes feitas por balsas precárias – na bacia do Tocantins-Araguaia esse fato é ainda mais comum), etc,

pode pensar em dispor de recursos financeiros tão elevados para um projeto que gera tanta controvérsia e apresenta resultados duvidosos?

Parece aquele exemplo do morador da favela que não consegue pagar as contas do mês mas tem um carro zero na frente de sua modesta casa! É uma questão de prioridade. Se os problemas nacionais já estivessem solucionados tenho certeza que não existiria tanta pressão contrária ao projeto de transposição.


De: Patrocinio Tomaz [mailto:patrociniotomaz@uol.com.br]
Enviada em: terça-feira, 29 de março de 2005 17:31
Para: mwinge@terra.com.br
Assunto: Transposição do São Francisco

Prezado Manfredo

Tenho me colocado contra este projeto (e os que lhe deram origem) de transposição por razões de órdens hidrológica, hidrogeológica, hidráulica, socioeconômica e de gestão de bacias hidrográficas. Encaminho, em anexo, trecho de um relatório que fiz sobre seca e transposição para a Assembléia Legislativa do Estado em 1998, tendo atualizado alguns números, bem como uma mensagem (transcrita abaixo) de participação em debate sobre o tema, no site da ABRH-Gestão. Esperando que o ilustre colega tenha sido atendido em sua solicitação por e-mail, subscrevo-me,
Atenciosamente,
Patrocínio

 

A mensagem:

Prezado Sérgio e demais participantes da Lista ABRH-Gestão.
O outro lado a que me referi é dos que defendem, incondicionalmente, sem base em argumentos técnicos, a transposição, achando que os que divulgam opiniões contrárias estão abusando de suas preciosas paciências. Você, realmente, me conhece e sabe que as minhas posições, sobre este e sobre qualquer outro problema de recursos hídricos, são, eminentemente téecnicas.
Não são opiniões pessoais desprovidas de embasamento técnico e científico. Sabemos que este projeto de transposição não resolve o problema de abastecimento hídrico do meio rural que tem duas vertentes: o abastecimento da população humana e e o suprimento hídrico das produção agrícola de subsistência. Isto é inconteste.
Porisso e por outras tantas razões (que podem ser conhecidas em trabalhos, discussões, mesas redondas etc.), me posiciono contra este projeto. Ele não é a favor do homem, do micro ou do pequeno produtor rural. Não, não há, embutido ou explicitado, qualquer projeto de valorização da estação úmida do semi-árido, quando todos plantam e a grande maioria perde. E é este o grande problema do semi-árido nordestino, não o abastecimento de cidades e distritos da região. Para isto, as bacias e, mesmo, os reservatórios com capacidade de regularização, têm disponibilidade. O que se pretende fazer (isto é gestão) com as águas do São Francisco, poderia ser feito com as águas endógenas. Com sobras. As bacias do Jaguaribe, Piranhas-Açu e, até, a bacia do Alto Paraíba têm reservatórios com esta condição. Se vão ou pretendem fazer com as águas do Velho Chico, porque não o fazem com os recursos hídricos locais? O tempo de resposta destas ações de gestão é o mesmo, ou menor, que a gestão resultante da implantação deste projeto de transposição do São Francisco.
E tenho sim, alternativa concreta e consistente para este problema da região semi-árida do Nordeste. Ele consta de vários trabalhos meus, inclusive, do relatório que elaborei (e foi publicado) para a Assembléia Legislativa do Estado da Paraíba. Com base no Plano de Aproveitamento Integrado dos Recursos Hídricos do Nordeste-PLIRHINE- (SUDENE, 1980), no Projeto ÁRIDAS (SEPLAN, 1994), Planos Estaduais de Recursos Hídricos dos governos de Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba e em vários planos diretores de bacias, verifica-se que as as bacias que estão ou estarão em estado de exaustão são as ituadas na região costeira do Nordeste. Aí estarão as grandes demandas para abastecimento urbano e irrigação (estamos entrando em um novo ciclo da cana-de-açucar, inevitável com o fim dos combustíveis fósseis) de culturas diversas (além da cana-de-açucar, temos fruticulturas diversas e o bambu como fonte de celulose). E de onde virão os recursos hídricos? A minha alternativa é um projeto de adução das águas do São Francisco, após Xingó, que conduziria a água para atender as demandas projetadas das grandes metrópoles nordestinas (desde Aracaju até Fortaleza, passando por Maceió, Recife, João Pessoa e Natal, com seus municípios vizinhos, atendendendo, também, cidades mais interioranas como Campina Grande, Caruaru, Mossoró e Crateús, entre outras). Isto, liberaria os recursos hídricos das bacias situadas no semi-árido para serem aproveitados no próprio domínio do polígono das secas. Seja para pabastecimento humano, seja para outros usos, inclusive, irrigação, desde que dentro de modelos e critérios bem resolvidos. No projeto atual de transposição, o semi-arido é exportador de água para regiões menos semi-áridas e, mesmo, úmidas. É o caso de Fortaleza, abastecida pelo açude Orós via canal do trabalhador. É o caso de Campina Grande, situada no médio Paraíba (menos árido e comdisponibilidade suficiente para, pelo menos complementar a demanda de Campina Grande via reservatório de Acauã, com quase 2 m³/s de capacidade de regularização plurianual) e que tem seu sistema de abastecimento realizado a partir da bacia do Alto Paraíba, a bacia mais semi-árida do Nordeste (mesmo assim, ha disponibilidade suficiente para ga rantir este suprimento, já que o racionamento que enfrentou resultou, justamente da falta de gestão). Seria o caso de Recife e de outras metrópoles. Liberaríamos, portanto, Orós, Epitácio Pessoa, Armando Ribeiro Gonçãlves para atender as demandas atuais e futuras (a perder de vista) do semi-árido daquelas bacias onde estes reservatórios ( e muitos outros) se inserem. Tenho, portanto, alternativa a este projeto de transposição. Que se complementa com programas e projetos de aproveitamento de pequenos açudes. de aquíferos aluviais (poços e barragens subterrâneas), etc., etc. Aliás, a sua secretaria tem trabalhado neste sentido dos projetos e programas complementares. E como o projeto de transposição em apreço nada disso alcança, mas utiliza estes argumentos, eu reafirmo, são argumentos falaciosos. E quem viver verá que, com este projeto, os problemas de seca com suas conseqüências continuarão. Um abraço respeitoso do seu colega e amigo.

 

Patrocínio.

Em tempo: não sou xiita nestes assunto de desenvolvimento com base em recursos hídricos. Sou favorável à construção de reservatório para geração de energia (qual a alternativa com a mesma escala? se tiverem, porque não substituem a geração hidrelétrica e liberam, não 26 m³/s, mas uma parcela muito maior da vazão regularizada por Sobradinho).

 

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A TRANSPOSIÇÃO DE ÁGUAS DO SÃO FRANCISCO.

Por: José do Patrocínio Tomaz Albuquerque

         Geólogo com Mestrado em Engª Civil, Área de Recursos Hídricos.

Generalidades.

Para que se possa elaborar um projeto de transposição, duas condições básicas devem ser satisfeitas, conforme preceitos de economia dos recursos hídricos, e que são: a exaustão total do potencial da bacia receptora e a existência de excedente hídrico na bacia cedente, entendido o excedente como o saldo de recursos hídricos que esta bacia apresente em horizonte de tempo suficientemente longo, de modo a não provocar prejuízo ao seu desenvolvimento.

            A primeira condição não é satisfeita por nenhuma das bacias hidrográficas nordestinas, pretensamente receptoras, as quais apresentam, todas, superávit de disponibilidades de recursos hídricos em relação às demandas atuais e futuras de cada bacia, a unidade de avaliação, planejamento e gestão natural de recursos hídricos. O problema de atendimento de demandas está ligado a novas ativações do potencial, onde eles não estão totalmente ativados (caso das bacias do médio e baixo Paraíba, por exemplo) ou ao gerenciamento correto do potencial e das disponibilidades atuais, existentes em reservatórios superficiais, em poços tubulares ou outras estruturas de captação já construídas. A raiz do problema de desabastecimento é a inexistência de uma gestão integrada, racional e harmoniosa dos recursos hídricos, superficiais e subterrâneos de cada bacia hidrográfica que contemple as características naturais ou ambientais das mesmas, a tipologia adequada das demandas e os atributos sócio-culturais de sua população.

Para o caso das bacias pretensamente receptoras do Nordeste, o confronto entre disponibilidades, atuais e máximas, e demandas das populações humanas, urbana e rural, da pecuária, da indústria (inclusive, agroindústria), aqüicultura e irrigação, a situação é a seguinte:

 

Bacia

Pot. Total*

Disp. Máxima*

Disp. Atual*

Demanda 2000*

Demanda 2020*

Jaguaribe

4.150

2.490

2.080

1.200

1.392

Apodí

820

492

218

180

223

Piranhas-Açu

2.380

1.428

1.428

554

650

Oriental Paraíba**

2.897

1.714

364

531

649

 Fonte: Projeto ÁRIDAS (Relatório Consolidado), SEPLAN, Brasília, 1994.

*Em milhões de m³/ano.

]** Inclui as bacias hidrográficas dos rios Paraíba, Mamanguape, Gramame e demais unidades hidrográficas costeiras do Estado.

            Como se pode verificar, todas as bacias beneficiárias têm superávit até, pelo menos, o ano 2020, mesmo com a implantação de projetos de irrigação dentro do modelo atualmente adotado (55.624 há na bacia do Jaguaribe, 7.209 há no Apodi, 22.538 na bacia do Piranhas-Açu e 13.457 há na bacia Oriental da Paraíba).

Este modelo de irrigação é consumista, concentrador e perdulário dos recursos hídricos em qualquer bacia hidrográfica nordestina. Por isto e por sua incompatibilidade com os parâmetros físicos, hidrológicos, ambientais e sócio-culturais da região e de seu povo, discordo de sua implantação. Defendo um outro modelo que contemple métodos de maior eficiência hídrica, período e cultivos compatíveis com as características físicas e hidroclimáticas do semi-árido e com os atributos educacionais e culturais de seu povo.

            A segunda condição, de existência de excedente hídrico, precisa ser analisada em relação à possível bacia cedente, a do rio São Francisco.

A transposição das águas do rio São Francisco.

Duas são as alternativas de tomada d’água nesta bacia: aquela situada no trecho entre as barragens de Sobradinho (jusante) e Xingó (montante), com seus projetos alternativos de Cabrobó e de Itaparica, e aquela localizada à jusante do reservatório de Xingó.

·        Alternativa Sobradinho-Xingó.

Nesta alternativa, o obstáculo à transposição reside na geração de energia que é produzida pelo sistema de barragens existente neste trecho. Sobradinho, Orocó, Ibó, Itaparica, complexo de Paulo Afonso e Xingó foram construídas para assegurar uma vazão regularizada de 2.060 m3/s ao longo de toda a extensão do trecho, com garantia de 95%. Isto significa dizer que esta vazão pode não ocorrer com 100% de freqüência, prevendo-se falha na geração de energia em 5% dos meses. Esta vazão de regularização é dada pelo produto da energia potencial (função da queda d’água) com a vazão regularizada.

A energia firme produzida por cada usina hidrelétrica no trecho Sobradinho-Xingó, conforme a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (CHESF), está exposta no Quadro 8, a seguir:

Quadro 8 -  Energia Firme Produzida pela CHESf

Usina

Energia Potencial x Vazão (em m3/s)

Energia Firme Produzida (MW)

Sobradinho

0,216 x 2.060

   445

Itaparica

0,455 x 2.060

   938

Complexo Paulo Afonso

1,010 x 2.060

2.080

Xingó

1,050 x 2.060

2.163

Total

2,731 x 2.060

5.628

Fonte: CHESF- A CHESF e o Uso Múltiplo das Águas do São Francisco, II Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste, Fortaleza-CE, 1994. 

  Conforme pode-se verificar deste quadro, a redução da vazão resultará em uma diminuição da produção de energia. Para cada 1 m3/s retirado em qualquer ponto deste trecho (há uma reação em cadeia) deixarão de ser produzidos 2,731 MW de energia. Esta é a chamada “produtividade de geração de energia” do rio São Francisco no trecho considerado. Um projeto qualquer que retire 50, 60, 100 m3/s acarretará uma redução de 50, 60, 100 vezes 2,731 MW de energia firme. No projeto com tomada d’água em Cabrobó, onde se previa a transposição de 60 m3/s, deixariam de ser gerados exatos 163, 68 MW de energia. Considerando que para recalcar a diferença de cota de cerca de 160m, cada 1m3/s consumiria 1,6 MW (dados da CHESF), ter-se-ia, para os 60 m3/s, um gasto adicional de 96 MW, totalizando um consumo de 259,68 MW. Como a oferta de energia estará totalmente comprometida até o ano de 2002, esta energia teria que ser compensada por uma outra fonte de geração de energia elétrica tal como: térmica, eólica, solar, atômica, etc., cujos custos (US$ 45,00, na alternativa mais barata) são 2,5 a 3 vezes superiores ao custo médio da energia hidrelétrica, da ordem de US$ 17,10 o MW/hora. Este preço teria que ser subsidiado pelo poder público ou ser repassado aos consumidores, o que inviabilizaria, por exemplo, a instalação ou, até a manutenção do atual parque industrial, já que perderia condições de concorrência com produtos congêneres de outras regiões. Isto, sem levar em consideração outros fatores negativos de algumas dessas fontes alternativas de energia como, por exemplo, vida útil menor, poluição do meio ambiente, etc.

Além de prejudicar a geração de energia, a retirada de água neste trecho já é objeto de um conflito de uso dentro da própria bacia hidrográfica do São Francisco que dispõe de cerca de 1.300.000 hectares de terras irrigáveis de classes 1 e 2 (quase sem restrições à irrigação), dos quais 770.000 hectares já projetados, esperando, portanto, por água. Por isso, a Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (CODEVASF) e a CHESF pleiteiam a importação das águas e da energia do rio Tocantins, de vez que o potencial e as disponibilidades de recursos hídricos estão totalmente comprometidos com os abastecimentos humanos (urbano e rural), do gado, industrial, irrigação, geração de energia, navegação e lazer. Argumentos como o do Professor Caio Lóssio Botelho de que a Lagoa do Varadão, localizada sobre uma falha geológica tem sua vazão de 110 m3/s drenada para o São Francisco, o que compensaria a transposição de 70 m3/s, não encontra guarida nas ciências hidrológica e geológica. Na ciência hidrológica porque estas contribuições já participam do potencial hídrico da bacia do São Francisco, avaliado por uma série de dados fluviométricos de, pelo menos, 60 anos. Ora, esta contribuição não se efetivou depois dessa avaliação. Ao contrário, ela se verifica desde o estabelecimento da bacia hidrográfica, ocorrida a partir do período Terciário que terminou há 2,6 milhões de anos atrás. A partir daí e até os dias atuais a Terra vive o período Quaternário. A falha geológica que viabilizaria a drenagem, por sua posição sob a lagoa, deve, logicamente, ter se originado antes da lagoa, talvez no período Cretáceo ou, mesmo, no fim do Terciário, que é o período das falhas geológicas mais recentes.

Verifica-se, portanto, que não existe excedente de hídrico na bacia do São Francisco no trecho considerado e que a transposição de suas águas somente sairá por uma decisão política e para abastecimento humano, única justificativa legal para a tomada desta decisão, por sua prioridade consagrada na Lei N.º  9.433 de 08/01/97 que instituiu a Política Nacional de Recursos Hídricos. Mesmo aí, fica difícil fazer essa opção, de vez que as demandas hídricas do Estado, excluindo irrigação, previstas para o ano de 2020, representam, apenas, 36,15% de suas disponibilidades máximas e 76,16% de suas disponibilidades atuais, o que significa que não se necessita construir novos reservatórios, mas, apenas, novas adutoras, a partir de açudes existentes, desde que tenham capacidade regularização pluri-anual (vazão regularizada com 100% de garantia, qualquer que seja o evento hidrometeorológico vindouro). E estes reservatórios existem, às dezenas, sem o devido aproveitamento, em todas as bacias pretensamente receptoras.

·        A alternativa de tomada d’água a jusante de Xingó.

Nesta alternativa não existe qualquer obstáculo energético à transposição, de vez que não há mais moinhos geradores de energia entre Xingó e o Oceano Atlântico. Por outro lado a vazão regularizada do rio (2.060 m³/s) é acrescida da contribuição da drenagem de jusante (110 m³/s), de modo que, no baixo curso, a vazão do rio São Francisco passa a ser de cerca de 2.170 m3/s (a vazão média do rio neste curso, antes das intervenções de montante, atingia os 3.000 m3/s). Retira-se do baixo São Francisco 13,821 m³/s para atendimento das diversas demandas atuais (2003), inclusive, irrigação. A demanda futura, para o ano de 2020, nesta parte da bacia do São Francisco, mesmo irrigando toda a área apta a esta atividade, ascenderia a cerca de 100 m³/s. As demandas ecológicas naturais, dadas pela média das vazões mínimas, de origem, predominantemente subterrânea são dadas por esta descarga ocorrente no baixo curso (cerca de 30 m³/s) mais a contribuição deste fluxo natural, proveniente de montante, algo como 1.280 m³/s. Esta demanda não crece nos horizontes de tempo vindouros, por razões óbvias. A demanda total para 2020 ascende a 1.310 m³/s. Haverá, portanto um excedente hídrico, mesmo após 2020, de cerca de 870 m³/s, neste trecho, do qual uma pequena parcela (200 m3/s, por exemplo) poderia ser aduzida para abastecimento da população urbana das grandes metrópoles situadas no litoral do Nordeste (Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa, Natal e Fortaleza) e, até de cidades do interior como Campina Grande-PB, Caruaru-PE, Mossoró-RN e Crateús-CE que, provavelmente, não poderão ser totalmente supridas, após 2020, com os recursos hídricos de suas próprias bacias hidrográficas, necessitando importar água. A demanda urbana de todas as cidades dos estados da Bahia, Sergipe, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, prevista para o ano 2020 é de, aproximadamente, 141,22 m3/s e a dos distritos industriais a elas agregados, 35,31 m3/s, perfazendo um total de 176,53 m3/s (Projeto ÁRIDAS, idem). O suprimento destas demandas por águas do São Francisco transpostas do trecho em apreço permitiria liberar as disponibilidades de recursos hídricos dos reservatórios atualmente existentes e os que venham a ser acumulados em reservatórios situados na região semi-árida destes Estados para solucionar os seus problemas de abastecimento. No caso da Paraíba, seria derivada uma vazão que atenderia, pelo menos, as demandas da Grande João Pessoa e das cidades polarizadas por Campina Grande e de seus distritos industriais de, aproximadamente 10 m3/s (dados estimados a partir das demandas calculadas pelo “Plano e Gerenciamento Integrado dos Recursos Hídricos do Estado da Paraíba, GOV. ESTADO/SUPLAN – UFPB/ATECEL, 1994).

Para viabilizar esta adução, um projeto com tal finalidade deveria ser elaborado. Alguns elementos, no entanto, mostram a exeqüibilidade do mesmo, tanto em relação ao Nordeste como um todo, quanto em relação à Paraíba, em particular.

