UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA -INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
/ TESE DE DOUTORADO No 5 - MANFREDO WINGE
EVOLUÇÃO DOS TERRENOS GRANULÍTICOS DA
PROVÍNCIA ESTRUTURAL TOCANTINS, BRASIL CENTRAL
2.SINOPSE DA GEOLOGIA REGIONAL
2.1.CONTEXTO GEOTECTÔNICO E ESTRATIGRÁFICO
2.1.1.Quadro tectono-estratigráfico dos terrenos granulíticos
Os terrenos granulíticos da Província Estrutural
do Tocantins, Brasil Central, representados em sua maior parte pelos complexos
máfico-ultramáficos Cana Brava, Niquelândia, Barro Alto ao norte e pelo complexo
granulítico Anápolis-Itauçu ao sul, têm sido incluídos, face às datações
geocronológicas existentes (e.g. Hasui & Almeida,1970), como parte do Complexo Basal
Goiano e sediados em um compartimento siálico, tido como de idade arqueana, o Maciço
Mediano de Goiás, entre faixas de metassedimentos proterozóicos dobrados e
metamorfizados.
As figuras
1-1 e 2-1
localizam geológica e geotectonicamente a área de interesse onde ocorrem estes
complexos.
O Maciço Mediano de Goiás (Almeida,1967) faz
parte da Província Estrutural de Tocantins definida por Almeida et al. (1977). Ele teria
funcionado, segundo Almeida (1967), como um embasamento siálico entre um par
geossinclinal proterozóico (geossinclíneo Brasília a leste e Paraguai-Araguaia a oeste)
acolhendo manifestações eruptivas de fácies eugeossinclinal; posteriormente, teria sido
retrabalhado, atuando, durante a tecto-orogênese baicaliana, como pós-país baixo
(Zwischengebirge) das faixas de dobramentos orogênicos brasilianas com polaridade
metamórfica em direção às áreas cratônicas e vergências centrífugas. Segundo essa
proposta, grande parte dos terrenos metassedimentares da região central brasileira
resultariam da evolução de um único ciclo tecto-orogenético do fim do Proterozóico.
Esse modelo foi revisto pelo mesmo autor
(Almeida,1968) quando distinguiu dois sistemas de dobramentos cronologicamente distintos:
Araxaídes e Brasilides relacionados com os ciclos tecto-orogenéticos Uruaçuano, mais
antigo, e Brasiliano mais novo.
Desde a década de 60 já foram reconhecidos neste
maciço, mais de 70 intrusões básicas e ultrabásicas compondo "duas faixas de
peridotitos alpinos serpentinizados, dispostas sub-paralelamente às bordas das
plataformas do Guaporé e do São Francisco" (Almeida,1968). Angeiras (1968) destacou
que estes corpos serpentiníticos estão dispostos em duas faixas uma a oeste e outra a
leste do "Maciço Intermediário de Goiás Central". Estas intrusões
representariam magmatismo ofiolítico precoce ("zona eugeossinclinal") da então
chamada Série Araxá. Dentro do "serpentine belt" assim conceituado, foram
reunidos pelos autores dos levantamentos geológicos daquela época (e.g. Projeto
Brasília) como correlatos deste magmatismo, além de dezenas de pequenos corpos alpinos
efetivamente alojados nos xistos Araxá, os grandes maciços ou complexos
máfico-ultramáficos granulitizados de Cana Brava, Niquelândia e Barro Alto e os greenstone
belts que ocorrem entre Goiás e Porangatu.
A caracterização de diversas unidades e
compartimentos tectono-estratigráficos no Maciço Mediano de Goiás, como as sequências
de greenstone belts, embasamento granito-gnáissico, complexos
máfico-ultramáficos e anortosíticos, sequências vulcano-sedimentares de
Palmeirópolis, Indaianóplis e Juscelândia... a partir de trabalhos mais recentes,
recomenda (Marini et al.1984) o abandono do termo Complexo Basal Goiano.
O Quadro 2.1 dá uma idéia sinóptica da
estratigrafia regional adaptada de Marini et.al.(1984).
Os complexos máfico-ultramáficos Canabrava,
Niquelândia e Barro Alto estendem-se, com soluções de continuidade, por cerca de 350km,
alinhados em NNE-SSW com inflexão para E-W na parte sul do Complexo de Barro Alto. Estão
alojados em terrenos granito-gnáissicos fortemente deformados. Terrenos da cobertura
metassedimentar proterozóica de baixo grau maiormente alóctone ocorrem em toda sua
volta. Apesar de pequenas diferenças tectono/estruturais e na percentagem de cada tipo de
rocha exposta, são flagrantes as similaridades que apresentam:
(1) um conjunto de rochas granulitizadas ocorre na base e congrega: uma sequência plutônica máfico-ultramáfica, uma associação de rochas máficas finas, leptinitos, quartzitos, rochas calciossilicáticas.. e diversos stocks, que atingem termos intermediários a ácidos, também granulitizados, e que brecham as rochas anteriores;
(2) os contatos deste conjunto granulitizado são falhados em todos os seus limites tendo, estruturalmente abaixo e, localizadamente acima ou intercalado (Complexo de Barro Alto),
(3) um "pacote" de granito-gnaisses cataclasado/milonitizado;
(4) estruturalmente acima, empurrado de oeste para leste, ocorre um conjunto plutônico troctolito-coronítico a gabro-anortosítico e gabro/diabásico; este conjunto gabro-anortosítico apresenta, localmente, contatos transicionais (Danni et al.1984; Winge & Danni,1994a,b), mas geralmente tectônicos, com
(5) pacote vulcano-sedimentar cuja base, constituída por anfibolitos finos, corresponde a vulcanismo toleitico de formação de crosta oceânica (Danni & Kuyumjian,1984; Araújo,1986; Kuyumjian & Danni,1991; Moraes,1992; Moraes & Fuck,1992a). Este pacote vulcano-sedimentar talvez represente a colmatação de fossas trás-arco, como diagnosticado por Moraes & Fuck (op.cit.) para a Sequência de Juscelândia e foi, juntamente com a sequência gabro-anortosítica sotoposta,
(6) metamorfizado na mesma fácies anfibolito de pressão intermediária que propiciou retrometamorfismo do conjunto granulitizado que ocorre estruturalmente abaixo.
O alinhamento em NNE-SSW, a proximidade e a compartimentação tectono-estrutural característica, entre outros aspectos como as assinaturas geoquímicas semelhantes para fácies correlacionáveis, não deixam dúvida de que os três complexos e as sequências vulcano-sedimentares associadas são correlatos e geneticamente ligados, conforme já proposto por vários autores (e.g. Araújo & Alves,1979; Ribeiro & Teixeira,1981; Fuck et al,1981..).
FANEROZÓICO
ALUVIÕES E DEPÓSITOS RESIDUAIS DETRITO-LATERÍTICOS
SEDIMENTOS E DERRAMES BASÁLTICOS DA BACIA DO PARANÁ, INTRUSÕES ALCALINAS, DIQUES-SILLS DE DIABÁSIO
GRANITOS (TIPO IPORÁ) PÓS-TECTÔNICOS A CRATOGÊNICOS
NEOPROTEROZÓICO
SUPERSUÍTE AMERICANO DO BRASIL -SUITES GABRO-DIORÍTICA E TONALITO-GRANÍTICA
SEQUÊNCIAS VULCANO-SEDIMENTARES (ARENÓPOLIS, CÓRREGO DO OURO, JAUPACI, MARA ROSA, PORANGATU..) DE ARCO DE ILHA A LIMINARES
EMBASAMENTO GRANITO GNÁISSICO: RAÍZES PLUTÔNICAS DESTES ARCOS DE ILHA COM RETRABALHAMENTOS SUBSEQUENTES
GRUPOS PARANOÁ/BAMBUÍ: META-SEDIMENTOS PERICRATÔNICOS. ANQUIME-TAMORFISMO A FÁCIES XISTO VERDE.
MESO A PALEOPROTEROZÓICO
SIENITOS SUB-ALCALINOS; GRANODIORITOS; MIGMATITOS DIVERSOS NA INFRA-ESTRUTURA E EM LINEAMENTOS TERMO-TECTÔNICOS
GRANITOS ESTANÍFEROS (1,6Ga) DA PROVÍNCIA TOCANTINS;
GRUPOS ARAXÁ, SERRA DA MESA, ARAI, CANASTRA: SEQUÊNCIAS META-SEDIMENTARES DE VÁRIOS AMBIENTES: CONTINENTAIS A MARINHAS RASAS, MADURAS, COM VULCANISMO E SUBVULCANISMO BASAL RESTRITO TRANSICIONANDO LATERAL E VERTICALMENTE PARA FÁCIES MAIS PROFUNDAS CÁLCIO-PELÍTICAS E VULCANOQUÍMICAS LOCALIZADAS. CORPOS ALÓCTONES ALPINOS DIAPÍRICOS E EM FATIAS DE FALHAS COM BLASTO-MILONITOS DO EMBASAMENTO GRANITO-GNÁISSICO E GRANULÍTICO; METAMORFISMO BARROVIANO, FÁCIES XISTO VERDE, MAIS COMUM, ATÉ ANFIBOLITO.
GRANITOS SIN-RIFT(1,78Ga) ASSOCIADO COM VULCANISMO DO GRUPO ARAÍ (PROVÍNCIA PARANÃ)
SEQUÊNCIAS VULCANO-SEDIMENTARES: INSTALADAS EM BACIAS BACK ARC E COM MAGMATISMO BIMODAL: PALMEIRÓPOLIS, INDAIANÓPOLIS (COITEZEIRO), JUSCELÂNDIA : METAMORFISMO BARROVIANO DE MÉDIO GRAU
SEQUÊNCIAS CORONITO-GABRO-ANORTOSITICA ANFIBOLITIZADAS: SEQUÊNCIAS SERRA DA MALACACHETA, SERRA DOS BORGES; METAMORFISMO BARROVIANO DE MÉDIO A ALTO GRAU
COMPLEXOS MÁFICO-ULTRAMÁFICOS DE TREND GABRO-NORÍTICO INSTALADOS NA BASE DA CROSTA SIÁLICA ADELGAÇADA; METAMORFISMO DE ALTO GRAU.
GRANITOS (PAU DE MEL..), DIORITOS (POSSELÂNDIA.. ) TRANSAMAZÔNICOS (~2,1 Ga)
SEQUÊNCIAS SUPRACRUSTAIS TRANSAMAZÔNICAS: 1) TIPO VULCANO- SEDIMENTAR MOSSÂMEDES COM RAÍZES GRANITO-GNÁISSICO-MIGMATÍTICAS EM ARCO DE ILHA; SÃO DOMINGOS (MESO PROTEROZÓICA?); 2-METASSEDIMENTAR TIPO WITWATERSRAND: SERRA DE CANTAGALO; 3) TIPO LACUSTRINA A MAR RASO EM BACIAS CONTINENTAIS: FORMAÇÃO TICUNZAL.
ARQUEANO
GRANITOS TIPO RUBIATABA
GRANITOS DE TREND POTÁSSICO ASSOCIADOS COM OS GREENSTONE BELTS
SEQUÊNCIAS VULCANO-SEDIMENTARES TIPO GREENSTONE BELTS
EMBASAMENTO TONALITO-TRONDHJEMÍTICO COM DIQUES/SILLS E NECKS KOMATIÍTICOS.
A disposição de complexos máfico-ultramáficos
granulitizados junto a proeminentes lineamentos tectono-estruturais tem levado à
interpretação de que os complexos básicos-ultrabásicos granulitizados representassem
massas ofiolíticas obductadas. Diversos trabalhos tem defendido esta origem (White
et.al.1971; Thayer,1972; Danni & Leonardos,1978; Berbert,1980; Fuck et.al.,1981; Danni
et al.1984..) e tem sido postulada, inclusive, como ligada com a Orogênese Brasiliana que
afetou o Grupo Bambuí na região de Caldas Novas (Drake,1980).
Marini et.al.(1981) propuseram um modelo evolutivo
no qual os complexos máfico-ultramáficos, originados no Arqueano, em crosta simática,
oceânica, após granulitizados, seriam levados por obducção, ao longo dos ciclos
orogenéticos sucedentes do Proterozóico, para níveis crustais rasos, emparelhando com
os metassedimentos do Araxá e do Bambuí.
Segundo Danni & Leonardos (1978), em um modelo
retomado por Fuck et.al.(1981) e Danni et al.(1984), os terrenos granulíticos, mormente
os dos complexos máfico-ultramáficos Cana Brava, Niquelândia e Barro Alto,
corresponderiam, em grande parte, à evolução de proto-ofiolitos arqueanos
granulitizados e, posteriormente, exumados com os eventos orogenéticos do Proterozóico
durante os quais dar-se-ia o acoplamento tectônico com estruturas crustais análogas, mas
mais jovens, representadas por sequências meta-gabro-anortosíticas (tipo Sequência
Serra dos Borges) capeadas por sequências vulcano-sedimentares (tipo Sequência de
Indaianópolis) todas metamorfizadas em fácies anfibolito barroviano que afetou
(retrometamorfismo parcial a total em faixas de cisalhamento mais ativo) os complexos
granulíticos sotopostos.
Haralyi & Hasui (1981,1985), com base
principalmente em dados gravimétricos caracterizaram blocos crustais, cuja organização
básica remontaria a tempos arqueanos, quando os terrenos granulíticos da crosta inferior
teriam sido elevados por obducção, criando-se uma geometria próxima da atual. A
tectônica proterozóica seria, para esses autores, relacionada essencialmente a processos
ensiálicos, notadamente falhamentos transcorrentes e verticais.
Para Hasui & Mioto(1988) os complexos teriam
emergido durante evento arqueano em uma estrutura "pop up" decorrente de evento
colisional.
Girardi et al.(1986), com base em litogeoquímica,
propõem a evolução do Complexo de Niquelândia como decorrente de uma intrusão em
crosta sializada, gerando um complexo estratiforme, no qual não existiriam duas unidades
geológicas plutônicas como visualizadas por Danni & Leonardos (1978).
Ferreira Filho et al. (1992a,1993,1994a) e
Ferreira Filho & Naldrett (1993) assumem o mesmo modelo geotectônico de Girardi et
al. (op.cit) e modificam, substancialmente, o quadro e a evolução geológica como vinham
sendo concebidos (eg.Marini et.al 1984a,b) para a região, vistos os dados
geocronológicos que obtiveram: o Complexo Niquelândia teria evoluído de uma enorme
intrusão durante rifteamento continental, originando um maciço estratiforme
semelhante ao de Bushveld da África do Sul, há cerca de 1580 Ma.; este maciço teria
sofrido deformações e metamorfismo granulítico a anfibolítico há cerca de 780 Ma.,
portanto durante a tectogênese brasiliana. Esta modelagem difere da de Girardi et
al.(1986) pelo reconhecimento de deformações penetrativas e metamorfismo superimposto
ligados a evento brasiliano, enquanto que para Girardi et.al. os reequilíbrios minerais
relacionar-se-iam com a evolução tardi-magmática dos complexos, com deformações
localizadas em falhamentos.
Correia (1994), estudando o Complexo Cana Brava,
confirma a idade transamazônica do magmatismo obtida por Fugi (1989) e data por Rb-Sr o
metamorfismo que afetou o complexo como de idade uruaçuana relacionada a provável
colisão continental mesoproterozóica em um modelo análogo ao proposto por Fuck et al.
(1988,1989)
Suita et al. (1994) obtem para o Complexo Barro
Alto idades U-Pb semelhantes às de Ferreira Filho et al. (op.cit) e propõem modelo de
evolução semelhante ao desses autores.
Brod et al. (1992) analisam a lito-geoquímica
dessas sequências vulcano-sedimentares e demonstram que os teores de elementos
incompatíveis de rochas análogas, anfibolíticas, variam sistemáticamente de norte
(Complexo Cana Brava), onde ocorrem os termos magmaticamente mais evoluídos, para sul
(Complexo Barro Alto). A interpretação dada é de que correspondem a exposição de
níveis crustais diversos, ou alternativamente, de graus variáveis de fusão parcial.
