Capítulo 3

Tectonoestratigrafia

3.1. Introdução.

Os diversos aspectos petrográficos e estratigráficos das unidades que ocorrem na região de Araxá são abordados no presente capítulo. Algumas figuras referidas neste capítulo encontram-se no capítulo 4.

Sob o ponto de vista tectônico, a região de Araxá está estruturada em uma dobra sinformal regional denominada Sinforma de Araxá (Simões e Navarro, 1996). Esta estrutura regional tem seus flancos principais nos setores nordeste e sudoeste e sua linha de charneira apresenta direção aproximada N 70 W com caimento suave para NW ( Figura 3.1 e Anexo I ).

 

Figura 3.1. Mapa geológico da Sinforma de Araxá, ilustrando o posicionamento das escamas tectônicas inferior, intermediária e superior e a cobertura autóctone cratônica (Grupo Bambuí).

Um sistema de falhas transcorrentes sinistrais, denominado localmente como Zona de Cisalhamento da Bocaina (Simões e Navarro, 1997), trunca a estrutura sinformal em seu flanco sul, e representa a continuidade de um sistema de falhas regional denominado Campos Altos- Lagoa da Prata (Magalhães, 1989).

A tectonoestratigrafia da região compreende três escamas tectônicas alóctones separadas por zonas de cisalhamento que configuram falhas de empurrão (figura 3.2). Na escama inferior, ocorrem as litologias do Grupo Canastra. Esta por sua vez cavalga o Grupo Bambuí uma cobertura cratônica autóctone, situada a leste da área estudada. A escama tectônica intermediária reúne as litologias do Grupo Ibiá. Empurrada sobre esta ocorre a escama tectônica superior que constitui as rochas do Grupo Araxá. No presente trabalho, deu-se enfoque às escamas tectônicas intermediária e superior, descrevendo-se de modo mais superficial as litologias da escama inferior.

Duas seções geológicas regionais nesta sinforma permitem a visualização em profundidade destas unidades tectônicas (Anexos I e II ).

3.2. Escama tectônica inferior: Grupo Canastra

O Grupo Canastra é constituido por um conjunto de metassedimentos detríticos, em grande parte carbonosos e com fácies carbonatadas subordinadas. Seus contatos com as demais unidades geológicas da região são tectônicos, ora através de zonas de cisalhamento em rampas laterais e frontais a leste e nordeste de Araxá, ora através de zonas de cisalhamento transcorrentes nas proximidades do Rio Araguari (sistema de falhas transcorrentes Tapira-Candeias) e ao longo da Zona de Cisalhamento da Bocaina ( Anexo I ).

Estes metassedimentos são constituidos por ortoquartzitos, quartzitos micáceos, filitos sericíticos, filitos carbonosos, grafita xistos, cloritóide-grafita xistos, granada-grafita xistos, e subordinadamente por metamargas e cloritaxistos com foliação bem desenvolvida. Foliações S-C ocorrem com frequência nas zonas de cisalhamento. Compreendem uma sucessão de camadas com direção aproximada leste-oeste organizadas em antiformas e sinformas cujas linhas de charneira têm direção WNW. A partir da Serra da Bocaina (figura 3.3), no sentido sul, o topo estratigráfico da sequência, contêm quartzitos muito finos com intercalações de filitos sericíticos e carbonosos, passando a filitos carbonosos (figura 4.14) que gradam para grafita xistos e cloritóide-grafita xistos finos. Por fim, ocorrem granada-cloritóide-grafita xistos mais grosseiros. Todas as litologias descritas contém horizontes de quartzitos finos e micáceos subordinados (figura 4.16), configurando sequências rítmicas, tanto em escala milimétrica como decimétrica (figura 4.36). Litologias que apresentam graus metamórficos cada vez mais altos ocorrem no sentido sul (Anexo II).