Relativamente ao Nordeste, teríamos uma ou várias tomadas d’água situada logo após Xingó, talvez em Pão de Açúcar, onde o nível do rio São Francisco está a cerca de 9 metros acima do nível do mar, podendo a água ser recalcada para cima dos tabuleiros vizinhos da formação Barreiras (que ocorrem desde o estado do Espírito Santo até o Maranhão, em cotas de cerca de 40 metros), seguindo uma trajetória paralela à costa em dois ramos, um no sentido norte para as cidades dos estados situados ao norte e outro, no sentido sul para abastecimento de Aracaju e Salvador. Todas estas cidades estão situadas em altitudes compatíveis com a altura manométrica do nível do rio à jusante de Xingó.

No caso da Paraíba, o maior problema seria transportar a vazão necessária para abastecer Campina Grande e cidades vizinhas. Mas, com a construção de Acauã, o caminho para esta transposição está delineado, havendo que percorrer o trecho situado entre João Pessoa (cota de mais ou menos 40 metros na parte situada sobre os tabuleiros da formação Barreiras) e a barragem de Acauã, de cota de operação situada em torno dos 135 metros. Há, portanto, que se vencer um desnível de cerca de 100 metros e uma distância, em linha reta, de cerca de 75 km, o que dá um aclive médio de 1m a cada 750m percorridos (0,133%, aproximadamente). De Acauã para a estação de tratamento de Gravatá, a adução far-se-ia segundo o projeto já elaborado, apenas redimensionado para a vazão importada, o que poderia ser feito por etapas, até o ano 2020.

O principal benefício desse ante-projeto seria liberar as disponibilidades dos açudes Epitácio Pessoa e Acauã e de outros reservatórios de médio e pequeno porte para atender, com segurança e em horizonte de tempo bastante longo, todas as demandas projetadas desta bacia, inclusive uma não considerada no projeto de transposição em apreço, que é a da correção da irregularidade pluviométrica instalada pela ocorrência dos chamados “veranicos”, o que viabilizaria (pelo menos em grande parcela da área plantada) a colheita de subsistência, realizada na estação chuvosa do semi-árido nordestino.  Também, libera as águas do sistema de reservatórios Gramame-Mamuaba para suprir todas as demandas das bacias do baixo curso do rio Paraíba e do rio Gramame, inclusive a irrigação de cana de açúcar para produção de álcool combustível (substituto da gasolina, pela exaustão futura, mas inexorável, do petróleo, da fruticultura irrigada, entre outros consumos.

Por outro lado, os entraves técnicos, econômicos e, até, políticos estariam superados, na medida em que não haveria prejuízos à geração de energia (que não teria que ser substituída), nem às outras demandas, aí incluídas, a irrigação e, provavelmente, a navegação, que disporia de uma vazão mínima de cerca de 1.850 m3/s para assegurar a navegabilidade do baixo curso do rio São Francisco.

Outra vantagem dessa alternativa é que os custos desse projeto seriam repartidos entre o governo federal e os governos dos 7 estados da federação envolvidos na referida obra, ao invés de, apenas, 3 ou 4.

Em termos de projeto de engenharia propriamente dito, este é mais simples que o anterior, de vez que se restringe, praticamente, à construção de um sistema de adução, onde as maiores obras seriam a construção de sifões, dispensando a execução de túneis, canais abertos, e grandes recalques de não menores vazões, o que favorece perdas de condução.

Uma falácia relacionada com o projeto anterior diz respeito, exatamente, às perdas de condução da vazão retirada do São Francisco que, no caso, seriam nulas. Não são. A vazão que chega é menor que a que sai, qualquer que seja o tipo de condução. Mas, as perdas são significativamente maiores em projetos com canais, túneis e grandes recalques, sendo bem menores quando a água é conduzida por tubos fechados, sob pressão. Os investimentos deste último processo são, provavelmente, maiores que os primeiros. Porém os custos finais, tomados em relação à vida do projeto são bastante menores, já que os gastos com a operação e a manutenção de adutoras são muito inferiores que o de canais, túneis etc.

            A abrangência da solução Transposição e a Seca.

  Tem-se apregoado aos 4 ventos que a transposição seria a solução definitiva  do problema da seca. Esta é uma afirmação equivocada e perigosa. Equivocada porque quem faz uma afirmação desta desconhece a verdadeira e grande dimensão do problema seca e o real alcance da importação de água. E perigosa porque, executada a transposição, esta obra poderia servir como argumento que desobrigaria o governo federal dos socorros emergenciais. A seca é um fenômeno temporal que atinge qualquer região do mundo, inclusive as de clima temperado. Mas, ela se manifesta de forma cruenta nas áreas de clima semi-árido. E, dentro destas, as que são extensivamente povoadas e ocupadas por agricultura de subsistência, como o Nordeste semi-árido. Para suprir as demandas populacionais humanas, urbana e rural, do gado e de indústrias, as vazões regularizadas por açudes resolveriam o problema com grandes folgas, mesmo em períodos de secas prolongadas, já que, conforme foi visto, a vazão de regularização de açudes, que leva em consideração a ocorrência de eventos pluviométricos extremos, mínimos (secas) e máximos (cheias), é muito superior à totalidade dessas demandas.

Já para atender as necessidades da agricultura, a situação se complica. Isto porque a área em que se pratica a agricultura (aí incluída a área de pastagens plantadas) no Estado da Paraíba ascende a cerca de 834 mil hectares (já foi de mais de 1.400,000 hectares em meados da década de 80), conforme dados do IBGE, Censo Agropecuário, 1985 - 1996. Se não chove ou se chove irregularmente a demanda da agricultura neste período não é suprida. A solução que tem sido adotada é a irrigação, praticada em modelo já comentado neste relatório. Por este modelo, poder-se-ia irrigar, com os recursos hídricos das bacias paraibanas, entre 40.000 e 50.000 hectares de terras, ou seja, algo como 0,85% do território paraibano ou 6% da área onde se pratica a atividade agrícola. As disponibilidades são, portanto, insuficientes para atender esta demanda com este modelo de irrigação. Para atendê-la em sua totalidade, seria necessário importar, só para a Paraíba, cerca de 500 m3/s e não, apenas, os 10 m3/s destinados ao abastecimento abordado neste capítulo. Isto, evidentemente, é irrealizável pelo impacto que uma transposição desse porte provocaria nas disponibilidades hídricas do rio São Francisco.

Ao nível de região Nordeste, a situação não é diferente. Sobre o Nordeste, precipitam-se, em média, anualmente, cerca de 1 trilhão e 700 bilhões de metros cúbicos anuais, 87% dos quais são perdidos por evapotranspiração real. Portanto, 13% desse total, ou seja, aproximadamente 220 bilhões de metros cúbicos é que sobram para formar os escoamentos dos rios e aqüíferos da região. Este potencial, se totalmente captado através da construção de barragens (o que já acontece em quase todas as bacias hidrográficas que drenam a sua parte semi-árida) e de poços, etc. não fica totalmente disponível, pois sobre ele incidem novas perdas, da ordem de 40% (idealmente) ou mais. As disponibilidades máximas atingiriam, portanto, 132 bilhões de metros cúbicos. Descontadas as demandas outras que não a irrigação, para o ano de 2020, restaria um saldo de cerca de 100 bilhões de metros cúbicos anuais que, se utilizadas na irrigação atualmente praticada, beneficiaria uma área de, no máximo, 5 milhões de hectares. A área do Nordeste é de cerca de 160 milhões de hectares, 80 milhões dos quais inseridos no polígono das secas. Por aí se vê que este modelo de irrigação não resolve o problema da seca, pelo menos na parte de socorro à agricultura que, só no semi-árido, ocupa uma superfície de cerca de 40 milhões de hectares.

A abrangência da solução transposição é, portanto, limitada. Ela resolve problemas específicos como os aqui abordados, de abastecimento de cidades ou de perímetros de irrigação de área delimitada, nunca o problema da seca. Por isso, os problemas emergenciais, embora possam ser minimizados pela gestão correta dos recursos hídricos, sempre ocorrerão e os socorros (frentes de trabalho, cestas básicas, etc.) deverão ser sempre providenciados, para isso contando com recursos financeiros a serem previstos em orçamentos da União e dos Estados.


De: paulo_de_tarso@degeo.ufop.br [mailto:paulo_de_tarso@degeo.ufop.br]
Enviada em: sexta-feira, 1 de abril de 2005 11:16
Assunto: a transposição do São Francisco

Caro Manfredo,
em meados de março foi realizado o Seminário: Rio São Francisco - O  Desafio da Verdade, patrocianado pela SEMAD MG e os orgãos do sistema ambiental mineiro. Constou de várais palestras de hidrólogos, engenheiros elétricos, geólogos etc. Esas palestras estão disponibilizdas no Portal Terra & Ciências, gerenciado pelo Degeo-EM-UFOP.Estas palestras foram incluídas na Biblioteca Virtual do portal. Para ter acesso aos textos, por favor, entre no portal Terra &  Ciências (http://www.degeo.ufop.br/terraCiencias/index.php  ), e clique na opção biblioteca virtual na janela "canais" .

Um abraço

Paulo de Tarso
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Paulo de Tarso Amorim Castro
Centro de Pesquisa em Geologia Automatizada - CPGA
Departamento de Geologia - Escola de Minas UFOP


  
Notícias
O sertão vai virar mar?
 

Em debate acalorado na reunião da SBPC, o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, diz que o projeto de transposição do rio São Francisco não resolve o problema da seca no Nordeste, mas acaba com o desperdício nos açudes

 Frase do MINISTRO DA INTEGRAÇÃO, citada em Notícias FAPESP (acima):
"
É importante deixar claro que a interligação das bacias não acaba com a seca, mas evita perdas. A insegurança hídrica gera o desperdício nas barragens. A água acumulada e não utilizada transborda e vai embora”

Observação de Manfredo Winge: Analisando essa frase, podemos dizer que ela peca por falta de lógica, pois a água transbordada de açudes (1) não é desperdiçada pois vai servir rio abaixo para beber e para as lavouras de "inverno" e (2) nesta época de muita chuva não se carece de um bilionário canal de desvio do São Francisco, pois água se terá a vontade nesses "invernos" chuvosos.


A QUEM SERVE A TRANSPOSIÇÃO?

AZIZ AB'SÁBER
Folha de São Paulo - Tendências e Debates -
20/02/2005

    É compreensível que em um país de dimensões tão grandiosas, no contexto  da tropicalidade, surjam muitas idéias e propostas incompletas para atenuar ou procurar resolver problemas de regiões críticas. Entretanto, é impossível tolerar propostas demagógicas de pseudotécnicos não preparados para prever os múltiplos impactos sociais, econômicos e ecológicos de projetos teimosamente enfatizados. Tem faltado a eventuais membros do primeiro escalão dos governos qualquer compromisso com planificação metódica e integrativa, baseada em bons conhecimentos sobre o mundo real de uma sociedade prenhe de desigualdades. Nesse sentido, bons projetos são todos aqueles que possam atender às expectativas  de todas as classes sociais regionais, de modo equilibrado e justo, longe de favorecer apenas alguns especuladores contumazes. Pessoalmente, estou cansado de ouvir propostas ocasionais, mal pensadas, dirigidas a altas lideranças governamentais.
    Nas discussões que ora se travam sobre a questão da transposição  de águas do São Francisco para o setor norte do Nordeste Seco, existem alguns argumentos tão fantasiosos e mentirosos que merecem ser corrigidos em primeiro lugar. Referimo-nos ao fato de que a transposição das águas resolveria os grandes problemas sociais existentes na região semi-árida do Brasil. Trata-se de um argumento completamente infeliz lançado por alguém que sabe de antemão que os brasileiros extra-nordestinos desconhecem a realidade dos espaços físicos, sociais, ecológicos e políticos do grande Nordeste do país, onde se encontra a região semi-árida mais povoada do mundo.
    O Nordeste Seco, delimitado pelo espaço até onde se estendem as caatingas e os rios intermitentes, sazonários e exoreicos (que chegam ao mar), abrange um espaço fisiográfico socioambiental da ordem de 750.000 quilômetros quadrados, enquanto a área que pretensamente receberá grandes benefícios abrange dois projetos lineares que somam apenas alguns milhares de quilômetros nas bacias do rio Jaguaribe (Ceará) e Piranhas/Açu, no Rio Grande do Norte. Portanto, dizer que o projeto de transposição de águas do São Francisco para além Araripe vai resolver  problemas do espaço total do semi-árido brasileiro não passa de uma distorção falaciosa.
    Um problema essencial na discussão das questões envolvidas no projeto de transposição de águas do São Francisco para os rios do Ceará e Rio Grande do Norte diz respeito ao equilíbrio que deveria ser mantido entre as águas que seriam obrigatórias para as importantíssimas hidrelétricas  já implantadas no médio/baixo vale do rio -Paulo Afonso, Itaparica,Xingó. Devendo ser registrado que as barragens ali implantadas são fatos pontuais, mas a energia ali produzida, e transmitida para todo o Nordeste, constitui um tipo de planejamento da mais alta relevância para o espaço total da região. De forma que o novo projeto não pode, em hipótese alguma, prejudicar o mais antigo, que reconhecidamente é de uma importância areolar. Mas parece que ninguém no Brasil se preocupa em saber nada de planejamentos pontuais, lineares e areolares. Nem tampouco em saber quanto o projeto de interesse macrorregional vai interessar para os projetos lineares em pauta.
    Segue-se na ordem dos tratamentos exigidos pela idéia de transpor águas do São Francisco para além Araripe a questão essencial a ser feita para políticos, técnicos acoplados e demagogos: a quem vai servir a transposição das águas? Uma interrogação indispensável em qualquer projeto que envolve grandes recursos, sensibilidade social e honestas aplicações dos métodos disponíveis para previsão de impactos.
    Os "vazanteiros" que fazem horticultura no leito dos rios que "cortam" -que perdem fluxo durante o ano- serão os primeiros a ser totalmente prejudicados. Mas os técnicos insensíveis dirão com enfado: "A cultura de vazante já era". Sem ao menos dar qualquer prioridade para a realocação dos heróis que abastecem as feiras dos sertões. A eles se deve conceder a prioridade maior em relação aos espaços irrigáveis que viessem a ser identificados e implantados. De imediato, porém, serão os fazendeiros pecuaristas da beira alta e colinas sertanejas que terão água disponível para o gado, nos cinco ou seis meses que os rios da região não correm. É possível termos água disponível para o gado e continuarmos com pouca água para o homem habitante do sertão. Nesse sentido, os maiores beneficiários serão os proprietários de terra, residentes longe, em apartamentos luxuosos em grandes centros urbanos.
    Sobre a viabilidade ambiental pouca coisa se pode adiantar, a não ser a falta de conhecimentos sobre a dinâmica climática e a periodicidade do rio que vai perder água e dos rios intermitentes-sazonários que vão receber filetes das águas transpostas. Um projeto inteligente e viável sobre transposição de águas, captação e utilização de águas da estação chuvosa e multiplicação de poços ou cisternas tem que envolver obrigatoriamente conhecimento sobre a dinâmica climática regional do Nordeste. No caso de projetos de transposição de águas, há de ter consciência que o período de maior necessidade será aquele que os rios sertanejos intermitentes perdem correnteza por cinco a sete meses. Trata-se porém do mesmo período que o rio São Francisco torna-se menos volumoso e mais esquálido. Entretanto, é nesta época do ano que haverá maior necessidade de reservas do mesmo para hidrelétricas regionais. Trata-se de um impasse paradoxal, do qual, até agora, não se falou.
Por outro lado, se esta água tiver que ser elevada ao chegar a região final de seu uso, para desde um ponto mais alto descer e promover alguma irrigação por gravidade, o processo todo aumentará ainda mais a demanda regional por energia. E, ainda noutra direção, como se evitará uma grande evaporação desta água que atravessará o domínio da caatinga, onde o índice de evaporação é o maior de todos? Eis outro ponto obscuro, não tratado pelos arautos da transposição.
    A afoiteza com que se está pressionando o governo para se conceder grandes verbas para início das obras de transposição das águas do São Francisco terá conseqüências imediatas para os especuladores de todos os naipes. Existindo dinheiro - em uma época de escassez generalizada para projetos necessários e de valor certo -, todos julgam que deve ser democrática a oferta de serviços, se possível bem rentosos. Será assim, repetindo fatos do passado, que acontecerá  a disputa pelos R$ 2 bilhões pretendidos para o começo das obras.
    O risco final é que, atravessando acidentes geográficos consideráveis, como a elevação da escarpa sul da chapada do Araripe -com grande  gasto de energia!-, a transposição acabe por significar apenas um canal tímido de água, de duvidosa validade econômica e interesse social, de grande custo, e que acabaria, sobretudo, por movimentar o mercado especulativo, da terra e da política. No fim, tudo apareceria como o movimento geral de transformar todo o espaço em mercadoria.

Aziz Ab'Sáber, 80, é geógrafo, professor-emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP e professor convidado do Instituto de Estudos Avançados da USP

© ADUnB 30/09/05


Ao Povo do Nordeste

Dom Frei Luiz Flávio Cappio

Queridos irmãos e irmãs nordestinos,
do Ceará, da Paraíba, do Rio Grande do Norte e do Pernambuco,

    Estou desde o dia 26 de setembro de 2005, dia do aniversário de São Francisco, em jejum e oração permanente. Estou em Cabrobó, Pernambuco, às margens do Rio São Francisco, numa capela dedicada a São Sebastião. Minha disposição, amadurecida e lúcida, é de dar a minha vida pela vida do Rio São Francisco e de seu Povo, contra o projeto de transposição e em favor de soluções verdadeiras e sustentáveis para a região semi-árida.
    Há mais de 30 anos, buscando ser fiel a Jesus Cristo e a meu pai São Francisco, identifiquei minha vida sacerdotal com o Rio São Francisco e seu Povo. Neste momento, apenas procuro manter-me coerente com esta opção. Não quero morrer, mas quero a vida verdadeira para o Rio São Francisco e para o todo o Povo Sanfranciscano e do Nordeste!
    Meu gesto é o último recurso que me resta para fazer o Governo Federal desistir desta obra insana e mentirosa, que é a transposição. Minha luta é também pelo sagrado direito de vocês a ter água boa e vida digna. Não é de maneira nenhuma um gesto contra vocês.
    Há muito tempo os poderosos querem fazer vocês acreditarem que só a água do Rio São Francisco pode resolver os problemas que vos afligem todos os anos no período da seca. Não é verdade. Estes mesmos problemas são vividos a pouca distância do Rio São Francisco. Ter água passando próxima não é a solução, se não houver a justa distribuição da água disponível. E temos, perto e longe do rio, muitas fontes de água: da chuva, dos rios e riachos temporários, do solo e do subsolo. O que está faltando é o aproveitamento e a administração competente e democrática dessas águas, de modo a torná-las acessíveis a todos, com prioridade para os pobres.
    Não lhes contam toda a verdade sobre este projeto da transposição. Ele não vai levar água a quem mais precisa, pois ela vai em direção aos açudes e barragens existentes e a maior parte, mais de 70%, é para irrigação, produção de camarão e indústria. Isso consta no projeto escrito. Além disso, vai encarecer o custo da água disponível e estabelecer a cobrança pela água além do que já pagam. Vocês não são os reais beneficiários deste projeto. Pior, vocês vão pagar pelo seu alto custo e pelo benefício dos privilegiados de sempre.
    Não estivesse o Rio São Francisco à beira da morte e suas águas fossem a melhor solução para a sede de vocês, eu não me oporia e lutaria com vocês por isso. Tenho certeza que o generoso povo do São Francisco faria o mesmo.

