UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA /INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
TESE DE DOUTORADO No
28
HILDOR JOSÉ SEER
EVOLUÇÃO TECTÔNICA DOS GRUPOS ARAXÁ E IBIÁ NA SINFORMA DE ARAXÁ-MG
Palavras-chave: Metamorfismo; Geologia estrutural; Petrologia; Geocronologia; Geotectônica; Geoquímica
Mapa:[Geológico]
DATA DA DEFESA:29/07/99
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: GEOLOGIA REGIONAL
ORIENTADOR: PROF. Marcel Auguste Dardenne (UnB)
EXAMINADORES:PROF. José Oswaldo de Araújo Filho (UnB)
PROF. Márcio Martins Pimentel(UnB)
PROF. Marco Antônio Fonseca (UFOP)
Prof.: Luiz Simões (UNESP)
RESUMO
Os objetivos do presente trabalho compreendem a descrição da geologia e a
interpretação da história evolutiva da Sinforma de Araxá, numa área de
aproximadamente 2300 Km2, na parte sul da Faixa de Dobramentos e Falhamentos
Brasília, Estado de Minas Gerais, Brasil. A metodologia seguida baseou-se em mapeamento
geológico, análise estrutural, petrografia, geoquímica de rocha total, química mineral
e geocronologia.
A Sinforma de Araxá é uma dobra regional, cujos flancos têm
direção WNW, mergulhos para NNE e SSW e charneira com caimento suave para WNW. Em seus
flancos afloram as litologias correspondentes aos Grupos Araxá, Ibiá e Canastra. A
região é área tipo destas unidades geológicas. Estes Grupos acham-se dispostos em
três escamas tectônicas, separadas por zonas de cisalhamento subhorizontais e
subverticais: inferior, intermediária e superior.
A escama tectônica inferior é uma sequência metassedimentar,
psamo-pelítica, com metamorfismo de fácies xisto verde, zonas da clorita e granada, e
idade modelo Sm-Nd de 2,2 G.a.. Representa uma sequência depositada em ambiente marinho
plataformal e constitui aparentemente um ciclo marinho regressivo, marcado por predomínio
de quartzitos em direção ao topo estratigráfico, sendo formalmente designada Grupo
Canastra.
Sobre esta escama dispõem-se as litologias da escama tectônica
intermediária, uma sequência metassedimentar, dominantemente pelítica e estruturada na
forma de ritmitos finos, com idades modelo Sm-Nd variando de 1,1 a 1,3 G.a. Apresenta
metamorfismo de fáceis xisto verde, zona da clorita. Sua origem está ligada à erosão
de arcos magmáticos neoproterozóicos, tendo sido depositada, possivelmente, através de
correntes de turbidez distais. Representa a unidade geológica formal Grupo Ibiá.
A escama tectônica superior compreende um conjunto ígneo
dominantemente máfico, representado por anfibolitos finos e grosseiros, que transiciona,
no topo estratigráfico, para metassedimentos pelíticos e, em menor proporção,
psamíticos. O conjunto foi metamorfisado em fácies anfibolito e está intrudido por
corpos de rochas granitóides. Os anfibolitos representam protólitos basálticos e
gabróicos, com rochas ultramáficas (serpentinitos/anfibólio-talco xistos) muito
subordinadas. Os basaltos são toleiíticos, de alto ferro, com assinaturas geoquímicas
de elementos terras raras que os aproximam de E-MORB e BABB. Deste modo, podem representar
um assoalho oceânico desenvolvido a partir de mistura de magmas astenosféricos e
litosféricos. Os metassedimentos podem caracterizar uma sedimentação marinha de águas
profundas, aos quais associam-se horizontes de chert (ortoquartzitos). Têm idade
modelo Sm-Nd de 1,9 G.a. Os corpos granitóides são principalmente leucogranitos a duas
micas, peraluminosos, com assinatura geoquímica colisional, contendo xenólitos das
rochas encaixantes.
