Capítulo 1

Introdução

1.1. Localização da área de estudo.

O presente estudo refere-se a uma área com aproximadamente 2300 km2 situada na região do muniçípio de Araxá, Estado de Minas Gerais, delimitada pelos meridianos 46°20'00" e 47°20'00" de longitude oeste, e os paralelos 19°25'00" e 19°50'00" de latitude sul (figura 1.1).

A área abrange grande parte do município de Araxá, incluindo também parte dos municípios de Perdizes, Sacramento e Ibiá e as principais vias de acesso à região são as rodovias BR-262, BR- 452, BR-365 e MG-172. Em termos fisiográficos pertence à bacia do Rio Quebra Anzol, tributário do Rio Araguari sendo denominada Planalto de Araxá.


Figura 1.1.
Localização da área de estudo no Brasil, no Estado de Minas Gerais, com a articulação das folhas topográficas e mapa rodoviário com a posição das principais cidades. Área achurada representa a região mapeada.

1.2. Visão geral do problema e objetivos.

Na região de Araxá foram definidos os Grupos Araxá, Canastra e Ibiá (Barbosa et al, 1970), pertencentes à Faixa de Dobramentos Brasília (Almeida et al., 1977). O mapeamento realizado por Barbosa et al. (1970), no âmbito do Projeto Chaminés – Geologia do Triângulo Mineiro - teve como objetivo primordial caracterizar o magmatismo alcalino de idade cretácea em toda região do Triângulo Mineiro, na escala 1:250000. Mesmo assim, os aspectos descritivos e interpretativos sobre o pré-cambriano da região de Araxá (Folha Araxá ) serviram como base de correlação para o restante das áreas do projeto (Folhas Uberaba, Catalão e Patos de Minas), e, nos anos que se seguiram, a correlação foi extendida para o sul e oeste de Goiás e mesmo para o norte deste Estado. Desde então, a região da Folha Araxá mereceu pouca atenção, e os conceitos estratigráficos originais foram aplicados e disseminados em toda a extensão da Faixa Brasília. Os poucos trabalhos, posteriormente realizados na região, colocam em dúvida a validade destes conceitos.

Paulsen et al. (1974) mapearam corpos anfibolíticos com grande distribuição areal nas proximidades da localidade de Argenita, a leste da cidade de Araxá e acreditam que exista transição entre as unidades Araxá e Ibiá e nào uma discordância tectônica/metamórfica como supunham Barbosa et al. (1970). Ferrari (1989b) também não acredita na existência de falhamento entre os Grupos Araxá e Ibiá, supondo-os interdigitados. Besang et al. (1977) chamam a atenção para a existência de granitos nas proximidades de Araxá-Ibiá que não representam o embasamento mais antigo como supunham Barbosa et al. (1970).

As questões básicas que nortearam o presente trabalho surgem destas divergências e podem ser assim resumidas:

  1. O que são realmente os Grupos Araxá e Ibiá em suas áreas-tipo?
  2. Qual a relação estratigráfica/tectônica entre os dois Grupos e destes com o Grupo Canastra?
  3. Qual a relação entre os metassedimentos do Grupo Araxá e as rochas granítico-gnáissicas? Estas representam porções preservadas do embasamento dos xistos Araxá ou são corpos graníticos intrusivos nestes ( Besang et al., 1977)?
  4. Qual o significado dos corpos anfibolíticos mapeados por Paulsen et al. (1974) e qual é a sua relação com os metassedimentos Araxá?
  5. Qual o significado dos bolsões pegmatíticos (Barbosa et al., 1970) associados aos micaxistos Araxá?
  6. Outras questões que motivaram o presente trabalho têm seus fundamentos no problema básico da correlação de áreas ao longo da Faixa Brasília:

  7. Qual a relação espacial/temporal da região de Araxá com áreas melhor conhecidas a sudeste como a Nappe de Passos, e a noroeste como a região de Abadia dos Dourados?
  8. Poderia a região de Araxá ser considerada área tipo para os demais setores da Faixa Brasília?
  9. Quais as implicações da geologia de Araxá na evolução tectônica da Faixa Brasília?

Com base nestas questões definiram-se as diretrizes do presente trabalho:

  1. aprofundar o conhecimento sobre a geologia da região de Araxá;
  2. compreender o relacionamento espacial/temporal entre suas diversas unidades geológicas formais;
  3. avançar no entendimento da evolução geológica local e suas implicações regionais.

1.3. Enfoque metodológico.

Para alcançar êxito em relação aos objetivos principais do presente estudo, lançou-se mão de uma série de procedimentos rotineiros em trabalhos de cunho geológico. Estes procedimentos foram executados dentro de um cronograma discriminado no Plano de Tese de Doutorado (Seer, 1997) e constaram de:

  1. Aquisição de bases cartográficas, fotografias aéreas e imagens de radar e satélite e definição da escala de mapeamento geológico– agosto/setembro de 1995.
  2. Mapas topográficos: folhas do IBGE, escala 1:100000, de 1972, Araxá (SE-23-Y-C-VI), Perdizes (SE-23-Y-C-II), Ibiá (SE-23-Y-C-III), Sacramento (SE-23-Y-C-V) e Campos Altos (SE-23-Y-D-IV).