Peço-lhes encarecidamente que me compreendam, busquem mais informações corretas de pessoas honestas, se organizam e lutem pela convivência com o semi-árido, que é a única e verdadeira saída para todos nós do Nordeste.

Senhor, Deus da Vida, ajude-nos! "Louvado sejas, pela Irmã Água, preciosa e casta, humilde e boa!"

Recebam meu abraço e minha benção,

Dom Frei Luiz Flávio Cappio
Bispo Diocesano da Barra - BA
Cabrobó, 30 de setembro de 2005

© ADUnB 30/09/05 


De: Thomas Campos [mailto:thomascampos@geologia.ufrn.br]
Enviada em: quinta-feira, 6 de outubro de 2005 18:00
Assunto: Sobre o São Francisco por Joâo Abner

Eis um dos textos escrito pelo nosso colega Eng. João Abner da UFRN

Data: 10/05/05 15:39:20
Assunto: Re: [ciranda] culpado por futuro do bispo
 

Segunda Feira, 10/10, estarei em São Paulo debatendo a transposição do rio São Francisco no programa Roda Viva da TV Cultura/SP.

Desde já, antecipo os argumentos que usarei no Programa.

João Abner

 

TRANSPOSIÇÃO DO ATRASO

 

João Abner Guimarães Jr.

Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte

 

Esperança de inúmeras gerações de nordestino alimentada por muitos anos de badalação da propaganda oficial, a Transposição do Rio São Francisco encontra-se em vias de ser viabilizada, pelo menos o início da sua construção, após uma grande batalha travada entre o Governo e os opositores da Bacia do Rio São Francisco, que se intensificou no último ano.

 

Lobby da Transposição

 

A experiência recente no acompanhamento da condução por parte do Governo do Projeto de Transposição no Brasil, a recorrência do tema com força crescente, mesmo num ambiente de avanços democráticos, mostra a fragilidade do estado brasileiro e de suas instituições frente aos interesses coorporativos dos lobbies do poder econômico incrustados no meio político e na infra-estrutura do Estado.

 

A defesa do projeto é capitaneada por uma forte articulação político-empresarial, envolvendo os governos e as bancadas dos estados do nordeste setentrional (CE, PE, PB e RN) que, como um vírus cuja cepa mais recente, contaminou o Estado Brasileiro no governo Itamar Franco e, cada vez mais forte, replicou no Governo FHC e, por último, no Governo Lula envolvendo, agora, diretamente o próprio Presidente na defesa enfática do projeto.

 

Discurso Demagógico

 

No início do mês de setembro, em Angicos (RN), o presidente Lula acusou os críticos da transposição do rio São Francisco - principal e um dos poucos projeto de destaque do seu governo - de egoísmo e insensibilidade com a problemática da secas na Região Nordeste. Disse o Presidente: "só pode ser contra quem tem água Perrier – cara água mineral francesa - na sua geladeira, só pode ser contra quem nunca carregou uma lata de água de 20 litros na cabeça por seis ou oito léguas”.

 

Em relação ao tema, o Presidente reproduz a estratégia de que a melhor defesa é o ataque, fugindo, dessa forma, de responder aos questionamentos que associam o projeto com a velha indústria das secas na região.

 

Presente de Grego

 

Para os críticos, o projeto de R$ 4,5 bilhões, que deverá comprometer grande parte dos recursos públicos em muitos anos no NE, no mínimo não deve ser considerado prioritário porque vai manter o quadro da seca inalterado. As águas desviadas vão passar distante da grande maioria da população rural do sertão atingida pela seca, e, em contrapartida, vão irrigar em condições economicamente desfavoráveis regiões onde já se encontram os maiores reservatórios.

Hoje, no Nordeste, não se cobra pela água bruta. A realidade atual é que os custos da água para os usuários dizem respeito apenas ao bombeamento da fonte de suprimento até a área agrícola.

 

Com a transposição, ao contrário, vai se pagar muito caro pelo uso da água transposta. O custo da água será, no mínimo, 5 a 6 vezes maior do que os valores atualmente praticados na Região. Esse fato deverá restringir bastante a inserção dos produtos hidro-agrícolas das bacias receptoras no mercado globalizado, atual e futuro, extremamente competitivo. Nesse sentido, é um projeto economicamente inviável, um verdadeiro “presente de grego” para a população dos estados receptores.

 

Conta da Transposição

 

Para viabilizá-lo, os estudos econômicos contratados pelo Governo sugerem a prática de um subsídio cruzado, politicamente insustentável. Está previsto que 85% da receita do projeto deverão ser gerados pelos consumidores de água situados no meio urbano das grandes cidades da Região Nordeste Setentrional, que na atualidade não precisam e já subsidiam o abastecimento hídrico humano do interior.

 

O modelo de gestão do sistema proposto prevê que a operação seja executada por uma concessionária que entregará água para os estados. Os governos, por seu turno, pagarão por essa água no mínimo R$ 100 milhões, mesmo que não seja necessário aumentar a oferta local desse insumo com vistas a atender prováveis necessidades.

 

Contramão da História

 

A transposição, por ser uma obra muito atrasada vai à contramão das políticas públicas que vinham sendo desenvolvidas na Região nos últimos anos, estimuladas por organismos internacionais, tendo como alvo o desenvolvimento sustentável, a partir da  democratização do acesso à água e da gestão participativa dos recursos hídricos. Ao  contrário, com o Projeto cria-se uma dependência da região com a água do Rio São  Francisco, um recursos natural escasso, caro e conflitante.

 

O semi-árido nordestino vai pagar um alto preço por essa obra. Durante muitos anos a obra vai consumir boa parte dos recursos públicos que viriam para a região e paralisar a ação do Estado, reproduzindo, dessa forma em maior escala, a nefasta  indústria das secas no NE.

 

Transposição para o RN

 

A questão do Rio Grande do Norte é emblemática. O projeto - uma unanimidade da classe política do Estado – teve recentemente o seu rateio de água contratada ao Governo Federal pelo Governo do Estado, no qual consta uma vazão disponibilizada em caráter permanente inicialmente de apenas   1,85 m³/s até 2010,  sendo reduzido para 1,60 m³/s em 2025.

 

A água terá que ser repartida entre as bacias do Piranhas-Açu e Apodí-Mossoró e será de quantidade inexpressiva levando-se em consideração a disponibilidade local, 15 vezes maior.

 

Vale salientar que o rio Piranhas-Açu, no seu trecho do RN, encontra-se perenizado há várias décadas a partir da barragem de Coremas-Mãe d’Água na Paraíba e recentemente um acordo de integração celebrado pela ANA e os estados do RN e PB assegurou uma vazão mínima de 1,5 m³/s na entrada do RN, equivalente a vazão transposta.

 

Portanto, a transposição para o nosso estado deverá se constituir num grande fiasco, depois de tanta expectativa. Tal como na fábula de Esopo, a montanha rugiu, rugiu, tremeu, tremeu e pariu um rato.

 

 

RATEIO DA ÁGUA DO PROJETO DE INTEGRAÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO

                         

ESTADOS

Vazões (m³/s)

Acréscimo de vazão disponível

Bombeadas

Disponibilizadas

 

2010

2025

2010

2025

2025/2010

CE

6,20

11,30

4,40

8,83

50,2%

PB

5,50

5,50

4,34

4,80

9,6%

PE

5,10

7,30

4,21

6,37

33,9%

RN

2,60

2,30

1,85

1,60

-15,6%

TOTAL PTSF

19,40

26,40

14,80

21,80

32,1%

 

 

SUSTENTABILIDADE ECONÔMICO-FINANCEIRA DO PISF

 

Mecanismos do sistema de gestão econômico-financeiro do PISF:

 

  • Tarifação dos serviços de adução de água bruta pela Operadora Federal aos Estados Receptores;
  • Garantia de ressarcimento pelos Estados receptores à operadora Federal dos custos de operação , manutenção e administração do projeto de integração; e
  • Cobrança pelo uso da água bruta nos Estados receptores.

CUSTO POR ESTADO

Estado

2010

2015

R$

%

R$

%

CE

16.509.315,00

25,44

33.626.162,00

33,34

PB

21.199.715,00

32,66

23.706.030,00

23,50

PE

20.437.173,00

31,49

35.931.433,00

35,62

RN

6.757.484,00

10,41

7.599.424,00

7,53

TOTAL

64.903.687,00

 

100.863.049,00

 

CUSTO UNITÁRIO MÉDIO EM 2015

 

            Custo total da água .=  100.863.049,00 R$/ano

            Volume total disponível =  21,8´86.400´365 =  687.484.800,00 m³/ano

 

 

            Custo médio da água......................................= R$ 0,1467 por m³


De: Celso_Dal_Re_Carneiro [mailto:cedrec@ige.unicamp.br]
Enviada em: sexta-feira, 7 de outubro de 2005 08:33
Re: TRANSPOSIÇÃO DO SÃO FRANCISCO

Sugiro que se coloque nesse sitio a analise abaixo, recente, disponivel em ambientebrasil:

Transposição do Velho Chico: uma análise de controvérsias
06/10/2005 Theophilo Ottoni Filho
http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=21150 

Prof. Dr. Celso Dal Re Carneiro
Departamento de Geociencias Aplicadas ao Ensino
Instituto de Geociencias - Unicamp

06/10/2005
Transposição do Velho Chico: uma análise de controvérsias

Theophilo Ottoni Filho (*)

O projeto do Governo Federal de transposição do Rio São Francisco para bacias hidrográficas da Paraíba, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte não é a melhor solução atual para o problema da seca no nordeste. O projeto, que deve custar R$ 2 bilhões, consiste na transferência de águas do rio para abastecer cursos d’água e açudes da região.

O desvio de 60 m³/s de água do fluxo do São Francisco para outras bacias deverá trazer pouco impacto negativo para a ecologia ou economia da bacia do São Francisco, já que a vazão média do rio supera 2.000 m³/s e o desvio representa apenas 3% desse total. Assim, o Projeto de Revitalização Hídrica da bacia do São Francisco não deve ser usado como instrumento compensatório do Projeto de Transposição. Foram os moradores do vale que impactaram a região e são eles, e não a totalidade da população brasileira, que devem arcar com os custos da revitalização, conforme prevê, inclusive, a legislação brasileira.

O principal argumento usado por aqueles que defendem a transposição é que as bacias nordestinas não pertencentes ao Vale do São Francisco são irremediavelmente carentes de água e que, por isso, como salvadora opção, todos deveriam concordar com a transposição. A falha desse argumento está na premissa de que não existe no Nordeste outras fontes de água significativas e confiáveis, senão o Rio São Francisco. Esse é um mito que foi criado e que precisa ser abolido. Na verdade, o mais volumoso manancial dos continentes (excluindo-se as geleiras) são as águas subterrâneas. Estima-se que no Planeta tal reserva exceda o volume dos rios na ordem de milhares de vezes.

Portanto, considerando a extensão continental do Polígono das Secas (um milhão de km²), deve existir mais fluxo de água subterrânea desperdiçando-se no mar do Nordeste do que a soma de todos os fluxos dos rios nordestinos, incluindo o São Francisco. Além de ser mais volumosa, a disponibilidade hídrica subterrânea, em geral, é mais regular e confiável do que a dos mananciais de superfície. Esse é o principal motivo pelo qual  áreas áridas e semi-áridas, como o Oeste dos Estados Unidos, Austrália e Israel, baseiam sua política hídrica na utilização das águas de poços.

Sem dúvida, os nordestinos no contexto atual não precisam da transposição do Rio São Francisco. O Nordeste precisa combater os desperdícios hídricos, reutilizar os esgotos sanitários (em Israel, 70 % das águas servidas são reusadas), investir em prospecção e exploração dos aqüíferos subterrâneos, incluindo os materiais portadores de água dos leitos  fluviais, melhor utilizar os mananciais de superfície e explorar mais amplamente as captações de chuva (pela utilização de cisternas e reservatórios protegidos). Os recursos financeiros utilizados na transposição deveriam ser direcionados para todos os estados nordestinos visando a consolidação de uma política hídrica sustentável regional, mais espacializada e democrática,  abrangendo uma população maior, e mais independente do Velho Chico.

* Professor do Departamento de Recursos Hídricos e Meio Ambiente da Escola Politécnica da UFRJ.

© AmbienteBrasil de 06/10/2005  http://www.ambientebrasil.com.br/


De: Manfredo Winge [mailto:mwinge@terra.com.br]
Enviada em: domingo, 9 de outubro de 2005 20:09
Assunto: A FAVOR DA TRANSPOSIÇÃO

Prezado colega geocientista,
caso você tenha posicionamento favorável ao Projeto de Transposição do São Francisco (não confundir com revitalização do Rio que é outro projeto), gostaríamos de receber seus ARGUMENTOS TÉCNICO-CIENTÍFICOS para serem divulgados, já que a grande maioria dos comentários recebidos/coligidos vem caracterizando o PROJETO COMO NEGATIVO e isto pode dar a impressão que a nossa página de comments & replies é tendenciosa.

Conferir mais algumas análises e comentários:
A QUEM SERVE A TRANSPOSIÇÃO? - Aziz Ab'Sáber
Ao Povo do Nordeste - Dom Frei Luiz Flávio Cappio
TRANSPOSIÇÃO DO ATRASO - João Abner Guimarães Jr
Transposição do Velho Chico: uma análise de controvérsias - Theophilo Ottoni Filho

Obrigado
Manfredo Winge


Vida para todos: por isso fiz a greve de fome

Artigo de Dom frei Luiz Flávio Cappio

Folha de S.Paulo

Foi em favor da vida que fiquei 11 dias em jejum e oração na tão querida capelinha de São Sebastião, em Cabrobó (PE). Motivou-me o compromisso, baseado no Evangelho, que tenho com os pobres, os do rio São Francisco em primeiro lugar, porque me são mais próximos, há mais de 30 anos, por opção de franciscano, sacerdote e bispo desde 1997. Compromisso com a vida do próprio rio São Francisco, tão degradado.
"Rio vivo, povo vivo. Rio morto, povo morto", gritamos milhares de vezes na peregrinação da nascente à foz do São Francisco, entre outubro de 1993 e outubro de 1994. Vida ameaçada pelo atual projeto de transposição. Mas meu compromisso é também com a vida de toda a população do semi-árido, principalmente a dos mais pobres, enganados com tal projeto.
Era essa minha intenção, bastante clara na declaração "que todos tenham vida", que fiz depois de longo debate, no acordo que me levou a suspender o jejum e que celebrei com o ministro Jaques Wagner, em nome e com o assentimento do presidente Lula: "permitir uma ampla discussão, participativa, verdadeira e transparente para que se chegue a um plano de desenvolvimento sustentável, baseado na convivência com todo o semi-árido, para o bem de sua população, priorizando os mais pobres. (...) que, através desse amplo debate, cheguemos a soluções que promovam a união e a concórdia para o povo brasileiro, especialmente para os irmãos e irmãs do semi-árido".
Portanto não basta dizer "não" à transposição. Não basta só a revitalização do rio. É preciso um plano de desenvolvimento verdadeiramente sustentável, que beneficie toda a população do semi-árido, tanto os que estão próximos do rio como os que estão longe dele. Um bom plano exige que se pense o semi-árido em toda sua extensão, do norte de Minas ao Ceará, do agreste pernambucano ao Maranhão, com toda sua diversidade geográfica, social e ambiental. São aproximadamente um milhão de km2 e 30 milhões de pessoas.
Os mais pobres estão nas cidades, mas formam quase toda população rural, espalhada por todo o território. São os que quase não têm terra, bebem águas podres de barreiros e de açudes, não têm a mínima infra-estrutura para enfrentar o clima do semi-árido e estariam fora do projeto de transposição. Pobres que estão não muito distantes do próprio rio São Francisco. Estes devem ser prioritários para o investimento público no semi-árido. Portanto é não só uma questão técnica mas ética.
A transposição se colocou como um "fantasma" que não permite uma visão ampla do semi-árido, pois absorve mentes, energias e recursos, como se abrangesse o todo e fosse a salvação para todos. Ela abrangeria apenas 5% do semi-árido brasileiro e beneficiaria 0,23% da população do Nordeste, segundo críticos.
Será, na verdade, mais problema para a população do campo e da cidade, uma vez que elevará o custo da água disponível e estabelecerá o mercado da água. Não vai redimir o Nordeste, como apregoam seus promotores. Tenta-se justificar, equivocadamente, um Nordeste setentrional separado do todo.
Pensando o semi-árido como um todo, poderemos conferir exatamente qual poderia ser ou não a utilidade e a necessidade de uma obra de tamanho gasto público, para um país endividado como o nosso, e de tanto risco social e ambiental.
É preciso pensar também o rio. Cortado por barragens, desmatado por carvoarias, poluído por esgotos e agrotóxicos, assoreado em toda a sua extensão, o São Francisco pede alento, um pouco de paz e um pouco de sossego para recuperar a vitalidade. Pede investimento. E suspensão dos projetos degradantes. Não há verdadeira revitalização se continuar a degradação dos solos, da vegetação e das águas da bacia, como nos cerrados do oeste baiano.
É preciso respeitar também sua população, que suporta o ônus de todos os projetos impostos à grande bacia. Aqui também mora gente que merece consideração e respeito.
Busquemos um plano que una novamente a nação nordestina. A transposição nos divide. A revitalização do São Francisco e do semi-árido nos une.
Quando iniciei o jejum, declarei que, "quando a razão se extingue, a loucura é o caminho". Fico feliz que meu gesto, suas razões e sua "loucura" tenham sido compreendidos e apoiados por tanta gente. Agradeço sinceramente. Tenho rezado por todos. Não me canso de louvar a Deus por tanta graça recebida.
"Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância" (João, 10, 10).
Fiz dessas palavras centrais do Evangelho meu lema de bispo. Só quis ser fiel a ela, com a radicalidade que a questão exigia. E voltarei ao jejum e a oração, com mais determinação ainda, se o acordo firmado, em confiança, com o governo não for cumprido. E sei que não estarei sozinho.

© ADUnB 10/10/05 


De: ambientebrasil [mailto:webmaster@ambientebrasil.com.br]
Enviada em: quinta-feira, 13 de outubro de 2005 11:12
Assunto: Francisco Oliveira recomenda !!!

Notícia:

São Francisco para a transposição e São Pedro para o resto do Sertão
Uma carta às autoridades nacionais


Estudante traça um panorama da cidade de Remanso, inundada pelo lago da barragem de Sobradinho, e diz que, sendo as autoridades de Brasília desinformadas quanto ao que acontece no Congresso Nacional, imagine em relação ao sertão brasileiro.

Leia a notícia na íntegra!

Comentário de Francisco Oliveira:

Parece nao haver argumentos pro sustentaveis - mas, a falta de informacao é grande.