O Complexo Anápolis-Itauçu estende-se por ampla
área, sem apresentar a individualização de compartimentos lito-tectônicos tão bem
definida quanto a dos complexos máfico-ultramáficos granulitizados ao norte. Corresponde
a uma crosta continentalizada polifasicamente retrabalhada e com acresções plutônicas
pré e pós-granulitização. A ocorrência de fácies ácidas a intermediárias mais
frequente do que nos complexos granulíticos ao norte favoreceu, aqui, a mobilização
anatéxica sin e pós-granulitização que, adicionalmente, concentrou a fase aquosa,
aumentando a PH2O localizadamente. Em consequência, são comuns os gnaisses
granitóides, anatexitos e migmatitos com lentes e boudins centi-decimétricos a
métricos de restitos granulíticos máficos e ultramáficos, geralmente
retrometamorfizados com hidratação e metassomatismo variável (anfibolitos,
actinolititos, serpentina-talco xistos, biotititos..) em estruturas brechóides
agmatíticas, bandadas ou schlieren.. Apesar destas características gerais
distintas das dos complexos ao norte, nele distinguem-se vários corpos
máfico-ultramáficos acamadados e granulitizados, frequentemente rompidos por falhamentos
predominantemente de baixo ângulo, como as intrusões de Heitoraí, Itaguaru, Serra do
Brandão, Água Clara-Faz. Conceição, Goianira, etc.. Como regra, à semelhança do que
acontece no Complexo de Barro Alto, estas intrusões são "capeadas" por
leptinitos, geralmente aplitóides que podem variar para fácies kinzigíticas
per-aluminosas, associadas com ou entremeadas por granulitos máficos a ultramáficos,
hoje maiormente "boudinados" e retrometamorfizados entre as fácies mais
ácidas.
Além desses terrenos granulíticos, objeto de
maiores considerações adiante, são reconhecidas as seguintes ocorrências de granulitos
no Brasil Central:
Granulitos da região de Edéia - Araujo et.al.(1980), no relatório do Projeto Pontalina, citam a ocorrência de gnaisses granulíticos, gabro-dioríticos a SW de Trindade e como resistatos de migmatitos brasilianos no Maciço de Edéia já fora do Complexo Anápolis-Itauçu e do mapa regional elaborado.
Granulitos a NW de Porangatu - Acompanhando o trend regional de N30E do Lineamento Trans-brasiliano (Schobbenhaus et al.1975), ocorre, a noroeste da Cidade de Porangatu, uma faixa de rochas granulíticas identificada pela equipe do Projeto Porangatu da CPRM (Machado et al.1981) em área de aproximadamente 300 km2 do Maciço Mediano de Goiás. Esta área que aparece, em parte, no mapa regional aqui elaborado, foi selecionada para estudo detalhado pelo Projeto Geofísico Brasil-Canadá por ter apresentado lineamentos de forte contraste magnético em N20E e anomalias de Cr e Ni.
Machado et al.(op.cit.) dividiram o conjunto granulítico em 3 sub-zonas de sudeste para nororeste, delimitadas por falhas NE mas na descrição das mesmas não são caracterizadas paragêneses típicas da fácies granulito.
Granulitos da região de Porto Nacional - Cerca de 300 km a norte de Porangatu, a sudeste de Porto Nacional, também dispostos junto e a NW do lineamento Transbrasiliano (ver mapas do Projeto Geofísico Brasil-Canadá publicados pelo DNPM) foi identificada uma "faixa de rochas granulíticas .... São rochas mesocráticas a melanocráticas que evidenciam frequentemente porfiroblastos avermelhados de granada. Na Cachoeira Comprida, a montante de Porto Nacional, foram referidos anortositos e gabros" (Schobbenhaus et al,1975). Segundo o Projeto LETOS (Barbosa et. al., 1973) "os granulitos ocorrem principalmente em Goiás, do lado oeste da Sa. da Natividade... dentro da fácies granulito foram encontradas as variedades granulitos, piroxênio granulitos, hornblenda granulitos.." fazendo parte de um complexo metamórfico onde são comuns gnaisses milonitizados orientados segundo o "trend" NE, transbrasiliano.
Granulito do Rio Maranhão - Na estrada Uruaçu-Niquelândia, às margens do Rio Maranhão, ocorre um cordierita-sillimanita gnaisse kinzigítico (Fotomicrografia 1) bandado a maciço, podendo apresentar até 30% de granada almandínica em bandas de cor rósea alternadas com bandas verdes ricas em sillimanita e cordierita. Corresponde talvez a metapelitos associados ao suposto Complexo Água Branca, entre os complexos Niquelândia e Barro Alto (Figura 2-2), sugerido por Barreto Filho (1992).
2.1.2.Aspectos da geologia regional
Vários autores (eg.Hasui & Mioto,1988) tem
destacado a disposição dos terrenos granulíticos do Brasil Central em duas faixas
preferenciais, uma mais a oeste (Porangatu, Porto Nacional) e outra mais a leste
(complexos máfico-ultramáficos) do Maciço Mediano de Goiás, coincidentes com
cinturões de cisalhamento.
Almeida (1981) propôs a existência de um
compartimento cratônico (Craton do Paramirim) estabilizado ao fim do evento
Jequié, há cerca de 2,7 bilhões de anos. Este craton seria circundado por mobile
belts com terrenos granulíticos retrabalhados em ciclos recorrentes até o
Proterozóico. Seriam eles: o cinturão Costeiro a leste; Alfenas a W e SW e Ceres ou
Goiás a W e NW (Figura 1-4).
Esta concepção lembra o modelo de evolução dos cinturões granulíticos como de faixas
periféricas a conjuntos de blocos cratônicos arqueanos tectonicamente amalgamados, à
semelhança do modelo de Glikson (1971). Com a exumação e consolidação destas faixas
móveis e seu posterior envolvimento em ciclos geotectônicos proterozóicos, esse craton
seria retrabalhado principalmente em suas bordas, dando origem, pro parte, ao Craton
do São Francisco do Ciclo Brasiliano, que teria incorporado boa parte do Cinturão Móvel
Costeiro. Este lay out geotectônico é contestado por Cordani (1981), visto que a
manutenção de uma grande entidade cratônica retrabalhada em suas bordas por vários
eventos tectono-magmáticos recorrentes segue uma linha fixista com crosta continental
destruída e regerada sistematicamente o que contraria, segundo esse autor, os dados
isotópicos disponíveis destas faixas.
Chouduri & Barrueto (1994), com base na
litogeoquímica de corpo diferenciado no contexto dos granulitos máficos de
Varginha-Guaxupé, na porção sudeste do Cinturão de Alfenas, concluíram que o magma de
diferentes afluxos deve ter sido gerado junto a borda continental e em profundidades de
geração e com interação com a crosta continental variáveis.
Os greenstone belts de Pilar/Hidrolina,
Crixás, Goiás (este mais ao sul) ocorrem, no Maciço Mediano de Goiás, entre amplos
terrenos TTG. A sua identificação como sequências vulcano-sedimentares mais antigas
(Danni et.al. 1973), a efetiva caracterização como greenstone belts
(Sabóia,1978) e datações diversas, principalmente dos terrenos granito-gnáissicos
associados (e.g. Tassinari & Montalvão,1980; Tassinari et.al.1981; Tomazzoli,1992)
permitem assegurar que o Maciço Mediano de Goiás corresponde, em grande parte, a
elemento(s) geotectônico(s) arqueano ou que apresenta, entre terrenos de geração
crustal bem mais jovens, restos de crosta continental arqueana (Pimentel et. al. 1990).
Processos geológicos do Paleoproterozóico (Ciclo
Transamazônico) foram importantes no desenvolvimento do Maciço Mediano de Goiás, alguns
resultando em significativa acresção crustal, tanto lateral quanto vertical, e são
evidenciados pelas sequências metassedimentares, pluto-vulcano-sedimentares e plutônicas
datadas ou tidas, por posicionamento estratigráfico, como daquelas épocas, a saber:
Formação Ticunzal (Marini et.al.1978); sequência vulcano-sedimentar de Mossâmedes
(Simões,1984; Barbosa,1987), datada por Fuck & Pimentel (1990) com cerca de 2Ba.;
Sequência Serra do Cantagalo (Danni et.al.1981); diorito de Posselândia datado com cerca
de 2,146 Ba. por Pimentel et.al. (1990), e que ocorre junto do domo de Hidrolina, cortando
terrenos e falhas arqueanos; meta-granito Pau de Mel, datado com 2.175 +12/-9Ma (Pimentel
et al., 1993) que ocorre a oeste da Sequência Indaianópolis.
As vulcânicas do Grupo Araí e os granitos
estaníferos associados da Sub-Província Paranã (Marini et. al.,1985) foram datados com
cerca de 1.77 Ba. (Pimentel & Fuck,1991a; Pimentel et al.1991), indicando que o evento
de rifteamento do craton (Paramirim?) foi paleo a mesoproterozóico. A mesma
idade é verificada nos vulcanitos basais do Grupo Espinhaço (Complexo Rio dos Remédios,
Bahia) e em riolito de Conceição de Mato de Dentro, MG com idade U-Pb em zircão de 1,77
Ba. (Neves et. al. 1979). Os grupos Araí e Espinhaço, além de crono-correlatos,
apresentam características magmáticas e sedimentológicas análogas, notadamente pela
ocorrência de granitos estaníferos associados com vulcanismo riodacítico de fase de rift
e pela ocorrência de camadas espessas de psamitos maduros, hoje quartzitos,
variavelmente associados com meta-psefitos e meta-pelitos, gradando para o topo e
lateralmente para meta-margas (calcixistos) com lentes de calcário (mármores).
A norte da Mega-inflexão dos Pireneus o Grupo
Araxá, apresenta, localmente, registros de vulcanismo e subvulcanismo como, por exemplo,
na região dos Guimarães, a N de Pirenópolis, onde, em anticlinal desventrada pelo Rio
do Peixe, nos contatos com rochas granitóides milonitizadas de embasamento(?), ocorrem
gnaisse lamboanito (quartzo-sienítico) milonitizado e metagabro (xistos verdes), além de
rochas metavulcânicas ácidas (quartzo xistos feldspáticos e gnaisses finos) a básicas
junto com eventuais meta-tufos (níveis de xistos verdes e de cloritóide-clorita xistos)
entremeadas no pacote de quartzo-xistos. Níveis esporádicos de gonditos em associação
com grafita-xistos são encontrados mais acima na coluna. Há forte possibilidade de esta
fácies vulcano-sedimentar da base do Araxá desta região a sul/sudeste do Complexo Barro
Alto ser crono-correlata da base do Araí, vistos os seguintes pontos:
1) posicionamento estratigráfico análogo e uma
quase continuidade dos lineamentos lito-estruturais (níveis de quartzitos e de
quartzo-xistos) fotointerpretados (ver mapa
regional);
2) a tipologia sedimentar análoga com um
importante pacote psamito-pelítico de sedimentação madura, apresentando nos níveis
basais, psamito-psefíticos, registros de vulcanismo localizado de tendência bimodal;
3) a variação vertical e lateral para
meta-margas (calcixistos);
4) a ocorrência de sub-vulcânicas básicas até
quartzo-sieníticas com fácies de meta-granito ocasionalmente greisenizado e estanífero
como o que ocorre na Serra do Quebra-Rabicho, afetando corpo alpino
(biotitização/albitização com esmeralda) alojado na base dos quartzo-xistos Araxá.
Urge, assim, datar este vulcanismo e plutonismo da base do Grupo Araxá para confirmar ou
não esta correlação sugerida.
A grande extensão destas unidades correlatas
(Grupos Espinhaço, Araí, Serra da Mesa, Araxá, e Canastra), margeando o Craton do São
Francisco e adentrando-se a êle como aulacógenos (grupos Espinhaço e, em parte, Chapada
Diamantina na Bahia e sul do Piauí), indica a importância desta fase (1,77 Ba.) de
tectônica extensional que rompeu (rifts) área cratônica de supercontinente (?)
pós-transamazônico.
Idades de cerca de 1,6 Ba. foram obtidas com U-Pb
em zircões de granitos da sub-província granítica Tocantins (Granito Serra da Mesa com
cerca de 1.6 Ba.; Pimentel et al. op.cit.; Rossi et al. 1992). Estes granitos mostram
analogias metalogenéticas com os granitos da província do Paranã e estão encaixados em
xistos e quartzitos do Grupo Serra da Mesa (Marini et al., 1977) que tem sido
correlacionado com o Grupo Araí e Grupo Araxá (Schobbenhaus et. al., 1975). O
desenvolvimento de porfiroblastos tardi a pós tectônicos de granada, estaurolita
(centimétricos) e biotita de pleocroísmo avermelhado a marrom (Fotomicrografia
2) nestes xistos, em faixa junto ao contato com o granito, indica a natureza
intrusiva ou diapírica com aquecimento das encaixantes. Apresentam analogias
metalogenéticas e de posicionamento tectono-estratigráfico, também, com os
meta-granitos de Arturlândia, Raizama (Serra do Quebra Rabicho), Santa Cruz, Ipameri..
que ocorrem para o sul, margeando sutura crustal balisada pelos complexos granulitizados e
por corpos alpinos com retrabalhamentos nos diastrofismos proterozóicos. Esses granitos
estão em ambiente geotectônico mais interno e mais tectonizado da orogênese brasilaiana
e as idades obtidas são cerca de 170 Ma. mais jovens do que os granitos e vulcânicas
associadas da Província do Paranã. Há, entretanto, controvérsias se eles seriam
anorogênicos (=fase rift?) ou tardi-orogênicos do Ciclo Uruaçuano. A
disposição tectono-estrutural dos granitos Serra Dourada, Serra da Mesa e Serra Branca
no alinhamento direcional entre os complexos granulitizados Niquelândia e Cana Brava
mostra a importância que eles têm para o estudo da evolução dos granulitos. Botelho
& Pimentel (1993) determinaram dois eventos graníticos, g1 e g2, no maciço da Pedra
Branca da Sub-Província Estanífera do Paranã: o primeiro com a mesma idade
paleoproterozóica (cerca de 1,78 Ba.) já deteminada por Pimentel et al.(op.cit) para a
fase rift do Araí e o segundo, mineralizante e correspondendo a granito aluminoso,
com idade mesoproterozóica igual à do granito Serra da Mesa (± 1,58 Ba.). A RI 87Sr/86Sr
~0,710 de ambas as fases indica provavel refusão de antiga crosta na geração destes
granitos.
A carência de dados geocronológicos referentes a
metamorfismo Mesoproterozóico junto com estudos recentes de sistematização dos dados do
Espinhaço e da Faixa Uruaçuana tem levado a formulação de novos modelos
tectogenéticos que questionam (e.g. Kiang et al.,1988; Fuck et.al. 1993) a existência do
ciclo orogenético Uruaçuano/Espinhaço. Assim, com as devidas ressalvas, volta-se ao
modelo original de Almeida (1967) de um único ciclo tecto-orogenético (=Brasiliano) do
Neoproterozóico e que teria envolvido as rochas sedimentares e vulcânicas de várias
idades (Grupos Serra da Mesa, Araxá, Canastra, Paranoá, Bambuí.. ).
Essa tese foi defendida por Dardenne (1978) quando
considerou todos os grupos (Araxá,Araí, Canastra, Paranoá, Bambuí) como distribuídos
em cinco zonas isópicas e evoluídos em um único ciclo geossinclinal (Brasiliano) do
Neoproterozóico.
Entretanto, alguns trabalhos de geocronologia como
o de Neves et.al. (1979) e de Machado et al. (1989) para o Cinturão do Espinhaço, de
Fuck et al.(1989) para a região do Complexo Barro Alto e de Correia (1994) para o
Complexo Cana Brava apontam para eventos uruaçuanos de reequilíbrio isotópico. Fuck et
al.(op.cit.), baseados em dados de isótopos Rb-Sr de amostras de granulitos ácidos da
Serra da Gameleira e de gnaisses da Sequência Juscelândia propuseram que a
granulitização teria ocorrido durante colisão continental há cerca de 1.3Ba., mas as
altas razões iniciais de 86Sr/87Sr indicam envolvimento isotópico
crustal dos protólitos. Esta idade (entre 1.4 e 1.2 Ba.) corresponde aproximadamente à
que tem sido advogada para a orogênese espinhaço/uruaçuana.
Na região de São Domingos de Goiás, em pleno
domínio cratônico (Craton do São Francisco), cerca de 50 quilômetros a leste da
região com os riolitos datados do Grupo Araí, ocorre (Teixeira et.al.1983; Faria et
al.1986) a Sequência Vulcano-sedimentar São Domingos metamorfizada em fácies xisto
verde baixo, constando de pelitos, grauvacas, vulcânicas ácidas (entre elas riolitos
e riodacitos), hipabissais básicas e cortada por meta-ultramáficas e por tonalitos e
granitos estaníferos (estes produzem auréolas metamórficas) em um conjunto dobrado e
estruturado em graben WNW-ESE que jaz em discordância inconforme sob os sedimentos
do Grupo Bambuí (900Ma?). Se esta sequência meta-vulcanossedimentar for correlata do
Grupo Araí, fica evidenciada a ocorrência de tectogênese Araí, mesmo que
restrita, há mais de 900 Ma.
