UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA -INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
/ TESE DE DOUTORADO No 5 - MANFREDO WINGE
EVOLUÇÃO DOS TERRENOS GRANULÍTICOS DA
PROVÍNCIA ESTRUTURAL TOCANTINS, BRASIL CENTRAL
3. O COMPLEXO ANÁPOLIS-ITAUÇU A OESTE DE ITAUÇU
3.1.INTRODUÇÃO
A área alvo de detalhamento geológico (mapa geológico anexo) situa-se entre as cidades de Americano do Brasil, Itauçu, Araçu, Anicuns. Nela estão presentes as unidades estratigráficas indicadas no quadro a seguir:
T-Q: capeamentos detrito-lateríticos, aluviões... |
Cretáceo: diques e sills de diabásio; magmatismo Serra Geral. |
Paleo-Mesoproterozóico
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Paleoproterozóico
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Arqueano
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Além dessas unidades estratigráficas foram cartografadas as seguintes unidades litodêmicas (conceito do Código Estratigráfico Americano, Prothero,1982):
Supersuíte Plutônica Americano do Brasil desdobrada em:
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Complexo Anápolis-Itauçu subdividido em dois domínios:
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Entre os trabalhos anteriores que enfocaram a área de interesse deste mapeamento, destacam-se, entre outros, os de Oliveira & Bittar (1971), Bressan (1977), Nunes(1990), Silva(1991), Nilson (1992). Diversos trabalhos foram desenvolvidos em locais próximos, envolvendo unidades de interesse da área detalhada, muitos já relacionados no capítulo anterior, como os de Nilson & Motta(1969), Danni et al.(1973, 1981), Nilson(1984), etc... Destacam-se os de Simões (1984) e de Barbosa (1987), que mapearam a região de Mossâmedes, a oeste da presente área. Ressalvando-se as idades atribuidas para as sequências Serra Dourada, as correlações estratigráficas, diferentes das assumidas no presente trabalho e a variação litológica para fácies com maior granitização da Sequência Mossâmedes, a coluna de Barbosa (op.cit.), apresentada a seguir com estas modificações, pode ser considerada Tipo para a região:
QUADRO 3.3 - ESTRATIGRAFIA DA REGIÃO MOSSÂMEDES-ANICUNS (modificada de BARBOSA,1987) |
Mesoproterozóico Grupo Araxá (Sequência Serra Dourada)
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Paleoproterozóico Sequência Mossâmedes
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Arqueano Sequência Anicuns-Itaberaí (greenstone belt)
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As fases plutônicas, descritas adiante, tiveram
expressão em vários ciclos, envolvendo as unidades acima.
A estruturação da área é bastante complexa,
com falhas transcorrentes e de cavalgamento associadas; sobressai, uma direção de
transporte (lineações de estiramento) em N40 a 70W com vergência dirigida para
leste-sudeste.
O perfil esquemático AB (Figura 3-1) apresenta os contatos e a interpretação
estrutural envolvendo as unidades da área.
Os terrenos supracrustais de diversas idades têm
ocorrência preferencial condicionada a uma faixa (Lineamento Serra da Gibóia) limitada
por falhas, orientada em NNW-SSE entre Itaberaí e Anicuns e que corresponde ao
prolongamento, algo deslocado, da calha do Greenstone Belt de Goiás que
ocorre cerca de 30 km a NW desta área.
A leste de Americano do Brasil, ao longo deste
lineamento, tem-se o contato extremamente falhado entre terrenos de greenstones e
de granulitos. Milonitos e blasto-milonitos das rochas dessas unidades e de rochas
gabro-dioríticas a graníticas das suítes plutônicas intercalam-se nessas zonas de
falhas, sendo difícil, muitas vezes, caracterizar as suas origens.
Raros diques de diabásio são encontrados na
área. Alguns são frescos como o que ocorre no sul da área, encaixado nos terrenos de greenstone
belts, junto ao contato com a intrusiva da Fazenda dos Gomes (ponto 2MW400): apresenta
mais de 50m de possança e textura sub-ofítica. Estes diques talvez sejam mesozóicos.
Entretanto, alguns deles (e.g. ponto 2MW385), apesar da textura diabásica ainda
preservada, mostram-se uralitizados e saussuritizados (fácies epidoto-hornblenda
hornfels) junto a granodiorito, indicando serem, provavelmente, brasilianos.
A escolha desta área para detalhamento deve-se ao
fato de ter sido verificado, nos perfis de reconhecimento regional, o contato entre
terrenos granito-greenstone e granulíticos com um complexo gabro-anortosítico
próximo, compondo um quadro geológico característico dos terrenos de alto grau
associados a cratons arqueanos polifasicamente retrabalhados.
O mapeamento realizado através de
foto-interpretação (fotos aéreas 1/60.000 e imagens Landsat) e perfis de campo,
integrou, também, muitas informações de trabalhos anteriores de mapeamento: Oliveira
& Bittar, 1971; Nunes,1990; Silva,1991.
3.2. UNIDADES ESTRATIGRÁFICAS ASSOCIADAS AO COMPLEXO NA ÁREA
3.2.1. Sequência Anicuns-Itaberaí e Embasamento Granito-gnáissico (Arqueano).
A Sequência Anicuns-Itaberaí foi caracterizada
por Barbosa (1987) em sua área de dissertação de mestrado na região a leste de
Mossâmedes, junto da Serra Dourada. Ali, ele identificou duas unidades: uma
meta-pelito-tufácea, basal, e uma metaquímica. Nunes (1990) mapeou o prolongamento dessa
sequência na região de Anicuns no sudoeste da presente área de detalhamento e,
recentemente, (Nunes,1993) caracterizou o magmatismo komatiítico das meta-vulcânicas. Na
presente pesquisa é delimitada uma maior extensão destes terrenos arqueanos a leste e
nordeste de Americano do Brasil.
O nome adotado, Anicuns-Itaberaí, talvez não
seja muito adequado pois em Anicuns as rochas provavelmente pertençam à sequência
transamazônica (Mossâmedes) e em Itaberaí não se vê ocorrências típicas deste greenstone.
Esta sequência ocorre na porção ocidental da
área estudada, entre terrenos granulíticos, a leste, Embasamento Granito-gnáissico e
Sequência Mossâmedes, a oeste, ao longo de faixa tectonizada (Lineamento Serra da
Gibóia) e intrudida por plutons máficos e ácidos da Super-suíte Plutônica Americano
do Brasil. Ao sul/sudeste desta faixa, já no limite sul da área, este conjunto é
empurrado sobre rochas gnáissicas (embasamento?) e quartzitos e xistos feldspáticos
tidos como do Grupo Araxá (talvez sejam da Sequência Mossâmedes) e que afloram entre
Anicuns e Avelinópolis, fora da área detalhada. As falhas inversas, com vergência para
SE, fazem um conjunto com falhas transcorrentes levógiras.
A norte de Avelinópolis (1,5 km) ocorre, em muro
da falha inversa, sob rochas do greenstone belt, uma lente de meta-peridotito
harzburgítico milonitizado (ponto 2MW389). Não foi feito estudo químico para
caracterizar este meta-peridotito; duas hipóteses imediatas são aventadas com relação
à sua gênese:
1) origem mantélica e, neste caso, poderia estar
marcando sutura crustal nesta zona de falha inversa;
2) níveis ultramáficos do Complexo Santa
Bárbara que ocorre 5km a leste, estendendo-se para sudeste fora da área mapeada,
cavalgando (Silva,1991) granada biotita xistos tidos como do Grupo Araxá.
As fortes deformações nesta região não
permitem esclarecer a estratigrafia. Além disso, a retomada da zona de fragilidade
crustal ocasionou a intercalação de cunhas ou pacotes de rochas mais jovens de forma
semelhante ao que é verificado na região de Goiás, fora da área, onde se tem unidades
mais jovens como a Sequência Serra do Cantagalo aurífera/uraninífera análoga ao
sistema Witwatersrand (Danni et al.,1981) e xistos do Grupo Araxá tectonicamente
encravados dentro da calha do greenstone belt.