De: Pedro Angelo Almeida Abreu [mailto:pangelo@fafeid.edu.br]
Enviada em: segunda-feira, 14 de novembro de 2005 11:30
Assunto: Transposição do São Francisco
Prezados(as) Colegas,
 Envio o texto em anexo para conhecimento e divulgação.
Pedro Angelo

 

TRANSPOSIÇÃO SEM CINISMO

Os saques dos flagelados da seca, no primeiro semestre deste ano, refletem a realidade climática histórica do nordeste brasileiro, ou seja, as taxas pluviométricas relativamente baixas, concentradas em quatro meses do ano e o que é pior, episodicamente a quadra chuvosa é bastante irregular ou virtualmente sem chuvas. Refletem também o descaso, igualmente histórico – na respectiva dimensão -, dos políticos e gestores públicos para com a população nordestina.
O Brasil é um país privilegiado na medida em que eventos catastróficos e imprevisíveis (ou pouco previsíveis) como terremotos, furacões, tornados e vulcões não ocorrem no seu território. De causar inveja a qualquer outra nação, nossa catástrofe episódica é previsível, assim como as suas conseqüências de flagelo e, diferente dos vulcões e terremotos, suas causas podem ser erradicadas ou efetivamente minimizadas.
Para a solução do problema é necessário disponibilizar água na região no período da quadra chuvosa e, porque não, durante o resto do ano, afinal a busca por uma situação sócio-econômica plena é também um direito dos nordestinos e dever do Estado. O plano de efetuar a transposição do Rio São Francisco vem do Império, mas a ineficiência, o egoísmo e os interesses pessoais dos políticos relegaram, sistematicamente, o projeto a níveis secundários. Não se pode dizer que foi por falta de recursos ou riquezas do país, pois, a exemplo, durante o “Milagre Brasileiro” foram despendidos “rios de dinheiro” em obras faraônicas, várias delas sem sentido e que jamais foram concluídas (por ex: Usinas Atômicas de Angra, Ferrovia do Aço, Rodovia Transamazônica); sem esquecermos dos “rios de dinheiro” desviados nas privatizações e no “programa” do Proer; assim como nas fraudes do Sivam/Sipam; de emendas de reeleição ou prorrogação de mandato do Presidente da República e nos “mensalões”, entre tantos outros descalabros que têm assolado a política deste país.
Uma pequena parcela desses recursos “jogados no ralo” teria sido suficiente para efetuar a transposição do São Francisco, incluindo a redistribuição da água através de canais secundários para a integração de bacias hidrográficas do nordeste semi-árido, conectando os diversos reservatórios do território nordestino, o que propiciaria o acesso democrático à água, que é um bem essencial para a vida e muito mais para uma vida com dignidade.
Se esse projeto tivesse sido realizado 30 anos atrás, hoje estaria sua ampliação sendo discutida, talvez para captar mais 1% ou 2% das águas do “Velho Chico” no sentido de fomentar o desenvolvimento do imenso pólo econômico que seria o nordeste brasileiro e não estaríamos discutindo a revitalização do São Francisco, pois isso, por necessidade e responsabilidade, teria sido feito nesses trinta anos.
Falar em paliativos ou ações pontuais como solução para o problema da seca do nordeste é agredir a inteligência desses cidadãos, pois visa apenas a perpetuar o status quo do país, servindo o nordeste unicamente para enviar mão-de-obra barata para os centros industrializados e disponibilizar seu belo litoral para comensais e turistas das regiões ricas do país.
Tomando como exemplo o programa de cisternas, faz-se necessário lembrar que esses pequenos reservatórios são utilizados por habitantes (fazendeiros) do sertão desde que o cimento tornou-se acessível e sempre assumiu um papel sanitário importante, considerando a qualidade da água armazenada diretamente da chuva, que é preservada do processo de evaporação e de contaminação externa. Devido ao volume do reservatório, a água armazenada serve exclusivamente para uso doméstico e de acordo com o número de usuários e com o regime de chuvas da temporada, a reserva é esgotada em menos de um ano. Portanto, as cisternas não servem nem nunca servirão para aliviar as conseqüências da seca como, por exemplo, a sede de rebanhos.
Propor a captação de águas subterrâneas como solução para a região é tentar, mais uma vez, desviar a atenção do problema. As rochas cristalinas que predominam na região do nordeste são péssimas armazenadoras de água, por isso as tentativas nesse sentido alcançaram poços de vazão, em média, inferiores a 3 mil litros/hora, vazão insuficiente mesmo para pequenos projetos agro-pecuários. Ademais, por razões climáticas e geológicas, as águas obtidas são, com freqüência, salobras e para a dessalinização dessa água, além do custo elevado, depara-se com a questão ambiental sobre onde despejar o sal residual.
Como os depósitos das planícies fluviais são rasos e estreitos, assentados sobre o cristalino impermeável, os lençóis freáticos desses domínios são modestos.
Por outro lado, a Bacia do São Francisco, em vastas regiões de Minas Gerais e Bahia, espalha-se sobre espessos depósitos de rochas sedimentares (aqüíferos) que produzem poços artesianos com vazões acima de 25 mil litros/hora e em locais, com vazões superiores a 100 mil litros/hora chegando, pontualmente, a vazões em torno de 500 mil litros/hora. Essa região sofre ou sofrerá de deficiência hídrica? Será necessária a água do Rio São Francisco para servir a esses territórios?
O nordeste precisa das águas do Rio São Francisco e se isso limita, então, o uso das águas desse rio nos dois principais estados fornecedores, qualquer necessidade nesses estados poderá vir a ser suprida através da captação de águas subterrâneas. Esses dois estados precisariam de “compensação” por isso? Todos esses estados e territórios não integram a mesma nação?
Nações como a China, a Índia e os Estados Unidos que têm rios extensos e caudalosos atravessando diferentes províncias e estados de seus territórios compartilham harmonicamente suas águas e numa exploração tamanha que alguns desses rios chegam à foz com vazão de pequenos córregos. No tocante a retirada das águas em excesso, o que compromete os ecossistemas da bacia hidrográfica, trata-se de um procedimento equivocado e ecologicamente incorreto, e não é isso que é visualizado para o Rio São Francisco.
A captação de pouco mais de 1% das águas do São Francisco vem sendo tratada, também, como uma ameaça à matriz energética do país, quando, na verdade, superamos apenas um pouco mais de 40% do potencial hidrelétrico do território brasileiro e o que é ainda mais dramático, não utilizamos muito do gás natural comprado a peso de ouro da Bolívia que pode ser convertido facilmente em energia através de termoelétricas, sem esquecer do gás natural disponível na Bacia Potiguar.
Na questão da transposição do Rio São Francisco, os possíveis impactos e a defesa do meio ambiente têm servido de escudo para o cinismo de políticos, de parte da imprensa e de outras pessoas que defendem seus próprios interesses - políticos ou não - ou os interesses de outrem.
O homem sempre foi e sempre será o maior agressor da natureza, seja por necessidade de sobrevivência, seja por cobiça. O desmatamento e o aniquilamento da fauna – como caça ou como objeto de comércio – impõe-se, essencialmente, onde não é oferecida outra opção para os habitantes. No Nordeste brasileiro não é diferente, sendo a caça, o comércio de aves e de outros animais silvestres, além do desmatamento indiscriminado, reflexo da falta de opção econômica da população do sertão.
O maior impacto ambiental da transposição será a felicidade de cerca de 12 milhões de cidadãos e todas as conseqüências positivas para a preservação do meio ambiente no âmbito de seus territórios.
A greve de fome contra a transposição não é uma greve pela vida, uma vez que, na verdade, agride milhões de nordestinos que fazem uma “greve de fome compulsória” por toda sua curta existência.
Se religiosos querem contrariar os dogmas da sua igreja e atentar contra sua própria vida através de greve de fome, que façam quando deputados legislam em causa própria e aumentam os seus exorbitantes salários, ou quando legislam para conceder aumento para seus funcionários que recebem, em média, sete mil reais, enquanto nordestinos em tarefas diárias que exigem maior intelectualidade e força física percebem como proventos a honrosa bolsa-família.
O Brasil há muito, vem sofrendo uma forte agressão ao seu meio ambiente que emana sempre, na sua maior grandeza, da Praça dos Três Poderes através das suas decisões e procedimentos cotidianos.

Pedro Angelo Almeida Abreu
Professor Titular da Faculdade de Ciências Agrárias/UFVJM
Doutor em Ciências Naturais pela Universidade de Freiburg - Alemanha

From: Manfredo Winge
Sent: Monday, November 14, 2005 5:59 PM
Subject: RES: Transposição do São Francisco
 
Pedro Ângelo,
as suas considerações foram inseridas na página de comentários e réplicas sobre o:
 Projeto Transposição do Rio São Francisco
 
Será que o colega não teria parâmetros técnicos (e econômicos), alem de seu posicionamento ideológico, que contestassem parâmentros apresentados por colegas que são contrários ao projeto ou que consideram que não se tem dados suficientes ainda para nos arriscarmos nessa empreitada que pode durar e custar muito mais do que o propalado?
 
Se tiver, acrescentarei como adendo ao fim de suas considerações, certo??
 
Abraço
Manfredo
 

De: Pedro Angelo Almeida Abreu [mailto:pangelo@fafeid.edu.br]
Enviada em: segunda-feira, 14 de novembro de 2005 19:02
Assunto: Re: Transposição do São Francisco

Prezado Manfredo,
 
Os dois textos que preparei sobre a transposição do São Francisco não são apenas ideológicos - ambos trazem dados e informações gerais (não detalhadas) técnicas, como o substrato rochoso da maior parte do território nordestino, vazão média de poços artesianos de lá e da planície onde acha-se assentada a bacia do São Francisco, características físicas das cisternas, características dos aquíferos dos aluviões e planícies dos vales; características das áreas ribeirinhas de sistemas fluviais, consequências de inundações para essas áreas, etc.
 
A transposição do São Francisco há muito deixou de ser uma questão técnica e passou a ser uma disputa de interesses políticos e econômicos, pois como dito pelo Secretário do Governo de Minas Gerais, Sr. José Carlos Carvalho, "por que devemos deixar de priorizar um polo econômico já existente para criar outro no nordeste?".
 
Ora, ora, partes do território nordestino já têm sua malha fluvial integrada e para o estabelecimento de um boom de desenvolvimento a partir de fruticultura irrigada e da criação de peixes e de crustáceos (entre outras atividades como a produção de combustíveis renováveis e a implantação de parques industriais) depende apenas de água em quantidade, qualidade e "perenidade".
 
Ideológicos são argumentos do tipo que a retirada de 1,5% das águas do Rio São Francisco irá comprometer o seu curso, o meio-ambiente ou que poderá afetar a nossa matriz energética. Ideológico é dizer que uma obra que consumirá na sua primeira etapa apenas alguns 4 bilhões de reais e irá servir a mais de 12 milhões de nordestinos representa uma soma vultuosa. Esses argumentos são ideológicos e conservadores no pior sentido do termo, pois visa perpetuar um status que vem das Capitanias Hereditárias e da própria colonização do nosso país, que tem sido gerenciado por uma elite que pensa exclusivamente no seu próprio conforto e bem estar, para não lembrarmos de procedimentos "rotineiros" muito piores.
 
Finalizando, e como não poderia deixar de ser, me coloco ao dispor para participar de qualquer debate público sobre o assunto.
 
Atenciosamente,
Pedro Angelo Almeida Abreu

-----Mensagem original-----
De: Manfredo Winge [mailto:mwinge@terra.com.br]
Enviada em: sexta-feira, 2 de dezembro de 2005 10:13
Para: 'Pedro Angelo Almeida Abreu'
Assunto: RES: Transposição do São Francisco

 
Prezado Pedro Ângelo,
veja em DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm#18_TransposicaoSemCinismo o seu ponto de vista favorável ao projeto e sua réplica ao meu email.
 
De acordo com o seu ponto de vista:  
"O maior impacto ambiental da transposição será a felicidade de cerca de 12 milhões de cidadãos e todas as conseqüências positivas para a preservação do meio ambiente no âmbito de seus territórios."

O colega acredita que esse projeto vai levar a água para toda a população do NE setentrional espraiada por inúmeros pequenos lugarejos e milhares de fazendinhas em cerca de 750.000 km2? Acredita que os rios da região vão ser perenizados como propalado?
Solicitei ao MIN - via formulário internet na página do projeto - informações sobre os detalhes da distribuição de água a partir dos dois estreitos canais programados.. ainda não recebi resposta !!
 
Trabalhei na década de 60 em mapeamento geológico no norte bahiano, de Chorrochó, Barra do Tarrachil a Curaçá; ao nos afastarmos 1 km ou pouco mais da margem do rio, em época de seca não se tem água.. é a caatinga seca imperando. Pode estar certo que a mesma coisa irá se verificar junto aos canais do projeto. Como é que vai se distribuir a caríssima água dos canais artificiais para todas as áreas povoadas? Será por aquedutos fechados sob pressão?? será jogando água para algumas nascentes de outras bacias ou sub-bacias?? e neste caso, teríamos água suficiente?? e ela não salinizaria as aluviões?? Não consigo imaginar um sistema de manutenção tão oneroso atendendo a toda a população como divulgado. Deverá ser um projeto de extrema complexidade com centenas de ramificações em aquedutos e/ou canais menores, não? E deve ser lembrado que durante o "inverno" de 4 ou 5 meses, todo o sistema ficará anualmente ocioso com máquinas de bombeamento caríssimas paradas, pois quando a chuva vem ("inverno") no NE, ela pode vir para valer.
 
Também não entendo como os canais artificiais vão preservar o meio ambiente. Talvez, localmente, ao irrigarem áreas de projetos de plantações de frutíferas ou criadouros de peixe/camarão, se terá áreas verdes que consumirão água de altíssimo custo para beneficiar algumas poucas e grandes empresas agropastoris.
 
Trabalhei também na região do vale do Pajeú, que "banha" Afogados da Ingazeira, com aluviões fantásticos que serão cortados, ao que me consta, (e inutilizados??) pelo canal setentrional do projeto. Aluviões deste tipo são o manancial hidrogeológico mais importante das áreas de cristalino e que ocorrem em boas extensões por, praticamente, todas as bacias e sub-bacias hídricas da região com os 12.000.000 de habitantes. Esses tratos de aluviões férteis poderiam represar muita água para a época de seca, visando as populações, vilas e cidades ribeirinhas e as culturas de "vazantes" a partir de várias barragens subterrâneas estrategicamente locadas com a água sendo puxada por poços tubulares com filtros e catavento, por exemplo; investimento "definitivo" com custo de manutenção mínimo. Alem disto, deve ser lembrado que existem muitas áreas com explorabilidade hidrogeológica em pequenas bacias e chapadas sedimentares (Ex.gr. Tucano-Jatobá, Chapada do Araripe, Chapada do Apodi, bacia de Souza, molassas do Jaibaras, do Cococi,..), isto sem falar nos fantásticos aquíferos da Bacia sedimentar Piauí-Maranhão que abrange quase totalmente os dois estados e, parcialmente junto às divisas, W do Ceará, W de Pernambuco e NW da Bahía.
 
Adicionalmente, barragens estrategica e tecnicamente locadas, principalmente nas regiões elevadas (Serra da Borborema e outras), como já existem muitas, poderiam reter água do "inverno" (sem "puxar" de longe) para ser escoada no próprio canal fluvial a jusante e/ou levada por aquedutos para  cidades e áreas agrícolas e agroindustriais importantes em cotas mais baixas (sem ou com mínimo custo de bombeamentos).
 
Conforme demonstra o nosso colega Patrocínio (ver DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm#8_Patrocínio ), o projeto é perdulário,  existindo outras alternativas menos onerosas e mais eficazes para abastecimento de agua para várias cidades da região e de outros estados além dos previstos no projeto. Alem disso, deverá se ter deficit hídrico nas pontas do projeto (ver DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm#13_Joao_Abner ).
 
O bombeamento em aquedutos sob pressão para áreas, estrategicamente selecionadas, de reservatórios de coleta e distribuição (por gravidade sempre que possível) para cidades e vilas, buscando atender locais demográficamente importantes (da própria bacia do São Francisco de preferência), e em cotas altimétricas razoáveis, impõe-se como uma alternativa menos onerosa e mais realista ao mirabolante projeto para atender uma parte, pelo menos, dos 12.000.000 de habitantes.
 
Fundamental tambem é evitar a CONFUSÃO DE DUAS METAS no denominado projeto de transposição:
 
1- restauração da bacia hídrica do Rio São Francisco:  - é uma meta imprescindível (na verdade deveria ser um programa continuado de todos os nossos mananciais hídricos), com dragagem de canais assoreados, plantio de mata ciliar nativa, controle do uso excessivo do potencial hidrogeológico e hidráulico, controle dos resíduos de agrotóxicos e fertilizantes, etc.. e que atacará problemas que resultam do "laissez faire" de vários governos abúlicos que se sucedem no Brasil e não cumprem sua obrigação de executar (adminstrar!!) e fiscalizar  (só querem legislar e, muitas vezes, mal);
 
2- construção dos mirabolantes canais, túneis(?) reservatórios, estações de recalque,..: - esta meta deveria ser postergada, decidindo-se por ela somente após se ter muito mais estudos, pois o custo de execução é altíssimo: R$ 4.500.000.000,00 que, certamente, não ficarão só nisto segundo o que se verifica em tais tipos de projetos governamentais  (5 vezes mais??); além disso, se terá uma taxa anual de gastos enorme (bombeamento e manutenção de canais abertos; dragagens de assoreamentos, rachaduras nos concretos, túneis e etc..), lembrando-se que cerca de 5 meses do ano o sistema ficará ocioso com as chuvas de "inverno".
 