O Grupo Espinhaço na Bahia é cortado por, pelo
menos, dois sistemas de diques/sills máficos (Winge, 1970,1972). Um apresenta diabásios
frescos, muito provavelmente mesozóicos, e o outro, mais desenvolvido, com ocasionais
pequenos stocks, apresenta, comumente, metamorfismo estático parcial
(uralita/saussurita diabásios e gabros) com deformações marginais para xistos
verdes. Estes diques representam provável magmatismo da fase tafrogênica (extensional)
da bacia do Super-grupo São Francisco (Bambuí) pois diques análogos foram datados por
U-Pb, usando zircão e baddeleita (Machado et al.,1989), com 906± 2 Ma. na região de
Pedro Lessa. Êles cortam os quartzitos e xistos do Espinhaço (Serra da Vereda) e da
Chapada Diamantina; raramente estão transformados, de forma completa, para xistos verdes.
Isto indica a provável a existência de uma fase de deformações e metamorfismo Espinhaço
(e Uruaçu) anterior ao Ciclo Brasiliano durante a qual, sem dúvida, as mesmas regiões
foram novamente afetadas, mas com tectônica compressional, principalmente N-S, gerando-se
flambagem, domos e bacias estruturais nos metassedimentos Espinhaço e dobras com eixos ~
EW nos calcários e ardósias Bambuí, tanto a leste (Bacia de Irecê) quanto a oeste na
área cratônica, região de Caratinga, junto da Serra do Boqueirão queé formada por
quartzitos e xistos/filitos do Grupo Espinhaço dobrados em NNW-SSE.
O meta-riolito de Maratá (efusivo?) que fica
próximo de Santa Cruz de Goiás foi datado (U-Pb em zircão) por Pimentel et.al. (1992)
com 794+-10 Ma. interpretada como a idade de derrames. Assim, os xistos e quartzitos dessa
região associados com esta meta-ígnea, e sempre tidos como Grupo Araxá do
Mesoproterozóico, corresponderiam a fácies internas das sequências carbonatadas
plataformais do Grupo Bambuí metamorfizados em eventos brasilianos. Essa datação junto
com a identificação de novos terrenos de acresção tem levado a proposta de uma área
oceânica (e.g. Fuck,1994) na região SW da Faixa Brasília.
No Maciço Mediano de Goiás, em suas bordas
sudoeste, mais especificamente região de Jaupaci, Israelândia, Arenópolis..(Pimentel
& Fuck,1987; Amaro,1989..), ramo oeste da junção tríplice dos lineamentos
proterozóicos das faixas Paraguai-Araguaia e Brasíla, foram identificados sequências
vulcano-sedimentares, ortognaisses e migmatitos que representam (Pimentel & Fuck
,1991b; Pimentel & Fuck.1992), terrenos de acresção crustal de arcos de ilha e suas
raízes plutônicas/subvulcânicas gerados no Ciclo Brasiliano. Ao norte do Maciço
Mediano de Goiás, região de Porangatu,no ramo norte da mesma junção tríplice, também
foram determinados terrenos brasilianos (Tassinari et al. 1981) e com um quadro geológico
similar daquele ao sul composto de supracrustais e raizes de arcos de ilha (Pimentel &
Fuck, 1992; Pimentel et al., 1993) acrescionados a crosta continental cerca de 856 Ma e
metamorfisados há cerca de 630 Ma atrás.
Dado este balanço geral verifica-se que o Maciço
Mediano de Goiás, pensado como grande maciço intermediário arqueano, face à grande
extensão de terrenos gnáissico-graníticos-migmatíticos, comporta terrenos de várias
idades, incluindo grandes frações de terrenos granito-gnáissicos de acresções
brasilianas. Em consequência torna-se imperiosa a necessidade de rever não só a sua
extensão mas, também, o real significado geotectônico do Maciço Mediano de Goiás.
Vistas as colagens de antigos arcos de
ilha, deve-se admitir que tenha correspondido, nos seus terrenos mais antigos, a
microcontinente(s) durante a tafrogênese do Neoproterozóico, talvez com bacias
oceânicas restritas(?) em um modelo multi-arcos conforme proposta de Pimentel & Fuck
(1987). Esta(s) "Ilha" foi envolvida, posteriormente, entre cinturões
orogênicos, as atuais faixas de dobramentos Paraguai-Araguaia a oeste e Brasíla, a
leste.
O ápice do retrabalhamento crustal deste Maciço
deu-se com a Orogênese Brasiliana, durante colisão continental entre o Cráton do São
Francisco a leste e o Cráton Amazônico ou do Guaporé a oeste, o que é bem atestado
pelas frequentes idades radiométricas do Neoproterozóico determinadas (e.g.Girardi et
al.,1978; Tassinari et.al.1981) principalmente em faixas blasto-miloníticas posicionadas
em falhamentos transcorrentes a inversos na borda oriental. com vergência regional para
leste, mas são verificadas, em compartimentos tectono-estruturais, variações
significativas deste eixo de esforço.
Entre os cinturões Ceres e Alfenas ocorre um
notável lineamento transcorrente ao sul de Ceres com um sistema de falhas como a de
Pirenópolis-Pirapora em WNW-ESE que teria desenvolvimento levógiro original com rejeito
total de mais 200 km no Craton do Paramirim (Haraliy & Hasui.1981). Este
elemento tectônico reflete-se na superestrutura metassedimentar proterozóica como uma
inflexão EW (Virgação dos Pirineus de Costa et.al.1970, Acidente Tectônico de
Pirenópolis de Almeida et.al.1976; Mega-inflexão dos Pireneus de Araujo Filho,
1980,1981).
Sub-paralelos a este lineamento são observados
outros não tão conspícuos e que também se refletem na cobertura metassedimentar com
mudanças direcionais abruptas, formando mosaicos de blocos crustais, transversais aos
lineamentos regionais e que parecem separar sub-províncias tectono-magmáticas. Reflexos
desta estrutura transversal a ortogonal adentram-se em direção ao Craton do São
Francisco. A região de Brasília, por exemplo, mostra predominância de estruturas EW e
que correspondem, na realidade, a uma extensão, na superestrutura metassedimentar, da
mega-inflexão dos Pireneus. A não continuidade dos complexos Canabrava, Niquelândia,
Barro Alto e Anápolis-Itauçu está ligada a estes lineamentos já identificados
anteriormente (Sistema Goiano Transversal - Marini et.al.1984). Conforme já aventado por
esses autores, lembram muito a segmentação transversal andina que, segundo Frutos (1980)
está relacionada com a subducção de elementos crustais oceânicos, térmica e
estruturalmente diferenciados, e com limites que coincidem, muitas vezes, com falhas
transformantes subductadas, originando blocos crustais transferentes com mergulhos de
plano de Benioff variados e com tectogênese e magmatogênese diferenciadas.
A interpretação de dados geofísicos do Projeto
Geofísico Brasil-Canadá indica que estes complexos, hoje isolados, correspondiam a um
cinturão contínuo, existindo "outros complexos" sob a cobertura proterozóica
entre os tres como é o caso do provável complexo Água Branca proposto por Barreto Filho
(1992) entre os atuais complexos de Niquelândia e Barro Alto (ver Figura 2-2). Realmente, junto à
rodovia Uruaçu-Niquelândia, nas maregens do Rio Maranhão ocorre, em uma janela
tectônica, um granulito aluminoso completamente deslocado para W com relação ao trend
regional dos lineamentos dos Complexos Niquelândia/Barro Alto..
Os trends direcionais dos cinturões Ceres
(NE-SW) e Alfenas (NW-SE) são perfeitamente balizados por contrastes gravimétricos
significativos (Haralyi & Hasui, 1981; Assumpção et al.1981;Marangoni,1994)
verificados nos limites orientais dos terrenos granulitizado e indica, junto ao Complexo
de Barro Alto, (Assumpção et.al.,op.cit.) cavalgamento do bloco Porangatu, a oeste,
sobre o de Brasília, a leste, com forte espessamento crustal neste último.
Marangoni (1994) realizou levantamento
gravimétrico da região central do Brasil, abarcando desde o cinturão dobrado do
Espinhaço até o cinturão Araguaia. No mapa de anomalia Bouguer (Figura 2-3) são identificados
dois blocos com feições gravimétricas distintas separados por faixas com forte
gradiente (-60 a -110 mgal) que coincide com a localização dos complexos granulitizados.
No bloco a leste tem-se a faixa Uruaçu/Brasília com baixo gravimétrico interpretado
como falta de massa e na região do "Maciço Central de Goiás", bloco a oeste,
é indicado alto gravimétrico com anomalias de > de -60mgal, interpretado como excesso
de massa. O padrão gravimétrico do forte gradiente de anomalia corresponde ao de suturas
litosféricas onde teria havido encurtamentos crustais da ordem de 125 km ao N e 150 km ao
S para ângulos de mergulho entre 20 e 10o derivado de cavalgamento para E
antes de se formar a Faixa Brasília (Marangoni, op.cit.).
Estes dados e interpretações geofísicos, junto
com a ocorrência comum de corpos alpinos talco-serpentiníticos junto desses limites
gravimétricos nos metassedimentos dos Grupos Araxá e Canastra, indica existirem aí
suturas crustais importantes retomadas (zonas de mélanges tectônicas) na
Orogênese Brasiliana como assinalado, e.g. por Danni & Teixeira (1981), Strieder
(1989), Winge (1990), Nilson & Misra (1993)...
A Sequência vulcano-sedimentar Mossâmedes
corresponde à evolução de sistema arco de ilha (Simões,1984; Barbosa,1987) que deve
ter sido acrescionado no transamazônico, segundo as datações de Fuck & Pimentel
(1990), aos terrenos granito-greenstone Anicuns-Itaberaí/Goiás nas margens
a W / SW (hoje) desta massa siálica arqueana. Gnaisses, xistos, anfibolitos,
calciossilicatadas, bifs .. que ocorrem entre Anicuns e Mangabal talvez
correspondam a partes mais internas e mais metamórficas deste conjunto de arco de ilha
que dispor-se-ia, assim, em forma de um semi círculo limitado por falhas e/ou margeando e
cavalgando a faixa meta-psamito-pelítica da Serra Dourada (Grupo Araxá) com vergência
para o norte. A ocorrência de sistema deposicional tipo Witwatersrand de suposta idade
transamazônica, retomando a calha do greenstone Goiás (Sequência Serra de
Cantagalo de Danni et al.,1981), poderia representar sedimentação proximal no
"continente" arqueano e em suas margens crono-correlata do "sistema de
arcos de ilha Mossâmedes". Durante o Ciclo Brasiliano esta área foi retomada,
sofrendo importante acresção plutônica (eg.Granito Choupana; meta-granodiorito
Sanclerlândia) datada por Fuck & Pimentel (1990b), acompanhando e sucedendo
importante evento deformacional e metamórfico (granitos gnaissificados) responsável
pelas conspícuas transcorrências levógiras N-S (Lineamentos Fazenda Nova, NovoBrasil,
São Luis de Montes Belos), com escamas e rampas com vergência para o norte. Nos blocos
ocidentais destes falhamentos transcorrentes N-S são encontrados pequenos corpos alpinos
com cromita podiforme (J.C.M.Danni inf.verbal e Amaro,1989) indicativos, provavelmente, de
suturas crustais relacionadas com a Orogênese Brasiliana quando deu-se a colagem
dos sistemas de arcos de ilha neoproterozóicos (sequências vulcano-sedimentares Jaupaci,
Arenópolis, Córrego do Ouro..). Estas faixas de corpos alpinos estendem-se para o
sudeste, grosso modo acompanhando os limites do Grupo Araxá e indicando a continuação
de suturas crustais importantes muito provavelmente relacionadas com fechamento de área
oceânica do Ciclo Brasiliano.
Ao N dessa região, entre Goiás e Itapuranga,
ocorrem gnaisses arqueanos cortados por sistemas de diques máficos e ultramáficos, desde
completamente transformados (actinolititos, biotititos, anfibolitos) até bem preservados
com texturas diabásicas a porfiríticas (e.g. ponto 2MW194). Alguns desses diques cortam
os quartzitos e xistos da Serra Dourada. Esta retomada sucessiva de tectônica rúptil e a
ocorrência de prováveis depósitos tipo Witwatersrand (Sequência Serra de Santa Rita na
calha do greenstone belt) próximos pode ser indício de crosta
continentalizada espessa desde tempos arqueanos/proterozóicos o que favorece a
possibilidade de conter ou ter contido kimberlitos diamantíferos que, erodidos, teriam
fornecido os diamantes para os conglomerados diamantíferos mesoproterozóicos da Serra
Dourada a sul/sudeste conforme já sugerido por Coelho et al.(1985). A ocorrência de
diques máficos e sedimentação madura Araxá/Espinhaço, contendo conglomerados
diamantíferos, lembra a geologia da região da Chapada Diamantina (Serra de Santo Inácio
e Morro do Chapéu), sugerindo que as duas regiões tenham tido evolução geotectônica
análoga durante o Proterozóico (crosta siálica espessa, tectônica extensional, etc).
A parte mais ocidental do Maciço Mediano de
Goiás sofreu, junto com os demais compartimentos geotectônicos, falhamentos
pré-cambrianos jovens que atravessam o país em NE-SW (Lineamento Trans-Brasiliano de
Schobbenhaus et al., 1975). O exame de mapa compilado do Continente Gondwana (University
of Witwatersrand,1988), mostra que este lineamento é trans-gondwândico, continuando na
África com o lineamento Alibory-Bifur como já mostrado por Torquato & Cordani(1981),
o que lhe confere uma extensão total de mais de 5.000 km. As falhas deste lineamento
foram reativadas no Fanerozóico e condicionaram, em parte, o desenvolvimento de bacias
molássicas subsequentes ao Ciclo Brasiliano e zonas marginais das bacias sedimentares
fanerozóicas do Paraná e do Parnaíba. A reativação em tectônica de blocos permitiu a
preservação de diversas unidades sedimentares, molássicas principalmente, em grabens ao
longo deste lineamento. O graben de Água Bonita, siluro-devoniano (Barbosa,1981;
Schobbenhaus et.al.,1975), que ocorre no Maciço Mediano de Goiás é um exemplo destes
registros sedimentares ligados a tectônica de blocos, reativando o lineamento que trunca
e afeta estruturas dobradas brasilianas-panafricanas, molda a borda de grandes bacias
sedimentares intracratônicas e sofreu uma reativação de ruptura crustal no
Fanerozóico, de grau continental.
A área centro-brasileira caracteriza-se, desde a
consolidação cratônica, após o Ciclo Brasiliano, como região epirogenéticamente
positiva e funcionando como antéclise com fornecimento de sedimentos para as bacias
sedimentares do Parnaíba e do Urucuia a N e E, Paraná a S e SW e, de preenchimento mais
recente, para a "fossa" da Ilha do Bananal a W. Nesta evolução, interregnos de
maior estabilidade cratônica propiciaram o desenvolvimento de superfícies aplainadas e
lateritizadas, das quais destaca-se a superfície Sul-Americana pós -Gondwândica
(King,1956) do K-T.
Rupturas e reativações de falhas durante a
revolução "wealdeniana" estão registradas em vários pontos, às vezes com
preenchimento por diabásio (eg. no local Macacão dos Correias a E de Anicuns) e a
sismicidade de baixo grau ainda verificada na região (Hasui & Mioto,1988) indica que
o Lineamento Transbrasiliano permanece ativo.
As unidades máfico-ultramáficas granulitizadas
do Complexo Cana Brava (ver mapa
geológico regional regional e Figura
2-4) estendem-se em N-S por cerca de 40 x 12 km em forma de gota que se
estreita para o norte.
De forma análoga à verificada no Complexo
Niquelândia, as unidades metaultramáficas ocorrem nas porções orientais e mergulham
para W sob unidades gabro-noríticas que sustentam a Serra de Cana Brava. Metaperidotitos
serpentinizados concentram-se a SE onde se tem a importante jazida de asbesto crisotila de
Minaçu. Camadas de piroxenitos, intercaladas em meta-gabro-noritos, estendem-se
paralelamente aos contatos basais tectonizados do Complexo.
Este conjunto com mergulhos médios de 50o
para W ocorre empurrado sobre cinturão de cisalhamento que tem cerca de 5 a 10 km de
largura onde predominam rochas quartzo-feldspáticas (protolitos
gnáissico-granítóides), hoje transformadas em filonitos, milonitos e cataclasitos, com
xistos Araí-Araxá do Paleo a Mesoproterozóico, com metabasitos e com gnaisses
blasto-miloníticos envolvidos nessa faixa milonítica. Os gnaisses blasto-miloníticos
apresentam paragêneses de fácies epidoto-anfibolito (epidoto, biotita, muscovita, Kf,
oligoclásio, quartzo, granada..).
Para oeste, em contato tectônico com o conjunto
gabro-norítico, ocorre a Sequência Vulcano-sedimentar Palmeirópolis (Araújo &
Alves,1979) que contém porções de crosta oceânica (Araújo, 1986).