Quartzitos brancos a rosados, dominantemente finos a muito finos, acham-se intercalados a filitos sericíticos brancos, cinza e esverdeados e filitos carbonosos cinza escuros junto à Serra da Bocaina, a sul da cidade de Araxá, compondo uma sequência de ritmitos onde predominam os termos quartzíticos (figura 3.4). Em seu flanco sul, e ao longo de toda extensão da Serra da Bocaina, estes ritmitos gradam para filitos sericíticos e carbonosos com horizontes quartzíticos subordinados. Os quartzitos raramente são ortoquartzitos, e em geral são quartzitos micáceos. Algumas camadas de ortoquartzitos extremamente finos e brancos são observadas na Serra da Bocaina e lembram o chert (figura 3.5). Em alguns locais, são comuns horizontes centimétricos ricos em hematita. Nestas litologias não foram observadas estruturas sedimentares, a não ser persistentes laminações e bandamentos composicionais plano-paralelos e aparentes gradações granulométricas, cuja gênese pode estar ligada a processos metamórficos e deformacionais. Os quartzitos passam a ser novamente importantes a sul da cidade de Tapira, fora da área mapeada (figura 3.6).

Nos granada-grafita xistos, ocorrem ocasionalmente pegmatitos de espessuras centimétricas a decimétricas, constituidos por feldspato potássico, quartzo e mica branca (figura 3.7).

Junto aos filitos carbonosos ocorrem esporádicos horizontes de clorita xistos com espessuras de poucas dezenas de metros, além de metamargas cuja expressão também parece ser pequena.

Nas proximidades do Complexo Alcalino de Tapira foram observados quartzitos médios, brancos com intraclastos de filitos carbonosos, indicando a existência de superfícies erosivas.

Entre o Ribeirão da Prata e o Ribeirão do Inferno (Anexo I - J5), ocorrem espessas camadas de filitos carbonosos/grafita xistos onde existe um garimpo de ouro abandonado. O ouro aparece como palhetas muito finas, submilimétricas e era lavrado por método rudimentar através de canaletas coletoras de águas superficiais, direcionadas para um canal principal onde era concentrado. O conhecimento desta ocorrência é antigo e faz parte de uma série de outros pontos de garimpo explorados intensamente no século XVIII (Barbosa et al., 1970).

Além do ouro, os xistos do Grupo Canastra contêm rutilo em cristais com até 4 cm de diâmetro. A ocorrência situa-se a sul da cidade de Tapira, fora da área mapeada, e foi explorada em depósitos de pláceres até meados de 1960.

O Grupo Canastra também ocorre a nordeste e norte da cidade de Ibiá, na Serra da Catiara (figura 3.1) e está representado por quartzitos brancos, micáceos e finos, com intercalações milimétricas a centimétricas de filitos sericíticos. Nestes quartzitos foram identificadas estruturas que lembram estratificações cruzadas de médio porte (figura 3.8).

3.3. Escama tectônica intermediária: Grupo Ibiá

O Grupo Ibiá compreende um conjunto de metassedimentos detríticos metamorfisados em fácies xisto verde baixo, que se distribui a sudoeste, sul, sudeste, leste, nordeste e norte da cidade de Araxá (figura 3.1 e Anexo I). Seus contatos, tanto com o Grupo Canastra como com o Grupo Araxá, são tectônicos, através de zonas de cisalhamento em situações de rampas laterais e frontais, quando forma hogbacks (figura 3.9 e 4.25), e ao longo de zonas de cisalhamento transcorrentes, quando seus afloramentos têm forma de "dorsos de elefante" (figura 3.10).

Seus litotipos principais são calcifilitos, quartzo-filitos, filitos e quartzitos micáceos com foliação bem desenvolvida. Foliações S-C são abundantes. É comum a presença de veios de quartzo e carbonato paralelizados à foliação principal, com espessuras centimétricas e mais raramente decimétricas. Estes veios acham-se dobrados e rompidos (figura 4.15). Com exceção dos quartzitos, as demais litologias apresentam coloração verde a verde acinzentado quando frescas, e rosadas quando intemperizadas. Geram excelentes solos para a agricultura com coloração vermelha (figura 3.11). Estes solos foram utilizados na cartografia desta unidade com sucesso. Os calcifilitos e os quartzo-filitos apresentam maior distribuição espacial e diferenciam-se apenas pela presença de carbonato nos primeiros. Seu aspecto em afloramento e amostras de mão é sempre o mesmo. Invariavelmente estão arranjados como ritmitos, cujas lâminas têm espessuras milimétricas a centimétricas, e granulometria de areia muito fina a silte até argila nas lâminas mais finas (figura 3.12). Os ritmitos gradam para filitos verde-acinzentados e para quartzitos micáceos em direção ao topo estratigráfico, considerando-se que a sequência não esteja invertida (figura 3.2 e Anexo II). As diversas litologias parecem compor lentes que se interdigitam, ora predominando um termo, ora outro.