Cordiais saudações geológicas
Manfredo
c/c geocientistas

De: Fernando Flávio [mailto:ffma@uol.com.br]
Enviada em: sexta-feira, 2 de dezembro de 2005 16:16
Assunto: Re: Transposição do São Francisco
 
Caro colega Manfredo
Acuso recebimento de seu e-mail relativo à transposição do São Francisco, que muito me agradou. Procure fazê-lo chegar ao conhecimento de nossas autoridades, que se propõem a executar  custoso projeto puramente eleitoreiro sobre tema tão importante que bem poucas entre elas possuem conhecimentos técnicos adequados para avaliá-lo.
Saudações
Fernando F. M. de Almeida

De: Manfredo Winge [mailto:mwinge@terra.com.br]
Enviada em: segunda-feira, 5 de dezembro de 2005 16:30
Para: 'mensagem-cristovam@senado.gov.br'
Assunto: ENC: Transposição do São Francisco
-----Mensagem original-----
De: Manfredo Winge [mailto:mwinge@terra.com.br]
Enviada em: segunda-feira, 5 de dezembro de 2005 17:18
Para: 'Fernando Flávio'
Assunto: RES: Transposição do São Francisco
 
Prezado Professor Fernando Flávio,
com muita satisfação recebi suas elogiosas palavras..obrigado pela força.
Lutar contra o obscurantismo e as decisões prepotentes é uma batalha dificil, mas devemos persistir..
Acatando a sugestão, encaminharei as considerações .. sobre a transposição a senadores como o Prof. Cristóvão Buarque com vistas a, espero, arejarmos a discussão sobre o projeto quando este chegar ao Senado.
Cordial abraço
Manfredo

De: Paulo Afonso da Mata Machado [mailto:paulo.machado@bcb.gov.br]
Enviada em: quinta-feira, 15 de março de 2007 10:47
Assunto: A favor da transposição

Atendendo a seu pedido, estou enviando em primeira mão artigo que repassarei ao Ministério da Integração Nacional.
Pode publicá-lo.
Abraços.
Paulo Afonso da Mata Machado
<<Uma Disputa Emocional em PDF>>
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De: Manfredo Winge [mailto:mwinge@terra.com.br]
Enviada em: sexta-feira, 16 de março de 2007 12:22
Assunto: RES: A favor da transposição

Prezado Paulo Afonso,
as suas considerações A FAVOR DO PROJETO DE TRANSPOSIÇÃO estão sendo publicadas em PDF com link na página de comentários e réplicas:
DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm .
Conforme destaquei em email anterior:
"Gostaria de ressaltar que nessa página são apresentados pontos de vista variados com argumentos a favor e contra o projeto de transposição por técnicos e profissionais diversos. As suas contundentes assertivas de que quem tem restrições ao projeto está com posicionamento essencialmente emocional, desmerece a qualidade de vários colegas da área de geologia, hidrogeologia e hidrologia e de suas argumentações lastreadas em dados e conhecimentos da região."
Oportunamente nos deteremos em uma análise cuidadosa de suas considerações e certamente outros colegas também o farão.
Cordiais saudações
Manfredo Winge
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De: Paulo Afonso da Mata Machado [mailto:paulo.machado@bcb.gov.br]
Enviada em: sábado, 17 de março de 2007 17:44
Assunto: RES: A favor da transposição
...........
Gostaria de acrescentar outros comentários, desta vez em relação ao texto de D. Luiz Flávio Cappio, publicado no dia 10/10/2005.
O bispo cita estatísticas que me parecem equivocadas: o projeto somente beneficiaria 5% do semi-árido brasileiro e apenas 0,23% da população de nordestinos, que ele estima em 30 milhões de habitantes, ou seja, beneficiaria apenas 69.000 habitantes. Deve haver um erro nessa avaliação, já que o projeto de transposição levará água para Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí.
Há uma outra observação que me parece equivocada. Segundo o bispo, o custo da água disponível será elevado em relação ao custo atual.
Existe uma lei em economia que resistiu a choques ortodoxos ou heterodoxos, a sistemas capitalista ou comunista. Trata-se da lei da oferta e da demanda. Maior oferta do produto implica menor custo, a menos que haja aumento significativo da demanda.
No caso da transposição, a maior oferta de água provocará, sim, um aumento na demanda. O projeto irá transformar os rios de intermitentes em perenes, fixando o homem no campo e aumentando rebanhos e produção agrícola, o que, evidentemente, acarretará demanda por água. Por outro lado, o simples fato de perenizar os rios da região, vai fazer voltar o verde aos campos e provocar a recarga dos lençóis subterrâneos, aumentando ainda mais a oferta de água.
Assim, haverá um desequilíbrio na oferta-demanda em favor da oferta, o que indica que o preço básico da água atualmente fornecida não tenderá a subir.
Um abraço.
Paulo Afonso da Mata Machado


Folha de São Paulo - 25/10-09:
Réquiem para a transposição do São Francisco

                                                
TOMÁS BALDUINO


O dobre dos sinos e o jejum têm o peso de uma profecia. Esses símbolos querem dizer que a transposição do São Francisco não se concluirá

É NATURAL que chefes de Estado tenham o sonho de vincular sua memória a uma grande obra perene. Brasília é o monumento que imortalizou Juscelino Kubitschek.
Imagino que Lula, nordestino que passou sede no semiárido, carregou pote d'água na cabeça, possa estar sonhando em se ligar pessoalmente com o nordestino rio São Francisco, símbolo da integração nacional, transformando o grande sertão da seca num abençoado oásis graças a um gigantesco projeto de transposição de suas águas. O projeto nada deveria à Transamazônica nem a Itaipu.
Isso explica, quem sabe, sua apaixonada tenacidade em querer levar adiante essa obra apesar das inúmeras reações contrárias de parte do Judiciário, do Ministério Público, da mídia, dos cientistas, do episcopado católico, das organizações sociais, dos atingidos pelas obras: camponeses, quilombolas, grupos indígenas.
Na sua excursão ao longo do projetado canal, levando aos palanques Ciro Gomes, além da candidata Dilma Rousseff, não faltou, da parte do presidente, o irado recado para os que ele considera obstáculos à transposição.
Enquanto isso, chamou a atenção de muitos o gesto do bispo da Barra, dom Luiz Cappio, ordenando o dobre de finados na catedral enquanto Lula perambulava por aquela cidade.
Os sinos são a secular e inconfundível marca da cultura cristã nos templos das grandes metrópoles e nas pequeninas capelas do interior. Acompanham alegrias e esperanças, tristezas e angústias da comunidade nos eventos maiores do lugar ou marcam, com seu toque lúgubre, a morte dos entes queridos e o Dia de Finados.
Conhecendo pessoalmente os sentimentos desse homem, que não hesitou em colocar a sua vida pelo povo ribeirinho, bem como pela revitalização do rio, posso dizer que esse gesto, o do dobre dos sinos, bem como o do jejum, tem o peso de uma profecia.
Esses símbolos querem dizer que a transposição do São Francisco não se concluirá. Morrerá. Descansará em paz. Réquiem , então, para ela!
Muita gente está convencida da inviabilidade desse megaprojeto. Eis as razões. A transposição pretende guindar continuamente, em um desnível de 300 metros , 2,1 bilhões de m3 da água mais cara do mundo para o Nordeste, que, por sua vez, já acumula 37 bilhões de m3 a custo zero. Se o problema da seca do Nordeste não se resolve com esses 37 bilhões de m3 armazenados, irá ser resolvido com 2,1 bilhões de m3 da transposição?
Uma certeza muitos têm: os 70 mil açudes do Nordeste construídos nesses cem anos demonstram que lá não falta água. O que falta é a distribuição dessa água. Basta implantar um vigoroso sistema de adutoras, como o proposto pela Agência Nacional de Águas, por meio do "Atlas do Nordeste", que foi abafado pelo governo.
Trata-se de levar água por meio de uma malha de tubos e adutoras a toda a população difusa do semiárido para o abastecimento humano, sem a transposição. Enquanto a transposição atenderia 12 milhões de pessoas em quatro Estados , segundo dados oficiais, o projeto alternativo atenderia 44 milhões em dez Estados. Custo : metade do preço da transposição.
Nesse emaranhado de conflitos, existe um esperançoso toque de sino.
Enquanto, de um lado, ainda prevalece a indústria da seca (a transposição aí se inscreve), que rende uma fortuna para os políticos e empresários e mantém o povo na situação do flagelado retirante, segundo a expressão lírica de Luiz Gonzaga, de Portinari, de Graciliano Ramos, de João Cabral de Melo Neto etc., do outro lado está surgindo uma nova consciência nas comunidades populares carregada de esperança libertadora.
Trata-se da convivência com o semiárido. Como os povos do gelo, das ilhas e do deserto vivem bem na convivência com seu habitat, assim esse povo começa a descobrir a extraordinária riqueza de vida do Nordeste. A questão não é "acabar com a seca", mas de se adaptar ao ambiente de forma inteligente.
Nessa linha, um pedreiro sergipano inventou a tecnologia revolucionária das chamadas cisternas familiares de captação da água de chuva para o consumo humano.
Está chegando, pois, a transfiguração do povo e da terra construída de baixo para cima, no respeito e na convivência, libertando-se dos projetos faraônicos devastadores, impostos autoritariamente de cima para baixo.
Esse humilde toque de sino, alegre e festivo, já se pode ouvir com nitidez, pois essa mudança, cheia de vida e esperança, é um fato no grande sertão nordestino.
-------------------
DOM TOMÁS BALDUINO , 86, mestre em teologia e pós-graduado em antropologia e linguística, é bispo emérito de Goiás e ex-presidente da Comissão da Pastoral da Terra.


De: Luiza Teles [mailto:lu_telespt@yahoo.com.br]
Enviada em: sábado, 1 de maio de 2010 15:20
Para: mwinge@terra.com.br
Assunto: "Reformulação do Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco".

Estamos enviando, em anexo, proposta de "Reformulação do Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco", esperando contar com sua atuação em benefício do "Velho Chico",  do semi-árido nordestino e sua gente.

Atenciosamente,
Luiza Teles
(71)9601-0860 - (71)3379-3241

Ver anexo Reformulação do Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco

De: Manfredo Winge [mailto:mwinge@terra.com.br]
Enviada em: terça-feira, 4 de maio de 2010 09:20
Para: 'Luiza Teles'
Assunto: ENC: "Reformulação do Projeto de Transposição de Águas do Rio São Francisco".

Prezada Luiza,
não sou engenheiro hidráulico, mas não é preciso ser um especialista para ver que a sugestão de vocês de distribuição de água em dutos fechados, por adutoras, e preservação de mananciais depósitos subterrâneos (em aluviões?) é mais pertinente do que o que está sendo feito. Sou professor de geologia aposentado da UnB e não tenho poder de atuar no projeto da transposição do Ministério da Integração, mas divulgarei a sugestão de vocês no site do IG/UnB sobre Pontos de Vista, Comentários e Réplicas na parte referente à transposição: DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm .
Achei interessante a sugestão de vocês de uma comissão revisora do projeto com as linhas básicas que formularam.
Sugiro encaminharem a proposta aos políticos que estão para concorrer à Presidência da República e a outros candidatos  (confiáveis) ao senado e à câmara de deputados, visando sensibilizá-los no sentido da revisão desse projeto o que viria em boa hora, antes de que se dêem ações irreversíveis do ponto de vista ambiental e econômico no atual “super-projeto”.
Saudações geológicas
Manfredo
c/co colegas

Manfredo Winge
Representante da SBG na SIGEP
Clique abaixo e visite:
SIGEP_Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e Paleobiológicos
Instituto de Geociências/UnB
 
Glossário Geológico Ilustrado
Teses em Geociências no Brasil


De: Manfredo Winge
Enviada em: sexta-feira, 6 de abril de 2012 11:44
Para: Manoel Bomfim Ribeiro
Cc: Alfeu Levi da Silva Caldasso
Assunto: Transposição do São Francisco

 Prezado colega,
recebi o texto abaixo do colega Alfeu Caldasso. Parabéns.
Infelizmente não tenho mais senha da UnB para atualizar o site:
http://www.unb.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm para incluir esta sua irrefutável crítica a esse projeto que, certamente, foi bem nego$$iado com empreiteiras; se não houver posição contrária do colega enviarei o seu texto para vários colegas e amigos, alguns inclusive defensores desse projeto estapafúrdio/inócuo.

Sds
Manfredo
Manfredo Winge
Representante da SBG na SIGEP

ÁGUAS NO NORDESTE: Um debate 

30 de março de 2012,

Prezados Apolo, Patrocínio e Cássio,

Estava viajando pelo interior do estado da Bahia e não pude acompanhar as discussões de vocês.

Vou agora emitir o meu pensamento.

O foco é o problema dos recursos hídrico do Nordeste, embutido nele a Transposição, ou como usa o Governo o nome pomposo de Integração das Bacias do Nordeste.

A preocupação básica do colega e amigo Cássio é mostrar erudição técnica com números cheios de decimais falando da exatidão da matemática. A trama atmosférica, entretanto, é muita complexa, não usa decimal e costuma pregar peças nos técnico, nos cientistas e em todos os arautos do conhecimento.

Estou lendo na discussão o preciosismo de dados de vazões, o rendimento hidrológico, vazão regularizada, vazão útil, vazão disponível, vazão social e por aí vai, mas sempre bordejando a Transposição pelos arrabaldes sem enfrentar a questão pelo topo, tentando justificar com numerologias a loucura do Governo que teima na construção desta famigerada obra. O tema é a Transposição é sobre elas que temos de falar, sem dados surrealistas que nada convencem. O Nordeste precisa ou não da Transposição? O Cássio diz que precisa.

O orçamento inicial era 3,6 bilhões de reais para toda a obra, hoje está em 8,2 bilhões. Sabemos que o orçamento deverá alcançar os 16 bilhões se a obra chegar ao fim. O cálculo é meu sem medo de errar.

Um grupo de políticos, ávidos para salvar o Nordeste, apregoa abertamente o fim das secas e a salvação do povo com a Transposição. São verdadeiros patriopanças e ladriótas. Os técnicos vivem a fundamentar com “dados irrefutáveis” a vontade pardacenta dessa turma.

Carlos Lacerda já dizia: “O técnico é um profissional fundamental para o desenvolvimento de um país, mas se torna de alta periculosidade quando, a serviço do Governo, deixa de defender soluções para aplaudir posições”. É o caso do corpo técnico do Ministério da Integração, não é o caso de Cássio que apenas faz elucubrações hidrológicas tentando, como bom cearense, justificar o injustificável.

O Cássio diz textualmente: “O Açude Orós acumula cerca de dois bilhões de metros cúbicos e sua vazão regularizada é de 12 metros cúbicos por segundo. Quer dizer que de dois bilhões só se aproveitam, incrivelmente,  372 milhões de metros cúbicos. É como se o açude Orós tivesse  apenas 372 milhões de metros cúbicos”.

Nos cálculos do Projeto considera-se oficialmente a evaporação de 30% no Nordeste. Nós sabemos demais que o Orós chega a evaporar 60% ao ano. Vamos dividir ao meio, considerar para efeito de cálculo 45% porque a evaporação é variável, sem a exatidão da matemática, são dados estatísticos e é com eles que todos nós trabalhamos.

A Transposição com a vazão de 26 m³/s, levará 360.000.000 de m³/ano (ou os 372 do Orós) para os oito açudes escolhidos como bacias receptoras, mas estes já estocam 13 bilhões nos seus vasilhames. A evaporação do Castanhão, incrivelmente, um dos receptores da Transposição, é de 6 milhões de m³ por dia. Isto mesmo, 6 milhões/dia. O Cássio sabe disto, mas não declara. Todo o volume de água da Transposição de um ano vai cobrir apenas 60 dias de evaporação do Castanhão. É só calcular. Inacreditável!

Podemos, logicamente, dizer, aí entra a exatidão da matemática, que toda a estrutura da Transposição composta de 720 km de canais com 25 m de largura por 5 m de profundidade (90.000.000 de m³ escavados em rocha), 1 túnel escavado também em rocha com 17 km de extensão por 7 m de largura (maior do mundo para passagem de água), 27 aquedutos, 9 estações elevatórias e o consumo de 520 MW de energia (maior que o consumo do estado de Alagoas), toda esta estrutura ciclópica, repito, irá transportar por ano a titica de 360.000.000 de m³ de água para cobrir a evaporação de 60 dias daquele monumental açude. Esta é a Transposição. Só e só, não sobra mais água.

A Transposição está desnuda, senão vejamos: o Nordeste possui centenas de açudes que acumulam volumes muito maiores ao volume da Transposição tais como: Entremontes (340 milhões) Pacoti (370milhões), Pentecostes (420 milhões), Quixadá (430), Pedras Brancas (440) Poço da Cruz (504 milhões), Boqueirão (536), Santa Cruz do Apodi (600), Mãe D’Água (650), Coremas (750 milhões), Araras (1 bilhão) e por aí vai.

A cada 10 anos a Transposição usará 4 com o transporte máximo de 127 m³/s quando Sobradinho estiver cheio, levando 1,6 bilhões por ano para os 8 açudes. A estrutura da obra está sendo dimensionada para isto. Superior a estes míseros 1,6 bi existem o Banabuiu (1,7bi), Orós (2,1bi) e Açu (2,4 bi) além do Castanhão que é um açude oceânico com 6,7 bilhões (3 vezes a Guanabara).

Como vemos, matematicamente, a transposição de 26m³/s não enche o açude Pentecostes no Ceará e a transposição de 127m³/s não enche o Banabuiu também no Ceará. Mais alguma dívida?

No Nordeste temos estocado nos seus açudes 40 bilhões de m³ de água, volume igual a 16 baias da Guanabara (eles não suportam esta comparação com a Guanabara que é a 2ª maior baia do Brasil e a 3ª do mundo).

O volume transportado representa 1% a 2% do que já existe no Nordeste, mas, segundo os sábios da Corte, é este volume que vai salvar a região da crônica escassez de água.

Esta é a Transposição salvadora que vai suprir as necessidades hídricas dos nordestinos sequiosos, segundo o Governo brasileiro.

O Cássio ainda tem a coragem de falar em irrigação. Levar água caríssima (5 vezes o preço da CODEVASF) a mais de 700 km para irrigar litossolos deixando de irrigar os latossolos do beiço do rio a 0 ou a 1 km da fonte. A água que vai irrigar 1 ha lá no Nordeste irriga 3 ha nas barrancas do rio (Alberto Daker).

João Suassuna é irrepreensível quando diz que a Transposição é chuva no molhado. E o Governo, despudoradamente, tapeia a sociedade nordestina oferecendo um banho de água no Nordeste. São pratos de lentilhas que apetecem.

A preocupação do colega Cássio é dizer que o Prof. Aldo Rebouças errou, só entendia de águas subterrâneas como se fosse admissível a um hidrólogo dissociar águas de superfície de águas de sub superfície. É a valorização de contestar um cientista que não pode mais se defender. Rebouças dizia textualmente: “Existe uma abundância de recursos hídricos superficiais no Nordeste”.  Sobre Aldo Rebouças quem pode falar com propriedade é o paraibano José do Patrocínio, o mago da Hidrologia do Nordeste.

Quisera o Brasil que nos tivéssemos quatro ou cinco cientistas do nível do Aldo.

Não precisamos polemizar esta é a verdade cartesiana.

 O colega amigo,

Manoel Bomfim Ribeiro

(manoel.bomfim@terra.com.br )


De: Manfredo Winge [mailto:mwinge@terra.com.br]
Enviada em: terça-feira, 13 de junho de 2017 10:34
Para: 'Dep. Adão Villaverde (villaverde@al.rs.gov.br)'; Dep. Beto Albuquerque (dep.betoalbuquerque@camara.leg.br); Dep. Margarida Salomão ; Dep. Onix Lorenzoni (dep.onyxlorenzoni@camara.leg.br); 'Dep. Osmar Terra (dep.osmarterra@camara.gov.br)'; 'Dep. Vieira da Cunha (dep.vieiradacunha@camara.gov.br)'; Sen. Alvaro Dias (alvarodias@senador.gov.br); 'Sen. Ana Amélia (ana.amelia@senadora.gov.br)'; 'Sen. Cristovam Buarque (cristovam@senador.gov.br)'; Sen. Lasier Martins; 'Sen. Paulo Paim (paulopaim@senador.gov.br)'; Ver. Adeli Sell ; Ver. Valter Nagelstein
Assunto: Transposição racha de novo e 'estoura' em Custódia

 Infelizmente, algumas das previsões (http://mw.eco.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm ) estão começando a ser concretizadas.

Manfredo

=-==-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=-=

Ver matéria e vídeo em:

http://www.diariodepernambuco.com.br/app/noticia/economia/2017/06/11/internas_economia,708279/transposicao-racha-de-novo-e-estoura-em-custodia.shtml

 

Transposição racha de novo e 'estoura' em Custódia

Depois de apresentar problemas durante a construção, a obra rompeu o canal por problemas de engenharia. O vazamento ocorreu em Custódia, onde já havia apresentado rachaduras antes mesmo de a água chegar.