O complexo, junto com esta sequência,
apresenta-se como uma estrutura pop up (Figura
2-5), sendo rodeado por xistos e quartzitos do Grupo Serra da Mesa (Marini et
al.1977) e do Grupo Araí cobertos, em discordância, pelos metassedimentos do Grupo
Paranoá. A SE, S e W, interrompendo o alinhamento tectono-estrutural dos complexos Cana
Brava e Niquelândia, ocorrem corpos graníticos gnaissificados Serra Branca, Serra da
Mesa e Serra Dourada da província estanífera de Goiás, Sub-província Rio Tocantins
(Marini et al.,1984a,b). Estes granitos estão estruturados, juntamente com os
metassedimentos que os alojam, na forma de domos a braquianticlinais. Nos granitos são
encontrados xenólitos de xistos grafitosos e gnaisses (Marini et al.,1977). A borda
gnáissica desses granitos apresenta-se recortada por filões pegmatíticos a berilo e
topázio. Granitos pegmatóides, alguns de dimensões maiores, mas geralmente restritos,
cortam ou envolvem os granitos e o sienito alcalino do Peixe, ao norte (NW do Complexo
Cana Brava).
O mapeamento geológico da Folha Dois de Junho
(Projeto Serra Dourada da UnB -Convênio DNPM/UnB de 1972, inédito) delimitou, a oeste do
Rio Cana Brava, isto é, a oeste dos gabro-noritos granulitizados da Serra de Cana
Brava, meta-gabros anfibolitizados dentro de xistos e metabasitos considerados, na época,
como Grupo Araxá. Esse mapeamento determinou, também, mergulhos para leste nos xistos da
Sequência Palmeirópolis (considerados então do Grupo Araxá) e no Granito Serra
Dourada.
Araujo & Alves (1979) identificaram, neste
pacote a oeste do complexo granulitizado, a Sequência Vulcano-sedimentar de
Palmeirópolis, que correlacionaram com a de Mara Rosa e com a que fica a oeste de
Niquelândia (Indaianópolis de Danni & Leonardos,1978). Ribeiro Filho & Teixeira
(1981) consideraram-na como a continuidade tectonicamente truncada da sequência a oeste
de Niquelândia, com idade provável Paleoproterozóica. Ela é separada do complexo
granulitizado por falhas inversas a transcorrentes e é composta de xistos, quartzitos,
meta-chert, rochas cálcio-silicáticas, granitos, gnaisses e anfibolito; estes são mais
importantes na base. A essa sequência está associada mineralização de Zn-Cu-Pb.
Figueiredo et al.(1981) definem controle estratigráfico-vulcanogênico para as
mineralizações; em perfil esquemático (Figura
2-5) interpretam um empurrão da sequência para W, sobre o granito Serra
Dourada e suas encaixantes e para E sobre o complexo máfico-ultramáfico. A análise
lito-geoquímica sugere (Araújo,1986) que os anfibolitos (metabasaltos) são quimicamente
análogos aos tholeítos modernos de ridge de expansão oceânica.
A Mineração SAMA realizou o mapeamento
geológico em 1/50.000 (inédito) de grande parte do complexo, identificando, também,
nesta região além de xistos - tidos como Araxá - e metabasitos, corpos de metagabros e
um corpo com cerca de 5 km de serpentinito. No mapa do complexo apresentado por Correia
(1994) também está indicada, nesta região e estendendo-se para o N, uma faixa de
orto-anfibolitos grossos, foliados a homogêneos, com aspecto gabróico. Estes meta-gabros
já haviam sido indicados pelos mapeamentos (Trabalhos de Graduação) da UnB em 1972. O
posicionamento estratigráfico parece não estar resolvido; o mais provável é que sejam
correlatos aos granada anfibolitos, coronitos e gabro-anortositos das Sequências Serra
dos Borges (Complexo de Niquelândia) e Serra da Malacacheta (Complexo de Barro Alto). Com
base nas semelhanças entre os complexos, pode-se aventar ainda as seguintes
possibilidades: 1- fatia tectônica - alóctone e retrometamorfizada do conjunto
granulitizado - intrometida na Sequência Palmeirópolis, por analogia com estruturas
verificadas no Complexo Barro Alto; 2- porção de infra-crosta oceânica semelhante à
verificada na Serra da Figueira, Complexo Barro Alto.
Matsui et al.(1976), realizando datações (K/Ar)
em minerais e amostras do maciço, obtiveram as seguintes concentrações de idades
geocronológicas: 3 amostras com 500 Ma, 3 com 900, 3 com 2.000 e 2 com valores mais
elevados, coincidentes, aproximadamente, com os ciclos Brasiliano-Uruaçuano,
Transamazônico e Jequié.
Girardi et al (1978) realizaram estudo
geocronológico (Rb-Sr e K/Ar em rocha total e minerais) do complexo. O metamorfismo
granulítico, caracterizado como pré-transamazônico, teria ocorrido talvez há 2.700 Ma.
e o metamorfismo anfibolítico, verificado em supracrustais na borda W do maciço
(=Sequência Palmeirópolis), há cerca de 1.150 Ma. As rochas gnáissicas, representadas
por blasto-milonitos e cataclasitos, de longa residência crustal, teriam sido
re-homogeneizadas e recristalizadas em condições da fácies anfibolito com possível
fusão parcial, caracterizada por estruturas agmatíticas, há 644 +- 27 Ma.
Nesse estudo os autores reconhecem no Morro da
Bota, a leste dos granulitos máfico-ultramáficos e seus derivados retrometamórficos,
"rochas gábricas e noríticas ... com feições reliquiares ígneas, tais como
zoneamento e presença de geminações complexas nos plagioclásios, zoneamento nos
ortopiroxênios e frequentes exsoluções em ambos piroxênios .. olivina sob forma de
núcleos cercados por coroas de reação envolvendo a presença de simplectitos de
piroxênio e espinélio, além de anfibólios..." (Girardi et al.1978).
Esta massa gabróica, segundo o mapa do Projeto
Cana Brava-Porto Real (Araujo & Alves,1979) encontra-se alojada em faixa de gnaisses
blasto-miloníticos e cataclasitos. Nesta borda leste ocorre, também, uma faixa (Jaime
Filho, 1981) de metabasitos. Este posicionamento lembra o dos "gabros" finos
granulitizados a leste das meta-ultramáficas do Complexo de Niquelândia só que aqui os
metabasitos estão anfibolitizados na zona de falha e as fácies do Morro da Bota estão
preservadas. Lembra, também , pela disposição estrutural no muro da falha, a pequena
ocorrência da sequência vulcano-sedimentar Juscelândia ao sul do Complexo de Barro
Alto, na região de Carmo do Rio Verde.
Segundo Girardi & Kurat (1982) o Complexo Cana
Brava corresponde a um maciço diferenciado a partir de um magma basáltico, com tipos de
rochas que variam de harzburgitos e piroxenitos até ferronoritos e ferrogabros. Após a
intrusão teriam ocorrido vários reequilíbrios no sub-solidus. O primeiro a
aproximadamente 900o C e P de 6-7 kbar, sem atingir equilíbrio completo. Uma
recristalização parcial, sucedente à primeira, teria convertido algumas rochas à
fácies anfibolito de alto grau; eventos posteriores propiciariam serpentinização,
rodingitização, talcificação.. Esta rodingitização, estudada por Girardi et
al.(1976) dá-se em associação com piroxenitos, com rochas básicas grossas ou, caso
mais comum, com serpentinitos e clorita xistos, onde os metassomatitos ocupam fraturas.
Para Dreher et al.(1989), as paragêneses cálcio-silicáticas desses rodingitos
(grossulária-diopsidio-vesuvianita) teriam cristalizado a cerca de 500o C e a
< 5 kbar, durante evento metamórfico relacionado com a ascensão do complexo durante o
qual teria ocorrido fluxo de CO2 responsável pela talcificação e carbonatização ao
longo de fraturas. Assim, esse processo seria distinto daquele que dá origem a rodingitos
em sistemas ofiolíticos.
Fugi (1989) realizou estudos de litogeoquímica de
ETR e geocronologia Sm-Nd, determinando duas isócronas Sm-Nd, uma de amostras do Complexo
Cana Brava e outra do Gabro da Serra da Bota, com valores, respectivamente, de 1.970 +- 69
Ma. e de 1.088 +- 18 Ma., interpretados como da cristalização ígnea destes corpos. A
reinterpretação dos dados geocronológicos de Fugi (op.cit.), mas incluindo as amostras
descartadas (ver Cap.8) indica uma isócrona de 1308 ± 330 Ma para as rochas do complexo.
Esse autor, modelando o magmatismo, concluíu que o complexo derivou de magma basáltico
parental enriquecido em ETRL, com progressivo enriquecimento em elementos leves
incompatíveis por cristalização fracionada, indicando a origem em câmara magmática de
complexo acamadado em crosta continental. Vários pulsos magmáticos teriam ocorrido e os
valores negativos de å Nd seriam devidos à assimilações de rochas ácidas.
O magma que originou os anfibolitos a oeste (=Sequência Palmeirópolis) não foi
cogenético do magma do complexo.
Para Correia (1994) o Complexo Cana Brava
corresponde a um corpo máfico-ultramáfico anorogênico, derivado de magma
olivina-tholeítico cristalizado em pressões de <7kbar. Define-o como intrusivo na
Sequência Palmeirópolis a partir de evidências como contatos fortemente aquecidos
(paragêneses com sillimanita e outras) e xenólitos de anfibolitos, quartzitos e xistos,
que seriam da sequência vulcano-sedimentar, em brechas plutônicas próximas dos contatos
superiores do Complexo Cana Brava. Estas fácies de brechas lembram as dos corpos
intrusivos tardios nos Complexo Niquelândia (intrusivas João Caetano) e no Complexo
Barro Alto (intrusivas do Córrego do Guará e da Vista Alegre).
Correia (op.cit.) realizou análises isotópicas
Rb-Sr e Sm-Nd sobre amostras do Complexo. Obteve uma idade de 1.350 +- 35 Ma. através de
diagrama isocrônico Rb-Sr (rocha total) de correlação entre amostras do nível de
metabasito basal. Correlaciona este valor com o obtido por Girardi et al.(1978)
neste Complexo e o obtido por Fuck et al.(1988,1989) no Complexo Barro Alto,
considerando-os indicativos da existência de evento colisional uruaçuano em torno de
1.300 Ma. Baseado na estrutura isótropa, não-deformada, do Gabro do Morro da Bota, o
autor propõe que a intrusão deste gabro é posterior a tectonismo compressivo
uruaçuano. Com base nestes dados e nos demais estudos petrológicos, êsse autor
interpreta as seguintes etapas evolutivas para o Complexo: 1) magma gerado entre 2,25 e
2,62 Ba., ficando residente em nível infra litosférico; 2) intrusão na Sequência
Palmeirópolis há cerca de 2,0 Ba.; 3) evento principal de metamorfismo e deformação
dúctil-rúptil há 1,3 Ba.; 4) reequilíbrios minerais posteriores em idades brasilianas,
principalmente onde a água teve acesso às rochas. O autor não discute o significado
geológico do Gabro do Morro da Bota nesta evolução.
A datação do Gabro do Morro da Bota (1,1Ba.) por
Fugi (op.cit.) leva a se interpretar que a ascensão do complexo (já granulitizado)
ter-se-ia iniciado antes de 1.1 Ba., pois esse gabro, pelos dados bibliográficos citados
atrás, ocorre indeformado entre faixas de forte milonitização no domínio do shear
belt a leste do complexo. Esta interpretação é contraposta pelas recentes
datações brasilianas do metamorfismo granulítico no Complexo Niquelândia (ver ítem
2.3).
Nesta faixa cisalhada a leste do Complexo Cana
Brava ocorrem corpos graníticos (Araújo &Alves, 1979) e no mapa metalogenético da
CPRM (Baeta Jr,1987) são indicadas ocorrências estaníferas nestes granitos. Isto leva a
duas interpretações referentes a origem destes corpos:
1) as intrusões graníticas (fácies granítica
preservada entre os milonitos) dar-se-iam durante a fase magmática estanífera Granito
Serra da Mesa, há cerca de 1.58 Ba. (Botelho & Pimentel, 1993), no muro da
falha, por onde se elevou o complexo, ou seja, após a ascensão do Complexo já
granulitizado para níveis rúpteis da crosta;
2) as fácies graníticas seriam mais jovens, do
Ciclo Brasiliano, injetadas em fases tardias do falhamento, talvez em zonas de
transpressão, de forma a manter a identidade petrográfica na zona de falha que atingiu
condições de fácies epidoto-anfibolito a anfibolito.
Com uma forma ovóide, circundado por falhas, o
Complexo Niquelândia tem, aproximadamente, 45 km de extensão N-S. A Figura 2-6 retrata a geologia
deste complexo como levantada e interpretada por Danni & Leonardos (1978,1980) e
modificada em Marini et.al.(1984b). Corresponde a uma elevação estrutural fortemente
tectonizada, com trends direcionais NNE-SSW e mergulhos de 40 a 65o para
W, entre terrenos granito-gnáissicos milonitizados. Compreende tres sequências de rochas
de E para W: sequência máfico-ultramáfica granulitizada, sequência gabro-anortosítica
com fácies coroníticas e troctolíticas (Sequência Serra dos Borges de Danni e
Leonardos,1978,1980) e sequência vulcano-sedimentar (Sequência Indaianópolis de Danni
& Leonardos,op.cit. ou Coitezeiro de Brod, 1988); as duas últimas deformadas e
metamorfizadas na fácies anfibolito de pressão intermediária.
Este conjunto desponta, bastante elevado
topograficamente, exceto a sequência vulcano-sedimentar, entre terrenos cristalofilianos
do Mesoproterozóico (Grupos Araí/ Araxá) a Neoproterozóico (Grupo Paranoá).
Para Danni & Leonardos (1978, 1980), a
estruturação da Sequência Serra dos Borges corresponde a uma forma dômica revirada e
falhada, com anfibolitos finos supracrustais envolvendo meta-anortositos e
gabro-anortositos e estes, grosso modo, circundando núcleo gabróico e
coronito-troctolítico. Já para Ferreira Filho et al (1992b), a estrutura seria de
empilhamento magmático homoclinal de uma grande intrusão em rift continental a
qual teria como encaixantes crosta siálica e a sequência vulcano-sedimentar de
Indaianópolis; não existiriam terrenos das supracrustais da Sequência Indaianópolis
entre a sequência granulítica e a Sequência Serra dos Borges como apresentado no mapa
da Figura 2-6.
O Complexo Niquelândia vem sendo estudado de
longa data (Pecora & Barbosa,1944) em função da ocorrência de minerais de interesse
econômico, principalmente o níquel, e das possibilidades de comportar um quadro
metalogenético bem amplo com, por exemplo, metais do grupo da platina, asbesto, cromo..
O mapeamento geológico sistemático (Projeto
Niquelândia) em 1:50.000, realizado pelo DNPM (Motta et al. 1969, 1970), levantou todo o
complexo máfico-ultramáfico (então designado Complexo São José do Tocantins). À
semelhança de Pecora & Barbosa (op.cit), esses autores consideraram ter o complexo se
originado pela diferenciação de um magma tholeítico em uma grande intrusão
estratiforme tipo Bushveld ou Stillwater, reconhecendo, ainda, rochas siálicas
(leptinitos) granulitizadas como prováveis encaixantes e roof pendants supracrustais.
Várias interpretações foram dadas por outros
autores para a origem do complexo, mas a polêmica maior polarizou-se entre origem
estratiforme versus alpina/ofiolítica.
White et. al.(1971) descrevem as ocorrências de
cromitititos platiníferos associadas com a zona ultramáfica do Complexo Niquelândia; a
principal delas se dá na forma de lentes, camadas descontínuas e massas (pods)
irregulares em uma zona tabular de 2 a 4m de espessura cuja hospedeira é um serpentinito
derivado de peridotitos. Pelas características e quimismo, os autores propõem uma origem
pseudo-estratiforme, ofiolítica para estas ocorrências.
Thayer (1972) optou por uma origem
"híbrida" do maciço, considerando que várias feições como cromita podiforme
e aluminosa, distribuição não estratiforme de rochas ultramáficas e feldspáticas que
apresentam interdigitações lenticuladas, texturas orientadas e com dobramentos, diques
gabróicos localizados e sem raizes, metamorfismo muito mais alto que o das encaixantes e
contatos tectônicos em toda a volta, apontam para o tipo alpino, porém o volume
expressivo de anortositos, aponta para uma origem estratiforme.