As rochas desta sequência mostram grande
variação composicional e em níveis geralmente de pequena espessura: são anfibolitos
xistosos, clorita-actinolita-talco xistos, magnesita-talco xistos que gradam entre si e
apresentam finas intercalações de metachert (Foto 34),
biotita-muscovita (cianita) xistos, níveis de gondito e BIF, geralmente manganesífero,
cálcio-xistos e anfibolitos.
Corpos de anfibolitos médios a grossos, maciços
a foliados ocorrem localizadamente como, por exemplo, 6 km a nordeste de Anicuns (ponto
2MW373) e correspondem provavelmente a intrusões subvulcânicas máficas a ultramáficas.
Mármore, geralmente calcítico e sacaroidal, de
granulação grossa, ocorre como lentes dentro dessas rochas. Desenvolve-se esse mármore,
também, na forma de um possante pacote que se supõe ser de níveis superiores da
sequência. A análise de mármore silicoso (Anexo 4) que ocorre na Faz.Santa Rosa (ponto
2MW361) e análises de Nunes (1990) de amostras do sul da área, indicam teores
frequentemente < 2% MgO para esse mármore. Êle contém camadas métricas
cálcio-silicáticas (metachert), de clorita-actinolita xistos (e.g. ponto 2MW361
na Faz.Santa Rosa, talvez meta-vulcânica/tufácea), de rocha cálcio-silicática a
quartzo, grünerita, biotita e plagioclásio (e.g. ponto 2MW336 a oeste de
Gongomé, talvez vulcano-química)...
Níveis de BIF, geralmente manganesíferos,
ocorrem em vários pontos da faixa do greenstone belt como, por exemplo, ao
norte, junto da intrusão granítica da Serra das Lajes (pontos 2MW 104 e 311) e ao sul da
área mapeada, a NE de Anicuns (pontos 2MW 369, 370 e 374). Apresentam-se desde
silicosos a aluminosos e ocasionalmente grafitosos.
Dois corpos de granada biotita gnaisse fino
leucocrático (composição dacítica), associados a níveis de BIF da sequência, foram
cartografados: um ao norte de Avelinópolis (e.g. pontos 2MW159, 390e 391) e na
estrada Anicuns-Boa Vista (e.g. e 2MW426). A origem mais provável é a de corpos
subvulcânicos e níveis vulcânicos ácidos do greenstone belt, vistas a
persistente associação com meta-vulcanoquímicas (BIF) e à textura fina.
Esse conjunto de rochas corresponde a uma
sequência de derrames ultramáficos a basálticos komatiíticos, com intercalações
sedimentares pelíticas e químicas a vulcano-químicas, que se tornam mais importantes
para o topo, e com prováveis rochas metavulcânicas a subvulcânicas ácidas associadas.
Terrenos gnáissicos são encontrados junto dessas
supracrustais. Em vários pontos, correspondem, provavelmente, a rochas intrusivas
proterozóicas, metamorfizadas no evento brasiliano como será visto adiante (ítem 3.4).
Entretanto, em alguns pontos, como junto da ponte sobre o Rio Uru, a oeste de Itaberaí
(ponto 2MW199), a NW da área detalhada, as características petrográficas de gnaisses
tonalíticos de cor cinza e a sua continuidade para NW, com o "embasamento" do greenstone
na cidade de Goiás, apontam para idades arqueanas.
No local Santa Maria, 5 km a SSW de Capelinha
ocorre (ponto 2MW364) granada biotita muscovita gnaisse de grão médio, homogêneo, com
porfiroclastos de K feldspato e foliação milonítica. Blocos de meta-piroxenito
(tremolitito talcificado grosso) associam-se a este gnaisse (ponto 2MW363), não se vendo
relações de contato entre êles. Entretanto, a proximidade com a sequência de greenstone
indica que possa se tratar, como marcado no mapa,
de uma porção do embasamento arqueano com stocks e diques komatiíticos.
Interpretação alternativa é a de que corresponda a uma extensão ou apófise do
batolito da Serra do Cuscuzeiro e a ocorrência de piroxenito, a um mega-xenólito.
A oeste deste local, do outro lado da faixa do greenstone
belt, entre Americano do Brasil e Anicuns, também ocorre gnaisse semelhante e que
apresenta (ponto 2MW109) bandas centi-decimétricas de biotitito sub-paralelas à
foliação gnáissico-milonítica. Esta fácies é idêntica à encontrada no embasamento
arqueano do Greenstone Belt de Goiás, próximo ao contato com os quartzitos da
Serra Dourada, entre Novo Goiás e Sanclerlândia, a oeste desta área de detalhamento.
Lá as bandas de biotitito de 5 a 100cm contém restos de actinolitito, talco-xisto e
talcito evoluídos, possivelmente, de diques/sills komatiíticos metassomatizados e
xistificados juntamente com o granito-gnaisse encaixante que se apresenta com veios
pegmatíticos e muscovitizado.
Entre Avelinópolis e Capelinha, próximo ao local
Palmital (ponto 2MW476), 5 km a leste do provável stock komatiítico e junto aos
contatos com os terrenos granulíticos, ocorre um granada-magnetita-hornblenda quartzito
(metachert ferruginoso) em meio a terreno de gnaisses/migmatitos que foram, por isso,
interpretados como o prolongamento do Embasamento Granito-gnáissico. Entretanto,
ocorrências de meta-gabro-dioritos (ex.: ponto 2MW474) e meta quartzo-dioritos neste
local indicam que deve ter havido, também, contribuição de magmatismo da Supersuíte
Plutônica Americano do Brasil na formação destes terrenos.
Ao nível do levantamento realizado, sem
datações confiáveis, entretanto, é difícil distinguir as regiões com terrenos
gnáissicos arqueanos das com terrenos proterozóicos, principalmente porque a região foi
palco de eventos acrescionários transamazônicos (arco de ilha da Sequência
Mossâmedes), uruaçuanos (?) e brasilianos (corpos intrusivos), gerando colagens e
retrabalhamentos crustais diversos.
O metamorfismo impresso nos greenstone é
polifásico, tendo ocorrido em vários ciclos e eventos tectônicos. Assim, as
paragêneses minerais termais (diopsídio, wollastonita e escapolita) nos contatos com a
intrusão a SE de Americano do Brasil tem a idade desta intrusão. A paragênese de mais
alto grau é a da fácies epidoto-anfibolito (granada, cianita, biotita, muscovita;
hornblenda, epidoto, plagioclásio, biotita) que combinam tipomorficamente com as
paragêneses de metamorfismo regional que afetou os corpos satélites menores e as bordas
dos plutons da Supersuíte Americano do Brasil. Cloritóides pós-tectônicos, sericita,
clorita... diaftoréticos correspondem ao grau metamórfico tipomorfo do pacote
metassedimentar do Araxá, descolado sobre ou que ocorre como restos sinformais ou fatias
tectônicas dentro dos greenstone.
No Complexo Anápolis-Itauçu, principalmente no
domínio gnáissico-anfibolítico, são encontrados restos de supracrustais (ver item
3.4.2. adiante) correlacionados com este pacote de rochas arqueanas, levando à
interpretação de sua participação, juntamente com seu embasamento, na constituição
dos terrenos de alto grau metamórfico.
3.2.2. Sequência Vulcano-sedimentar Mossâmedes (Transamazônica)
Da cidade de Anicuns para norte e leste, ocorrem
anfibolitos, biotita-xistos, quartzitos e xistos feldspáticos a gnaisses xistosos,
miloníticos em parte. São comuns estruturas lineares, como mullions, orientadas
em 40N60W. Em direção a Mangabal, a W da área detalhada, ocorrem metabasitos, rochas
cálcio-silicáticas em um conjunto gnáissico com migmatização incipiente. Estas rochas
são aqui correlacionadas com a Sequência Vulcano-sedimentar Mossâmedes que ocorre
próxima e que foi detalhada por Simões (1984), Barbosa(1987), Barbosa & Jost (1990)
e datada como do Paleoproterozóico (Fuck & Pimentel,1990). Simões a considerou como
fácies do Grupo Araxá, caracterizando magmatismo calci-alcalino para as meta-efusivas
básicas (anfibolitos) a ácidas (meta-dacitos a riolitos). Barbosa (op.cit.) a distinguiu
das rochas meta-psamo-pelíticas da Serra Dourada e das rochas do greenstone belt, conforme
a coluna geológica já apresentada.