Por: Diario de Pernambuco

Publicado em: 11/06/2017 15:46 Atualizado em: 11/06/2017 16:32

A obra da Transposição do São Francisco apresentou mais um problema no trecho pernambucano. Em Custódia, a construção do canal rompeu, provocando vazamento de água. O relato virou assunto nas redes sociais, com questionamentos em relação à qualidade da engenharia. O prefeito da cidade de Sertânia, Ângelo Ferreira, que fica a 40 quilômetros de Custódia, confirmou o vazamento ao Blog do Magno Martins, informando que a empresa responsável pelo trecho já conteve o vazamento para evitar danos maiores. A obra é de responsabilidade do Ministério da Integração Nacional e já está em construção há dez anos. O custo do projeto é de R$ 8,2 bilhões.
O trecho em questão integra o Eixo Leste e foi o primeiro a receber a água do Velho Chico, percorrendo Pernambuco com destino à Paraíba. Em Custódia, onde ocorreu o incidente deste fim de semana, a água chegou em fevereiro deste ano, um percurso de quase 100 quilômetros a partir da captação do Rio até a quarta Estação de Bombeamento Vertical (EBV) do trecho, equipamento que leva a água a alturas em que o fluxo não consegue seguir por gravidade. A terceira EBV do Eixo Leste, por sinal, foi inaugurada com bastante tom político pelo presidente da República, Michel Temer.
Vários trechos da obra foram construídos e, com a falta de continuidade, apresentaram rachaduras, fissuras e até sinais de abandono (mato crescendo em meio aos canais). Há pouco mais de um ano, os incidentes foram testemunhados pela reportagem do Diario. Na época, o Ministério afirmou que os reparos são de responsabilidade das construtoras, que tem o contrato de entregar a obra em plenas condições, sem custo extra ao governo federal.
Prioridade do Governo Federal, a maior obra de infraestrutura hídrica do País, quando totalmente concluída, vai atender mais de 12 milhões de pessoas em 390 municípios nos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. O Eixo Leste já está completamente em testes, com água em todos os equipamentos. Já o Eixo Norte, ainda tem um trecho com licitação em andamento e tem previsão de entrar em testes de operação ainda neste ano.
A obra foi iniciada em 2007 no governo Lula e tinha previsão de entrega em 2010, ao custo de R$ 4,5 bilhões. A construção amargou paralisações, contratos interrompidos, precisou ser relicitada em vários trechos e viu o valor quase que dobrar. Durante o governo Dilma Roussef, a obra sofreu dois grandes reajustes, quando foi para R$ 6,7 bilhões e, em seguida, aos R$ 8,2 bilhões atuais.
Apesar do status de "abastecendo as cidades", como divulga o governo, a água que chega pelos canais nos estados de Pernambuco e da Paraíba ainda não está liberada para consumo humano. O Ministério da Integração Nacional espera a resposta do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), que aprovou a liberação da água para testes dos equipamentos e vai validar o consumo mediante análise das compensações ambientais do dano ao ecossistema.
Ainda de acordo com o ministério, depois da liberação, o controle da água será dado aos estados, que terão a responsabilidade de tratar a água e fazer a distribuição para a população. A água, por enquanto, pode ser vista, mas não utilizada.


O sonho de D. Pedro pelas mãos de
Lula, o condenado pela justiça brasileira

De: bbleybn@usp.br [mailto:bbleybn@usp.br]
Enviada em: quarta-feira, 12 de julho de 2017 18:56
Para: patrociniotomaz; Rui Gomes da Silva; Fabio Agra Medeiros; Manfredo Winge; ticiano; Wagner Amaral; Arlindo Pereira de Almeida; Cezar Gouvêa; F. Alkmim; Gorki Mariano; Joaquim Torquato; Bartorelli; Carlos Schobbenhaus Filho; Monica Heilbron; pedrosasoares; Ricardo Pessôa; aroldo misi; Celso Dal Re Carneiro
Assunto: O sonho de D. Pedro pelas mãos de Lula, o condenado pela justiça brasileira


Réplica ao e-mail anterior - Ponderações sobre o Projeto de Transposição

De: patrociniotomaz [mailto:patrociniotomaz@uol.com.br]
Enviada em: sexta-feira, 14 de julho de 2017 11:44
Para:
bbleybn@usp.br
Cc: Rui Gomes da Silva; Fabio Agra Medeiros; Manfredo Winge; ticiano; Wagner Amaral; Arlindo Pereira de Almeida; Cezar Gouvêa; F. Alkmim; Gorki Mariano; Joaquim Torquato; Bartorelli; Carlos Schobbenhaus Filho; Monica Heilbron; pedrosasoares; Ricardo Pessôa; aroldo misi; Celso Dal Re Carneiro

Assunto: Re: O sonho de D. Pedro pelas mãos de Lula, o condenado pela jsutiça brasileira

 Bley

 Você sabe qual a minha posição sobre a obra da Transposição e o abastecimento das populações, urbana e rural, do semiárido paraibano e nordestino. É eminentemente técnica e científica. Nada tem de política, mesmo porque ela não exime Lula, nem Dilma, nem Temer, nem os governadores, dos pecados capitais que cometeram. Gostaria que, em vez de se impressionarem com o gigantismo dos canais, vissem que, para abastecer Campina Grande e as demais 18 cidades, se a opção correta fosse a Transposição (é bom ler os Planos Estaduais de Recursos Hídricos dos estados do Nordeste Oriental e o que está acontecendo com as águas do rio São Francisco, o que põe em cheque a Transposição para este e os anos vindouros), o meio correto seria trazer as águas por adutoras, onde os custos de operação e de manutenção são muito menores. Já houve arrombamento de duas barragens e a quebra do canal nas cercanias de Sertânia. E isto (a quebra de canais) vai ocorrer por um motivo muito simples: eles foram projetados para a vazão transponível máxima que deveria ocorrer quando o reservatório de Sobradinho atingisse o chamado volume de espera (volume adicional construído para ser esvaziado e controlar enchentes), ou sangrasse, fenômenos cujos tempo de retorno leva anos. Entretanto, o canal operará, na grande maioria dos anos, com a vazão mínima. Isto deixa o perímetro do canal seco em suas abas e a espessura da massa d'água, mínima, o que expõe a estrutura do canal às contrações e dilatações volumétricas térmicas e, consequentemente, a fraturamentos. Os canais devem ter o perímetro molhado quase igual a todo o perímetro do canal. Eles são dimensionados em função da vazão transportada. Nunca em função da possível vazão máxima. Os canais do São Francisco, talvez, sejam os únicos do mundo a serem dimensionados assim. Coisas da engenharia de empreiteiras que nada fazem para seguir as regras técnicas e atendem aos políticos, superfaturando obras. A propósito, ela foi orçada em 4,8 bi de reais e vai custar, algo em torno de 10 bi de reais. Sem contar que o objetivo da obra, cantada em prosa e verso, era o abastecimento humano. Ainda esta semana, a ANA divulgou que a Transposição vai servir para irrigação de pequenos produtores rurais, situados à margens dos canais (na realidade, vai haver a participação de empresas). Um máximo de 50.000 hectares seriam destinados para tal. E os demais rurícolas (a maioria) ficarão sujeitos ao deus dará das chuvas. Para você ter uma ideia, só na Paraíba semiárida a área de plantio atinge os 600.000 hectares. Vão criar duas classes a mais de brasileiros. E olhe que não sou socialista, nem, muito menos, comunista. Quanto à bacia do São Francisco, e seus reservatórios, segue em anexo, informações da semana passada, sobre a real situação da bacia e a situação de Sobradinho em Novembro-Dezembro de 2015.

Abraços,
Patrocínio

P.S.- Precisamos ter conhecimento do que se passa para que a Transposição, em vez de ser solução, se constitua num pesadelo. Oba, oba, não resolve. Pés no chão e devagar com o andor que o Santo é de barro.

 Patrocínio Tomaz
patrociniotomaz@uol.com.br
patrociniotomaz@gmail.com
 


Réplica 2  - Transposição do Rio São Francisco - AVALIAÇÕES

 

De: Manfredo Winge
Enviada em: domingo, 16 de julho de 2017 16:26
Para: 'patrociniotomaz'; 'bbleybn@usp.br'; 'Rui Gomes da Silva'; 'Fabio Agra Medeiros'; 'ticiano'; 'Wagner Amaral'; 'Arlindo Pereira de Almeida'; 'Cezar Gouvêa'; 'F. Alkmim'; 'Gorki Mariano'; 'Joaquim Torquato'; 'Bartorelli'; 'Carlos Schobbenhaus Filho'; 'Monica Heilbron'; 'pedrosasoares'; 'Ricardo Pessôa'; 'aroldo misi'; 'Celso Dal Re Carneiro'
Cc: 'Dep. Adão Villaverde (villaverde@al.rs.gov.br)'; Dep. Beto Albuquerque (dep.betoalbuquerque@camara.leg.br); Dep. José Fogaça ; Dep. Margarida Salomão ; Dep. Onix Lorenzoni (dep.onyxlorenzoni@camara.leg.br); 'Dep. Osmar Terra (dep.osmarterra@camara.gov.br)'; 'Dep. Vieira da Cunha (dep.vieiradacunha@camara.gov.br)'; Sen. Alvaro Dias (alvarodias@senador.gov.br); 'Sen. Ana Amélia (ana.amelia@senadora.gov.br)'; 'Sen. Cristovam Buarque (cristovam@senador.gov.br)'; Sen. Lasier Martins; 'Sen. Paulo Paim (paulopaim@senador.gov.br)'; Ver. Adeli Sell ; Ver. Valter Nagelstein ; Aristides Arthur Soffiati Netto (as-netto@uol.com.br); Carolina Bahia; Cláudia Laitano ; David Coimbra (david.coimbra@zerohora.com.br); Luis Fernando Verissimo; Lya Luft ; Martha Medeiros; Percival Puggina ; Rosane Oliveira
Assunto: Transposição do Rio São Francisco - AVALIAÇÕES

 Prezado colega Patrocínio, senhores políticos, jornalistas e demais colegas em c/c ou c/co,

muito boas observações e de quem conhece o assunto.

Patrocínio, esta sua proposta de “entubar”(uso de adutoras) a “transposição” para distribuição mais direta e em ramificações otimizadas da água pelas cidades maiores até pequenas vilas e povoados, de forma estrategicamente planejada (o que, certamente, seria feito com avanços programados, sem correrias das empreiteiras $edenta$),  já foi postada na antiga discussão que organizamos como um ciber fórum registrado originalmente em provedor da UnB (anteriormente à tumultuada e onerosa construção dos canais)  e que, hoje, pode ser vista em http://mw.eco.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm#8_Patrocínio

Aproveito para informar que incluirei, também, na mesma página: estas suas observações, às do colega Bley, estas ponderações minhas e um  link  para o excelente trabalho de 2001 do Engo Agr. Suassuna da Fundação Joaquim Nabuco (http://mw.eco.br/ig/pvista/Suassuna2001__TRANSPOSICAO.pdf) .

Não sou especialista em engenharia hidráulica, mas me arrisco a tecer alguns comentários que penso serem pertinentes e bem a propósito do assunto, para que se sigam antes de execução de projetos semelhantes,  recomendações como às do colega Elói (http://mw.eco.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm#1_Eloi)  que alertou, seguidamente, para a necessidade de mais estudos, inclusive na linha cientificamente correta, análoga à do Eng. Suassuna, de que tem que se cuidar da “galinha” (meio ambiente com revitalização do Véio Chico) para se ter ovos (água para a transposição).

Entendo que a sua proposta, se tivesse sido seguida, implicaria, então, em:

1) mais segurança e muito menores custos de execução e manutenção posto que, com sistemas de registros e bombeamentos inteligentemente organizados e eficientes, praticamente não haveria perdas por rachaduras e desmoronamentos dos canais e barragens como vêm acontecendo (1ª perda);

2) contida nos dutos, a água não evaporaria (2ª  perda) e, consequentemente, não salgaria o que pode vir a acontecer nos canais muito aquecidos pelo sol e em longos percursos;

3) a água seria direcionada diretamente para os usuários humanos e, secundariamente, para criações e cultivos, dentro de uma política de bom uso da água e amplamente distribuída por ramificações a partir de grandes caixas d’água fechadas (minimizando a evaporação) por gravidade e/ou por bombas dimensionadas para esses fluxos secundários (poderia até  existir sistema informatizado de  controle com uma contabilização de quantos m3/s deveriam ser direcionados para cada uso com multas por excesso/desperdício tudo controlado por hidrômetros com sensores);

4) os dutos poderiam ter sido fixados, preferencialmente, em espigões ou encostas (seguindo estradas?) de forma a liberar as calhas dos rios, tão importantes para as culturas das “vazantes”, em grande parte hoje perdidas para os canais da transposição, como advertido que iria acontecer pelo saudoso Prof. Aziz Nacib Ab’Saber;

5) não ocorreria o tipo de desastres com altos custos financeiros e sociais que podem vir a se tornar frequentes devido a “antiguidade” das paredes (mal?) concretadas (já houveram rupturas), e, também, devido às rachaduras ocasionadas pela expansão/contração diferenciadas de concreto com temperaturas variáveis de dia e de noite e à exposição variável entre a parte molhada e a seca sob o sol inclemente.

Talvez venham a surgir outro problemas como roubo/desvio de água dos canais o que seria muito difícil de ocorrer com os dutos além de com dutos se ter imediata detecção, desde que as pressões de recalque e as medidas por hidrômetros fossem processadas por uma central de monitoramento.

Como os alertas neste caso já vêm de longo tempo, talvez coubesse propor auditagem sistemática com instituições não envolvidas (com simpósios, forums, etc.) no detalhamento de todos os projetos técnicos, maiormente os onerosos, visando evitar o que vêm acontecendo com frequência: - políticos determinando a execução de projetos sem se exaurir a análise de todos os pontos negativos levantados por especialistas experientes das áreas técnicas a que se relaciona cada projeto.

Abraço

Manfredo http://mw.eco.br/zig/hp.htm


Réplica 3  - Aiquel

From: Marcelo Aiquel
Sent: Monday, July 17, 2017 6:39 AM
To: 'Manfredo Winge'
Subject: RES: Transposição do Rio São Francisco - AVALIAÇÕES

Manfra, bom dia

Não simpatizo com o Paulo Maluf, mas tem uma ideia dele que comungo:
O PROBLEMA DA FALTA DE ÁGUA NO NORDESTE (PELAS SECAS) SERIA FACILMENTE RESOLVIDO COM O DINHEIRO DOS ÁRABES E A TECNOLOGIA DOS JUDEUS!
Se no deserto funcionou....
 
Abração
 Marcelo


Réplica 4  - Transposição do Rio São Francisco - E-mail de Danni

 From: Jose Caruso Danni
Sent: Sunday, July 16, 2017 7:18 PM
To: Manfredo Winge
Subject: Re: Fw: Transposição do Rio São Francisco - AVALIAÇÕES

Caro Manfredo,

Muito obrigado por me incluir no seleto grupo que discorre com grande conhecimento e experiência sobre o assunto. Desde abril de  1966 não mais me envolvi com este tema, depois de ter atuado como geólogo no velho DNOCS de Pernambuco. Sei que desde então muita água rolou sob a ponte, com o advento de novos conhecimentos e tecnologias no campo da hidrologia e das engenharias.
Alem disso a realidade dos sertões nordestinos deve ter mudado desde então. Lembro ainda das reflexões que nós, ainda  geólogos novatos, fazíamos sobre as melhores soluções de como proporcionar o abastecimento d'água aos núcleos populacionais e também às propriedades rurais ( necessidade de irrigação de lavouras e pastagens) sem que fossem soluções puntuais ou, por outra, como transformar o somatório das soluções puntuais ( poços, cacimbas, barragens subterrâneas nas aluviões em talvegues...etc) numa rede sustentável de abastecimento.
Percebo que tal dilema de certa forma se mantem. É obviamente impensável disponibilizar a água por toda  a extensa área dp NE. Sobretudo naquelas desprovidas de um adequado perfil de solos ( e são muitas estas áreas) que possam servir de substrato a culturas agrícolas. Desde muito os técnicos de diversas áreas falam que se deve concentrar esforços e mesmo privilegiar as áreas com maior potencial agrícola ( várzeas, chapadões, áreas sedimentares com aquiferos profundos, pediplanos com bons solos, etc) . Rasgar com canais ,indiscriminadamente, extensas  áreas com baixo potencial agrícola é um desperdício injustificável. É criar falsas  expectativas sobre aproveitamento econômico de áreas estéreis, posto que desnudadas da cobertura de solo.
Penso que  a água é mais valiosa do que o petróleo. Ela se diferencia por ser geradora e sustentáculo  da vida.
Se para o petróleo há oleodutos, mundo afora, que ha muito cruzam fronteiras diversas ( países, ideologias, povos...) pergunto: por que não se fazer o mesmo aqui, com a água,  sem o custo de cruzar tais fronteiras?
 
Nada mais simples,não é?

Um abraço, desde Garopaba, em pleno inverno.
Danni.


TÉCNICAS ISRAELENSES PARA ÁREAS DESÉRTICAS

De: Manfredo Winge
Enviada em: segunda-feira, 12 de novembro de 2018 20:54
Para: Marcelo Aiquel
Assunto: Para o NORDESTEs - exemplo de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

Prezado Marcelo,

Vendo matérias como às relacionadas abaixo e o vídeo anexo (foi-me enviado por whattsapp junto com apologias do remetente ao novo presidente eleito), lembrei-me da sua contribuição em réplicas sobre a oportunidade de execução do sistema de transposição de águas do São Francisco; esta réplica pode ser acessada em http://mw.eco.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm#27_Replica3_Aiquel dentro do ciber fórum que reúne pontos de vista, réplicas e tréplicas envolvendo vários especialistas hidrólogos  e hidrogeólogos e interessados na questão de Transposição do rio São Francisco. Pena que sua réplica não foi comentada por ninguém. Créditos ao amigo por ter apontado este caminho já desenvolvido pelos israelenses.

Assim, além das barragens subterrâneas (aumentando os aquíferos de aluviões que escaparam da escavação do canal e das bacias de acumulação), também o uso criterioso e técnico de irrigação por gotejamento será sempre importante no Nordeste árido e semiárido, independentemente do sistema de transposição em canais já quase finalizado. Mesmo porque o Nordeste tem muita área que pode – bem aproveitada com essas técnicas – dar duas a três colheitas por ano.

Matérias captadas na internet:

Abraços
Manfredo
c/co colegas e amigos

Manfredo Winge - http://mw.eco.br/zig/hp.htm[confraria democrática do bom senso]
         Webmaster: 
1o SITE do IG/UnB
                             Glossário Geológico Ilustrado
                              SIGEP Sítios Geológicos e Paleobiológicos do Brasil

      
 "Aqueles preocupados com o custo da educação deveriam antes considerar o custo da ignorância".
                   Derek Bok, ex-Reitor da Universidade de Harvard (foi-me enviado por e-mail)


COMENTÁRIOS & RÉPLICAS

De: João Castro Castro [mailto:jwacastro@gmail.com]
Enviada em: terça-feira, 13 de novembro de 2018 12:53
Para: Manfredo Winge
Assunto: Re: Para o NORDESTEs - exemplo de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

Caro Manfredo,

 Nos não precisamos dos israelenses para o desenvolvimento do nordeste e do Brasil. Precisamos de fomento governamental e apoio tecnológico. Técnicos e cientistas na área agrícola temos de sobra. Israel é um estado mal visto pela comunidade internacional.  