Danni & Leonardos (op.cit.), a partir de
mapeamentos e estudos detalhados do maciço, propõem o novo quadro geológico, esboçado
atrás, de duas unidades cronologicamente distintas:
1- pacote de rochas máfico-ultramáficas
granulitizadas e fortemente deformadas, principalmente por transcorrência, com
dunito-peridotitos basais de fatia tectônica mantélica, sucedidos por uma sequência
acamadada de peridotitos/piroxenitos e por espesso pacote de gabro-noritos acamadados;
2- sequência gabro-anortosítica com gabros,
coronitos, troctolitos e anortositos, variavelmente anfibolitizada, capeada pela
sequência vulcano-sedimentar.
Rivalenti et al.(1982), estudando a porção leste
(granulitizada) do Complexo, do ponto de vista lito-geoquímico, concluíram pela
não-existência de frações mantélicas basais como propugnado por Danni & Leonardos
(op.cit.), mas pela gênese a partir de intrusão de magma tholeítico, colocado a 15-20
km de profundidade na crosta siálica e com pressões de reequilíbrio não muito
diferentes durante sua evolução, comparáveis com condições que foram verificadas nos
complexos de Canabrava e Barro Alto. Girardi et al. (1986), retomando esse trabalho
inicial (Rivalenti et al.op.cit), agora para todo o Complexo na sua parte plutônica,
reiteram a proposta de uma evolução magmática única decorrente de fracionamento
magmático em sistema fechado, semelhante à de Bushveld, não reconhecendo deformações
pervasivas nem metamorfismo regional importantes. Os gabros finos de leste, que ocorrem
abaixo dos níveis ultramáficos, corresponderiam a uma borda resfriada e com dados
petroquímicos, indicando tratarem-se de rochas menos diferenciadas do que os gabros
acamadados sobrepostos à unidade ultramáfica. Esta proposta contraria a hipótese de
Danni & Leonardos (1978, 1980) de que estes gabros finos correspondem a fatias
tectônicas miloníticas do próprio complexo imbricadas nas suas bordas falhadas.
Candia et al. (1988) estudaram a química mineral
das paragêneses relacionadas às fácies coroníticas do conjunto gabro-anortosítico ou
nível UGAZ de Girardi et al.(1986), concluindo que as 3 principais associações minerais
coroníticas desenvolveram-se em sistema fechado, com pressões de 8-5 kbar e temperatura
de 800oC (coroa anidra de olivina gabros) a 560oC (coroas com
plagioclásio+hornblenda+granada+quartzo) e que as coroas devem ter se formado durante
resfriamento magmático e não durante evento metamórfico regional.
Ferreira Filho & Naldrett (1991,1993) e
Ferreira et al. (1992a,b) assumem também a proposta de evolução magmática do tipo
Bushveld. Admitem, porém, deformações associadas com metamorfismo granulítico e
apresentam dados geocronológicos (Ferreira Filho et al. 1992a;1994a) U-Pb em zircões e
rutilo de rochas do complexo que modificam substancialmente as propostas geocronológicas
anteriores: as rochas do complexo, máfico-ultramáficas e intermediárias, tidas como
arqueanas, teriam se consolidado entre 1.560 e 1.600 Ma. como uma grande intrusão
semelhante à de Bushveld durante importante evento extensional relacionado a rifteamento
continental no Mesoproterozóico e teriam sido metamorfizadas, monociclicamente em fácies
anfibolito a granulito há cerca de 770 a 795 Ma., durante regime colisional.
A partir de estudo sistemático da variação
composicional de piroxênios e de ETR de amostras do Complexo Niquelândia em um corte
estratigráfico E-W, Ferreira Filho et al.(1994b) reveem o modelo de fracionamento em um
estágio a partir de uma grande câmara magmática, propondo o seguinte esquema evolutivo:
-durante o rifteamento mesoproterozóico ter-se-ia gerado magma primitivo,
picrítico, sub-alcalino que ascendeu a níveis crustais onde solidificou inicialmente
como gabro fino, resfriado nas bordas (Unidade Máfica Inferior); o resfriamento mais
lento da câmara teria levado ao fracionamento em níveis ultramáficos basais a
gabróicos o que, junto com sucessivos afluxos de novo magma, desenvolveria unidades
cíclicas com progressivo enriquecimento em elementos incompatíveis e em Fe, indicativo
de baixa fO2 na câmara. O aumento brusco de elementos incompatíveis e
da razão La/Yb ao nível dos dioritos intrusivos estaria ligado a esta evolução, aliada
a processo de contaminação crustal. Após a completa solidificação das rochas desta
fase, teria havido novo afluxo de magma primitivo, mas com razão Mg/(Mg+Fe) menor do que
a das unidades inferiores e com assinatura de ETR indicativa de fonte mantélica
empobrecida em elementos incompatíveis. Isto, juntamente com um aumento de fO2,
teria levado a um trend de fracionamento distinto, com plagioclásio como fase cumulus,
deposição de camadas de óxidos de Fe e de Ti empobrecendo o líquido silicático
associado nestes elementos, cristalização de anfibólios ígneos.. e outras
características da Sequência Serra dos Borges, troctolito/gabro-anortosítica. O
metamorfismo granulítico foi determinado como de resfriamento isobárico (Ferreira Filho
et al, 1992c) e com pico de 800-900o C e 6-8 kbar em blasto-milonito alumino-silicoso,
verificando-se variação pró-gradante (Ferreira Filho et al, 1992b) de 500-600oC e 4-5
kbar, na fácies anfibolito da Sequência gabro-anortosítica Serra dos Borges até
800-900oC e 7-9 kbar (estabilidade de hercinita + quartzo) na fácies granulito.
Ribeiro Filho & Teixeira (1981)
correlacionaram a Sequência Palmeirópolis com a de Indaianópolis.
Brod (1988) propôs a designação de Sequência
Coitezeiro para a Sequência de Indaianópolis na qual identificou trend alcalino e
fácies essencialmente miloníticas na zona de contato com a Sequência Serra dos Borges.
Brod & Jost (1994) descrevem fácies metassedimentares e meta-vulcânicas a oeste do
Rio Traíras na Sequência Coitezeiro. As fácies apresentam-se aí em grande parte
preservadas, com menores deformação e grau de metamorfismo do que junto e a leste do Rio
Traíras, onde fácies miloníticas compõem um shear belt. Entre as rochas
descritas como da sequência sobressaem aquelas cujos protólitos foram vulcanoclásticos.
Em um perfil leste-oeste, tem-se rochas
gnáissicas blastomiloníticas e milonitizadas, estruturalmente abaixo de granulitos
gabro-noríticos finos tectonizados. Segue-se a estes gabros finos, geralmente foliados,
importante pacote de rochas meta-ultramáficas fortemente tectonizadas, dobradas e boudinadas
(Foto 1), representado por harzburgitos e dunitos com fases
piroxeníticas em veios centi-decimétricos, ora concordantes, ora discordantes (Foto 2), dobrados em isoclinais (Foto
3).
ANÁLISES DE MICROSSONDA EM DUAS |
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Análises de
cromita podiforme (coletada por J.C.M.Danni) e que ocorre associada a este nível de
meta-ultramafitos mostram, em gráfico Cr2O3 x Al2O3
(Figura 2-7),
composição de cromita estratiforme.
Milliotti (1994) estudou as ocorrências de
cromita e o comportamento dos elementos do grupo da platina em Morro Feio e Niquelândia,
Goiás, em sua tese de doutorado. Comparando, mineralógica e geoquimicamente, dois
níveis de cromitito que ocorrem no Complexo Niquelândia, verificou que em diagramas
Cr-Al-Fe+3 as cromitas caem, bimodalmente, em campos dos ofiolitos, mas em
gráfico TiO2 x Cr2O3, (Figura 2-8) exibem afinidade crescente com o campo das
cromitas de complexos estratiformes em direção aos níveis estratigráficos superiores.
As análises de rocha total de Milliotti (op.cit.) indicam em gráficos NiO x Cr2O3
e Al2O3-CaO-MgO afinidade com complexos estratiformes à exceção
dos níveis basais, duníticos.
Estas assinaturas geoquímicas das
cromitas, graficadas nas figuras 2-7
e 2-8 e contraditórias em
parte, devem ser vistas com cautela. São necessários estudos mais aprofundados, não
realizados nesta pesquisa, sobre os efeitos geoquímicos das recristalizações
relacionadas aos eventos metamórficos e metassomáticos subsequentes, desde os de alto
grau e pressões médias (ver Cap. 5 e 8) até os que envolveram a serpentinização e
talcificação das hospedeiras dos cromititos.
Sucedem-se estratos de rochas máficas, noríticas
principalmente, onde ocorrem camadas métricas a decimétricas, até centimétricas,
geralmente rítmicas com os termos máficos, de piroxenitos, principalmente websteritos, e
peridotitos que podem ser lherzolíticos (Foto 4).
Na pedreira próxima da Usina da CNT, neste nível
de meta-gabros, ocorre leuco-norito a norito cinza claro, médio com piroxenito
estruturado em finos veios (sills, diques, camadas?) e em lentes métricas, cuja
geometria em cunha (Foto 7) está relacionada com a forte
transposição propiciada pela transcorrência, talvez dextrógira segundo a Foto 5, que envolveu estas rochas de diferentes graus de
competência.
Nesta pedreira ocorre, também, uma zona com cerca
de 3m de espessura de norito tectonizado com foliação milonítica que trunca raras
bandas ptigmáticas de mobilizados plagioclásicos e é truncada por veios descontínuos,
cuneiformes e arranjados em Y de material escuro vítreo (pseudo-taquilitos) que pode ser
visto na Foto 6. Leonardos et.al.(1979) descrevem fácies
semelhantes que ocorrem no sul do complexo, detalhando a sua petrografia. É
característica a textura afanítica (Fotomicrografia
3), vitrofírica dos veios, com relictos de opx e cpx dispersos na massa que
foi fundida.
Cerca de 1,5 km a W da Vila Macedo, intercalada no
nível de gabro-noritos granulitizados, ocorre uma banda de material sílico-aluminoso,
variando de feldspato-granada -sillimanita quartzito a quartzo-xisto (muscovita
diaftorética); com vários metros de espessura, estende-se por quilômetros segundo a
foliação N10E que se apresenta milonítica e clivada, retratando uma zona de falha
retomada em vários eventos tectônicos. É tido como blasto-milonito de veios de origem
por segregação tectônica (Danni & Leonardos,1978,1980; Ferreira Filho et al,1992;
Ferreira Filho & Naldrett, 1993).
Intrusivas (stocks) gabro-dioríticas a
quartzo dioríticas granulitizadas (Unidade João Caetano de Ferreira et al, 1992),
semelhantes às de Vista Alegre e do Córrego do Guará no Complexo de Barro Alto,
frequentemente com fácies de brechas plutônicas, contendo autólitos e xenólitos
diversos como granulitos máficos finos e ocasionalmente quartzitos, em parte
cálcio-silicáticos, derivados provavelmente de cherts (Foto
8) ocorrem a oeste do Córrego Biliágua, onde há o contato tectônico das
fácies granulitizadas com a Sequência Serra dos Borges. A sua mesóstase, apesar de
apresentar um certo grau de hidratação (biotita), mostra paragênese granulítica, com
opx ocasional.
O conjunto troctolito-gabro-anortosítico
(Sequência Serra dos Borges) ocorre para W do conjunto granulítico, separado por
importante falha, onde se encaixou o Córrego Biliágua. Não são encontradas as
intrusivas tipo João Caetano com seus autólitos e xenólitos nesta sequência, que
também não apresenta fácies granulíticas, sendo as suas transformações metamórficas
essencialmente hidratadas e desenvolvidas na fácies anfibolito de gradiente barroviano,
com pelo menos duas fases severas de deformação (Foto9).
A Fotomicrografia
4 mostra a textura reliquiar preservada em meta-diabásio de amostra (ponto
10675-55 do trabalho de graduação da UnB em 1977) que ocorre na Sequência
Indaianópolis no local Córrego do Júlio, 5,5 km a NNE de Indaianópolis, em nível de
anfibolitos finos foliados a lineados, próximo ao contato com a Sequência Serra dos
Borges que ocorre a 1,5 km a leste. Esta fácies lembra à de contatos transicionais entre
gabros e metabasaltos da Serra da Figueira (ver ítem 2.4.3) no Complexo de Barro Alto
(Winge & Danni, 1994 a,b).
2.4.1. Introdução
O Complexo Barro Alto tem, aproximadamente, 160 km
de extensão e 25 km de largura média. Apresenta a forma de um bumerangue, com
orientação NNE-SSW, virgando para E-W e com a concavidade para NW (Figura 2-9 e mapa geológico regional).
Como os complexos Niquelândia e Canabrava, êle forma um relêvo de serras alongadas
segundo as direções estruturais. É limitado por falhas inversas de ângulos médios a
fortes a leste e sul, cujo muro é constituído por gnaisses miloníticos que podem formar
fatias tectônicas de milonito-gnaisses micáceos ou de cataclasitos entre unidades do
Mesoproterozóico (Grupo Araxá). Estas, por sua vez, cavalgam em baixo ângulo, unidades
do Neoproterozóico (grupos Paranoá e Bambuí) mais a leste.
A estes limites tectônicos corresponde um forte
gradiente gravimétrico que Assumpção et al.(1985) interpretaram como obducção do
Bloco Porangatu (região a NW do complexo) com uma espessura da ordem de 5 km de rochas
máfico-ultramáficas (Figura 2-10)
sobre o Bloco Brasilia (região a SE do complexo) e, associadamente, um importante baixo
gravimétrico (anomalia de -140 Mgal) na região dos grupos Bambuí e Paranoá, a SE e E
do complexo, como possível depressão do embasamento.
O Complexo Barro Alto foi interpretado por
Figueiredo et.al. (1970, 1975) como um único corpo ou maciço acamadado
ultramáfico-máfico, predominantemente gabro-anortosítico, com características
intermediárias entre maciços alpinos e grandes corpos estratiformes de ambiente
cratogênico.
Stache (1976) estudou a porção leste do Complexo
Barro Alto (~80x20km) com ênfase na petrologia do complexo que, para esse autor, teria
evoluído na seguinte sequência:
1) intrusão anortosítica (tipo maciço
Adirondack, de área orogênica) em embasamento pré-Araxá com as fácies de borda
metamorfizadas;
2) remobilização de embasamento junto com
domação do corpo anortosítico e intrusão de magma máfico-ultramáfico entre o
anortosito e o embasamento, com diferenciação em peridotitos e gabro-noritos;
3) deslocamento do conjunto e metamorfismo de alto
grau, granulítico a anfibolítico (M1);
4) ciclo Araxá, com metamorfismo regional de
baixo grau até fácies anfibolito (M2);
5) soerguimento do conjunto e basculamento para
oeste;
6) na zona marginal leste, uma intrusão
gabro-norítica acamadada posterior aos metamorfismos de alto grau (M1) e do Araxá (M2)
com 4.000 a 5.000 m de largura aflorante e apresentando cinco ciclos de acamamento ígneo,
iniciados cada um por piroxenito ou norito e terminados em gabro para o topo;
7) sucessivos movimentos de soerguimento ao longo
de zonas de falhas e ciclos de erosão para o aparecimento do maciço.
Figueiredo(1978) estudou a porção leste/nordeste
do maciço em sua dissertação de mestrado, com mapeamento geológico em 1:50.000, e
concluíu que o complexo apresenta características distintivas que o coloca como tipo
intermediário entre estratiforme e ofiolítico.
Em 1980 (região de Goianésia) e em 1982 (região
de Ceres- Rubiataba), abrangendo toda a porção sul, o complexo foi mapeado na escala de
1/50.000 através dos trabalhos de graduação da UnB, resultando em uma revisão (Fuck et
al.,1981; Danni et al.,1984) estratigráfica e estrutural coerente com o quadro
visualizado por Danni & Leonardos (1978,1980) para o Complexo de Niquelândia, ao
norte. O mapa geológico esquemático (Figura
2-9) retrata a tectono-estratigrafia visualizada com base nesses trabalhos de
mapeamento. Apesar de defasado com relação a ordenação estratigráfica, ele fornece
uma visão geral das unidades lito-tectônicas e de seus traços estruturais.
Girardi et al.(1981) estudaram a petrologia e a
lito-geoquímica do maciço na região entre Goianésia e Barro Alto, utilizando o
empilhamento magmático proposto por Figueiredo et al.(1975) e Figueiredo(1978). Esses
autores verificaram um padrão petrográfico e de fracionamento ígneo que evidencia serem
as unidades ofíticas superiores (UZ) e as unidades anortosíticas (AZ) membros de um
corpo ígneo acamadado e que o padrão de fracionamento dos plagioclásios aponta para
regime de colocação a baixa pressão (<5kbar). Já para as zonas basal (BZ-metagabros
e anfibolitos) de leste e ultramáfica (UZ) não foi possível demonstrarem relações
genéticas com o resto do maciço. As relações texturais e químicas entre as fases
minerais da BZ indicariam reequilíbrio pós-magmático (lamelas de exsolução nos
piroxênios) e metamórfico (cristaloblastos) em condições análogas e correspondentes
à fácies granulito/alto anfibolito, em torno de 800oC e pressões em torno
de 5 kbar ou pouco acima.