A história metamórfica e deformacional da Sinforma de Araxá pode ser
descrita através de uma sucessão de eventos, cujo caminho PTt aponta para processos
geológicos ocorridos em níveis crustais cada vez mais rasos. O evento M1/D1
constitui o metamorfismo principal, do tipo barroviano, presente em todas as escamas
tectônicas, ocorrido em 630 M.a (isócronas minerais Sm-Nd). Durante este evento
desenvolveu-se uma xistosidade grosseira S1, cuja origem é obscura. Seguiu-se
evento retrometamórfico RM1, assinalado apenas nas escamas inferior e
superior, não acompanhado de deformação. O evento seguinte, M2/D2,
foi subdivido em um estágio precoce, D2p, e um estágio tardio, D2t.
Ambos desenvolveram-se num contexto colisional, onde zonas de cisalhamento subhorizontais
provocaram o imbricamento das diversas escamas, sob regime metamórfico francamente
retrogressivo em fácies xisto verde. Em seus momentos iniciais, D2p foi
acompanhada do alojamento de granitos colisionais. Dados cinemáticos indicam que o
transporte tectônico das escamas deu-se de sudoeste para nordeste.
De modo aparentemente contínuo à D2p, processou-se a
deformação D2t, porém com transporte tectônico para SE, acompanhada de
componente compressiva secundária SW-NE. Esta deformação representa o evento
deformacional principal, responsável pela estruturação da Sinforma de Araxá e está
presente em quase todos os afloramentos da região. O evento final M3/D3,
corresponde ao desenvolvimento de zonas de cisalhamento transcorrentes, com cinemática
sinistral , sob condições de fácies xisto verde baixo, responsável pelo truncamento
das estruturas anteriores. Implantou-se em continuidade à D2t, apresentando
mesmo padrão de distribuição de tensões daquela fase, porém em situação crustal
mais rasa.
Na síntese sobre a evolução tectônica da Sinforma de Araxá,
sugere-se o emprego da metodologia da tectônica de terrenos (Howell, 1993). As diversas
escamas tectônicas da região podem ser descritas como terrenos tectonoestratigráficos,
com características próprias, gerados em paleoambientes específicos e em posições
geográficas distintas. Esta metodologia pode ser aplicada na solução dos diversos
problemas geológicos da Faixa Brasília.
A história metamórfica e deformacional da Sinforma de Araxá parece
refletir um contexto tectônico regional, baseado na interação de três grandes
segmentos crustais: os continentes do Amazonas, do São Francisco e do Paraná. A primeira
interação é representada pela colisão entre os continentes São Francisco e Paraná.
Enquanto esta colisão se processava, iniciou-se nova colisão entre estes dois
continentes e o continente do Amazonas, todos os processos desenvolvidos durante o
intervalo de 630 a 580 M.a., portanto durante a orogênese Brasiliana. Esta história é
parte do processo de colagem final do continente Gondwana.
UNIVERSITY OF BRASILIA / INSTITUTE OF GEOSCIENCES
PhD
THESIS No 28
HILDOR JOSÉ SEER
TECTONIC EVOLUTION OF IBIÁ AND ARAXÁ GROUPS IN THE ARAXÁ SYNFORM
KeyWords: Metamorphism; structural geology; Petrology; Geochronology; Geotectonics; Geochemistry
Map:[ Geology ]
DATE OF ORAL PRESENTATION:29/07/99
TOPIC OF THE THESIS: REGIONAL GEOLOGY
SUPERVISOR:PROF. Marcel Auguste Dardenne (UnB)
COMMITTEE MEMBERS:PROF. José Oswaldo de Araújo Filho (UnB)
PROF. Márcio Martins Pimentel(UnB)
PROF. Marco Antônio Fonseca (UFOP)
Prof.: Luiz Simões (UNESP)
ABSTRACT
The present work is concerned with the geological description and interpretation of the
evolutionary history of the Araxá Synform, in an area with approximately 2300 Km2,
in the southern segment of the Brasilia Fold and Thrust Belt, Minas Gerais State, Brazil.
Geological mapping, structural analysis, petrography, whole rock geochemistry, mineral
chemistry and geochronology were the main methodological procedures.