As rochas desta sequência confundem-se com rochas
assemelhadas que ocorrem próximas, como os anfibolitos do greenstone belt e com
rochas foliadas e miloníticas de diques e sills da fase magmática Americano do
Brasil.
Entre Anicuns e Avelinópolis, a sul da área
detalhada, associado a pequenas lentes de quartzitos (meta-psamitos), ocorre biotita xisto
granadífero e feldspático que tem sido mapeado como pertencente ao Grupo Araxá. É
possível, entretanto, que corresponda à Sequência Mossâmedes, tanto pelas
associações litológicas quanto pelo metamorfismo regional que apresenta (fácies
epidoto-anfibolito de gradiente barroviano).
A Sequência Mossâmedes registra, junto com seus
derivados de alto grau (gnaisses, migmatitos com restos de supracrustais como anfibolitos
e rochas cálcio-silicáticas) que ocorrem oeste, fora desta área detalhada, terrenos de
arco de ilha a liminar, transamazônicos, conformados em arco estrutural e colados
a sul dos terrenos granito-greenstone que aí são capeados pelos
metassedimentos Araxá na Serra Dourada.
3.2.3. Grupo Araxá (Paleo-Mesoproterozóico)
Os quartzitos e granada-biotita-muscovita xistos
que ocorrem a N e em torno da cidade de Americano do Brasil e na zona de falha a norte de
Anicuns (Serra Pelada) são aqui correlacionados, por suas características
sedimentológicas e pela continuidade de lineamentos lito-estruturais, com os
metassedimentos do Grupo Araxá. Camadas de meta-psamitos de poucos centímetros até
metros de espessura intercalam-se nos xistos meta-pelíticos com fácies transicionais
representadas por quartzo-xistos. Apresentam-se, seguidamente, retrabalhados o que é bem
exemplificado 2 km ao N de Americano do Brasil (ponto 2MW527) onde ocorre quartzito com
fácies "mil folhas" dentro de xisto com fácies "escama de peixe"
(xistosidade cruzada ou anastomosada) com mergulhos fracos e crenulado por duas fases de kinks
superpostas por uma fase de dobramento suave.
É possível que estes metassedimentos correpondam
a uma fácies plataformal correlata a do Grupo Araxá na Serra Dourada. Eles ocorrem com
mergulhos fracos em vários locais e devem representar restos de supraestrutura descolada.
Entretanto, aqui foram mais preservados na faixa tectonizada do Lineamento Serra da
Gibóia juntamente com as rochas da Sequência Mossâmedes e do greenstone belt com
as quais ocorrem imbricados e podem se confundir.
3.2.4. Supersuíte Plutônica Americano do Brasil
Na região da área mapeada ocorrem várias
intrusões, geralmente na forma de stocks, desde gabróicas até
tonalito-graníticas. Estas últimas podem atingir dimensões batolíticas (e.g. Batolito
da Serra do Cuscuzeiro, a SE da cidade Americano do Brasil) e mostram xenólitos e massas
irregulares de rochas máficas e de rochas metassedimentares. Verificam-se vários graus
de transição com indícios de hibridização magmática entre os termos mais máficos e
os mais ácidos, evidenciando cogeneticidade com hibridização progressiva entre estas
formações magmáticas. Por isso, propõe-se a divisão em suítes mais máfica e mais
ácida englobadas em uma unidade litodêmica maior denominada Supersuíte Plutônica
Americano do Brasil.
A idade desses plutonitos é, ainda, incerta e por
isso, objeto de controvérsias. A disposição em um arco mais interno, associado
à sequência vulcano-sedimentar de Mossâmedes, transamazônica, e o tipo do seu
magmatismo, tholeíto hidratado (Nilson,1984), para o Complexo Máfico-ultramáfico
Americano do Brasil, a calcioalcalino (Cap. 6), sugere corresponderem a um arco magmático
plutônico correlacionado com diastrofismo transamazônico. Entretanto, dados preliminares
apresentados adiante indicam idade neoproterozóica para este plutonismo (637± 19Ma).
No Complexo Anápolis-Itauçu, Domínio dos
Terrenos Gnáissico-anfibolíticos, vários corpos plutônicos, metamorfizados e
variavelmente deformados para anfibolitos, biotita / hornblenda plagioclásio gnaisses,
biotita gnaisses.. provavelmente pertencem a esta Supersuíte.
À Suíte Gabro-diorítica correspondem
os corpos máfico-ultramáficos do magmatismo Americano do Brasil, Mangabal, Cavaco e
Furnas, etc.. relacionados por Pfrimer et.al. (1981) no estudo sobre o Complexo Mangabal
como Província Máfica-ultramáfica Tholeítica a Sul da Serra Dourada. Distribuem-se
estes corpos principalmente junto a zonas de cisalhamento e perfazem um arco ou
semi-círculo que acompanha lineamentos estruturais regionais. São corpos intrusivos nos
terrenos granito-greenstone e na Sequência Mossâmedes. As ocorrências de corpos
máfico-ultramáficos granulitizados como a de Água Clara, incluída na província por
Pfrimer et al.(op.cit.) realmente aparentam constituir uma continuação deste arco que
teria, assim, mais de 100 km de extensão, porém, vistos o seu emplacement no
domínio granulítico, características magmáticas diferenciadas e talvez idades
diferentes elas serão aqui consideradas à parte da Suíte Gabro-diorítica. As
ocorrências de complexos gabro-anortosíticos, Complexo Santa Bárbara ao sul da área e
a ocorrência de meta-anortosito associado com anfibolitos (metagabros) na Faz.Monjolinho (Fotomicrografia 45), estão espacialmente
associadas com os terrenos granulíticos, mas o seu metamorfismo é da fácies anfibolito
de pressão intermediária, igual ao que afetou a suíte gabro-norítica.
A Suíte Tonalito-granítica correspondem
vários corpos em stocks a batolitos, localmente preservados e com os contatos
razoavelmente bem definidos, porém mais frequentemente ocorrem descaracterizados devido
ao metamorfismo que os transformou em gnaisses, epidoto hornblêndicos, os mais máficos,
e biotita gnaisses muscovíticos os mais ácidos. A área de ocorrências extrapola a
região mapeada em detalhe, considerando-se que orto-gnaisse ao sul de Anicuns, o granito
de Choupana, meta-granodiorito de Sanclerlândia e meta-granitos diversos como os da
região de Mossâmedes (Barbosa,1987) possam corresponder ao magmatismo desta suíte. Fuck
& Pimentel (1990) dataram o epidoto biotita gnaisse de Sanclerlândia, obtendo uma
idade isocrônica Rb-Sr de 940± 113 Ma e idade modelo Nd de 1.000Ma, interpretando-o,
pela assinatura isotópica, como granitóide de arco vulcânico similar ao dos terrenos
granito-gnáissicos que ocorrem a oeste.
3.2.4.1. Suíte Gabro-diorítica
As ocorrências mais importantes na área
detalhada são as da Serra do Gongomé e Cavaco e Furnas (Pfrimer et al,1981). Esta
última ocorre , com mais de 7 km de diâmetro, no sul da área; redesignada por Nunes
(1990) como Complexo Córrego Seco ela não foi objeto de estudos de campo neste trabalho.