Oliveira & Jost (1992) e Oliveira (1993), como
Stache (op.cit), identificaram na porção sudeste do Complexo, região de Goianésia,
seis unidades cíclicas de diferenciação magmática, piroxeníticas-gabro-noríticas.
Propuseram uma origem por afluxos magmáticos múltiplos em um complexo estratiforme no
qual as deformações e metamorfismo subsequentes pouco teriam alterado a sequência
original das rochas.
Suita et al.(1994) apresentam idades U-Pb em
zircão de rochas do Complexo Barro Alto: 1,72 a 1,73 Ba. para diorito granulitizado da
Sequência Serra de Santa Bárbara e 1,29 a 1,35 Ba. para pegmatito hornblenda gábrico da
Sequência Serra da Malacacheta, que apresentam como intercepto inferior ca. 790 Ma e 770
a 820 Ma, respectivamente. Interpretam estas idades como as das intrusões em crosta
continental, durante fases extensionais (ca. 1,7 e 1,3 Ba.), e de metamorfismo
sintectônico de alto grau (ca. 800 Ma) durante colisão continental (Ciclo
Brasiliano/Panafricano), envolvendo os crátons Amazônico e São Francisco.
2.4.2. O segmento ocidental do Complexo Barro Alto
Sob este tópico apresenta-se uma síntese de
feições geológicas relevantes da porção ocidental do Complexo Barro Alto mapeada pela
UnB com o intuito de colocar em foco os elementos fundamentais para o entendimento da
evolução dos compartimentos crustais granulitizados.
O Complexo Barro Alto, como ocorre com os
complexos apresentados atrás, tem todas as suas bordas tectonizadas. Esta estruturação
é resultado de cavalgamentos e transpurrões, com vergência regional para ESE, sobre
gnaisses granodioríticos e graníticos considerados como de embasamento arqueano e que se
apresentam em grande parte filonitizados.
Gnaisses muito finos, epidosíticos em parte, são
encontrados neste embasamento filonitizado junto às ocorrências do Grupo Araxá, ao sul
do complexo. Inicialmente,nos trabalhos de campo, foram interpretados como metavulcanitos,
porém, a textura cataclástica constante e a transição para fácies mais grossas,
típicas do embasamento, indicam fácies de retrabalhamento crustal com pouca entrada de
H2O, lembrando a gênese que podem ter leptinitos no Complexo Anápolis-Itauçu (Winge
& Danni,1994c), mas aqui em condições de fácies epidoto anfibolito em regime de
recristalização dinâmica.
A entrada de água durante o metamorfismo
cinemático (milonitização em zonas de falhas) transformou, localizadamente, estes
gnaisses de embasamento em muscovita xistos que se assemelham aos xistos pelíticos
do Grupo Araxá que ocorrem associados - por vezes, imbricados - e deles somente se
distinguindo quando apresentam texturas e minerais remanescentes e/ou lentes muscovíticas
(mica fish) com feldspato K reliquiar associado. Por outro lado, é provável que
muitos dos gnaisses/filonitos considerados como derivados do "embasamento" sejam
de massas anatéxicas ou magmáticas mais jovens retrabalhadas juntamente com o
embasamento e o Araxá, pois elas são detectadas em vários pontos dentro e fora do
complexo.
Fatias e cunhas tectônicas, tanto de rochas das
sequências supracrustais proterozóicas, quanto das sequências granulíticas,
intercalam-se com estes gnaisses, retratando importantes planos tectônicos reativados(?)
na Orogênese Brasiliana. Encravado como uma cunha com mais de 10 km em E-W na porção
oeste do complexo ocorre meta-granito com fácies porfiróide e cataclástica sem
paragênese granulítica, isto significando que foi aí (tectonicamente?) colocado após o
corpo granulitizado ter sido alçado para níveis mais frios e rúpteis.
Lentes tectônicas de granulitos inserem-se nos
anfibolitos bandados da Sequência Serra da Malacacheta, 4 km a sul de Juscelândia, e
entre embasamento e Grupo Araxá/Sequência Juscelândia, 1,5 km a NE de Ipiranga,
próximo a Rubiataba, estruturalmente acima do complexo.
Neste contexto de forte filonitização, ao longo
de faixa tectônica WNW-ESE (Uruana-Jaraguá-Abadiânia) ao sul/sudoeste do complexo, são
encontrados anfibolitos finos, xistos e intrusivas filonitizados. O conjunto supracrustal
é correlacionado com a Sequencia Juscelândia ao norte em virtude de ocorrerem níveis de
meta-chert nos anfibolitos finos intercalados com xistos e gnaisses. Entretanto, parte
destes filonitos é provavelmente, derivada dos próprios granulitos retrometamorfizados
nestes shear belts e parte pode ser, também, de sequência mais jovem como o Grupo
Araxá que localizadamente, em sua base, apresenta esporádicas fácies vulcânicas e
subvulcânicas.
A tectono-estratigrafia do complexo inicia-se com
um pacote "basal" de noritos a gabronoritos granulitizados com fácies
granoblásticas médias, ora bandadas ora maciças, sendo comuns a presença de fragmentos
centimétricos lenticulados, geralmente de granulação mais fina, pouco conspícuos,
retratando autólitos e/ou xenólitos. Nesse meio são encontradas bandas ou níveis, por
vezes massas irregulares (pods), de ortopiroxenitos de granulação média a
grossa, com enstatita podendo atingir até 2 cm; onde anfibolitizados viram tremolititos/
actinolititos. Diques irregulares de piroxenitos websteríticos também ocorrem. As
fácies isotrópicas são granoblásticas mas, com frequência, verificam-se texturas
ígneas reliquiares. Texturas coroníticas são encontradas ocasionalmente como, no
meta-olivina gabro que ocorre 10 km a NNW de Ceres (Fotomicrografia
5).
"Níveis" de xistos verdes a
granada-anfibolitos, não raramente filonitos, paralelos aos planos de falhamentos
inversos marginais, criam uma pseudo-estratigrafia que atesta o forte retrabalhamento com
hidratação e retrometamorfismo em falhamentos internos do complexo. Nestas faixas
ocorrem, muitas vezes, várias gerações de foliações e bandamentos, formando padrões
interferentes em complexos arranjos como, por exemplo, na falha de contato a E de
Rubiataba. Em outras faixas anfibolitizadas, entretanto, a rocha resultante pode ser
maciça, como o anfibolito médio noduloso pelo crescimento de granada almandina que
ocorre 5 km a SE de Bragolândia. As condições termodinâmicas em que se realizaram
estes falhamentos gradam desde a fácies anfibolito alto até xisto verde. Esta
variabilidade estrutural de fácies foliadas/miloníticas lado a lado com fácies
maciças/isótropas constitui uma das características da evolução destes terrenos de
alto grau originada nos vários estágios de desenvolvimento desde a fase de
granulitização, provavelmente fases pré-granulitização, até as fases de ascensão
tectônica vistas as paragêneses que registram tais eventos.
Associações de fácies bimodais de leptinitos e
granulitos máficos muito finos e sulfetados, com níveis centi a decimétricos de rochas
cálcio-silicáticas (Fotomicrografia6),
associam-se a pacotes de granada-sillimanita quartzitos plagioclásicos com espessuras
aparentes de centenas de metros. Este conjunto preferencialmente "capeia"
fácies gabróicas a dioríticas com brechas plutônicas mas também pode ser encontrado
como lentes dentro das mesmas. Foi interpretado como roof pendants (Figueiredo et
al.,1970) e como supracrustais (metabasaltos, metchert, riolitos..) de crosta oceânica
(Fuck et al.,1981; Danni et al., 1984).
Quartzitos verdes com diopsídio e hornblenda
ocorrem no interior de fácies gabro-noríticas, assemelhando-se a metachert, porém a
ocorrência isolada em faixas tectonicamente retomadas dentro de corpo meta-plutônico
aponta para uma origem destas rochas por segregação metamórfica. A paragênese de alto
grau indica que a segregação ocorreu antes ou durante o metamorfismo de alto grau.
Certos níveis destes quartzitos de segregação, como o que ocorre 6km a sul de
Rubiataba, no Córrego de Serra Abaixo, apresenta paragênese de quartzo com granada e
sillimanita, esta transformada total ou parcialmente para cianita e muscovita. Estas
rochas são muito semelhantes aos granada quartzitos associados com leptinitos que ocorrem
em vários lugares como no serrote ao sul de Cafelândia mas com espessura e composição
(gradam para gnaisse fino e granada sillimanita leptinito) diferentes e que avocam outra
origem que a de segregação metamórfica.
A associação de "rochas granulíticas
máficas finas e calcissilicatadas ..em uma faixa de cerca de 2km EW" (Borges &
Pimentel, 1982) na região a N e NE de Ceres, com importantes afloramentos de rochas
cálcio-silicáticas no Córrego Limão, Faz. Rio do Peixe, sugere um conjunto de origem
supracrustal de ambiente oceânico, entremeando derrames de basalto com depósitos
vulcano-químicos. Este tipo de associação é que reforçou a proposta de origem
proto-ofiolítica com rochas supracrustais de ambiente oceânico quando dos mapeamentos de
Goianésia (Fuck et al,1981) e Ceres-Rubiataba (Danni et al,1984). A frequente
associação destas fácies básicas finas e cálcio-silicáticas com leptinitos e granada
sillimanita quartzitos feldspáticos que podem ocorrer em extensas faixas (até
quilômetros), levou, dentro desta concepção de ambiente oceânico, a se propor como
protolito dos leptinitos rochas vulcânicas ácidas.
Intrusivas gabro-dioríticas com as zonas apicais
que atingem termos quartzo-dioríticos até granodioríticos e graníticos (hoje
gnaisses), por vezes ricas em xenólitos de diversas rochas e ocasionais autólitos(?)
atestam um magmatismo tardio, com hibridização progressiva. São correlacionáveis com o
diorito/quartzo dioríto da Unidade João Caetano (Ferreira et al.1992a,b) no Complexo
Niquelândia. Elas são mais comumente encontradas próximas aos restos do capeamento
de granulitos máficos finos, leptinitos e granada quartzitos, mas também ocorrem em
outros níveis, inclusive os tidos como basais do Complexo como, por exemplo, próximo de
Carmo do Rio Verde (Fotos 13,14,15). Nas fácies com brechas ocorrem, ubiquamente,
blastos (?) poiquilíticos de biotita de cor vermelha rubi originada, provavelmente,
devido a maior disponibilidade de H2O retida das fases plutônicas nessas
regiões apicais das intrusões.
Estes corpos mostram em mapa formas frequentemente
alongadas segundo o strike, e, ocasionalmente, formas de cogumelo que indicam terem
sido envolvidos em, pelo menos, duas importantes fases de deformação, a primeira
achatando/dobrando e a segunda redobrando essas massas meta-ígneas. No mapa da Figura 2-9 estes corpos foram
reunidos em massas intrusivas maiores, mas esta interpretação deve ser vista com
ressalvas. A seguir são brevemente descritos alguns locais onde ocorrem fácies desta
suíte intermediária a ácida intrusiva nos diferenciados máfico-ultramáficos.
No Córrego do Guará, a noroeste de Goianésia,
ocorre um destes corpos intrusivos e granulitizados. Subindo o córrego, sobe-se, também,
na estrutura intrusiva. Em nível inferior no ponto 2MW592 (ver Anexo 6), ocorrem fácies
meta-gabronorítica a meta-gabrodiorítica, com fenocristais reliquiares milimétricos de
andesina. Estas fácies mais preservadas das deformações apresentam variações para
fácies com textura tipomorfa em mosaico ou granoblástica estirada com os cristais de
plagiocásio mais deformados (mais dúcteis) do que os de piroxênio. Córrego acima
(pontos 2MW591,590,589), a intrusiva transiciona para fácies de quartzo-dioritos a
granodioritos. Estes constituem a matriz, também granulitizada, de brecha (Fotos 10,12) com xenólitos
variados. Entre os xenólitos predominam os de fácies meta-basítico cinza-escuro a
esverdeado, muito fino, rico em sulfetos, gabro-norítico a gabro-diorítico. Além deste
tipo, ocorrem xenólitos de quartzitos (metachert?), de granada leptinito e de rocha
cálcio-silicática (Fotomicrografia 9).
Um pouco acima no córrego, a matriz quartzo-diorítica envolve diversos tipos de
xenólitos dentre os quais predomina uma fácies fina de composição gabro-diorítica;
xenólitos de olivina websterito uralitizado e biotitizado ocorrem neste local. Estas
fácies de brechas fazem contato no alto dos morros com extensos terrenos de granada
sillimanita gnaisses e leptinitos intercalados com anfibolitos (granulitos
retrometamórficos), tidos como rochas de origem supracrustal (Fuck et al,1981; Danni et
al,1984). Fases anatéxicas de material granitóide entremeiam-se nestas encaixantes (?)
leptiníticas mas também são encontradas, inclusive com fácies mais mobilizadas
(intrusivas), nas brechas (Foto 11),
tendo-se transições entre material magmático e anatéxico. Estas fases anatéxicas são
encontradas em vários outros sítios do complexo granulitizado mas são mais comuns
nestas intrusivas de composição mais ácida .
Na Serra da Vista Alegre a NW de Goianésia, na
estrada para Cafelândia ocorre, em boulders e em afloramentos contínuos, um
gnaisse (meta-granito) de cor cinza a cinza-esverdeada com xenólitos pequenos e
esparsos.. A encaixante deste meta-granitos é um meta-norito maciço de grã
média-fina, cor cinza e com foliação fraca.
A fácies mais comum desta ocorrência (ponto
2MW588) é um sillimanita biotita cordierita gnaisse. Localmente varia para fácies
kinzigítico com a cristalização de granada rósea dispersa ou concentrada em bandas.
Apresenta ocasionais xenólitos máficos e raros xenólitos félsicos em meio a foliação
geralmente bem evidenciada com planos superimpostos de cisalho e com filetes de quartzo
tardio preenchendo planos de transposição subverticais.
Os xenólitos geralmente são muito estirados mas
com pouca foliação, sendo a fácies mais comum a de uma rocha máfica muito fina com
composição variável de meta-norítica a meta-gabronorítica. Os xenólitos ácidos,
mais raros, apresentam a mesma paragênese metamórfica da intrusiva a base de
hiperstênio, sillimanita, cordierita.. (Fotomicrografia
12) o que indica tratarem-se provavelmente de autólitos. Um destes
xenólitos apresenta pequenos porfiroclastos feldspáticos e uma foliação (Foto 16) que não se prolonga na hospedeira.
Este fato leva as seguintes interpretações alternativas: 1) a de que a intrusão tenha
ocorrido simultaneamente a eventos tectônicos (extensionais com falhamentos lístricos
ou, alternativamente, compressionais em zona de transtensão) durante os quais foi
facilitada a entrada de magma, ocorrendo uma sucessão de eventos alternados de injeções
magmáticas/ solidificação e falhamentos/ milonitizações inclusive das fases
intrusivas; 2) a de que o xenólito represente um fragmento reliquiar da crosta siálica
que foi fundida e hibridizada com o magma tholeítico.
Na borda sul (na base) do Complexo Barro
Alto, na estrada Ceres - Carmo do Rio Verde, junto ao Córrego Mestre (ponto 2MW601),
ocorrem afloramentos de brechas desta fase intrusiva, demonstrando que ela não tem nível
privilegiado de instalação. Ali a matriz gabro-norítica a gabro-diorítica apresenta
variações composicionais no teor de feldspatos e da biotita em escala de afloramento.
Esta variação decorre tanto da evolução metamórfica quanto do efeito de
assimilação, como mostram as auréolas de reação entre magma e xenólitos. Aqui
também ocorrem xenólitos de diversos tipos: gabro-noritos, ricos em sulfetos, finos a
muito finos e tenazes e que, como nas outras brechas, são os mais comuns; piroxenitos e
mármores dolomíticos. O xenólito de piroxenito (Foto
13) sofreu metassomatismo K com hidratação. Os xenólitos de mármore e de
rochas cálcio-silicáticas mostram auréolas reacionais (Fotos 14,15) geradas na fase
magmática e retomadas, com novo equilíbrio mineral, na fase de metamorfismo
granulítico.