The Araxá Synform is a regional fold, with WNW trending limbs, dipping
to the NNE and SSW and with gently plunging hinges to WNW. The outcrops of Araxá, Ibiá
and Canastra Groups take place at their limbs. The region represents the type locality of
these geologic units. These groups are ordered in three tectonic thrust sheets, separated
by major gently deeping and subvertical shear zones: inferior, intermediate and superior.
The lower thrust sheet is a psamo-pelitic metassedimentary sequence,
metamorphosed at greenschist facies (chlorite and garnet zones) with Sm-Nd model age of
2,2 Ga. It represents a sedimentation on a marine platform environment, possibly belonging
to a regressive marine cycle. It is formally designed as the Canastra Group.
Over these thrust sheet, is a pelitic metasedimentary sequence,
arranged in fine grained rythmites, of the middle thrust sheet. Their Sm-Nd model ages are
between 1,1 and 1,3 Ga. and they were metamorphosed to chlorite zone at greenschist
facies. Their origin is linked to the erosional processes of neoproterozoic magmatic arcs,
and it was possibly deposited through distal turbiditic currents. It constitutes the Ibiá
Group.
The upper thrust sheet comprise an igneous mafic sequence, with fine
and coarse amphibolites, which is transitional to pelitic metassedimentary rocks with
minor psamitic rocks.
All rocks were metamorphosed under amphibolite facies conditions and
were intruded by granitoid rocks. The amphibolites represent original basaltic and gabroic
rocks, with minor ultramafics (serpentinites/ amphibole-talc schists). The basalts are
high FeO tholeiítes, with REE signatures that resemble E-MORB and BABB. Therefore they
could represent an oceanic crust, evolved from an asthenospheric and lithospheric magma
mixing process. The metasedimentary rocks could be represent marine deep water sediments.
They have Sm-Nd model age of 1,9 Ga. The granitoid bodies are mainly two-mica
leucogranites, with peraluminous affinity, and with a collisional geochemistry and
mineralogic signature.
The deformational and metamorphic history of the Araxá Synform could
be described as a succession of events, which PTt path points to geological processes
occurred at progressively shallower crustal levels. The main metamorphic phase, dated 630
M.a., is represented by the M1/D1 event, characteristically of
barrovian type. A coarse S1 schistosity, with obscure origin, was developed
during this event. A retrometamorphic RM1 event, without deformational imprint,
followed the first event, and was recorded only in the lower and upper thrust sheets. The
following event, D2/M2, was divided into an early (D2p),
and a later stage (D2t). Both developed in a collisional tectonic environment,
with gently deeping shear zones that promoted the collage of the thrust sheets, in
retrograde greenschist facies metamorphic conditions. On their initial stages, D2p
was accompanied by the intrusion of granitic bodies. Kinematic criteria indicate that the
thrust sheets were transported from southwest to northeast.
D2t deformation began, apparently in continuity to D2p,
however with a SE tectonic transport, accompanied by a SW-NE secundary compressional
field. This deformation is found in the majority of outcrops and represents the main
deformational event in the region. This was responsible for the development of the Araxa
Synform.
The final event, M3/D3, was responsible by the
development of wrench sinistral shear zones, in low greenschist facies
metamorphic.conditions. Their stress field distribution is similar to that of D2t
event, but their deformation occurred at higher crustal levels.
The final chapter is concerned with a synthesis about the evolution of
Araxá Synform and employ the Terrane Tectonostratigraphic Analysis (Howell, 1993) to
promove a background for the interpretation of the Brasilia Fold and Thrust Belt
geological processes. The three thrust sheets of the Araxá region are described like
tectonostratigraphic terranes, with distinct stratigraphy that characterizes particular
geological settings generated at different geographic positions.
The metamorphic and deformational history of the Araxá Synform reflect
a regional tectonic framework based on the interaction of three major crustal segments:
the Amazonas, São Francisco and Parana continents. The first interaction was represented
by the collision between São Francisco and Parana continents. During this collisional
process, another collision began between these continents and the Amazonas continent. All
processes developed during 630 M.a. and 580 M.a., therefore during the Brasiliano Orogenic
Cycle. This history is part of the final collage of Gondwana continent.