O corpo da Serra do Gongomé com cerca de 3 x
6,5km ocorre ao norte da área a cerca de 7 km a ENE do Complexo Máfico-ultramáfico
Americano do Brasil, estudado por Nilson (1984). A proximidade, o quadro geológico
idêntico e as características petrológicas endossam a correlação entre este stock e
o Complexo Americano do Brasil. Apresenta bordas metamorfizadas e núcleo ígneo
preservado que constitui regiões serranas. Os contatos com as encaixantes são
tectônicos ou de bordas plutônicas hidratadas e metamorfizadas, com deformação
variável. Não foram encontradas encaixantes termicamente afetadas.
As bordas da intrusão apresentam-se
metamorfizadas em fácies anfibolito estático, com poiquiloblastos de granada associados
a biotita e muscovita, hornblenda e epidotos neoformados em arranjo textural sem
orientação (Fotomicrografia 41). Mais
externamente, para dentro das encaixantes (greenstone belt) e em stocks
satélites e diques/sills associados a esse maciço ou, ainda, em outros locais, como
intrusões menores desta suíte, os gabro-dioritos foram transformados em anfibolitos
nematoblásticos. Nas falhas foram transformados em xistos verdes (filonitos)
macroscopicamente semelhantes aos anfibólio-xistos supracrustais das sequências de greenstone
e de Mossâmedes.
As fácies gabróicas mais internas são
totalmente preservadas ou com uralitização (cummingtonita) variável sobre opx e cpx (Fotomicrografia
42,43). Hornblenda
poiquilobástica centimétrica ocorre em certos níveis e, talvez, represente fase
tardi-magmática com maior aH2O nos eventos finais de
cristalização (Fotomicrografia 43).
Localmente ocorrem camadas milimétricas a centimétricas de concentração de minerais
máficos, ressaltadas em superfícies expostas ao intemperismo, e que indicam bandamento
ígneo. Ao nível de reconhecimento realizado, não foram determinadas camadas
ultramáficas que provavelmente ocorrem vistas as feições de layering encontradas
nas fácies gabróicas. Em imagem de satélite percebe-se, dentro do maciço, uma
estrutura circular que, no campo, corresponde à fácies diorítica, uralitizada e
biotitizada (fotomicrografia 44),
porfirítica, com "autólitos" mais máficos (ponto 2MW329) retratando fenômeno
de intrusões múltiplas. As relações de contato indicam intrusão pré a
sin-tectônica, podendo-se admitir um diapirismo devido às fases plutônicas mais jovens
e ácidas, empurrando essas massas plutônicas já frias para níveis mais
elevados.
Além destas duas ocorrências principais, outras
menores ocorrem na área, destacando-se o stock de gabro uralitizado e
saussuritizado, 4 km a E da cidade de Americano do Brasil. Junto dele, a sul, é
encontrada pequena lente de actinolita-talco xisto (ponto 2MW322) que parece representar
porções de cumulados ultramáficos milonitizados e desmembrados do corpo de gabro pela
falha transcorrente que passa a E. Nesta mesma zona de falha são encontrados, inclusive
no domínio dos terrenos granulíticos, massas de anfibolitos xistosos e xistos verdes
filoníticos que correspondem, provavelmente a sills e diques muito tectonizados e
milonitizados, e que são semelhantes às fácies das bordas E e N tectonizadas da
intrusão da Serra do Gongomé.
Dentro das massas plutônicas mais ácidas da
Suíte Tonalito-granítica são encontrados xenólitos gabro-dioríticos a
sieno-monzoníticos com extensão variável, de centimétrica (fotos 37 a 42) a decamétrica
(mega-xenólitos), que registram as fases magmáticas desta suíte básica mais antiga
misturada, resfriada e metassomatizada variavelmente pelos afluxos magmáticos mais
ácidos.
3.2.4.2. Suíte Tonalito-granítica
As intrusões da Suíte Tonalito-granítica
apresentam-se com maiores dimensões e variação composicional do que as da Suíte
Gabro-diorítica. As rochas desta suíte variam de termos ígneos preservados,
quartzo-dioritos a granitos, com nenhuma ou mínima alteração metamórfica, até
anfibolitos e filonitos/xistos verdes nas fácies mais básicas e hornblenda a biotita
gnaisses, geralmente granadíferos, nos termos mais ácidos.
Muitos desses corpos são mapeáveis, com contatos
bem definidos, mas a recorrência intrusiva de fases progressivamente mais ácidas, o
metamorfismo de fácies anfibolito e deformações associadas com o metamorfismo ou
superimpostas nas faixas cisalhadas frequentemente descaracterizaram os contatos
geológicos.
Não foi visto contato intrusivo com os xistos e
quartzo-xistos de baixo grau correlacionáveis com os metassedimentos da Serra Dourada
(Grupo Araxá) que aí ocorrem, sendo que a sudeste da cidade de Americano do Brasil
(ponto 2MW345) o contato entre granito filonitizado e quartzo-xistos de baixo grau é
tectônico.
A ocorrência mais extensa, de dimensões
batolíticas, situa-se a SE de Americano do Brasil (Batolito da Serra do Cuscuzeiro com
cerca de 13 x 8 km) e apresenta-se com forma ovalada, irregular e topografia elevada.
Localmente engloba xenólito de rochas do greenstone belt, como exemplificado na foto 40, ou impõe contato térmico sobre elas
como, por exemplo, no local Sarandi (ponto 2MW353) onde ocorre wollastonita, escapolita e
diopsídio em mármore. São comuns as fácies dioríticas a quartzo-dioríticas de
granulação média e cor cinza, envolvidas por fácies mais ácidas, granodioríticas,
apresentando com frequência estruturas de brechas plutônicas com xenólitos
predominantemente gabro-dioríticos (Fotos 37, 38, 39, 41).
A granulação dos xenólitos e detalhes estruturais (Foto
39) mostram que esses xenólitos já estavam consolidados quando do
resfriamento da hospedeira ou foram por ela resfriados. A predominância de xenólitos de
rochas plutônicas máficas aponta para fenômenos de intrusões múltiplas, como já
teria ocorrido incipientemente em ocorrências da Suíte Gabro-diorítica, conforme
registrado na Serra do Gongomé. Misturas de magmas devem ter originado os termos
híbridos que aí ocorrem: são comuns as fácies dioríticas com crescimento de K
feldspato (Foto 42) geralmente como
fenocristais (fenoblastos metasomáticos de evento tardi-magmático?), originando-se
composições globais de sieno-monzonitos, granodioritos e granitos, estes com maior
aporte de sílica. Parte desta sucessão de eventos magmáticos antecedeu metamorfismo
regional de fácies anfibolito barroviano que propiciou a transformação das fácies mais
básicas em anfibolitos e das fácies mais ácidas em biotita- quartzo anfibolitos,
hornblenda gnaisses, biotita-hornblenda gnaisses, granada-biotita gnaisses, etc.. nos
locais onde o acesso de H2O foi pervasivo. Nas zonas de falhas tais rochas
variam para termos xistosos a filoníticos.
Outros corpos intrusivos são encontrados ao sul,
dois pequenos, não estudados, e outro maior com cerca de 6 x 3km (Faz.dos Gomes)
intrusivo em mármores, xistos, bifs,.. da sequência arqueana do greenstone
belt.. Ele apresenta xenólitos e mega-xenólitos gabro-dioríticos localmente muito
sulfetados. A cor cinza e a composição tonalítica são mais comuns, mas a sua
evolução atingiu fácies granítica, com fenocritais de K feldspato. A estrutura varia
de maciça a foliada tectonicamente.