Os quartzitos têm maior área de ocorrência no Morro Alto, a nordeste de Araxá (Anexo I - B11 e figura 4.20), onde chegam a alcançar 600 m de espessura. Ocorrem como exposições não mapeáveis na escala 1:100000, ao longo do contato com as litologias do Grupo Araxá, sempre como camadas com poucas dezenas de metros de espessura. A espessura das demais litologias é difícil de estimar em função dos dobramentos que as afetam.

3.4. Escama tectônica superior: Grupo Araxá

As litologias que compreendem o Grupo Araxá distribuem-se na zona mais interna da Sinforma de Araxá e no setor sudoeste da área mapeada, ao longo do Rio Araguari (Anexo I). Seus contatos com as demais unidades são tectônicos, como já apontado nos itens anteriores.

Esta unidade está representada por um conjunto metaígneo máfico/ultramáfico –metassedimentar, intrudido por corpos de granitóides ricos em pegmatitos.

Os metassedimentos se distribuem numa faixa sudeste-noroeste ao longo do contato sul, e ao longo do contato norte do Grupo Araxá com o Grupo Ibiá (Anexo I) e compõem, portanto, a base da escama tectônica do Grupo Araxá. Suas litologias compreendem micaxistos, quartzo-mica xistos, quartzitos, quartzitos micáceos, quartzitos granatíferos, granada mica xistos, granada mica xistos feldspáticos, mica xistos feldspáticos e cloritóide-granada mica xistos. Alguns granada mica xistos contêm rutilo. Há um franco predomínio dos termos pelíticos sobre os psamíticos. Intercalações de anfibolitos de granulometria fina são esporádicos, ocorrendo na forma de lentes alongadas circundadas pelos metassedimentos (Anexo I- E5). Nas proximidades do rio Galheiro (Anexo I - D4), a oeste de Araxá, foram encontrados pequenos corpos ultramáficos constituidos de anfibólio-talcoxistos. A espessura destas lentes varia desde pouco metros até algumas dezenas de metros, portanto não mapeáveis na escala escolhida. As melhores exposições de metassedimentos estão à sul da localidade de Argenita (Anexo I - H13, H14; figura 4.13). A partir desta área no sentido noroeste, os metassedimentos tornam-se feldspáticos por influência das intrusões graníticas (figura 4.26), apresentando boas exposições apenas em uma pequena sinforma a poucos Km a norte de Araxá (Anexo I - F8), e ao longo do Rio Galheiro, a oeste de Araxá (Anexo I – D3). Na região do Rio Araguari, predominam granada-mica xistos nos quais ocorrem pequenos corpos boudinados de serpentinito associados com clorita xistos, anfibólio xistos e talcoxistos (Anexo I – J3).

No interior da Sinforma de Araxá, as rochas metamáficas encontram-se no topo dos metassedimentos, considerando-se que não houve inversão estratigráfica. Em volume e em área aflorante predominam sobre os metassedimentos. Seus contatos com os metassedimentos são tectônicos e paralelos à foliação principal presente em todas as rochas.