Castro

Prof. Dr. João Wagner Alencar Castro
Laboratório de Geologia Costeira, Sedimentologia & Meio Ambiente (Museu Nacional) Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ.
Quinta da Boa Vista, s/n, São Cristovão, CEP. 20940-040, Rio de Janeiro
Tel +55(21) 25626974 e Cel + 55(21) 88411960
.


 De: Manfredo Winge
Enviada em: sexta-feira, 16 de novembro de 2018 21:30
Para: João Wagner de Alencar Castro (jwacastro@gmail.com)
Assunto: Coment/Réplicas: Para o NORDESTEs - exemplo de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

Prezado Castro,
no início dos anos 70 – plena ditadura militar – fiquei, circunstancialmente, envolvido na direção daquele que era, então, o órgão máximo da Geologia do País (A DGM- Divisão de Geologia e Mineralogia do DNPM cujas atribuições estavam sendo passadas para a recém-criada CPRM);  substituía, então, como interino do colega Horta afastado em um curso. E, nem por isto, eu e colegas como Tosatto, Da Vinha, Derze, Diógenes e vários outros que me auxiliaram na direção, nos manchamos com qualquer atitude que fosse de apoio político ao governo que tomou conta de nossa pátria.

Ah.. isso é cooptação interesseira ou, Ah.. eram alienados servindo aos ditadores, diriam alguns mais afoitos.

Nada disso, caro colega; éramos das primeiras turmas de geologia cheios de gás e altamente motivados que fomos servir ao Estado, à Geologia e não ao governo, quanto mais ao que aí se instalou antidemocraticamente, isto porque nossa atividade de geologia, tipicamente de Estado, está ligada aos interesses de toda a Nação.

Assim, com este preâmbulo “filosófico”, fecho dizendo que, acima do fato de os israelenses terem lá suas feias quizumbas com os palestinos, notadamente do grupo extremista Hamas, o que nos interessa não é a briga deles, mas sim a posse das tecnologias e metodologias que os judeus desenvolveram para tornar a pátria deles a maravilha que é, como o colega deve ter visto nos vídeos que enviei.

Desta maneira, contando com o apoio de cientistas israelenses e de outros países que sejam também competentes em desenvolver áreas desérticas, é que faremos um enorme atalho na implementação de nossas áreas de pesquisa-teste, ensino e desenvolvimento de transformação ecológica da caatinga, objetivando  a formação de pessoal multidisciplinar nosso e de adaptações tecnológicas que se fizerem necessárias, para, enfim, partir para desenvolver projetos sistemáticos visando recuperar áreas estratégicas em todo o Nordeste semi-árido e levar irrigação controlada onde tiver maior efeito multiplicador de transferência de tecnologia para, assim, se criar muitos pomares, plantações, criações, desenvolver matas galerias,...  como um Éden para este povo nordestino que sofre eternamente com o problema da seca, visto e sabido que os 2 canais de transposição – tão decantados- não vão suprir sozinhos toda a água necessária e resolver por si a questão de desenvolvimento econômico e social de toda esta sofrida região nordestina. Regiões  que conheço por grandes extensões ao realizar mapeamentos geológicos pela SUDENE nos idos da década de 1960 junto com mais uma meia dúzia de gaúchos que se abalou para aquelas plagas logo que formados.

Observo, também, ao colega que não votei no presidente eleito nem no primeiro nem no segundo turno que, aliás,  votei NULO por não acreditar na competência de nenhum dos dois candidatos (extrema direita e extrema esquerda) que sobraram, o que interpreto que foi devido ao processo de degradação política do País levando nosso povo a optar já no primeiro turno por extremistas salvadores da pátria (com feios prognósticos para o futuro, segundo ainda penso – tomara que esteja errado). Mas nem por isto, deixarei da apoiar ações de governo –qualquer governo – ações que busquem solucionar pragmática, social e cientificamente os nossos graves problemas de desigualdade social permeada por uma cada vez maior falta de alteridade/solidariedade e com violência crescente entre outros pontos também muito graves.

Abraços
Manfredo

     OBS – será postado em http://mw.eco.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm

 Manfredo Winge - http://mw.eco.br/zig/hp.htm[confraria democrática do bom senso]
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        "Aqueles preocupados com o custo da educação deveriam antes considerar o custo da ignorância".
                   Derek Bok, ex-Reitor da Universidade de Harvard (foi-me enviado por e-mail)


De: Luiz José HoMem D'el-Rey Silva
Enviada em: quinta-feira, 15 de novembro de 2018 17:59
Para: Manfredo Winge
Cc: Manfredo Winge
Assunto: Re: ENC: Para o NORDESTEs - exemplo de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

 Parabéns, Manfredo!!!

Abraço.

Luiz D'el-Rey


De: Manfredo Winge
Enviada em: sábado, 17 de novembro de 2018 16:33
Para: 'Luiz José HoMem D'el-Rey Silva'
Assunto: Coment/Réplicas - Para o NORDESTE - exemplos de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

Caro D’el-Rey,
        c/co colegas e amigos/as
   
obrigado pelo constante apoio com excelentes críticas e sugestões muitas vezes.

Creio que fica evidente que, para resolver a questão de falta d’água no nosso Nordeste, assim como deveria ocorrer com qualquer projeto de interesse público, devemos “dar um pontapé” de vez nessa mentalidade atrasada das restrições “ideológico”/políticas, partidárias ou não, e avançar com as novas ferramentas científicas e tecnológicas já testadas que se apresentarem (aqui ou em qualquer lugar do mundo) e desenvolver com a nossa criatividade as inovações e adaptações às nossas condições, sempre sem açodamento tipo “projeto transposições”, “projeto transamazônicas”, ... de custos extraordinários, com implantação cheia de dificuldades e gastos muito grandes de manutenção (como já ocorre nas transamazônicas “mais barro que estrada” e nesta transposição implantada com rachaduras e solapamentos, evapotranspiração com salinização, etc.).
Isto não implica em abandonar tudo o que já está feito e quase concluído, para começarmos, idiotamente,  algo novo do começo sem maiores justificativas como é  vezeiro ocorrer em nossa “política” de 4 em 4 anos, a cada mudança dos “chefes” políticos (coisa de “oposição política” dos nossos tristes tempos). Assim, pode-se, ou melhor: deve-se fazer uma avaliação cuidadosa para:
(a) ver se existem possibilidades de otimização do sistema de transposição implantado (sombreamento dos canais diminuindo evaporação?, p.ex.) e
(b) avaliar novas alternativas de aproveitamento da água dos canais com outras técnicas de manejo? e quais (gotejamento em lavouras, grandes cacimbas de reservação - para uso humano ou outro - sem evaporação;..),
e, assim, definir  viabilidades e custos destas intervenções, cotejando quais seriam os retornos sociais e financeiros para se ter auto sustentação, etc. (Ou seja: estudar e planejar, planejar, planejar.. e só então executar! => veja sugestões a seguir abaixo:
PARA REFORMA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA)
Vista a importância de regiões como à do Nordeste que, além de enorme potencial de tours de turismo paisagístico, ecológico, geológico, mineralógico, paleontológico, antropológico, cultural, folclore, gastronômico, religioso, etc., conta com ~ 9 meses de seca por ano, permitindo 2 a 3 colheitas/ano, seria importante desenvolver, em esforço multi universitário integrado e multidisciplinar/interministerial,  um bom programa de pesquisas com doutorados e mestrados focando tais regiões, p.ex., em geotécnica e urbanismo (incluindo restaurações estético/históricas), hidrologia (!!!), pedologia, reflorestamento, engenharia agronômica, agropecuária, processamento de dados com inovações informáticas de aplicativos de controle e de sistemas gerenciais de grande integração, etc.
Um dos projetos deste programa global poderia ser focado em uma reavaliação científica de erros e resultados positivos do Projeto de Transposição do Rio São Francisco o que poderia nos indicar soluções de ordem prática para revisões em uso imediato ou para corrigir problemas na área de influência dos dois canais de transposição e, principalmente, para o planejamento e execução com bases científicas e avaliações financeiras mais consistentes de novos projetos aplicáveis a todo o Nordeste. Entre outros consequências se criaria know how, para desenvolver desde mini transposições fluviais para equalização hídrica  entre bacias e sub-bacias usando, na medida do possível, a força da própria correnteza de veredas, cataventos, energia solar,... (autossustentáveis) até revisões globais e estratégicas de um projeto de melhor apropriação e desenvolvimento/adequação da terra para macro regiões economicamente distintas.

Abraço
Manfredo

       
OBS – será postado em http://mw.eco.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm

Manfredo Winge - http://mw.eco.br/zig/hp.htm[confraria democrática do bom senso]
         Webmaster: 
1o SITE do IG/UnB
                            
Glossário Geológico Ilustrado
                             
SIGEP Sítios Geológicos e Paleobiológicos do Brasil
      
 "Aqueles preocupados com o custo da educação deveriam antes considerar o custo da ignorância".
                   Derek Bok, ex-Reitor da Universidade de Harvard (foi-me enviado por e-mail)

 Cópia do anexo enviado
PARA REFORMA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA:

REORGANIZAÇÃO DO PLANEJAMENTO E DA EXECUÇÃO NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Manfredo Winge             
©: http://mw.eco.br/zig/Pequenas_Sugestoes.pdf                   

Preâmbulo:

Hoje, raramente alguém é responsabilizado e penalizado pelos maiores absurdos que comumente ocorrem na administração pública de nosso País, sendo que as ineficiências e incompetências só vão aparecer – se aparecerem - como fato consumado, muitas vezes em desastres, só no fim do projeto, isto quando o projeto não é simplesmente abandonado. Cabe lembrar que, diuturnamente, são relatados na imprensa casos de abandono de obras importantíssimas para saúde, educação, transporte, ... por conta de projetos e atividades tocados de qualquer jeito sem responsabilidades assumidas e recursos garantidos e cronogramas a serem respeitados.
Assim, é comum que batalhas administrativas e até judiciais, muitas vezes inócuas, vão persistir nestas ineficiências e ocupar o Ministério Público, tribunais de contas, judiciário sem nem servirem de exemplo para que esses erros praticados não venham nunca mais a se repetir. Pois, certamente serão repetidos se não houver providências sérias, principalmente para o caso de projetos relacionados a
propinodutos.
Já projetos bem pensados, planejados, com previsibilidade de recursos disponíveis dentro das prioridades assumidas pelos governantes e, por isto, realistas, dificilmente poderão ser, irresponsavelmente, criticados e bloqueados como ocorre atualmente nos nossos parlamentos entre "situação" e "oposição", via sanha sinistra da atual política de nós contra eles.. e os contribuintes e comunidade em geral que se ferrem.
Assim, temos mais é que planejar.. planejar...planejar.... e, então, tudo Ok? Ok, aí é aprovar para só executar no tempo certo e programado, com recursos e tudo o mais conforme previsto. Sabemos que não é isto que vem ocorrendo pelo nosso infeliz País afora que caiu nas mãos de facínoras e ladrões em uma imensa estrutura de poder e corrupção de braços dados com sua prima irmã ineficiência. E tudo medrado a partir da sofreguidão de poder de “políticos” pela possibilidade de reeleição
ad eternum o que exige miliardárias (2,7 bilhõe$ a serem torrados em 2018) “propagandas e campanhas eleitorais” que vendem esses “bons” políticos com jingles e historinhas maravilhosas além de muitas promessas, logo esquecidas após a eleição.

Sugestão:

Carecemos desde sempre (?) de um efetivo e realista Sistema Público de Planejamento e Acompanhamento Executivo/Financeiro de projetos e subprojetos - tipo PERT (Program Evaluation and  Revisional Techniques) – estruturados dentro de Programas e Planos de Governo bem como a definição (ou revisão) padronizada de protocolos de rotinas nas atividades continuadas (ou sistêmicas), como atendimentos médicos, burocráticos,.. com previsões abalizadas de custos financeiros, recursos físicos e humanos e prazos como garantia de exequibilidade continuada de toda a ação governamental. Bem bolado, testado e implementado, pode-se chegar a um Sistema Governamental de Controle que integre, vertical e horizontalmente em estrutura programática matricial, os órgãos setoriais executivos dos níveis municipal, estadual e federal que estejam envolvidos no planejamento e/ou na execução de cada ação governamental. É evidente que para início deverão ser preparadas equipes de monitores sobre as técnicas de planejamento e avaliações, controle, etc. para, talvez através de EAD (Ensino À Distância por internet) levar esses conhecimentos e exercícios de diagramação para equipes de todos os municípios e estados. Assim, lastreados em sistema informático nacional, de fácil acesso para o gerenciamento governamental e para consultas comunitárias, com todas as ações/eventos e metas planejadas, das mais simples às mais complexas, codificadas com protocolos de responsabilização em termos de gestão e de execução, apropriação de custos, atrelando-se os respectivos orçamentos aprovados em centros e sub centros de custo sempre com os CPF's dos responsáveis pela execução e gestão de cada projeto de governo, podese, a qualquer momento, puxar do sistema em que etapa está um projeto, quem é seu gerente, quanto já despendeu e em quais setores ou centros de custo, quando está previsto o seu término, etc. Ou seja, de forma bem diferente ao que vem ocorrendo no País sem controle, sem informações e indicação de responsáveis por atividades diretas ou contratadas. Com tal sistema implantado e de fácil acesso às informações básicas, qualquer anomalia em termos de tempos, custos (financeiros, humanos, equipamentos,..) deverá acender uma luz de revisão em tempo de execução com a indicação das corretas responsabilidades no projeto ou atividade para avaliação e solução imediata ou, até, de indicação de soluções automatizadas, se for o caso, incluindo soluções extremas como uma revisão drástica ou até a indicação de cancelamento total para evitar mais desperdícios, se assim constatada a necessidade. Esta sugestão implica em uma total revisão do sistema atual, notadamente em termos de gestão e da ação continuada e eficiente desta gestão pública. Para tanto, no Executivo somente se deveria ter, como chefias, funcionários de carreira selecionados por critérios de méritos bem objetivos e transparentes, rígidos ao ponto de poderem levar à exoneração de cargo de chefe, diretor,.. como incompetente, caso o mesmo não consiga atingir as metas e objetivos indicados no diagrama de planejamento sem uma  razoável justificativa técnica. Adicionalmente, um sistema funcional de planejamento e execução como o proposto deve ser programado, gerenciado (revisado sempre que necessário), e operado (ou fiscalizado em obras licitadas) fundamentalmente por pessoal preparado de carreira. Já para os altos escalões, de ministros e diretores operacionais e financeiros, a escolha (pelo presidente ou primeiro ministro, governador, prefeito) dos responsáveis deveria ser feita a partir de listas sêxtuplas de candidatos selecionados por votação ampla e bem controlada em associações profissionais, sociedades científicas, associações patronais,... todas com vínculos direto ou indireto com a(s) área(s) do Ministério ou Secretaria. E, importante, projetos e rotinas de serviços básicos para a população já em execução, exceto casos extremos e perfeitamente justificados por defesa técnica abalizada e aceita, não poderão mais ser descontinuados por uma simples penada de novo “chefe”, diretor, prefeito, ministro, governador, presidente,.. na tentativa de mudar intempestivamente os rumos da programação já consolidada e em andamento.

Resultados esperados:

1 - atingir um perfeito domínio informático sobre o planejamento, a execução e apropriação de custos governamental – o que não ocorre hoje, com dados confiáveis e de fácil acesso, projetos bem definidos e controlados em termos de cronologia (todas as etapas de cada projeto) e de investimentos (recursos financeiros, humanos e materiais);

2 – com bom planejamento e controle e revisões da execução e de custos, certamente os custos de projetos cairão significativamente;

3- concomitantemente as metas serão atingidas nos tempos programados;

4 – projetos terão de ser bem pensados, evitando-se os atuais açodamentos com projetos iniciados e não concluídos devido a falta de avaliações de exequibilidade financeira ou outras;

5 - a implantação deste sistema irá acabar com o deletério modelo do “toma-lá-dá-cá”, visto que políticos em atuação na legislatura e/ou apaniguados sem referências e competências adequadas para exercer cargo executivo ficam proibidos de assumir chefias e direção públicos, pois o que vem ocorrendo é que, de 4 em 4 anos, “aparecem” novas chefias e aspones que “caem de paraquedas”, completamente fora do assunto, para ditar regras onde e como deve ser gasto o dinheiro do orçamento do setor, tumultuando a ação governamental e podendo levar a prejuízos em projetos já em andamento.


De: juarez milmann
Enviada em: sexta-feira, 16 de novembro de 2018 22:15
Para: Manfredo Winge
Assunto: Re: Coment/Réplicas: Para o NORDESTEs - exemplo de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

 Caro Manfredo :

Achei ótima sua resposta para o Castro .
Além da clara diferenciação que você estabeleceu entre trabalhar para um governo e abraçar atribuições de Estado, é bom lembrar que dos 192 Estados-Membro filiados a ONU, 161 reconhecem Israel, portanto parece que a grande maioria não concorda com o infeliz comentário do Castro.

Abraço, Juarez.


De: Manfredo Winge
Enviada em: sábado, 17 de novembro de 2018 18:05
Para: 'juarez milmann'
Cc: José do Patrocínio Tomaz Albuquerque; Benjamin Bley de Brito Neves; João Wagner de Alencar Castro
Assunto: RES: Coment/Réplicas: Para o NORDESTEs - exemplo de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

Prezado Juarez,
Bem lembrado que dos 192 Estados-Membro da ONU, 161 reconhecem Israel (maioria absoluta). Mas o que nos importa aqui é a capacidade demonstrada por recuperar áreas desérticas e em tempo recorde. Ou seja, não precisamos “inventar a roda” se pudermos contar com acordo Brasil-Israel no sentido de montar uma Missão Conjunta para trazer  a metodologia e experiência prática de recuperação de áreas desérticas para podermos nos lançar na recuperação do semiárido nordestino. O colega Bley enviou-me um e-mail (pedi que me re-enviasse para complementar informações) lembrando que temos aqui cientistas e técnicos muito competentes como João Manoel Filho, José do Patrocínio Tomás, Waldir e Walter Duarte entre outros e que “podem ir ensinar em Israel”. Sabemos da competência desses ex-colegas da SUDENE com grandes contribuições desde os saudosos tempos da então Divisão de Hidrogeologia, irmã da Divisão de Geologia onde trabalhei (copio o colega José do Patrocínio do qual tenho e-mail e lembro que ele já deu várias contribuições no ciber fórum  sobre a Transposição que organizei em página que está no 1º site do IG/UnB: http://mw.eco.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm#8_Patrocínio  ).

Mas então qual é problema em que sejam estes e outros colegas experientes convidados a compor equipe mista que poderia sinergicamente integrar conhecimentos e metodologias para desenvolver técnicas de recuperação e bom uso de áreas degradadas adaptadas à realidade do sertão nordestino?  Até é melhor que a equipe já conte com experientes para melhor aproveitamento de uma tal missão técnico-científica.