No NW da área, ocupando regiões serranas,
ocorrem dois stocks de granodioritos a granitos geralmente transformados em granada
biotita gnaisses e gnaisses filonitizados. Estruturas miloníticas com lineação mineral
e de forte estiramento E-W relacionadas a transcorrências dextrógiras caracterizam a
borda N da massa granítica da Serra das Lajes. Estes meta-granitos apresentam trend mais
potássico do que o da Serra do Cuscuzeiro. Localizadamente ocorrem apófises que envolvem
os xistos do greenstone belt (Foto 36;
ponto 2MW105). Contatos metassomatizados das encaixantes (actinolitização e
biotitização) são encontrados em vários locais como, por exemplo, na extremidade NW do
granito da Serra das Lajes (ponto 2MW260) e na Fazenda Laje (ponto 2MW315). Neste último,
ocorrência de esmeralda é de longa data explorada. Estes granitos estão sendo
interpretados como pertencentes à Suíte Tonalito-granítica de idade neoproterozóica,
por correlação com outros granitos datados na região (e.g. Choupana, Fuck &
Pimentel,1990), mas não se descarta a possibilidade de estarem vinculados à evolução
arqueana dos greenstone belts.
A associação espacial destas intrusões máficas
a ácidas com encaixantes meta-ultramáficas e calcários, principalmente, evidencia um
interessante quadro de potencialidade mineral, particularmente para esmeralda e scheelita.
Gnaisses muito aluminosos (cianita,granada.
muscovita, biotita gnaisses), localmente com fragmentos (xenólitos?) mais máficos,
fortemente estirados, como no ponto 2MW548, a oeste de Capelinha, talvez correspondam a
fácies especiais (granitos S) dessa suíte e que parecem ocorrer preferencialmente perto
de falhas importantes próximo a terrenos granulíticos.
Com o metamorfismo, os granitóides da Suíte
Tonalito-granítica confundem-se com gnaisses e filonitos arqueanos que ocorrem associados
aos terrenos de greenstone belts e com supra-crustais diversas quando alojados nas
faixas de milonitos.
3.3. DOMÍNIO DOS TERRENOS GRANULÍTICOS
3.3.1.Área de ocorrência (Blocos Capelinha e Anápolis-Itauçu)
Na área detalhada, o Complexo Anápolis-Itauçu
apresenta um bloco de crosta granulitizada (Bloco Capelinha) separado do bloco principal
(Anápolis-Itauçu) por rochas anfibolitizadas e migmatíticas (Domíno dos Terrenos
Gnáissico-anfibolíticos), conforme indicado no mapa regional (Anexo). A Vila Capelinha situa-se no
centro-sul desse bloco, que tem forma oval, com cerca de 27 x 15 km, alongado em NW-SE.
Ele faz contato a E, SE e S com terrenos anfibolitizados do Complexo; a W faz contato com
terrenos granito-greenstone e com intrusões da Supersuíte Plutônica Americano do
Brasil.
O bloco principal de terrenos granulíticos
(Anápolis-Itauçu), com pequena representação na área detalhada (canto nordeste)
estende-se amplamente a leste de Araçu.
Os limites dos terrenos granulitizados são
tectônicos e, frequentemente, com indícios de terem sido retrabalhados em eventos
sucessivos de milonitização, geralmente com hidratação, recristalizações estáticas
com aquecimento, re-milonitização..
3.3.2. Caracterização dos terrenos granulíticos regionais e de seus contatos
O Domínio dos Terrenos Granulíticos compreende
litotipos variados: gnaisses diversos, enderbíticos a charnockíticos, leptinitos,
sillimanita-granada quartzitos e opx-cpx granulitos básico-ultrabásicos a
intermediários, muitas vezes diaftoréticos para anfibolitos.. que se associam sem uma
ordenação aparente. As fácies máfico-ultramáficas associam-se com as fácies
félsicas na forma de bandas e massas irregulares, de centimétricas até decamétricas,
maciças a foliadas e/ou lineadas, sendo comuns as estruturas de boudins dessas
porções mais competentes (gabro-piroxeníticas) dentro da fase gnáissica.
Junto aos contatos falhados com os terrenos da
fácies anfibolito, os granulitos milonitizados sofreram, frequentemente, acesso de fase
fluida aquosa, desenvolvendo paragêneses transicionais retrometamórficas que podem
assemelhar-se a paragêneses de contatos transicionais progradantes. Fácies transicionais
com rochas de mais baixo grau são encontradas em vários locais, como junto da faixa de
fácies anfibolítico (região da Faz. Monjolinho-Faz.Brasília- Estação Zootécnica)
que medeia entre os blocos granulíticos de oeste e de leste. Entretanto, também aí
percebe-se que a zona de contato é marcada por feições com forte estiramento mineral e
cominuição granulométrica anidra, marcando uma região de contato tectonizado; as
fácies anfibolito de alto grau até fácies xisto verde, hidratadas, que se associam
nesta transição, podem apresentar blastese sin a pós-milonitização.
O regime de falhamentos nas rochas granulíticas
ensejou o desenvolvimento de fácies especiais, como pode ser visto, por exemplo, ao sul
da intrusão gabro-piroxenítica da Faz.Conceição (pontos 2MW342, 606 e 639) onde
granulito básico a intermediário foi milonitizado e silicificado, dando origem a fácies
que se assemelham a dacito porfirítico (fotos 60, 61) com indícios estruturais e texturais de ter
ocorrido blastese (aquecimento por relaxação tectônica?) alternada com e sucedendo a
milonitização.
Na pequena serra ao norte da localidade Boa Vista
(pontos 2MW633 a 638), há o desenvolvimento de fácies tectoníticas a ultra-miloníticas
que atingem rochas granulitizadas e rochas intrusivas anfibolitizadas, sendo notável o
crescimento pós tectônico de feldspato potássico e de granada almandínica, vermelha,
idioblástica a arredondada, até centimétrica, conspícua na massa ultramilonítica de
cor verde-acinzentada (fotos 62,63 e fotomicrografias 55,
56). Esta blastese também deve estar relacionada
com a relaxação termo-dinâmica dos esforços compressivos que milonitizaram os
granulitos e, talvez, associadamente, com a ascensão litosférica do Bloco Capelinha
quando deve ter ocorrido a modificação das isotermas crustais.
O contato entre granulitos e greenstone belt,
mais ao norte deste ponto, entre a Faz. Barro Amarelo e a Faz. Quilombo, a NE de Americano
do Brasil, segue um padrão análogo de contato fortemente tectonizado (Figura 4-6) e com blasteses (aquecimentos)
intermitentes, afetando tanto as rochas granulitizadas trazidas para níveis mais rasos da
crosta, quanto as rochas do greenstone belt e rochas de plutonismo máfico a ácido
encaixadas na zona de falha. Assim, por exemplo: granada leptinitos dão origem a
"xistos nodulosos" (porfiroblastos de granada cloritizada em massa de biotita,
muscovita, quartzo, clorita filonítica) com texturas miloníticas como mica fish; cianita-biotita
xistos do greenstone belt dão origem a sericita clorita xistos; anfibolitos e
gabros, das intrusões, dão origem a xistos anfibólicos, filoníticos, com paragêneses
variando da fácies anfibolito a xisto verde...
Restos de rochas supracrustais (rochas
calciossilicatadas, mármores) têm sido encontrados localizadamente nos terrenos
granulíticos do Complexo Anápolis-Itauçu.
Contatos transicionais progradantes não foram
definitivamente caracterizados. Entretanto, 5 km a NW de Capelinha, na região de contato
entre granulitos máficos e metagabro (ponto 2MW543), ocorrem fácies mais preservadas a
titano-augita e hornblenda que poderiam ser de metamorfismo progradante superimposto pelo
metamorfismo dinâmico que afetou esta região de contato tectonizado.
Próximo deste metagabro, ocorre metachert
sulfetado a granada e hornblenda, associado a tremolitito talcificado (ponto 2MW545). A
proximidade e similaridade faciológica desse hornblenda metachert com rochas do greenstone
belt sugere que o metamorfismo granulítico tenha incoporado estes terrenos arqueanos.
Cerca de 1 km ao norte (ponto 2MW544), ocorre leptinito milonitizado com granada, cianita
(substituindo sillimanita), muscovita e quartzo do domínio granulitizado que poderia ter
evoluído do embasamento gnáissico associado aos greenstone belts.