As brechas descritas permitem concluir que:
1) as intrusões com brechas são anteriores à
principal granulitização visto que a matriz ígnea está granulitizada;
2) o ambiente da intrusão era rúptil e de
níveis crustais provavelmente rasos, dados:
a) os xenólitos localmente angulosos e variados;
b) fácies de metamáficas muito finas, indicando supracrustais ou bordas intrusivas de rápido resfriamento;
3) foram envolvidos níveis supracrustais (mármores e cálcio-silicáticas).
Esta ambiência sugere sítios de crosta média a superior (rígida). Dentro desta possibilidade as seguintes origens - que não são, necessariamente, excludentes - podem ser aventadas para os xenólitos máficos finos (os mais comuns):
1) meta-basaltos associados com os mármores e
metcherts dos demais xenólitos;
2)fragmentos de margem resfriada do próprio
complexo afundando no magma;
3) diques/sills de diabásio do mesmo magmatismo
ou de magmatismo antecedente ao do complexo;
4) fácies resfriadas nos canais de alimentação
(em zonas de falhas) de fases intrusivas mais antigas; alguns xenólitos apresentam
indícios desta origem pois apresentam-se arredondados.
Os leptinitos e granada sillimanita quartzitos devem ter mais de uma origem em termos de protólitos e de processos geradores: além da origem tectonítica vista atrás, poderiam derivar de:
1)blastomilonitos granulíticos derivados de
granitóides (Winge & Danni,1994c) como verificado no Complexo Anápolis-Itauçu (ver
ítem 2.5.3);
2)granófiros de nível crustal raso, acima do
complexo, estratiforme como ocorre em Bushveld (Willemse,1969), mas aqui sofrendo
retrabalhamento crustal e granulitização;
3) meta-vulcânicas a subvulcânicas ácidas
associadas com mármores, chert etc.. como remanescentes supracrustais dentro da crosta
siálica.
A Sequência Serra da Malacacheta, conforme
definida por Fuck et al. (1981) e Danni et al. (1984) compreende um conjunto acamadado de
rochas meta-plutônicas diferenciadas, constando de gabros, troctolitos e olivina-gabros
coroníticos, anfibolitos grossos bandados, muitas vezes granadíferos, e um espesso
pacote de meta-gabro-anortositos e anortositos. Não se verificam rochas de composição
intermediária a ácida, contendo xenólitos nesta sucessão. Ela ocorre entre o conjunto
granulitizado (Sequência Serra de Santa Bárbara) abaixo e a Sequência
Vulcano-sedimentar de Juscelândia acima. As relações de contato são tectônicas,
incluindo indentações e lentes tectônicas relacionadas com falhamentos inversos e
transcorrências (ver mapa geológico).
É notável a ocorrência de uma grande lente tectônica de rochas da associação
granulítica dentro desta sequência a sudeste de Juscelândia/nordeste de Cafelândia
imbricada no meio de falhas anastomosadas que deslocaram o conjunto gabro-anortosítico
anfibolitizado.
Contatos normais (não tectonizados) entre um
conjunto de gabros, olivina-gabros coroníticos, anfibolitos, microgabros..,
correlacionados com a Sequência Serra da Malacacheta, e anfibolitos (metabasaltos) da
unidade vulcano-sedimentar de Juscelândia são vistos na região da Serra da Figueira que
se constitui, assim, em área chave para o estabelecimento correto das relações
crono-geológicas de unidades do Complexo Barro Alto e, por decorrência, dos demais
complexos conforme já analisado por Winge & Danni (1994a,b).
2.4.3.Relação entre coronitos/metagabros e metabasaltos na Região da Serra da Figueira
A Serra da Figueira, com cerca de 10x2km de extensão EW, eleva-se a 150m acima da topografia regional, entre os rios das Almas e São Patrício, na porção N-NW do Complexo Barro Alto. Bem visível em imagens de satélite, suas maiores elevações são sustentadas por um micro-gabro, com termos porfiríticos ocasionais e textura diabásica perfeitamente preservados (Fotomicrografias 24,25,26), que ocorrem lado a lado com rochas parcial ou totalmente metamorfizadas à fácies anfibolito.
Entre as rochas associadas com o micro-gabro, destacam-se:
1)anfibolito maciço ou hornblenda gabro médio(Fotomicrografia 23) sem foliação, textura
granoblástica, com concentração localizada de fenocristais (blastos?) milimétricos de
plagioclásio e fácies pegmatóides esparsas, com hornblenda centimétrica;
2) olivina gabros e metagabros coroníticos. A
textura varia de grossa a fina (Fotomicrografias 21,22) e apresenta núcleos de olivina ou de opx e
coroas de simplectitos de cpx+espinélio, de granada e de hornblenda;
3) granada anfibolitos maciços a bandados,
médios a grossos, com texturas granoblásticas e nematoblásticas.
Esta unidade plutônica da Serra da Figueira faz
contato (Figura 2-11), em toda a sua volta, com os anfibolitos finos da Sequência
Juscelândia, os quais apresentam quimismo primitivo de crosta oceânica (Danni &
Kuyumjian,1984; Kuyumjian & Danni,1991; Moraes & Fuck,1992) e contêm
intercalações de metachert. Para o topo, estes metabasaltos da Sequência Juscelândia
intercalam-se com ortognaisses dacíticos finos blasto-porfiríticos, vulcânicos a
subvulcânicos (metagranodiorito), caracterizando, junto com os tholeítos, um magmatismo
bimodal próprio de bacias extensionais. Fácies bastante preservadas são ocasionalmente
encontradas, como ocorre com o meta-riodacito e meta-dacito no Córrego do Coité perto da
barra com o Rio São Patrício, 12 km a NE de Rubiataba. Subindo na estratigrafia,
diminuem os anfibolitos e os meta-dacitos que dão lugar a cianita
granada-biotita-muscovita xistos (metapelitos), localmente com feldspato reliquiar
(meta-vulcanoclásticas). Quartzo-granaditos, gonditos e metachert, geralmente sulfetados
e cálcio-silicáticos, ocorrem como níveis centi/decimétricos dentro dos xistos.
Algumas das ocorrências de granada anfibolitos finos correspondem a sills e diques
(estes truncam a superfície S0 dos xistos metapelíticos), representando recorrências do
magmatismo básico, porém, em sua maior parte correspondem a supracrustais (derrames
basálticos) que em certos pontos transicionam para ou associam-se com fácies
anfibolíticas mais aluminosas (com biotita e quartzo), provavelmente, vulcanoclásticas.
A variabilidade textural dos gabro-coronitos
grossos para microgabros diabásicos, juntamente com a ocorrência entremeada de fácies
hidratadas estáticas com fases pegmatóides e fácies de alterações carbonáticas e
escapolíticas na Serra da Figueira são significativamente análogas ao que ocorre na
interface das camada 2 e 3 da crosta oceânica de rápido resfriamento magmático e com
algum afluxo convectivo de água do mar. Não foram encontradas estruturas sheeted
dikes.
Granada anfibolitos grossos a médios, bandados,
ocorrem em estreitas faixas a sul e a norte da Serra da Figueira. Todas estas rochas
enumeradas, à exceção dos termos diabásicos preservados, são análogas às que formam
a Sequência Serra da Malacacheta que ocorre, no mesmo lineamento direcional E-W, 20 km a
leste da Serra da Figueira (ver Figura 2-9
e mapa geológico regional).
Na área tipo da Sequência Serra da Malacacheta, estes granada anfibolitos formam uma
faixa com limites tectônicos entre os terrenos granulíticos e os terrenos supracrustais
(anfibolitos finos, gnaisses finos e xistos) da Sequência Juscelândia.
A comparação de assinaturas de ETR e elementos
incompatíveis entre amostras de metabasalto Juscelândia e de gabro diabásico da Serra
da Figueira (Figura 6-7)
mostra padrão idêntico, atestando a cogeneticidade magmática
entre as rochas das duas sequências, conforme já salientado por Winge & Danni
(1994a,b).
Moraes et al.(1994) determinaram condições
metamórficas de 520oC e 5,5 kbar para a Sequência Juscelândia e de 720oC
e 8,5 kbar para a Sequência Serra da Malacacheta na região de Cafelândia, inferindo uma
descontinuidade crustal de cerca de 12 km (200oC e 3 kbar) entre as duas
sequências. Isto, junto com os padrões horário e anti-horário de evolução
metamórfica das duas sequências inferidos por esses autores, indicariam que a Sequência
Juscelândia deve ser tratada à parte do Complexo Barro Alto. Entretanto, como visto
atrás ao se analisar a geologia da Serra da Figueira, as duas sequências são coevas,
uma supra e outra infracrustal de um mesmo "oceano Juscelândia".
Cabem os seguintes comentários para a discussão
deste ponto polêmico:
1) na região estudada pelos autores, Cafelândia,
ocorrem lentes tectônicas de granulitos encravadas na faixa anfibolítica da Sequência
Serra da Malacacheta e que são análogas a lentes tectônicas de granulitos parcial ou
totalmente retrometamorfizados para anfibolitos e xistos verdes (filonitos) encravadas em
gnaisses filonitizados de embasamento e xistos Juscelândia e Araxá mais a W do Complexo
Barro Alto (e.g. 15 km a E de Rubiataba). Nestas fatias tectônicas tem-se impressa
a evolução diaftorética (uralitização principalmente) dos granulitos que é comum,
também, nos contatos transicionais entre granulitos da Sequência Serra de Santa
Bárbara e anfibolitos da Sequência Serra da Malacacheta que ocorrem próximos ou seja
nas zonas de contatos tectônicos que sofreram cisalhamento dúctil em alto grau e com
acesso de água. Deve ser lembrado que quando a crosta é submetida a esforços
tectônicos, a reologia diferencial entre um complexo máfico-ultramáfico anidro, um
pacote gabrico-anfibolitizado e um embasamento granito-gnáissico proporcionará boudinagem
e transposições do material mais competente (complexo máfico-ultramáfico) em
várias escalas, favorecendo a ocorrência de lentes tectônicas nos planos de
cisalhamento;
2) mesmo que a amostra analisada seja da
Sequência Serra da Malacacheta e não um enclave tectônico diaftorético trazido de
maiores profundidades, a descontinuidade de cerca de 10 km teria ocorrido após o
pico de metamorfismo, quando o Complexo Barro Alto foi alçado por eventos tectônicos .
Assim sendo, a descontinuidade não é estratigráfica mas sim de blocos crustais com
paragêneses metamórficas congeladas da fase anterior à ascensão, quando teria ocorrido
fatiamento do complexo;
3) nos granulitos as paragêneses tipomorfas
registram eventos metamórficos de alto gradiente geotérmico enquanto as paragêneses
diaftoréticas superpostas (e.g. hornblenda e granada sobre opx e plagioclásio;
biotita+sillimanita/cianita sobre cordierita; granada sobre biotita; estaurolita sobre
biotita+sillimanita.. - ver Cap.5) revelam condições termodinâmicas e de fluido
idênticas às que metamorfizaram as sequências Serra da Malacacheta e Juscelândia:
gradiente metamórfico tipo barroviano;
4) o mapeamento de isógradas pela espessura de
pacotes crustais pode apresentar problemas como: a)falhas inversas mais jovens que o
metamorfismo e transversais aos planos das isógradas, omitindo ou duplicando conjuntos de
rochas; b) metamorfismo e/ou eventos deformacionais de idades diferentes ou de sítios
diferentes registrados em blocos reunidos por tectonismo superimposto;
5) a região dos complexos corresponde a sítio de
sutura litosférica (Assumpção et al.,1985: Marangoni,1994), sendo plausível que blocos
da crosta primitiva tenham sido duplicados também em fase tectônica anterior à do pico
de metamorfismo (underthrust extensional, por exemplo), aumentando a sua espessura
para valores acima dos de uma crosta oceânica normal o que justificaria os valores
correspondentes à descontinuidade crustal detectados por Moraes et al. (op.cit.).
2.5.1. Introdução
O Complexo Anápolis-Itauçu (Marini et
al.,1984a,b) corresponde à extensão NW do Cinturão Granulítico Alfenas de Almeida
(1981). Estende-se (ver Figura 2-12
e mapa geológico regional)
da região de Heitorai, Itaguaru, Jaraguá, Anápolis,Itauçu, sua área tipo, para
sudeste, seguindo o trend estrutural regional impresso pelas deformações
proterozóicas, até a região de Santa Cruz de Goiás, onde foram mapeados granulitos
retrometamorfizados em faixas de cisalhamento por Leonardos et al. (1986;1990).
Define-se assim uma faixa NW-SE de forma irregular
com cerca de 260 x 70 km para este complexo granulítico. É possível, como sugerido por
Almeida (1981), que êle continue até a junção tríplice do Maciço de Guaxupé, sob a
cobertura metassedimentar proterozóica e/ou se encontre descaracterizado por diaftorese e
milonitização.
Na presente pesquisa foram realizados perfis de
reconhecimento na parte norte do complexo e um mapeamento de semi-detalhe (Cap 3) de uma
área com cerca de 1.000 km2 a W de Itauçu, onde verificou-se a inserção de
terrenos anfibolíticos definindo-se um bloco granulítico separado (Bloco Capelinha, ver
Cap.3 e Fig.2-12, 3).
A região do Complexo Anápolis-Itauçu e de
faixas metassedimentares dobradas que se associam têm sido objeto de diversos
levantamentos geológicos, como os projetos Brasília, GoiâniaII, Pontalina,
Cromínia-Mairipotaba..
Nilson & Motta(1969) mapearam na escala de
1/50.000 a região entre Goiânia, Trindade e Caturaí, delimitando no Complexo Basal um
conjunto "piroxenítico e gnáissico gábrico" granulitizado que compõe um
complexo máfico-ultramáfico de mais de 11 x 14km na região de Goianira-Trindade.
Mapearam, também, corpos de leptinitos, formando dois alinhamentos a E e SW desse
complexo, inseridos em piroxênio gnaisses e outras rochas do embasamento, xistos e
quartzitos do Grupo Araxá e uma intrusiva, o Granodiorito Serra da Pedra. Ao sul desta
serra e junto ao corpo de piroxenito mapearam um "calcário cristalino... composto de
calcita e grãos arredondados... Porções angulares e irregulares parecendo seixos se
destacam na superfície dos grandes blocos aflorantes".
Veiga et al.(1986) distinguiram na faixa
granulítica Anápolis-Itauçu seis complexos granulíticos (Anápolis, Nerópolis,
Damolândia-Taquaral, Itaguaru-Heitoraí, Araçu, Água Clara) constituindo blocos
tectônicos de formas poligonais, compostos por sequências de rochas
ultramáficas-máficas e supracrustais ácidas e que consideraram semelhantes, mas em
menor escala, com o Complexo de Barro Alto. Propuseram, também, uma nova unidade: a
Sequência Meia Ponte, de natureza vulcano-sedimentar, com ocorrência no entremeio desses
complexos granulíticos. Na região ao norte de Goiânia, onde foi indicada esta
sequência por aqueles autores, ocorrem quartzitos, granada leptinitos,
cálcio-silicáticas .. intercaladas com rochas meta-máficas, mas no conjunto
granulítico. Na região a leste de Anicuns, a Sequência Meia Ponte corresponde,
maiormente, a terrenos do tipo greenstone (Sequência Anicuns-Itaberaí de
Barbosa,1987).
Wolff (1991) estudou uma parte destes terrenos
granulíticos, na região que engloba Anápolis, Goiânia, Campestre e Itauçu com ênfase
em determinações petrográficas, litogeoquímicas e geo-termométricas. Em seu mapa de
integração regional reconhece: sequência metassedimentar, sequência
vulcano-sedimentar, rochas plutônicas e outras do complexo metamórfico, além de rochas
plutônicas ácidas e ultramáficas. Calcado no mapa metalogenético da CPRM
(Valente,1986), posiciona a sequência vulcano-sedimentar entre os terrenos granulíticos
e os metassedimentares psamito-pelíticos da região a norte de Anápolis onde
Strieder(1989) reconheceu região de sutura crustal com mélange ofiolítica
associada ao Grupo Araxá.
A análise lito-geoquímica dos granulitos
estudados por Wolff (op.cit.), indicou a ocorrência de tholeítos oceânicos de dois
tipos, além de uma sequência calcialcalina. A associação de magmatismo tholeítico e
calci-alcalino com prováveis metassedimentos pelito-grauváquicos, evoluídos para
fácies anatéxicas granulitizadas, levou aquele autor a propor que o conjunto poderia
representar raízes de greenstone belts retrabalhadas em um arco magmático de
margem continental ativa. Com base nos dados de química mineral, esse autor sugeriu a
possibilidade de terem ocorrido dois eventos de granulitização no Complexo: o primeiro
de baixa pressão e o segundo de média a alta pressão com T=~800oC.
A CPRM vem realizando mapeamento sistemático do
Centro-sul de Goiás (PLGB em escala 1:100.000) e que envolve parte do Complexo
Anápolis-Itauçu.