 Abraços
Manfredo
            OBS – será postado em http://mw.eco.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm


De: Luiz José HoMem D'el-Rey Silva
Enviada em: segunda-feira, 19 de novembro de 2018 05:37
Para: Manfredo Winge
Assunto: Re: Coment/Réplicas - Para o NORDESTE - exemplos de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

Caro Manfredo:
O seu texto é bastante completo e não tenho como discordar ou acrescentar algo às sugestões ali contidas.
Não resta dúvidas que a solução do problema Nordeste, tanto agora como no futuro, tem que envolver o uso de muita ciência e tecnologia. Este é o caminho.

Abraço.
Luiz D'el-Rey 


 From: Álvaro Rodrigues dos Santos
Sent: Saturday, November 17, 2018 4:01 PM
To: 'Manfredo Winge'
Subject: RES: Coment/Réplicas: Para o NORDESTEs - exemplo de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

Caro Manfredo,
Tive a oportunidade de conversar com técnicos israelenses em trabalhos de que participei no semi-árido. Realmente são bons, mas eles mesmos reconhecem que nosso semi-árido e as regiões mais desérticas do Oriente Médio tratam-se de realidades fisiográficas e logísticas muito diferentes. Mas é uma colaboração que pode nos ajudar muito.
De toda essa experiência ficaram-me as célebres palavras e ensinamentos de nosso saudoso grande hidrogeólogo Aldo Rebouças: “O problema do Nordeste não é de seca, mas de cerca”. E mais nos ensinava o mestre: o semi-árido deve cultivar produtos em que pode tirar grande vantagem competitiva de suas condições fisiográficas, como frutas e legumes de exportação. Alimentos básicos, como feijão, arroz, etc., não é coisa para o Nordeste produzir em larga escala, deveriam ser comprados de fora com os lucros advindos da exportação de frutas e outros produtos.

Abs
Álvaro


From: Manfredo Winge
Sent: Saturday, November 17, 2018 8:37 PM
To: Alvaro
Subject: Re: Coment/Réplicas: Para o NORDESTEs - exemplo de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

Excelentes dicas do saudoso amigo Aldo. Tão boa-praça e ir embora tão cedo, ainda mais cm tanta coisa para ainda contribuir.
Mais c’est la vie mon ami!!

Abraços
Manfredo

PS Claro que poderei postar no site, não é? Pena que acabei de realizar todo house keeping e vou deixar para amanhã
http://mw.eco.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm 


 From: Wilson Scarpelli
Sent: Sunday, November 18, 2018 9:42 AM
To: 'Manfredo Winge'
Subject: RES: Coment/Réplicas: Para o NORDESTEs - exemplo de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

Manfredo,
Absolutamente correta sua posição, distinguindo posição/oposição política a posição/oposição funcional perante a Nação.
Trabalhando em prol da Nação, o tempo passa, as políticas passam, mas o produto de seu trabalho fica à disposição da População.

Parabéns,
Scarpelli


 From: Manfredo Winge
Sent: Sunday, November 18, 2018 11:24 AM
To: Wilson Scarpelli
Subject: Re: Coment/Réplicas: Para o NORDESTEs - exemplo de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

Valeu Scarpelli,
obrigado pelo apoio em uma questão tão fundamental – separar viés de governo de obrigações de Estado - cuja interpretação distorcida deve ter sido causa de muitos e talvez grandes problemas no nosso País.

Abraço
Manfredo
e
PS pelo assunto técnico estas nossas considerações não necessitariam ser publicadas, mas vistos os rumos que o País pode tomar com o acirramento “político” que ocorre, talvez seja importante a publicação na página específica sobre a Transposição (*). Se estiver de acordo favor informar.
        (*) endereço:: http://mw.eco.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm


De: Benjamim Bley de Brito Neves [mailto:bbleybn@usp.br]
Enviada em: sexta-feira, 16 de novembro de 2018 21:55
Para: Manfredo Winge
Assunto: Re: Coment/Réplicas: Para o NORDESTEs - exemplo de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

 CARO E COMBATIVO MANFREDO
OS GEOLOGO BRASILIEROS (NORDESTINOS SOBRETUDO) são muito bem preparados, bem mais que os israelenses.
A diferença é que lá em Israel o nível educacional do povo é outro, de modo geral.
Israel tem dinheiro
A economia norte-americana despeja dinheiro em Israel.
Pessoas como Joao Manoel flho, Jpse´do Patrocinio Tomás, Waldir e Walter Duarte podem ir ensinar em  Israel;
Quando nos trabalhávamos com intenso amor  e dedicação - ao mesmo tempo que íamos aprendendo- Delfim Neto - porta voz dos militares- articamente fechou a SUDENE
Nossos salários foram congelados por três anos;
toda ajuda vindo de Israel será benvinda.
Mas, nós estamos mais a par dos nossos problemas de semi arido e pré-cambriano brabo. Veja o mapa geológico do sinai; Lá é bem mais fácil, isto junto com dinheiro e educação, vai mais rápido
forte abraço


De: Benjamim Bley de Brito Neves [mailto:bbleybn@usp.br]
Enviada em: segunda-feira, 19 de novembro de 2018 18:27
Para: Manfredo Winge
Assunto: Re: Coment/Réplicas: Para o NORDESTEs - exemplo de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

O HOMEM QUE MAIS ENTENDE DO RAMO NO BRASIL É JOSE DO PATROCINIO DE ALBUQUERQUE TOMAZ COLEGA NOSSO NA NOSSA EPOCA DE SUDENE
ENTRE EM CONTATO COM ELE
EU VOU MANDAR ESTE SEU EMAIL PARA ELE

BLEY


De: "Manfredo Winge" <mwinge@terra.com.br>
Enviada: 2018/11/20 10:51:12
Para: bbleybn@usp.br
Cc: patrociniotomaz@uol.com.br
Assunto: RES: Coment/Réplicas: Para o NORDESTEs - exemplo de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

Caro Bley,

o José do Patrocínio – copiado neste e-mail  - até já contribuiu no ciber fórum sobre a Transposição do Véio Chico com sua análise e comentários muito importantes. Veja em: http://mw.eco.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm#8_Patrocínio  

Pelo que aí expôs, ele é – ou pelo menos foi – contra esse projeto cujos bilhões de reais que poderiam ser melhor gastos, talvez, (a estudar) com sistema fechado (sem evaporação) de grandes caixas d’água  com dutos ramificados  diretos às áreas prioritárias (cidades, vilas, terras férteis, .. ), ao invés de segui por dois canais problemáticos (água evaporando) que requerem constante e cara revisão juntamente com o maquinário pesado de bombeamento; também não se necessitaria de vários lagos de acumulação (com forte evaporação) cobrindo boas áreas de aluviões (culturas das vazantes!!).

Mas agora – alea jacta est – a coisa está feita e temos que ver como evitar novos problemas e para servir de lição positiva para novas transposições (entre micro bacias, p. ex.?)

Abraços amigos
Manfredo 

(PS - meu caro Bley, prezo a política mais objetiva sem grandes heróis salvadores da pátria pois precisamos mesmo é de mais competência do Estado Brasil e que o serviço público executivo  seja organizado em carreiras cujos chefes não sejam apaniguados políticos incompetentes. Ver meu e-mail abaixo ou em:  http://mw.eco.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm#31_Coment_Replicas_Manfredo )


De: patrociniotomaz [mailto:patrociniotomaz@uol.com.br]
Enviada em: quinta-feira, 22 de novembro de 2018 14:31
Para: Manfredo Winge; bbleybn@usp.br
Assunto: RE: RES: Coment/Réplicas: Para o NORDESTEs - exemplo de Israel DESENVOLVENDO áreas desérticas

Prezado Manfredo Winge

O Bley é meu colega de turma, meu compadre e amigo de todas as horas. Só não comungo com as ideias políticas dele: abomino o Lulo-petismo e votei em Bolsonaro que vai assumir a presidência numa das piores situações já encontradas por um presidente eleito democraticamente. Mas, deixemos isto de lado e vamos ao que interessa que é discorrer sobre a proposta de um projeto de dessalinização das águas do mar para, segundo se noticia, resolver o problema da aludida escassez de recursos hídricos de nosso Semiárido. Estão colocando o novo presidente numa fria, na medida em que anunciam uma medida (a dessalinização) como a salvação de nossos problemas de oferta de recursos hídricos.

Como disse Bley, as realidades socioeconômicas, geopolíticas e, principalmente, as naturais são muito diversas. Começa pelas suas áreas: todo o território israelense ocupa uma área de pouco mais de 22.000 Km2 e o nosso Semiárido se estende por mais de 1.000.000 de Km2, dos quais, mais de 800.000 Km2 (ou 80.000.000 de hectares) são ocupados por agricultura familiar. Imagine levar água a 50% desses estabelecimentos agrícolas em termos de custos. Acredito que isso é inviável financeira e tecnicamente, em razão das condições econômicas brasileiras, bem inferiores à de Israel (PIB per capita do Brasil em 2017, segundo o IBGE, R$ 31.587,00 contra US$ 35.344 de Israel em 2015) e de suas características naturais (geológicas, morfológicas, pedológicas, distância do Oceano, etc., etc), respectivamente. De alguma forma, eu falei sobre isto no meu artigo sobre a Transposição (alcance do PISF) que se destinava a irrigar, apenas, 40.000 hectares de terras contíguas aos eixos da Transposição e, hoje, pela situação pela qual passa o Rio São Francisco e seus reservatórios, mormente o de Sobradinho, nem mesmo está área deverá ser irrigada.

Mas, não vale, apenas, criticar! Qual seria a solução para anular ou, ao menos, minimizar os efeitos adversos da hidroclimatologia do semiárido? Isto tem sido objeto de vários trabalhos meus e de meus companheiros de UFCG, inclusive constando dos Planos de Recursos Hídricos regional (o Plano de Aproveitamento Integrado dos Recursos Hídricos do Nordeste –PLIRHINE, SUDENE, 1980) e do Plano Estadual de Recursos Hídricos da Paraíba –PERH/PB, 2.003, dos quais participei. Sucintamente, o que propus e propomos é implantar atividades econômicas compatíveis com a hidroclimatologia, pedologia e geologia regionais e locais e com a disponibilidade hídrica, 100% garantidas, contidas em reservatórios superficiais erigidos em rios e captados por poços perfurados em nossos sistemas aquíferos, estas correspondentes a um percentual das chamadas reservas ou recursos anualmente renováveis. Isto atenderia todas as demandas socioeconômicas, inclusive a de irrigação, desde que praticada em outro modelo que contemple períodos, cultivos e métodos adequados, o que não se verifica atualmente, nem no Semiárido e, me arrisco a dizer, em qualquer outra região hidrográfica brasileira. E há disponibilidades para isso, inclusive com saldo que poderia atender demandas prioritárias (consumo humano, urbano e rural, pecuária e industrial) futuras. Só para me tornar mais claro, detalho um pouco mais sobre a irrigação praticada em nossa região semiárida: irrigam-se no período de estiagem, cultivos consumistas de água e, até, exóticos à região, usando métodos de baixa eficiência hídrica. Em relação ao período, ele se contrapõe ao que é natural, aqui e alhures, que é a estação das chuvas. Esta é irregular no tempo e no espaço, mas, esta irregularidade é relegada e, ao invés de se usar os recursos hídricos disponíveis para correção da mesma, não o fazem e irrigam na estação de estio, onde o consumo é, pelo menos o triplo do que se usaria para corrigir os efeitos adversos da estação chuvosa. Em relação aos cultivos não se obedece ao que a Natureza aconselha na sua condição de xerofitismo de sua cobertura vegetal natural que faz com que, na estação seca, a vegetação anule as perdas por evaporação, seja através da queda do sistema de transpiração, sua folhagem, seja pela elaboração de uma cera que torna a folhagem impermeável. E por aí vai. Talvez, a única área passível de ter água dessalinizada adicional às suas disponibilidades naturais, seja a do litoral cearense onde está localizado o chamado cinturão das águas, justamente pela área usada em irrigação, a qual padece dos efeitos deletérios de uma gestão divorciada das características hidroclimáticas de suas bacias hidrográficas (Acaraú, Coreaú, Curu, Jaguaribe – baixo curso, onde se localiza o maior reservatório superficial do Nordeste Oriental, o Castanhão com 6,4 bilhões de metros cúbicos – e a bacia Metropolitana), conforme se se pode constatar na entrevista anexa que dei, por solicitação, à jornalista Patrícia Fachin, publicada na revista do Instituto Humanitas da UNISINOS (Universidade do Vale dos Sinos), aí do seu Rio Grande do Sul. Finalmente, essa idéia de dessalinização já havia sido objeto de pretensões do governo cearense (do PT, reeleito) há uns dois anos atrás.
Abraços, 
Patrocínio

Patrocínio Tomaz
patrociniotomaz@uol.com.br
patrociniotomaz@gmail.com
83 98780.1158


De: Manfredo Winge
Enviada em: domingo, 18 de agosto de 2019 19:50
Para: 'sen.mailzagomes@senado.leg.br'; 'sen.marciobittar@senado.leg.br'; 'sergio.petecao@senador.leg.br'; 'fernando.collor@senador.leg.br'; 'renan.calheiros@senador.leg.br'; 'sen.rodrigocunha@senado.leg.br'; 'eduardo.braga@senador.leg.br'; 'omar.aziz@senador.leg.br'; 'sen.pliniovalerio@senado.leg.br'; 'davi.alcolumbre@senador.leg.br'; 'sen.lucasbarreto@senado.leg.br'; 'randolfe.rodrigues@senador.leg.br'; 'sen.angelocoronel@senado.leg.br'; 'sen.jaqueswagner@senado.leg.br'; 'otto.alencar@senador.leg.br'; 'sen.cidgomes@senado.leg.br'; 'sen.eduardogirao@senado.leg.br'; 'tasso.jereissati@senador.leg.br'; 'sen.izalcilucas@senado.leg.br'; 'sen.leilabarros@senado.leg.br'; 'reguffe@senador.leg.br'; 'sen.fabianocontarato@senado.leg.br'; 'sen.marcosdoval@senado.leg.br'; 'rose.freitas@senadora.leg.br'; 'sen.jorgekajuru@senado.leg.br'; 'sen.luizcarlosdocarmo@senado.leg.br'; 'sen.vanderlancardoso@senado.leg.br'; 'sen.elizianegama@senado.leg.br'; 'robertorocha@senador.leg.br'; 'sen.wevertonrocha@senado.leg.br'; 'antonio.anastasia@senador.leg.br'; 'sen.carlosviana@senado.leg.br'; 'sen.rodrigopacheco@senado.leg.br'; 'sen.nelsinhotrad@senado.leg.br'; 'simone.tebet@senadora.leg.br'; 'sen.sorayathronicke@senado.leg.br'; 'Sen.JaymeCampos@senado.leg.br'; 'sen.selmaarruda@senado.leg.br'; 'wellington.fagundes@senador.leg.br'; 'jader.barbalho@senador.leg.br'; 'paulo.rocha@senador.leg.br'; 'sen.zequinhamarinho@senado.leg.br'; 'sen.daniellaribeiro@senado.leg.br'; 'jose.maranhao@senador.leg.br'; 'sen.venezianovitaldorego@senado.leg.br'; 'fernandobezerracoelho@senador.leg.br'; 'humberto.costa@senador.leg.br'; 'sen.jarbasvasconcelos@senado.leg.br'; 'ciro.nogueira@senador.leg.br'; 'elmano.ferrer@senador.leg.br'; 'sen.marcelocastro@senado.leg.br'; 'alvarodias@senador.leg.br'; 'sen.flavioarns@senado.leg.br'; 'sen.oriovistoguimaraes@senado.leg.br'; 'sen.aroldedeoliveira@senado.leg.br'; 'sen.flaviobolsonaro@senado.leg.br'; 'romario@senador.leg.br'; 'sen.jeanpaulprates@senado.leg.br'; 'sen.styvensonvalentim@senado.leg.br'; 'sen.zenaidemaia@senado.leg.br'; 'acir@senador.leg.br'; 'sen.confuciomoura@senado.leg.br'; 'sen.marcosrogerio@senado.leg.br'; 'sen.chicorodrigues@senado.leg.br'; 'sen.meciasdejesus@senado.leg.br'; 'telmariomota@senador.leg.br'; 'lasier.martins@senador.leg.br'; 'sen.luiscarlosheinze@senado.leg.br'; 'paulopaim@senador.leg.br'; 'dario.berger@senador.leg.br'; 'sen.esperidiaoamin@senado.leg.br'; 'sen.jorginhomello@senado.leg.br'; 'sen.alessandrovieira@senado.leg.br'; 'maria.carmo.alves@senadora.leg.br'; 'sen.rogeriocarvalho@senado.leg.br'; 'jose.serra@senador.leg.br'; 'sen.majorolimpio@senado.leg.br'; 'sen.maragabrilli@senado.leg.br'; 'sen.eduardogomes@senado.leg.br'; 'sen.iraja@senado.leg.br'; 'katia.abreu@senadora.leg.br'
Assunto: SITUAÇÃO do PROJETO TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANSICSCO

Prezados senhores senadores, jornalistas, amigos e colegas,
principalmente os colegas NORDESTINOS e outros que contribuíram com as discussões, iniciadas em 23/3/2005, a favor e contra a viabilidade do PROJETO DE TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO  e de suas alternativas. Ver esse “fórum cibernético” em: (http://mw.eco.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm).

Como podem ver, vários debates ocorreram até os atuais dias, conforme registrados nessa página, mas é com pesar que está se confirmando (veja-se a matéria da Revista VEJA transcrita em  http://mw.eco.br/ig/pvista/19_08_ArtigoVEJA_Transposicao.pdf )  o que foi prognosticado já em 2005, como, p.ex., em uma réplica e comentários expressos em http://mw.eco.br/ig/pvista/DesafiosTransposicaoSaoFrancisco.htm#4-MWingeReplica.

Além dos vários pontos, já parcialmente discutidos, aproveito para postar um link de técnicas muito interessantes que foram desenvolvidas em países da África,  na Índia e EUA, referentes à RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS E SEMI-ÁRIDAS.  São técnicas simples mas, segundo os artigos, efetivas pois buscam as soluções fazendo a Natureza agir a nosso favor. Ver em:

http://mw.eco.br/zig/emails/AMB171229_Plantar_Chuva.pdf

Cabe salientar que algumas técnicas nesta linha (ajudar a Natureza) já foram até sugeridas nos debates postados, como à muito conhecida de barragens subterrâneas em formações aluvionares para armazenar água subterrânea para uso doméstico e para as “culturas de vazante”.

Obs. esse e-mail será postado na página de debates e comentários, críticas e sugestões, dentro do assunto em pauta, poderão ser postados.

 Saudações geológicas e ambientalistas
Manfredo Winge -
http://mw.eco.br/zig/hp.htm [confraria democrática do bom senso]
         Webmaster:  1o SITE do IG/UnB
                             Glossário Geológico Ilustrado
                              SIGEP Sítios Geológicos e Paleobiológicos do Brasil

        "Aqueles preocupados com o custo da educação deveriam antes considerar o custo da ignorância".
                   Derek Bok, ex-Reitor da Universidade de Harvard (foi-me enviado por e-mail)


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