As idades arqueanas obtidas pela CPRM (Lacerda
Filho, inf.verbal) para gnaisses do Complexo Anápolis-Itauçu, vão de encontro a esta
possibilidade de participação dos terrenos arqueanos tipo granito-greenstone na
consituição do Complexo Anápolis-Itauçu.
3.3.3.Leptinitos e rochas associadas
Os leptinitos (gnaisses anidros finos) são
ubíquos na área detalhada. Destacam-se, pela continuidade e ressaltos morfológicos
junto das massas meta-plutônicas máfico-ultramáficas granulitizadas, formando serras e
cristas. Estão sistematicamente associados com rochas básicas a intermediárias na
escala de afloramento, como bandas decimétricas estratóides contidas em rochas máficas
bandadas (Fotos 18, 21
a leste da área) ou contendo lentes e boudins das rochas máficas. No mapa da área detalhada
foram individualizadas as regiões onde êles predominam, isto é, rodeando as massas
máfico-ultramáficas granulitizadas, mas cabem as ressalvas de que em certos trechos eles
apresentam-se com textura mais grossa, granitóide a pegmatítica, por um lado, e de que
sempre ocorrem rochas máficas associadas em maior ou menor quantidade, por outro lado.
Acresce-se a isto que é frequente estarem descaracterizados por processos superimpostos
de milonitização acompanhada em maior ou menor grau por hidratação, que os transforma
em quartzitos micáceos e gnaisses finos micáceos.
A origem destes leptinitos, discutida por Winge
& Danni (1994c), está relacionada com o retrabalhamento e granulitização de crosta
continentalizada em que os protólitos imediatos são granitóides. Assim, por exemplo,
leptinito contido como fatia tectônica e/ou megaxenólito na intrusão Água Clara mostra
estrutura indicativa desta origem (Foto 58).
As fases máficas associadas com os leptinitos regionais são, provavelmente em sua maior
parte, restos de diques, sills e outros corpos menores de evento(s) extensional. O
envolvimento de terrenos granito-greenstone na constituição dos terrenos
granulíticos não descarta, entretanto, a possibilidade de que outras ocorrências de
leptinitos possam derivar de protólitos supracrustais.
3.3.4.Os corpos máfico-ultramáficos
Na área detalhada os corpos máfico-ultramáficos, centrados na ocorrência de Água Clara, dispõem-se em uma faixa NW-SE com a ocorrência da Fazenda Conceição a W e várias outras menores a E. Talvez estas ocorrências correspondam a uma só intrusão continuada em sub-superfície e/ou sejam tectonicamente desmembradas. Elas mantem sempre o mesmo esquema de ocorrência, com leptinitos circundando os corpos máfico-ultramáficos em cristas elevadas e compondo estrutura antiformal aberta. Os leptinitos ocorrem também como lentes dentro das intrusivas.
3.3.4.1. Intrusão Água Clara
A ocorrência de Água Clara (nome do córrego que
drena a área da intrusiva) foi estudada por Nilson (1992), que a denominou Complexo
Máfico-ultramáfico de Águas Claras. Apresenta dimensões de 10 x 2 km, alongada em
WNW-ESE na Fazenda dos Paulistas. A intrusão é truncada por falhas NNE-SSW, originando
corpo descontinuado a leste. No presente trabalho o estudo desta intrusão restringiu-se a
dois perfis, um a leste e outro a oeste do corpo ígneo, aproveitando-se mapeamentos
anteriores (Bressan,1977; Nilson,1984) para apoiar a fotointerpretação dos contatos.
As fácies ultramáficas, peridotitos
harzburgíticos, fortemente tectonizados e serpentinizados, ocorrem preferencialmente na
porção sul da ocorrência, sugerindo perfil de empilhamento estratigráfico de sul para
norte, conforme já verificado por Nilson (op.cit.).
As fácies noríticas, muitas vezes com texturas
preservadas (Fotomicrografia 49),
associam-se a ocasionais níveis de gabro-anortositos e de actinolititos
(metapiroxenitos), retratando camadas de origem primária. Estas fácies máficas tem
maior desenvolvimento na porção norte da ocorrência.
Segundo Nilson (op.cit.), o alto teor de Al2O3
na composição dos ortopiroxênios ígneos atesta o nível profundo da intrusão e a
existência de um gap na variação críptica da bronzita sugere dois pulsos
magmáticos, o primeiro picrítico, relacionado com os harzburgitos basais, sucedido por
outro, tholeítico normal.
Os leptinitos encaixantes associam-se com opx-cpx
granulitos máficos finos, sendo comuns as fortes deformações
(Foto 59) e texturas flaser tanto nas básicas quanto nos leptinitos.
Estes apresentam, ocasionalmente, augen arredondados até centimétricos de Or na
matriz blastomilonítica flaser. Para Nilson (op.cit.) esta associação poderia
corresponder a meta-vulcânicas já que o quimismo das encaixantes máficas é distinto do
quimismo dos meta-noritos e rochas cumuláticas associadas da intrusão. Entretanto, o
leptinito (Foto 58) que ocorre como lente
(mega-xenólito?) na interface rochas ultramáficas-máficas, corresponde a meta-granito /
gnaisse grosso no que coincide com a identificação genética comprovada a sul da Serra
do Brandão (ítem 2.5.3; Foto 33).
Entremeados com os leptinitos encaixantes ao sul da intrusão ocorrem fácies de
mangerito-enderbito (meta quartzodioritos?) e de espinélio websterito uralitizado com
bandas centimétricas de anfibolitos (pontos 2MW234,235) que representam plutônicas
encaixantes e/ou fatias tectônicas de partes da intrusiva.
3.3.4.2.Intrusão Fazenda Conceição
A ocorrência da Faz.Conceição, com cerca de 3,5 x 2km apresenta piroxenitos e meta-gabronoritos bandados (Foto 56) a maciços. Ela está alojada em leptinitos e contem lentes de leptinito. A fácies cataclástica/milonítica dessas lentes é indicativa de provável fatiamento tectônico o que não exclui, porém, a possibilidade de constituirem mega-xenólitos ou tratos crustais envolvidos pelo magma. Como na intrusão de Água Clara, a fácies piroxenítica concentra-se a SW do corpo mas ocorre, também, como veios/sills centimétricos em fácies gabro-norítica.
3.3.4.3. Outros corpos máficos intrusivos
O alinhamento dos corpos máfico-ultramáficos
granulitizados Faz. Conceição - Água Clara continua para leste-sudeste com mais quatro
corpos alongados e variávelmente tectonizados. Apresentam o mesmo modo de ocorrência já
descrito: granulitos ácidos, leptinitos principalmente, entremeados por granulitos
básicos a intermediários, nas partes elevadas como encaixantes das intrusões
máfico-ultramáficas que ocorrem nos vales. As fácies piroxeníticas e mesmo
meta-peridotíticas, como no Morro Santa Rita, entretanto, podem constituir regiões
elevadas localizadamente. As fácies meta-máficas variam de termos melanocráticos, de
transição para os orto-piroxenitos, até termos gabro-dioríticos que apresentam biotita
vermelha sobrecrescida no opx e cpx.
Distinto destes corpos do conjunto
Faz.Conceição-Água Clara, ocorre a cerca de 5 km a leste de Capelinha, encaixado em
granulitos ácidos (granada gnaisse retrometamorfizado), um stock de metagabro
(granada anfibolito) que atingiu condições de anatexia, sob PH2O, com mobilizados
pegmatíticos a plagioclásio, turmalina, hornblenda centimétrica e granada almandínica
de até 3 cm. Consitui um pequeno morrote que se apresenta conspícuo e com forma
circular, diâmetro de 700 m aproximadamente, em foto aérea. Corresponde à fácies de
transição entre os terrenos anidros e os terrenos anfibolíticos ou à fase intrusiva
pós granulitização (não se tem relações de contato).