As rochas metamórficas são constituidas por clorita xistos, clorita-anfibólio xistos e anfibolitos com raras intercalações de ortoquartzitos brancos e metassedimentos pelíticos. Os anfibolitos, em cores verde escuro e preto, podem ser grosseiros, médios e finos e seus minerais essenciais são o anfibólio e o plagioclásio, com titanita, granada, epidoto, clorita, quartzo e minerais opacos.subordinados. Em um local apenas ( Anexo I – G15 - afloramento 516; figura 5.30), foram obtidas amostras de rocha metamáfica com textura ígnea porfirítica, na qual fenocristais com 2 a 3 mm de anfibólio (originalmente piroxênio) e plagioclásio estão imersos em matriz fina, representando um metabasalto típico. Os anfibolitos grosseiros devem representar protólitos gabróicos, enquanto os termos mais finos eram originalmente basaltos. Os anfibolitos ocorrem sempre como lentes desde métricas até poucas dezenas de metros de espessura, circundadas por clorita e clorita-anfibólio xistos de coloração verde (figura 4.4). Em alguns locais têm expressão maior, na forma de camadas e lentes de 2 a 7 km de comprimento, como a leste da localidade de Argenita e a leste e noroeste de Araxá (Anexo I – H13; F10; D5). Estas rochas raramente estão frescas e sob intemperismo têm coloração que vai do rosa ao vermelho. Geram solos de cor vermelho escuro, muito pobres em quartzo, o que os diferencia dos solos originados sobre os calcifilitos do Grupo Ibiá que, por conterem abundantes veios de quartzo, sempre estão associados com cascalheiras e fragmentos quartzosos.

Boas exposições de anfibolitos são encontradas nos morros a nordeste da localidade de Argenita (Anexo I - H13), ao longo do Rio São João a leste desta localidade e no Rio Quebra Anzol (Anexo I – H14; figura 3.13) e a poucos km à leste de Araxá, às margens do Rio Tamanduá e seus afluentes (Anexo I – F10). A existência de intercalações de metassedimentos

Figura 3.13. Afloramento de anfibolitos às margens do rio Quebra Anzol com foliação principal 275/30 e lineação mineral 330/25. Afloramento 447.

 

nas rochas metamáficas e destas nos primeiros, permite supor que estas litologias acham-se estratigraficamente relacionadas.

O predomínio dos anfibolitos médios a finos, caracteriza uma sequência originalmente

vulcânica, com alguns corpos de origem plutônica (máficos e ultramáficos). Aparentemente a sequência estratigráfica acha-se invertida, com os metassedimentos ocupando originalmente o topo. Esta interpretação baseia-se no fato de que corpos máficos são raros junto aos metassedimentos. A inexistência de fácies conglomerática nestes e o predomínio de termos pelíticos sobre os psamíticos, permite supor que a deposição destes sedimentos deu-se em ambiente de águas calmas, sem erosão aparente das rochas vulcânicas. A presença de grafita xistos nas proximidades da cidade de Perdizes, a noroeste de Araxá, fora da área mapeada, indica possível deposição de horizontes orgânicos em águas calmas. O conjunto parece representar um substrato vulcânico basáltico, com porções plutônicas máficas e ultramáficas, capeado, no topo, por sedimentos detríticos pelíticos e subordinadamente psamíticos. Algumas camadas de ortoquartzitos, associadas aos anfibolitos, podem representar horizontes de chert.

Tanto os metassedimentos como as metamáficas acham-se intrudidas por granitóides e pegmatitos. Os granitóides constituem dois tipos petrográficos básicos: granitos com biotita (figuras 3.14 e 4.21) e biotita-muscovita granitos (granitos a duas micas) (figuras 4.8 e 4.9). Ortoclásio, microclínio, plagioclásio, quartzo e biotita são comuns a ambos. Nos primeiros, a mica branca é sempre secundária enquanto nos últimos ela é primária. Granada e turmalina são acessórios comuns a ambos os tipos (figura 3.15), enquanto anfibólio e titanita só ocorrem nos primeiros. Ambos são leucogranitos, com coloração predominantemente cinza claro, e mais raramente rosados. Os primeiros são dominantemente porfiríticos e os últimos dominantemente equigranulares. Os granitos com biotita ocorrem preferencialmente no flanco nordeste da escama superior, com bons afloramentos ao longo dos rios Quebra Anzol e Pirapetinga. Acham-se intrudidos preferencialmente em rochas metamáficas, contendo xenólitos cujos tamanhos vão da escala centimétrica até métrica (figuras 3.16 e 3.17). Os granitos a duas micas concentram-se no centro da escama tectônica superior, intrudindo metamáficas e metassedimentos e contendo xenólitos destas sequências (figuras 3.18). Seus melhores afloramentos ocorrem ao longo do rio Tamanduá e na Serra Velha. Nos metassedimentos, os granitos a duas micas e com um fácies sienítico (Anexo I – E8, F8, D4, figura 4.9), ocorrem como corpos de tamanhos menores do que os corpos intrusivos nas metamáficas. Por ocasião das intrusões, as sequências supracrustais já estavam metamorfisadas. Este fato é comprovado pela presença de xenólitos de anfibolitos, quartzitos e granada mica xistos, com foliação metamórfica mais antiga preservada (figura 3.19).