    Mapas geológicos: folhas Araxá (SE-23-T) e Uberaba (SE-23-S), escala 1:250000, de 1970, Projeto Chaminés (Barbosa et al., 1970).

    Fotografias aéreas: IBC-GERCA, escala 1:25000, 1979.

    Imagens de radar: de visada lateral GEMS 1000, banda X, de 1976, folhas SE-23-Y-C e SE-23-Y-A na escala 1:250000.

    Imagens de satélite: TM-LANDSAT 5, banda 04, órbitas 220/073D de 09/09/96, 220/074B de 26/08/96 na escala 1:100000, e órbita 220/073 de 28/05/87 na escala 1:250000.

  3. Mapeamento geológico.
  4. Para o mapeamento geológico definiu-se a escala 1:100000, em função do tamanho da área de interesse e pelo fato de existir apenas mapeamento regional anterior na escala 1:250000, além de pequena área mapeada na escala 1:25000 (Paulsen et al., 1974).

    Após uma primeira etapa de interpretação de imagens, definiu-se a estratégia do mapeamento geológico que consistiu num reconhecimento regional com vistas à delimitação das áreas preferenciais de mapeamento. Nesta etapa, realizada no segundo semestre de 1995, percorreu-se as principais rodovias da região. A seguir, iniciou-se a fase de mapeamento geológico por regiões previamente delimitadas e mais ricas em afloramentos, etapa que perdurou até meados de dezembro de 1998. Este consistiu em execução de seções ao longo de estradas vicinais, drenagens e encostas, e detalhamento de contatos geológicos, procurando-se sempre avaliar os resultados do mapeamento anterior de Barbosa et al. (1970).

    Foi dada ênfase à descrição estrutural, trabalhando-se com o método de correlação cinemática, uma vez que feições estruturais ligadas a zonas de cisalhamento são extremamente comuns na região e representam estruturas-chave para a compreensão do arranjo espacial/temporal das diversas unidades geológicas. Após o levantamento de uma região, sempre que necessário, retornou-se à mesma, em épocas diferentes, para verificação de hipóteses de trabalho.

    Algumas áreas foram mapeadas na escala 1:25000, especialmente para verificação de contatos litógicos, transições litológicas e variações estruturais. Este trabalho mostrou-se eficaz ao longo de algumas drenagens, de algumas serras com quartzitos e junto a alguns corpos graníticos. Foi de pouco valor, no entanto, nos domínios de micaxistos e metaígneas máficas, em função do elevado grau de intemperismo.

    Em aproximadamente 170 dias de trabalhos de campo, em diferentes intervalos de tempo, foram descritos 750 afloramentos, alguns representando perfis de detalhe, coletadas cerca de 330 amostras e cerca de 350 fotografias em papel e slides.

  5. Trabalhos de laboratório.
  6. Petrografia: foram confeccionadas cerca de 130 seções delgadas dos diversos tipos litológicos da região; a maioria das seções foi cortada paralelamente à lineação de estiramento e perpendicularmente à foliação principal, a partir de amostras orientadas no campo. Diversas amostras de anfibolitos foram submetidas à análise modal e nos granitos foi efetuada colorimetria. Tanto a confecção de seções delgadas como sua descrição petrográfica, deram-se intermitentemente às etapas de mapeamento geológico. As descrições foram realizadas nos laboratórios da UnB, da CBMM e do CEFET-UNED-Araxá.

    Análises químicas: amostras de metassedimentos do Grupo Ibiá, anfibolitos e granitos do Grupo Araxá foram analisadas para elementos maiores e traço, incluindo os Elementos Terras Raras, durante o segundo semestre de 1998 e início de 1999, no Laboratório de Geoquímica da UnB.

    Geocronologia: amostras de metassedimentos do Grupo Ibiá, um anfibolito, um mica xisto e um pegmatito, todas do Grupo Araxá, foram preparadas para geocronologia Sm-Nd. Das três últimas foram separados concentrados de granada, anfibólio e titanita, etapa que se processou durante o segundo semestre de 1998, no Laboratório de Geocronologia da UnB..

    Microssonda eletrônica: diversas seções delgadas de anfibolitos e granitos foram polidas para análises de minerais, nos meses de fevereiro a março de 1999, e analisadas em abril, no Laboratório de Microssonda da Unb.

  7. Tratamento de dados.
  8. Geologia Estrutural: os dados de geologia estrutural foram tratados estatisticamente através dos softwares Dips e Stereonet, paralelamente aos trabalhos de campo, e as medidas plotadas concomitantemente em mapa.

    Química mineral e química de rocha total: dados químicos foram tratados através do software Minpet 2.02., durante o primeiro semestre de 1999.

  9. Edição.

Todos os trabalhos de edição e formatação foram efetuados durante o primeiro semestre de 1999. As fotografias e fotomicrografias foram digitalizadas a partir de slides em CD-ROM, no Departamento de Geologia da UFOP, e editadas através do software CorelDraw8. Os desenhos e seções geológicas foram editados através do software CorelDraw8. Os mapas geológico e estrutural foram desenhados em CorelDraw8 sobre base executada em Autocad, e plotados no Laboratório de Geofísica Aplicada da UnB.




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