3.4.Domínio dos Terrenos Gnáissico-anfibolíticos
3.4.1. Área de ocorrência
Os terrenos deste domínio estão indicados no mapa em hachuras como Complexo Anápolis-Itauçu porém sem o pontilhado que indica metamorfismo granulítico. Eles envolvem o Bloco granulitizado Capelinha a sul, leste e nordeste.. Os contatos são, via de regra, tectônicos mas existem fácies transicionais entre os dois domínios, como, por exemplo, a sudoeste de Ordália (norte-nordeste da área), onde leptinitos gradam para gnaisses biotíticos leucocráticos finos que estão associados com metaplutônicas máficas anfibolitizadas entre a Faz. Brasília e Ordália.
3.4.2.Caracterização
O Domínio dos Terrenos Gnáissico-anfibolíticos
do Complexo Anápolis-Itauçu apresenta variações litológicas predominantemente entre
anfibolitos, gnaisses diversos e migmatitos, distinguindo-se fácies retrometamórficas e
fácies sem vestígio de terem sido granulitizadas. As primeiras geralmente situam-se em
faixas tectonizadas tanto internamente quanto nos limites dos terrenos granulíticos. A
natureza plutônica muitas vezes está evidenciada (texturas e estruturas ígneas, como
brechas plutônicas) e com indícios localizados de corresponderem a plutonismo
pós-granulitização. Localmente ocorrem supracrustais.
As deformações e metamorfismo com hidratação
em fácies anfibolito barroviano que transformaram estas intrusivas afetaram,
extensivamente, as rochas granulíticas, cristalizando-se hornblenda, biotita, titanita..
diaftoréticas a partir dos minerais da fácies granulítica. Nos contatos e em zonas
falhadas a diaftorese mais intensa dá a falsa idéia de transições metamórficas
progradantes.
3.4.3. Ocorrências de rochas supracrustais
Fora da faixa de domínio principal dos terrenos do tipo greenstone belt (Sequência Anicuns-Itaberaí), ocorrem restos de supracrustais supostamente desta sequência associados principalmente com anfibolitos e gnaisses diversos. São destacadas as seguintes ocorrências:
1- quartzito ferruginoso contendo massas
irregulares de actinolita xisto talcificado (p.ex. ponto 2MW121) e associado a
granada-anfibolitos finos e gnaisses com mobilizados migmatíticos a NW de Araçu, junto
ao Morro Santa Rita, onde se tem a extensão(?) do corpo máfico-ultramáfico Água Clara.
É interpretado como possível remanescente de greenstone belt, (Winge,1990) vistas
as ocorrências de metachert com boudins de rochas cálcio-silicatadas (Figura 4-4) e de
granada-sillimanita gnaisse grafitoso próximas (pontos 2MW 201 e 124). Não se descarta,
entretanto, a possibilidade de se tratar de tectonito silicoso em zona falhada,
incorporando porções ultramáficas da intrusão com metamorfismo superimposto;
2-ao sul deste local (ponto 2MW201) ocorre granada
anfibolito com variações para metachert com cerca de 20 m de espessura, onde são
encontrados boudins e bandas dobradas e transpostas de rocha cálcio-silicatada;
3- 7 km a SW de Araçu (ponto 2MW485), em área de
gnaisses com boudins métricos de anfibolitos, transicionando para filonitos e
gnaisses finos, blasto-cataclásticos, ocorre metachert com fases de granadito e de
actinolita granadito apresentando psilomelanos supergênicos. Parece tratar-se de um resto
(gondito) de greenstone em região de transição de gnaisses da fácies anfibolito
para granulito;
3.4.4.Terrenos plutônicos e meta-plutônicos
A cartografia das massas plutônicas é
dificultada pelo metamorfismo, migmatização e tectonismo superimpostos, que
descaracterizaram as rochas e tornaram os seus contatos difusos. Na área foram
discriminadas várias regiões com massas meta-plutônicas de trend mais básico
(anfibolitos) e trend mais ácido (gnaisses). A delimitação das mesmas não
significa, necessariamente, que representem corpos plutônicos individualizados, mas sim,
uma área de ocorrência de uma ou mais intrusões. Por outro lado, em vários pontos
tem-se vestígios de orto-derivação mas as áreas não foram discriminadas porque as
evidências são muito localizadas. Como será visto a seguir, muitas destas massas
plutônicas tiveram origem complexa, com mistura de magmas e hibridização, do que
decorreu a existência de porções de natureza magmática distintas como brechas,
xenólitos e transições magmáticas. O metamorfismo e deformações de grau elevado
superimpostos propiciaram uma maior descontinuidade e descaracterização dos protolitos,
dando origem aos ubíquos gnaisses a hornblenda ou biotita e anfibolitos que apresentam
todas as gradações entre si até em escala de afloramento. Consideradas essas
restrições, foram delimitadas as seguintes áreas com meta-plutônicas: a) com trend
mais básico: região da Faz.Monjolinho, a W de Ordália, com fácies meta-anortosítica
localizada; Complexo Gabro-anortosítico Santa Bárbara, estudado por Silva (1991);
intrusiva(s) gabro-diorítica a sul de Araçu; corpo(s) máfico-ultramáfico do Córrego
do Bálsamo, a N de Avelinópolis; b) com trend intermediário a ácido:
quartzodiorito/ granodiorito no local Camaquã, NE da área; corpos granitóides ao sul/SW
de Araçu
Fora da área detalhada, ocorrem muitos corpos de
meta-plutonitos que talvez sejam correlatos destes como, por exemplo: quartzo-diorito a N
de Taquaral, quartzo sienito milonítico a sul da Serra do Capim Puba, granodiorito da
Serra da Pedra a W de Goianira descrito por Nilson & Motta (1969).
Como essas massas plutônicas estão localizadas
em terrenos gnáissico-anfibolíticos entre blocos de terrenos granulíticos, elas foram
aqui consideradas como parte do Complexo Anápolis-Itauçu. Entretanto, é muito provável
que sejam, em parte pelo menos, crono-correlatas das intrusões da Super-suíte Plutônica
Americano do Brasil. Existem evidências, também, de várias fases intrusivas graníticas
como, por exemplo, podem ser vistas nos afloramentos junto à ponte no Rio Salobro, a SW
de Araçu (Foto 48).
3.4.4.1.Meta-quartzo-diorito de Camaquã
Na região entre Ordália e Itauçu, no local
Camaquã, domínio dos terrenos anfibolíticos do Complexo Anápolis-Itauçu, ocorre
intrusão representada, hoje, por gnaisses quartzo-dioríticos (Foto
50; ponto 2MW248). Nas zonas apicais, graníticas com desenvolvimento de
idioblastos de Or (Foto 30; ponto 2MW250)
são encontrados xenólitos máficos.
Parte desses xenólitos correspondem,
aparentemente, a fragmentos de granulitos máficos mostrando texturas simplectíticas (Fotomicrografia 48) de diaftorese isofacial
com o grau metamórfico regional de fácies anfibolito que afetou as intrusões.
Nas regiões de contatos os granulitos
encaixantes, leptinitos e granulitos máficos, apresentam-se tectonizados e com muscovita,
biotita, anfibólios, epidotos.. decorrentes da diaftorese com hidratação. Assim, na
subida da Serra Maria da Silva, no contato leste deste meta-quartzo-diorito, passando-se
para o domínio dos granulitos, ocorrem rochas granulíticas muito tectonizadas, sendo
significativa a ocorrência de meta-microdiorito blasto-porfirítico (Fotomicrografia 47; ponto 2MW246) que
representa, provavelmente, apófises filonianas da intrusão diorítica na zona
tectonizada. Estes dados apontam para a colocação da fase intrusiva como posterior à
granulitização do complexo e anterior ao metamorfismo anfibolítico regional.
A oeste e sudoeste ocorrem anfibolitos e gnaisses
que talvez estejam relacionados com esta fase intrusiva, como, por exemplo, o
meta-monzodiorito que aflora no Córrego Taquaral (ponto 2MW437).