A forma dos corpos é tabular com contatos geralmente paralelizados à foliação principal (figura 4.8 e 4.9). Lateralmente, os corpos tendem a se afinar até desaparecer, o que lhes confere aspecto de lentes e mesmo megaboudins em planta, feições que podem ser creditadas à deformação superimposta. Em alguns corpos, foi possível estimar a espessura que pode variar de 100 até 650 m, com média em torno de 350 m para seis corpos analisados. A foliação tectônica principal está presente em todos os corpos, sendo mais intensa nos bordos. É marcada pelo alinhamento preferencial de micas e quartzo em fitas, arranjados numa trama anastomosada. O aspecto geral é de protomilonitos, com feldspatos quebrados e em parte estirados, que gradam localmente para milonitos, quando porfiroclastos de feldspatos acham-se circundados pela foliação milonítica mais fina. Foliações S-C são muito comuns, tanto nos granitos como nas encaixantes, apresentando cinemática similar em ambos (figuras 3.20 e 4.8). Raramente foram observadas foliações ígneas dadas pelo alinhamento de feldspatos e micas. Em alguns locais, ocorrem bandas mais micáceas configurando estrutura gnáissica.

Os corpos são concordantes à estrutura das encaixantes e raramente discordantes. A relação com as encaixantes é nitidamente intrusiva, o que é confirmado pela presença de xenólitos e pegmatitos, mas os contatos são normalmente transicionais, dados pelo aumento de minerais micáceos e diminuição da quantidade de feldspatos no sentido das encaixantes. A foliação de estado sólido se superimpõe à foliação magmática. Este fato pode ter obliterado possíveis feições de metamorfismo de contato junto às encaixantes. Não foram observados minerais de metamorfismo de contato nas encaixantes. Caso fossem importantes, as auréolas de metamorfismo de contato deveriam ter sido preservadas ao menos como minerais reliquiares apesar da deformação posterior.

Os pegmatitos são comuns em toda escama superior. São constituidos por feldspato potássico, mica branca e quartzo em cristais milimétricos a centimétricos, podendo conter turmalina preta em cristais milimétricos a centimétricos. A espessura dos pegmatitos varia desde poucos centímetros até poucos metros. Acham-se alojados paralelamente à foliação principal e são por ela deformados e estirados (figuras 3.21 e 4.7). Alguns pegmatitos cortam a foliação principal e são pouco deformados. Turmalinitos e greisens também ocorrem na região, embora menos abundantes que os pegmatitos. Os turmalinitos são compostos por quartzo e turmalina preta e ocorrem comumente como fácies de bordo dos pegmatitos, embora tenham sido observados também como corpos individualizados. Os greisens são mais raros e constituidos preferencialmente por mica branca e quartzo. Uma ocorrência de columbita, em cristais milimétricos a centimétricos, associada a greisen, foi registrada na fazenda do Sr. José de Ávila (comunicação pessoal do Eng. de Minas Gilson Borges), situada a 23 Km a noroeste da localidade de Antinha, fora da área mapeada.