2.5.2.Comparação com os complexos ao norte da Mega-inflexão dos Pireneus
Os terrenos granulitizados que ocorrem ao norte da
Mega-inflexão dos Pireneus apresentam-se como grandes complexos máfico-ultramáficos,
com fácies intermediárias a ácidas subordinadas; as fácies granulitizadas
restringem-se às regiões dos complexos máfico-ultramáficos, enquanto que no Complexo
Anápolis-Itauçu os corpos máfico-ultramáficos são menores e inseridos em ampla área
de granulitos ácidos e de rochas de retrabalhamento crustal, sem mostrar uma
compartimentação geotectônica tão bem definida quanto aquelas do norte.
A ocorrência mais frequente de fácies ácidas a
intermediárias (khondalitos, leptinitos, gnaisses enderbíticos e charnockíticos) no
Complexo Anápolis-Itauçu propiciou uma maior incidência de processos de mobilização
anatéxica. Em consequência, aí são comuns os gnaisses granitóides, charnockíticos,
enderbíticos, mangeríticos, etc.. associados com anatexitos e migmatitos que apresentam
lentes e boudins desde centi-decimétricos a métricos de restitos granulíticos
máficos e ultramáficos, geralmente retrometamorfizados, com hidratação e
metassomatismo variável (anfibolitos, actinolititos, serpentina-talco xistos,
biotititos..) em estruturas agmatíticas, bandadas ou em schlieren.
Apesar destas diferenças, o quadro geológico do
Complexo Anápolis-Itauçu mostra certas analogias com o dos segmentos ao norte:
1- tem-se, a oeste, terrenos TTG-greenstone representados
pelo greenstone belt de Goiás e seu embasamento granito a tonalito gnáissico que
se continuam para leste-sudeste (Sequência Anicuns-Itaberaí na área detalhada), onde
ocorrem em contatos falhados com os terrenos granulíticos;
2- ocorre complexo gabro-anortosítico (Complexo
Santa-Bárbara, Silva,1991) espacialmente associado com os granulitos, semelhantemente ao
que ocorre, por exemplo, no Complexo Barro Alto, com a Sequência Serra da Malacacheta,
gabro-anortosítica;
3- na região de Mossâmedes e Sanclerlândia, a
oeste dos terrenos granulíticos, ocorre a Sequência Vulcano-sedimentar de Mossâmedes
metamorfizada, na fácies anfibolito de média pressão. Fora da área-tipo, ela
confunde-se com os greenstone belts, por um lado, e com os metassedimentos mais
jovens do Grupo Araxá, por outro, visto ocorrer em uma região com tectônica complexa
com imbricações de várias unidades. Foi considerada como sendo do Grupo Araxá do Meso
a Neoproterozóico (Danni et al,1973; Danni et al.1981; Simões,1984; Barbosa,1987) mas as
datações de Fuck & Pimentel (1990) indicaram idades do Paleoproterozóico.
Representa a evolução de área oceanizada a oeste do complexo de forma semelhante ao que
se dá com as sequências de Juscelândia, Indaianópolis e Palmeirópolis (tardi a
pós-transamazônicas?) que se dispõem tectonicamente acopladas a oeste dos complexos
máfico-ultramáficos.
4-o Grupo Araxá com suas fácies típicas de
xistos, quartzo-xistos, cálcio-xistos, etc.. de baixo grau metamórfico, aqui também
ocorre como cobertura descolada a oeste dos granulitos, onde compõe a Serra Dourada a
oeste-noroeste, e como lascas tectônicas engavetadas em zonas de falhas.
2.5.3. Características do Complexo Anápolis-Itauçu em sua porção setentrional
Neste tópico serão feitas observações
geológicas sobre o segmento granulítico citado, incluindo aspectos do contexto regional
em que o mesmo se insere.
Os contatos das rochas de alto grau do Complexo
Anápolis-Itauçu com a sequência metassedimentar Araxá são de natureza tectônica.
Assim, por exemplo, ao sopé da Serra do Altamiro, do conjunto orográfico da Serra
Dourada, próximo de Heitoraí (pontos 2MW82,83,604) tem-se leptinitos xistificados
e milonitizados que se confundem com os xistos e quartzo-xistos Araxá que ocorrem na
serra.
Nas circunvizinhanças de Anápolis, onde foi
identificada uma sequência vulcano-sedimentar (Valente,1986; Wolff,1991), ocorrem rochas
granulíticas ácidas e máficas xistificadas em resposta à forte tectônica com
falhamentos transcorrentes e inversos. É possível que parte do que foi interpretado como
sequência vulcano-sedimentar tenha essa origem diaftorética vistas as semelhanças entre
as fácies retrometamórficas, hidratadas e dinamicamente recristalizadas das faixas de
cisalhamento e as fácies meta-vulcânicas (metabasitos) que aí existem entremeadas com
quartzitos, restos ofiolíticos e xistos da base do Grupo Araxá, conforme mapeamentos
anteriores (e.g.Strieder, 1989).
Contatos com várias outras unidades como, por
exemplo, terrenos granito-greenstone, meta-plutônicas.., também são demarcados
por fácies de metamorfismo dinâmico (ver próximo capítulo).
As intrusões máfico-ultramáficas de Gongomé,
Americano do Brasil, Mangabal I e II, etc.. ocorrem a W , fora do domínio granulítico.
Elas compõem com os corpos máfico-ultramáficos granulitizados (Faz.Conceição, Água
Clara e associados, Araçu, Goianira..) um conjunto de intrusões referido por Pfrimer et
al (1981) como Província Máfica-ultramáfica do sul da Serra Dourada. Este conjunto
acompanha lineamentos direcionais que conformam um arco em semi-circunferência
aberta para o sul, com mais de 100 km de extensão e que apresenta falhas inversas, cuja
disposição sugere esforços radiais. Este alinhamento tectônico sugere, realmente,
correlação magmática, conforme foi também proposto por Veiga et al (1986) quando
compararam o Complexo Americano do Brasil (anfibolitizado) com os complexos de Nerópolis
e Damolândia (granulitizados). Entretanto, há diferenças significativas de magmatismo
(Nilson,1984;1992) e de emplacement geotectônico entre os corpos sediados no
domínio granulítico e os demais, o que leva a separá-los em suítes ou conjuntos
distintos. Outros alinhamentos de corpos intrusivos máfico-ultramáficos são
perceptíveis na escala regional (Heitoraí- Sa. do Brandão ou Taquaral -Damolândia;
Itaguaru - Rodrigo do Nascimento - Hinterlândia no domínio granulítico), porém faz-se
necessário um maior esforço de cartografia geológica em escala adequada e
litogeoquímica para melhor identificação e correlação desses corpos, que se dispõem
sub-paralelamente a alinhamentos de falhas inversas.
Cândia et al (1991) determinaram condições de
metamorfismo granulítico que gerou coronas posteriormente a uma fase de
deformação da olivina no complexo de Mangabal. Entretanto, como as encaixantes
apresentam metamorfismo regional de baixo grau (Danni et al,1973) e as intrusões não
apresentam, aparentemente, aloctonia significativa, pode-se concluir que estas condições
de metamorfsmo granulítico foram circunscritas às intrusões.
Por vezes, os limites das rochas granulíticas com
rochas granito-gnaíssicas consideradas do embasamento são problemáticos, posto que
mascarados pela superposição de processos anatéxicos nas rochas do Complexo
Anápolis-Itauçu, de tal forma que parte de áreas que tem sido mapeadas como de
embasamento (e.g. gnaisses e xistos a leste da Serra de Jaraguá e na região de
Petrolina, São Francisco e ao norte de Nerópolis) são de terrenos granulíticos
retrabalhados por migmatização ou anatexia. É o que ocorre, por exemplo, na pedreira de
Jaraguá onde neossoma granito-granodiorítico, contendo segregações pegmatíticas
quartzosas e feldspáticas com sulfetos e quartzo azulado envolve em estrutura agmatítica
(Fotos 24,25) a
estromática um paleossoma metadiorítico com xenólitos biotita-anfibólicos. Cerca de
500m ao sul da pedreira, encontram-se granulitos máficos gábricos a gabro-dioríticos
(ponto 2MW54) com fases anatéxicas e retrometamórficas (Fotomicrografia
27) hidratadas subordinadas.
Há uma grande variação de fácies no complexo:
gnaisses de diversos tipos e composições (charnockitos, kinzigitos, plagioclásicos,
lamboanitos, leptinitos..) apresentam frequentemente conspícuas bandas, lentes, boudins..
decimétricas a decamétricas de material máfico e ultramáfico o qual pode apresentar
estrutura brechóide, com fragmentos geralmente arredondados devido ao cisalhamento
dúctil que afetou estas misturas de rochas. As Fotos 18,
19, 20 e 52,53, 54
mostram o resultado deste tipo de evolução estrutural complexa, com duas ou mais fases
reológicas bem diferenciadas.
A fácies típica dos leptinitos é aplitóide,
textura granoblástica ou flaser fina, cores claras cinza amareladas ou
avermelhadas; azul-esverdeadas onde frescos; homogênea ou com bandamento inconspícuo.
Transições para fácies hidratadas migmatíticas e miloníticas são comuns. Podem ser
encontrados por extensões quilométricas, com grande homogeneidade e texturas finas a
muito finas como, por exemplo, entre Araçu e Itauçu e entre Itauçu e Santa Rosa.
Estes terrenos ácidos apresentam, muitas vezes,
lentes, camadas, boudins e faixas de granulitos máficos finos. Podem
transicionar ou conter intercalações de granada-sillimanita quartzitos e quando essa
associação de rochas é acompanhada por rochas cálcio-silicatadas (e.g. ponto
2MW5 a N de Nerópolis) a interpretação, evidente, é de que os protólitos foram
supracrustais. Decorre daí a interpretação frequente de que as rochas máficas finas
são metabasaltos e as fácies de leptinitos, meta-vulcânicas ácidas.
Sem descartar esta possibilidade, é comum
existirem evidências de protolitos plutônicos como ocorre, por exemplo, na região de
Heitoraí, na subida das Serras Capim Puba e Mata Pará (Foto
32, ponto 2 na Fig.2-12)
onde se dá a associação de granulitos ácidos (granada sillimanita leptinitos,
kinzigitos.. com texturas blasto-miloníticas e miloníticas) com granulitos básicos
intrusivos, de granulação média a fina.
A associação de complexos máfico-ultramáficos
com leptinitos é vista, também, em vários outros locais do Complexo Anápolis-Itauçu:
Fazenda dos Paulistas (intrusão Água Clara/Faz.Conceição, ponto 3 da Fig.2-12); Serra do Brandão; a
oeste de Goianira; a leste de Araçu (ponto 4 da Fig.2-12,
onde o leptinito apresenta assinatura de ETR dos TTG arquenaos: ver Cap.6); Itauçu,etc..
Neste tipo de associação, as fácies ácidas, leptinitos por vezes muito silicosos,
resistem mais ao intemperismo e dispõem-se, preferencialmente, em áreas serranas,
enquanto que as intrusões máficas, mais suscetíveis ao intemperismo, afloram nas
baixadas. Os corpos máfico-ultramáficos apresentam-se variavelmente rompidos e
desarticulados por forte tectônica de rasgamentos direcionais e tangenciais.
A sul da Serra do Brandão, no local Mato de
Dentro (1 na Fig.2-12), entre
Itauçu e Santa Rosa, (pontos 2MW619,620,621,622) tem-se, com segurança, a chave para a
origem de, pelo menos parte, dos leptinitos. Aí ocorre um meta-granito grosso
transformado em sillimanita granada biotita gnaisse com sub-grãos submilimétricos de
quartzo e de feldspato K achatados e crenulados que varia lateralmente para fácies de
leptinitos típicos (Foto 33 e fotomicrografias
35,36). No sopé da
Serra do Brandão, próxima deste local, ocorre a intrusão máfico-ultramáfica (da Serra
do Brandão ou Taquaral) encaixada em leptinitos variavelmente muscovitizados que formam o
topo da serra.
Esta situação geológica demonstra que a
colocação das intrusões máfico-ultramáficas deu-se em crosta de natureza granítica
(continentalizada). As ocasionais ocorrências de rochas supracrustais
(cálcio-silicatadas, mármores) incluídas nos leptinitos e granitóides granulitizados
representam, assim, restos de sequências supracrustais embutidos na crosta siálica
retrabalhada. Consequentemente, nesta evolução polifásica, as meta-ultramáficas e
meta-máficas finas que ocorrem em schlieren, boudins, lentes,etc..,
associadas com gnaissse, podem ter duas origens principais:
1) vulcânicas de associação granito-greenstone;
2) apófises, diques, sills.. (arqueanos ou
mais jovens) intrusivos na crosta estirada e, posteriormente, com o metamorfismo,
transpostos na massa siálica encaixante.
Entre estas duas possibilidades, a 2a
hipótese, origem em ambiente intracrustal, é mais consistente para a maior parte dos
casos, vista a ubíqua ocorrência bimodal leptinito-granulito máfico fino, com
variações muito rápidas (contatos abruptos), na escala métrica.
Registra-se, também, o desenvolvimento de extenso
plutonismo, máfico a ácido, eventualmente sienítico (e.g. ponto 2MW21), dentro e
fora dos domínios granulíticos. Com fácies fortuitamente preservadas, as rochas
derivadas deste plutonismo transformaram-se, com deformações e metamorfismo sucedente ao
metamorfismo granulítico, em anfibolitos, hornblenda gnaisses, biotita gnaisses.. que se
confundem, em contatos tornados transicionais pelo retrabalhamento tectônico e
hidratação, com as rochas granulíticas retrometamorfizadas encaixantes. É possível
que em alguns locais existam transições metamórficas progradantes entre granulitos e
estas intrusivas na fácies anfibolito. Entretanto, as zonas com hidratação e
ocorrência de fácies com xenólitos (detalhados no próximo tópico) indicam um lapso de
tempo entre os eventos granulitização e anfibolitização, com fase plutônica no
entremeio.
Associadamente a esse plutonismo, ocorreram
processos pneumatolítico/hidrotermais pré a pós tectônicos, afetando tanto as rochas
granulíticas quanto as intrusivas, originando greisens, biotititos, actinolititos,
pegmatitos diversos..como, por exemplo, próximo ao sul da cidade de Petrolina, onde
ocorre uma rocha a base de biotita e quartzo, isótropa, derivada, provavelmente, de
pneumatólise e metassomatismo potássico sobre rocha meta-máfica. Pode-se, assim,
verificar que tais processos ajudaram a camuflar terrenos originalmente de alto grau,
dificultando o entendimento da organização estratigráfica/estrutural.
A disposição tabular de talcito alterado a NE de
Nerópolis (Foto29) com bordas reacionais de
cloritito com a encaixante, um gnaisse greisenizado e pegmatitizado que apresenta restitos
de leptinito, lembra as ocorrências de diques ultramáficos komatiiticos (talcificados,
actinolitizados, cloritizados ou biotitizados em eventos mais jovens) que cortam o
embasamento granito-gnáissico de greenstone belt, a exemplo do que acontece junto
da cidade de Goiás. Isto sugere que terrenos granulíticos gnáissicos com lentes, boudins..
máficas e ultramáficas possam ter se originado também a partir da granulitização do
embasamento granito-gnáissico dos greenstone belts com suas rochas filonianas
antigas.
O mármore mapeado por Nilson & Mota (1969),
ocorre (ponto 2MW607) com mais de 30 m de extensão e apresenta estrutura de brecha com
fragmentos centimétricos a decimétricos, muitas vezes angulosos (Foto
59). Os fragmentos são de biotita-gnaisses, piroxênio-gnaisses e
cálcio-silicatadas que se destacam, com formas caprichosas, na superfície de
intemperismo. A textura é granoblástica, sendo notável que os minerais
cálcio-silicáticos, possam ocorrer com formas perfeitamente arredondadas. Interpretado
preliminarmente como possível rodingito por A.A.Nilson (com.verbal) parece-nos, porém,
tratar-se de mármore metassedimentar submetido a deformações intensas em alto grau,
responsáveis pela textura e estrutura com boudinage e brechação de níveis e
massas silicáticas, rúpteis, no meio de carbonatos altamente plásticos.
A ocorrência próxima de terrenos granito-greenstone
(Sequência Anicuns-Itaberaí) com significativa participação de mármores e o padrão
de ETR de alguns leptinitos (Cap.6) permite aventar-se que entre os protólitos dos
terrenos granulíticos estejam os terrenos TTG e greenstone correlatos dos que
ocorrem a oeste. Idades em torno de 2,6 Ba. pelo método Rb-Sr foram obtidas pela CPRM
(Lacerda Filho & Oliveira,1994) para gnaisses deste complexo granulítico, o que
confirma a participação de crosta arqueana na estruturação do Complexo
Anápolis-Itauçu.