3.4.4.2.Meta-gabrodioritos e meta-granodioritos. a sul de Araçu
Ao sul de Araçu, acompanhando a margem
esquerda do Rio Salobo, desenvolvem-se terrenos de stocks meta-gábricos a
meta-graníticos, frequentemente descaracterizados para anfibolitos e gnaisses.
Os termos intermediários, meta gabro-dioríticos
(hornblenda, andesina, biotita,± quartzo..) com pequenos xenólitos máficos
(biotititos a hornbendititos) são comuns. Correspondem, em parte, à área mapeada como
unidade gabróica por Silva (1991). O aparecimento de K feldspato nestas rochas junto com
o aumento da biotita (metamórfica) caracteriza termos dioríticos a monzo-dioríticos que
gradam para rochas ácidas, granodioríticas, com o aumento de quartzo e diminuição dos
máficos. Os K feldspatos nestes meta granodioritos (hornblenda/biotita gnaisses) tendem a
apresentar-se em macrocristais.
Os corpos básicos a intermediários foram
assinalados como contínuos no mapa.
É provável, porém, que existam fases intrusivas múltiplas. Isto é sugerido pela
ocorrência de xenólitos de fases geralmente mais básicas do que as hospedeiras.
Entretanto, deformações e metamorfismo devem ter descaracterizado os prováveis contatos
dessas fases.
Os stocks mais ácidos foram delimitados
por foto-interpretação com apoio de campo, mas é certo que correspondem a eventos
magmáticos diversos, separados por fases tectônicas (Foto
48). Destes corpos mais ácidos destaca-se o granito a monzo-quartzo-sienito dent
de chéval abordado a seguir, juntamente com o Complexo gabro-anortosítico Santa
Bárbara.
3.4.4.3.Stock máfico-ultramáfico Córrego do Bálsamo
Cerca de 6 km a norte de Avelinópolis ocorrem anfibolitos (metagabros) a biotita-anfibolitos (metagabrodioritos; ex: ponto 2MW421) com pequenos e esparsos xenólitos mais máficos. Associados ocorrem xistos ultramáficos (ex:pontos 2MW482 e 483) interpretados como níveis meta-peridotíticos a meta-piroxeníticos fracionados da massa intrusiva. Para o norte (2 km), há ocorrências semelhantes, com ocasionais fácies de anfibolitos plagioclásicos (meta-gabroanortosíticos) que correspondem a porções tectonicamente rompidas da mesma massa intrusiva ou a outros stocks.
3.4.4.4.Complexo gabro-anortosítico Santa Bárbara
O Complexo Gabro-anortosítico de Santa Bárbara,
de dimensões batolíticas (Silva,1991), ocorre no SE da área, na região drenada pelo
Rio Anicuns. Dentre as rochas associadas na região (encaixantes?) são comuns as
fácies gnáissicas porfiroblásticas, quartzo-dioríticas (e.g. ponto 2MW162) a
graníticas, e fácies migmatíticas com anfibolitos envolvidos por material
granitóide a pegmatítico (e.g. ponto 2MW472 a leste de Avelinópolis), com relações de
contato de difícil determinação por causa do metamorfismo superimposto.
A fácies característica é a de anfibolito rico
em plagiocásio, bandado a lineado, de tons contrastantes brancos dos plagioclásios com
as bandas ou fitas verde-escuras da hornblenda e com intercalações centi-decimétricas
de plagioclasito, por vezes sacaroidal, branco. Ocorrem níveis localizados de
talco-actinolita xistos (provavelmente de antigas camadas de cumulatos ultramáficos) e de
magnetita titanífera e de ilmenita. São raras as fácies com textura bem preservada como
a que aflora junto da ponte sobre o Rio Anicuns (Foto 43)
no local Cachoeira. A ocorrência de xenólitos de meta-quartzodiorito neste mesmo local (Foto 44 e Fotomicrografia
46) indica que houve fase diorítica anterior englobada pelo magma que
cristalizou o anortosito, contrariando a expectativa de ser sucedente ao anortosito, como
verificado por Silva (1991) para as fácies metagabróicas a SE de Araçu. Este fato
poderia indicar, porém, que a evolução do complexo
gabronorito-anortosito-gabrodiorítico foi policíclica.
Os estudos de Silva (op.cit.) concluíram, entre
outros pontos, que:
a) meta-gabros que ocorrem a SE de Araçu (fora da
área detalhada) são mais jovens mas geneticamente relacionados com o magmatismo que
diferenciou os anortositos a partir de magma parental de basalto tholeítico,
relativamente anidro;
b) a alta razão ETRL/ETRP indica que a fonte
basáltica já era fracionada para os anortositos;
c) o quimismo distinto (razões MgO/FeO* e teores
Cr e Ni) indica que não há vinculação genética entre este complexo e as lentes
máfico-ultramáficas que ocorrem dentro dos gnaisses granulíticos e leptinitos a E de
Araçu;
d) leptinitos encaixantes da unidade gabróica
apresentam intercalações de anfibolitos e outras rochas o que, junto com
características geoquímicas, apontaria para prováveis rochas vulcanogênicas.
e) o plagioclásio ígneo do gabro-anortosito é
mais básico (An50-70) do que o do anortosito pegmatóide (An45-48); o plagioclásio
metamórfico é mais ácido (An26-38);
f)os gabro-anortositos estão associados com
noritos e gabro-noritos.
É provável que parte dos gnaisses tidos como de
embasamento encaixante (Complexo Granito-gnáissico de Silva, op.cit.), à semelhança do
que é comprovado em vários locais, correspondam a massas plutônicas graníticas a
híbridas associadas à evolução tectono-magmática dos gabro-anortositos,
gnaissificadas e migmatizadas em eventos posteriores.
Verificou-se na presente pesquisa que os
leptinitos guardam em vários pontos traços da origem a partir de granitóides
milonitizados a seco. A ocorrência dos mesmos a sul de Araçu como encaixantes dos
meta-gabros, metagabrodioritos, meta-anortositos metamorfizados na fácies anfibolito sob
alta PH2O indica que as intrusões gabro-anortosíticas ocorreram em crosta
continentalizada (granitóides transformados em leptinitos) posteriormente à
granulitização.
Os stocks de rochas granitóides que
ocorrem junto deste complexo de rochas meta-gabro-dioríticas e anortosíticas e no NE da
área correspondem, provavelmente, a uma evolução magmática a partir das fases básicas
por diferenciação, anatexia crustal, contaminação e/ou hibridização magmática em um
padrão semelhante ao das suítes básica e ácida da Super-suíte Plutônica Americano do
Brasil com as quais talvez se correlacionem. Apontando nesta direção, tem-se a
ocorrência de xenólitos de meta-plutônicas básicas a intermediárias e a associação
espacial entre as fácies básicas e ácidas.
Os granitóides geralmente apresentam-se como
gnaisses mas, em raros pontos (e.g.ponto 2MW465, no local Estiva), tem-se fácies
mais preservadas como a do monzo-granito dent de chéval com fácies tendendo a
rapakivi (estruturas ocelares sobrecrescidas com o próprio Or e oligoclásio
intersticial) que ocorre em contato (não determinado) a NW do complexo
meta-anortosítico. Os fenocristais centimétricos e tardios de Or (Fotos 45, 46) cresceram sobre
matriz diorítica, onde destacam-se hornblenda Fe-hastingsita e a biotita quase negra,
ferro-titaníferas. Fase quartzo-diorítica foi injetada e deformada provavelmente durante
o resfriamento (Foto 47). Esta ocorrência,
pela fácies facoidal, é semelhante à que ocorre 15 km de Araçu para Inhumas (ponto
2MW170), fora da área detalhada, onde granito faz contato térmico com metachert
intercalado em granada biotita xisto feldspático.
O quadro geológico do complexo anortosítico, a
partir desses dados, indica uma possível evolução como complexo cratogênico,
desenvolvendo uma suíte tipo N-A-M (norito-anortosito- monzodiorito de Eklund,1994)
acompanhada/sucedida por palingênese crustal, dando origem a magmas híbridos.