A intrusão dos granitos/pegmatitos nas encaixantes e sua posterior milonitização gerou xistos feldspáticos milonitizados (figura 4.26). Estes xistos, tanto os de origem ignea máfica como sedimentar, contêm fragmentos de pegmatitos e granitos, além de porfiroclastos de feldspatos, circundados por foliação milonítica mais fina. São rochas bandadas que preservam horizontes com quartzitos, granada xistos, clorita xistos e anfibolitos, e mesmo pegmatitos, em meio a bandas com estruturas miloníticas, onde os minerais acham-se cominuidos.

O conjunto descrito configura, deste modo, uma escama tectônica na qual os efeitos de deformação são muito expressivos. A escama é cortada por inúmeras zonas de cisalhamento em meio às quais encontram-se lentes mais ou menos preservadas das litologias originais.

3.5. Conclusões.

As principais conclusões com relação à tectonoestratigrafia da Sinforma de Araxá podem ser resumidas nos seguintes itens:

  1. a região de Araxá está estruturada em uma sinforma regional com charneira caindo suavemente para noroeste; esta estrutura está seccionada em seu bordo sul pela zona de cisalhamento da Bocaina;
  2. as unidades geológicas neoproterozóicas da região são representadas por um conjunto de três escamas tectônicas alóctones denominadas a) escama tectônica inferior, b) escama tectônica intermediária e c) escama tectônica superior;
  3. a escama tectônica inferior constitui as rochas metassedimentares do Grupo Canastra que do topo para a base compreendem: ortoquartzitos, quartzitos micáceos, filitos sericíticos, filitos carbonosos, grafita xistos, cloritóide-grafita xistos, granada-grafita xistos e subordinadamene metamargas e clorita xistos; seu grau metamórfico varia de xisto verde baixo até alto (zona da granada); a existência de metamargas, estratificações cruzadas de médio porte, intraclastos e a presença de corpos de quartzitos com grande distribuição lateral, intercalados constantemente às demais litologias metapelíticas, sugere deposição em ambiente do tipo plataforma continental; o predomínio de quartzitos no topo sugere que o conjunto tenha se depositado durante um ciclo marinho regressivo;
  4. as rochas metassedimentares detríticas do Grupo Ibiá compreendem a escama tectônica intermediária e são representadas por calcifilitos, quartzo-filitos, filitos e quartzitos micáceos respectivamente, da base para o topo; foram metamorfisadas em fácies xisto verde baixo (zona da clorita); como constituem espessas sequências de ritmitos finos sua gênese pode estar ligada a processos de sedimentação por correntes de turbidez distais;
  5. a escama tectônica superior contém as litologias do Grupo Araxá; estas são metassedimentos dominantemente pelíticos: micaxistos, quartzo-mica xistos, quartzitos, quartzitos micáceos, quartzitos granatíferos, granada-mica xistos, granada-mica xistos feldspáticos, micaxistos feldspáticos e cloritóide-granada-mica xistos; rochas metamáficas: anfibolitos finos a grosseiros (basaltos e gabros), clorita-anfibólio xistos e clorita xistos, com raros ortoquartzitos e metaultramáficas; estas rochas foram metamorfisadas em fácies anfibolito baixo; na zona de transição das sequências máfica e sedimentar, ocorrem intedigitações de anfibolitos nos metassedimentos e destes nos anfibolitos; as rochas máficas predominam amplamente sobre as metassedimentares, as primeiras podendo representar um substrato vulcânico basáltico capeado por rochas sedimentares detríticas de águas profundas; rochas granitóides e pegmatitos intrudem as litologias anteriores, contendo xenólitos das mesmas; são leucogranitos ora com biotita, ora com biotita e mica branca, com feldspato potássico, plagioclásio, quartzo, e granada e turmalina como acessórios; a intrusão dos granitos deu-se após o metamorfismo principal das encaixantes, e seu caráter é sintectônico, apresentando formas tabulares e contatos dominantemente paralelizados à foliação regional principal;
  6. as três escamas tectônicas representam diferentes conjuntos litológicos gerados em diferentes ambientes sedimentares e tectônicos, soldados uns aos outros durante um episódio orogenético.
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